sexta-feira, 4 de junho de 2010



47)15 Abr 2010
Continuação da Viagem de Flammarion pelo Imenso Espaço Exterior (2)


Continuando a sua "viagem espiritual" pelo espaço sideral afora, o sábio astrônomo Camille Flammarion, encontra-se agora a cem mil trilhões de quilômetros da Terra, e, nessas condições, todo o sistema solar, há muito tempo, desapareceu completamente da vista, e sua existência, não pode ser sequer suspeitada. O astrônomo francês continua então a sua narração:
"No meu vôo rumo ao infinito, passei por um grupo de mundos multicores iluminados por três sóis: um vermelho-rubi, um verde-esmeralda e um azul-safira, e tão singularmente iluminados por essa luz -- artificial para nós, natural para eles -- que eu perguntei a mim mesmo se não era o joguete de uma ilusão e se realmente tais criações podiam existir, do que, entretanto não poderia absolutamente duvidar um só instante, pois que eu próprio observara centenas de vezes ao telescópio essas associações de sóis coloridos, tão conhecidos dos astrônomos. Detive-me, aproximei-me de um desses mundos e o vi habitado por seres que pareciam tecidos de luz, aos olhos dos quais, muito provavelmente, os habitantes de nosso planeta pareceriam de tal modo escuros, pesados e grosseiros que, a seu turno, perguntariam uns aos outros se realmente vivemos e se nos sentimos realmente viver".
"São astros, esses, povoados por organismos aéreos cujo brilho deixa muitíssimo longe a delicada contextura das nossas rosas mais frescas e dos nossos lírios mais puros. Tais seres nutrem-se da própria atmosfera que respiram, sem se verem condenados, como os habitantes do nosso planeta, a massacrar perpetuamente inúmeros animais para alimentar com eles os seus corpos. Sua beleza, seu brilho, sua vivacidade, levaram-me a recordar, pelo contraste, as condições exigidas pela vida terrestre. Considerei que a força brutal reina aqui soberanamente, que milhões de seres vivos são mortos cada dia, para assegurar a existência dos outros, que a guerra é uma lei natural entre os seres humanos, como se fossem feras, e que a humanidade está ainda tão pouco desembaraçada da barbárie animal que muitos povos continuam a aceitar, como nos tempos primitivos, a miséria, a fome e exploração. Constatei, estando tão longe da Terra, que a inépcia dos cidadãos deste planeta é verdadeiramente colossal. Os milhões de homens que povoam atualmente as nações ditas civilizadas não percebem que são os escravos de um estado maior de militarismo e belicismo sanguinários. Que seriam dos governantes desses países sem o militarismo? Por meio de frases retumbantes, das palavras sonoras de glória e pátria, confundindo a pátria intelectual com a força bruta, procurando manter na alienação o seu próprio país, arrastam consigo milhões de soldados-escravos, os quais, ao primeiro sinal, experimentam uma sublime felicidade em se lançar à carnagem, à pilhagem e à morte. São eles, se o quiserem, bastante livres para recusarem essa escravidão; mas nem sequer lhes ocorre essa idéia! E para garantir a sua pretensa superioridade militar, esses países mantêm exércitos permanentes, subtraem os seus homens ao trabalho útil e fecundo, e lançam todas as suas forças, todos os seus recursos (bilhões por ano) em um abismo sem fundo. Os soldados-escravos sentem-se felizes, orgulhosos com esse procedimento, e se gloriam dele! Inteligente humanidade! Admirável planeta!"
"Vista desta distância, a política dos Estados terrestres parecia-me de uma barbárie singular. Mas cada árvore produz o fruto correspondente à sua espécie: as tartarugas e os ursos não poderiam ambicionar as asas da andorinha ou o canto do rouxinol. A glória militar dos Alexandre, dos César, dos Carlos Magno, dos Tamerlão, dos Napoleão, dos Bismarck, sendo da ordem dos instintos dos animais carnívoros, não dura quase nada mais que um banquete brutal, e alguns séculos bastam para tudo apagar na própria história do planeta. Realmente, que é feito dos grandes impérios terrestres, o romano, o persa, o assírio, o mongol, o babilônico,etc.? Ruíram séculos atrás, e deles só restam hoje cinzas, nada mais do que cinzas... Austerlitz, Waterloo, Sebastopol, Magenta, Sadowa, Reichshoffen, Sedan: agitações microcópicas em um formigueiro liliputiano, divertimentos de crianças ávidas de exercícios musculares, de sangue e de fogo. Por que censurá-los, por que lamentá-los? Fazem o que lhes agrada e ninguém os força a isso. São talvez os astrônomos que têm culpa de não observar os planetas com um microscópio mais possante para determinar os parasitas que os mesmos contêm... (Camille Flammarion, Sonhos Estelares, ed. da FEB, 1941).

Estas palavras geniais foram proferidas pelo eminente astrônomo, no início do séc. vinte (por volta de 1912), e, ainda hoje, estou de pleno acordo com elas, como acredito que todos também estejam. Afinal, quando esta humanidade conseguirá superar essa sua fase animal para atingir um estágio evolutivo superior? Nós, certamente, não veremos isso, mas os nossos tetranetos, quem sabe?

Nenhum comentário:

Postar um comentário