sexta-feira, 4 de junho de 2010

Charles Richet

34)12 Abr 2010
Qual o maior vulto da Ciência que estudou, a fundo, os fenômenos espíritas?

Se alguém me fizesse a pergunta acima, eu não teria a menor dificuldade em responder: foi o fisiologista francês Charles Robert Richet (1850 - 1935), como, aliás, era reconhecido pelo próprio Ernesto Bozzano. Divulgador da soroterapia (em 16/11/1890 fêz a primeira injeção de soro em ser humano), recebeu o Prêmio Nobel de medicina em 1913 pela descoberta da anafilaxia, que representou a descoberta da causa de todas as alergias e afecções alérgicas, até então desconhecidas. Foi prosador, poeta, romancista, historiador, dramaturgo, pioneiro de estudos sobre a aviação, esperantista e pacifista convicto. Os fenômenos espíritas ele os chamou de metapsíquicos, e, para estudá-los, criou uma nova ciência que chamou Metapsíquica, definindo-a assim: Metapsíquica é a ciência que tem por objeto o estudo dos fenômenos físicos ou psicológicos que se poderiam chamar de inabituais, fenômenos esses devido a forças que parecem inteligentes, ou a faculdades desconhecidas da mente. Publicou várias obras sobre o tema, narrando as suas próprias experiências e a de muitos outros pesquisadores, sendo, sem dúvida o "Tratado de Metapsíquica" (em 3 volumes) a maior delas, publicada em 1922. (Infelizmente, a LAKE traduziu, há vários anos, os 2 primeiros volumes, mas nunca traduziu o 3º). Foi um defensor intransigente dos fenômenos, que ele próprio presenciou várias vezes, mas nunca aceitou a teoria espírita. Entretanto, essa opinião foi lentamente evoluindo ao correr de sua longa e operosa existência, e em 1933, escreveu "A Grande Esperança", livro em que parece estar "em cima do muro", como diríamos nós, acerca da natureza dos fenômenos que estudou com tanto afinco. É desse livro que desejo citar alguns excertos como os que vão abaixo.

"Apesar da progressão assombrosa de nossas ciências, nós nada sabemos, ou quase nada, acerca do misterioso universo que nos rodeia. Em torno de nós freme -- em vibrações múltiplas e complicadas -- um mundo mecânico, do qual, a custa de grandes esforços, conseguimos determinar algumas leis. Então, em nosso ingênuo orgulho, julgamos haver descoberto leis imutáveis, além das quais nada existe. Que cegueira !"
"Ao lado desse mundo mecânico em que se utilizam o telescópio, o microscópio, o galvanômetro, o espectroscópio, as balanças de precisão, há um outro mundo mecânico e psicológico ao mesmo tempo; é o mundo desconhecido, oculto. Oculto hoje, mas que amanhã, talvez, não mais o seja. Para provar que esse mundo oculto (ou criptocosmos) existe de fato, apresentarei dois argumentos, um lógico e outro experimental".
"Em primeiro lugar, o argumento lógico: é um dilema irrefutável -- ou conhecemos todas as forças que existem na Natureza, ou não conhecemos todas. Ora, o primeiro ponto desse dilema é loucamente absurdo. Como ?! Com os nossos cinco pobres sentidos, com os engenhosos instrumentos que os reforçam, teríamos a orgulhosa presunção de haver limitado, registrado, codificado todas as forças e energias que vibram no imenso Universo ?! Será que não existiria nenhuma energia ou força que os nossos laboratórios, as nossas máquinas, os nossos aparelhos de pesquisa não tivessem reduzido a fórmulas matemáticas ou demonstrações experimentais?"
"Ou talvez, envolvidos em nossa vida, assistindo aos nossos atos, e, às vezes, controlando os nossos pensamentos, escrevendo pela nossa mão, ou falando por nossa voz, haja seres misteriosos, invisíveis, de uma outra dimensão, talvez os espíritos dos mortos (que é a convicção dos espíritas). A morte não seria pois o fim de tudo, mas a entrada em uma nova vida. Em ambos os casos, nós nos chocamos com monstruosas inverossimilhanças; nadamos no inabitual, no surpreendente, no prodigioso".
"E o segundo argumento, o argumento experimental, é muito mais poderoso ainda e seria preciso ser desoladoramente cego para não aceitar o que proclamam a observação e a experiência. O mundo mecânico, expressado pelos matemáticos, produzido pelos engenheiros, descrito pelos físicos e fisiologistas, não é tudo. Existem forças mecânicas completamente desconhecidas que podem ser exercidas (ridiculamente, confesso) em condições inabituais sem que possamos encontrar uma única explicação verossímil. O inabitual existe (pude constatá-lo várias vezes em condições onde qualquer fraude era impossível), ou seja, há ectoplasmias, telecinesias, levitações, fantasmas, lucidez, premonições, casas assombradas. Então, duas hipóteses (ambas inverossímeis), se apresentam. Mas não vejo uma terceira para propor, sendo necessário adotar uma ou outra. Ou então a inteligência humana é capaz de fazer milagres. Chamo de milagres as ectoplasmias, os fantasmas, a lucidez, as premonições, etc..
"Por que existes? Perguntei ao começar este livro. E agora resumo: para existir e para ter filhos. Porque se a humanidade se prolongar, como há mundos inauditos, enormes, inverossímeis, para conhecer, esses mundos serão (pelo menos parcialmente) conhecidos, pois o prolongamento da humanidade será acompanhado por um aumento da inteligência".
"Portanto, existes para que teus filhos saibam. Se eles souberem, encontrarão o meio de ser felizes. Não é somente teu dever, é também tua esperança. Reflete bem sobre isto: assim agindo, assim pensando, tu te tornarás o construtor, não somente da felicidade de teus irmãos, mas também da tua própria felicidade".
"Livra-te das servilidades dolorosas da vida, engradece-te pelo pensamento e pelas ações, e, quando a morte chegar, poderás adormecer (para despertar, sem dúvida) em plena serenidade". (A Grande Esperança, ed. da LAKE, 1956).

Por estas palavras, vê-se nitidamente que o grande gênio francês entreviu grande parte da verdade, mas nunca quis assumí-la publicamente. Para maiores detalhes, entretanto, recomendo o livro "Silva Melo e os seus Mistérios", escrito pelo médico paulista Dr. Sérgio Valle (ed. LAKE, 1959) que, na sua parte final, mostra as polêmicas serenas e elevadas travadas, durante vários anos, pelos dois grandes amigos e adversários Richet e Bozzano, aquele procurando contestar a sobrevivência do espírito, e este, servindo-se dos métodos científicos da análise comparada e da convergência de provas, mostrando que, em muitos casos, a hipótese espirítica triunfava sem competição, apesar dos esforços negativistas do outro.

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