sexta-feira, 4 de junho de 2010



5)30 Mar 2010
Sistema e Anti-Sistema: Relações Entre Eles (2)

Continuando a mensagem anterior, segundo a concepção exposta em "O Sistema", admitamos agora a visão bíblica da escada de Jacó como uma escada contendo um número extraordinariamente grande de degraus, o primeiro dos quais começa na máxima negatividade (AS), e o último termina na máxima positividade (S). O ser humano normal da atualidade bem pode considerar-se num degrau intermediário, a meio caminho entre um e outro extremo dessa escada.

No campo de forças do Todo, atuam sobre cada ser três impulsos: o positivo do Sistema (S), que deseja puxá-lo para cima; o negativo do Anti-Sistema (AS), que quer arrastá-lo para baixo; e o do próprio ser, devido ao seu livre arbítrio, que tende a levá-lo para um ou para o outro.

Consideremos, por hipótese, um ser invigilante que, usando mal a sua liberdade, causou mal a seus semelhantes, agindo contra o impulso positivo do Sistema, e imaginemos que, por esse mesmo fato, desceu, digamos, três degraus da hipotética escada de Jacó. (Lembramos que tudo isto é apenas um símbolo de um fato que se encontra, na sua integralidade, fora da concepção do nosso mundo espaço-temporal). Esta linha de descida, produto da vontade do ser contra a vontade da Lei, que deseja salvá-lo, é denominada por Ubaldi de linha do erro ou linha da culpa. Mas como a Lei, como já foi dito, pretende salvar o ser, ela responde com uma linha paralela de subida, produto da vontade da Lei contra a vontade do ser, que Ubaldi chama de linha da dor ou linha da correção, que tende a recolocar o ser na primitiva posição da qual ele havia livremente se afastado (esta nada mais é senão a Lei do Karma, de que falam as filosofias orientais).

Portanto, nas condições expostas, se S e AS estão em posições opostas um em relação ao outro e se o AS constitui, na verdade, um emborcamento do S, é lógico que, a toda vitória no AS corresponda uma derrota no S, e reciprocamente, a toda derrota no AS corresponda uma vitória no S. Este é o significado profundo do fenômeno da redenção do Cristo pela cruz e o sentido profético das seguintes palavras Suas (os parênteses são meus, para melhor explicação do texto): "Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser achar a sua vida (no S), a perderá (no AS); mas quem perder a sua vida (no AS) por amor de Mim e do Evangelho, esse a achará (no S)" (Mt., 16.24-25, Mc., 8.34-35, Lc., 9.23-24). Explica também as Suas palavras diante de Pilatos: "O meu reino não é deste mundo" (isto é, não pertence ao AS, mas ao S) (Jo., 18.36). Assim, o Cristo, derrotado no AS, foi um vencedor no S, reintegrando-se definititivamente a este, conforme, aliás, atestam as últimas palavras Suas no alto da cruz: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu Espírito" (Lc., 23.46). Assim, a grande missão do Cristo não foi (como dizem as religiões tradicionais cristãs), resgatar com o Seu sangue, os pecados cometidos pela humanidade ou por Adão e Eva (o que seria um absurdo injustificável perante a justiça divina, só admitido pela fé cega), mas exemplificar-nos como fazer a passagem do AS para o S, que todos teremos de fazer um dia (Pietro Ubaldi, "Cristo", 1ª ed., 1974, trad. de Vasco de Castro Ferraz Jr.) . Tudo isto explica ainda o significado de outras palavras Suas, como: "Eu sou o caminho e ninguém vem ao Pai se não por Mim" (Jo., 14.6).

Sintetizando tudo, o Universo consistiria num grande movimento de retorno ou de subida, do AS para o S, que poderia ter a seguinte expressão gráfica:

AS ---------> S.

O AS é o ponto de partida dessa ondulação e o S é o ponto de chegada. Entretanto, para que o equilíbrio se mantenha, é necessário que essa grande ondulação de subida ou evolução seja compensada por uma equivalente ondulação de descida ou involução. Lógico é isto e se efetua em virtude de uma lei de complemento, pela qual toda unidade é metade de uma unidade mais completa. O movimento que existe no universo não é nunca um deslocamento unilateral, efetivo e definitivo, num único sentido, porém a metade de um ciclo que volta ao ponto de partida, depois de haver percorrido uma dada transformação, uma vibração de vai-vem, completa na sua contraparte inversa e complementar.

Esse movimento evolutivo que temos visto,

AS ---------> S, deve ser precedido então por um movimento involutivo em sentido inverso:
S ---------> AS.

De modo que a grande equação de funcionamento do universo poderia ser escrita, graficamente, da seguinte forma:

S ---------> AS ---------> S = W,

onde a letra W representa exatamente o Universo, o Todo.

Depois desta exposição, é lógico esperar a pergunta: como o S, com todas as suas qualidades positivas (perfeição, conhecimento, felicidade, imortalidade), conseguiu gerar um monstro, uma aberração, com todas as suas qualidades negativas (imperfeição, ignorância, sofrimento, mortalidade), qual o AS ? Como o S conseguiu produzir um emborcamento, uma inversão de tal magnitude? Lembremos que Deus deve ser infinito, ilimitado e completo. Se assim não fosse, se algo pudesse existir fora de Deus e de Sua Divina Substância, Ele seria finito, limitado e incompleto, e, portanto, não seria mais Deus. Ora, se nada pode existir fora de Deus e de Sua Divina Substância, é Desta que Ele deve tirar a sua Criação, a qual só pode ter as suas mesmas qualidades, e não as opostas. Discutiremos melhor essas questões nos dois artigos que se seguem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário