sexta-feira, 4 de junho de 2010



7)30 Mar 2010
Como se Deu o Emborcamento do S no AS (4)

A esta altura, intervém um fato novo, devido ao mau uso que múltiplas criaturas fizeram do seu livre arbítrio: deu-se o que a Bíblia chama, de forma alegórica, de -- expulsão do paraíso. Por não aceitarem os limites que a lei de Deus lhes impôs a fim de que pudessem atuar como um organismo (iste é, por uma superestimação do próprio "eu"), parte dos espíritos se sublevou ao S. O nosso universo não é a criação, mas a derrocada de parte da criação, que, de espiritual, se tornou material e que, de caráter infinito, decaindo por involução, veio a se confinar dentro de dimensões cada vez mais limitadas. A primeira criação, a verdadeira, perfeita obra de um Criador perfeito, foi a espiritual. Esta nossa material é uma posterior contrafação imperfeita dela. Nela, a originária Trindade em que nos três momentos Deus permanece uno, como dizíamos acima, se subverte em unidade fragmentada cujos três momentos -- a concepção, a ação e a criatura -- se separam em uma transformação sucessiva involutiva -- espírito, energia e matéria -- para, depois, se recompor na transformação evolutiva -- matéria, energia, espírito. Este último caminho evolutivo é aquele que é estudado em "A Grande Síntese". Só a esta altura poderemos chegar a compreender a origem e significação das três formas -- matéria, energia, espírito -- expostas naquele livro. Eles nada mais constituem que uma projeção invertida e decaída no AS da primeira e originária Trindade perfeita do S. Assim, a segunda criação é uma contrafação da primeira, pela derrocada do S, consequente à sublevação, quando a criatura cai para os antípodas da sua originária transcendência. Ou seja, os espíritos sublevados, desejando emborcar o S, acabaram emborcando-se a si próprios no AS, gerando, em consequência, aquele dualismo próprio do AS (consubstanciado nos princípios básicos do bem e do mal ), dualismo que não existia no S.

Assim, derrocaram as centelhas rebeldes de Deus, da originária criação, para continuar a animar a criação corrompida. Derrocou assim, em parte, o terceiro aspecto, o Filho, agora não mais incorrupto, uno com o Pai, mas um conjunto de criaturas decaídas, um momento cindido, que, através de uma lenta evolução, a partir da matéria, e de uma longa série de vidas sucessivas, deve esforçar-se para volver à antiga perfeição. O universo deve, pois, reerguer-se como Filho, terceiro aspecto, do estado de Filho decaído e imperfeito ao originário estado de perfeição, ou seja, do estado de Filho separado ao de Filho-Uno em Deus.

Desçamos agora ao nosso universo. Ele, em sentido absoluto, não é o Todo, porque além dele há Deus nos seus três aspectos. Trata-se aqui de um organismo imperfeito no seio do maior e perfeito organismo do Todo-Uno-Deus. Trata-se de uma unidade cindida, enferma, de uma criação distorcida, corrupta, decaída na forma-matéria. Trata-se de uma criação contraída por involução e que, por evolução, deve de novo expandir-se até Deus, do Qual foi destacado. Aqui, a originária centelha espiritual está envolta nas trevas da forma-matéria, da qual deve ressurgir, libertando-se pela evolução.

Somente assim é possível compreender o nosso universo como uma contração da pura substância divina, que involuiu para o estado cinético ondulatório da energia, e esta então se enclausurou, encerrando-se em si mesma, no estado de matéria, concentração de energia.

 Já dissemos que o negativo só pode gerar o positivo se este estiver contido potencialmente naquele. Tomemos, como exemplo, uma pequena semente de carvalho. Plantada em terreno adequado, ela gerará, lentamente, ao longo de vários anos, uma das maiores árvores do mundo, senão a maior. E por que? Porque a árvore estava contida na semente, sob forma potencial (a semente saiu da árvore). A semente atualizou o que nela existia em estado potencial. Assim, se houve uma queda inicial, (que a Bíblia denomina, sob o véu do símbolo, "expulsão do paraíso"), quando o espírito, inicialmente sem mácula, como sem mácula é o Criador, engolfou-se na matéria, utilizando mal o seu próprio livre arbítrio, a matéria (que antes era um ponto no interior do espírito, e depois da queda sucedeu-se o contrário, isto é, o espírito passou a ser um ponto no interior da matéria), a matéria, dizia eu, que saiu do espírito, contém, em estado potencial, todas as fases do seu desenvolvimento posterior, que atualizará, com enorme lentidão, ao longo dos evos. Nesse processo, que abrange toda a evolução, desde o mineral, passando por todos os reinos da natureza, até chegar ao hominal, está incluído todo o ciclo reencarnatório admitido pela Doutrina Espírita.


Assim, os espíritos não sublevados, mantidos sem mácula, ficaram fundidos num organismo unitário, tendo como núcleo a inteligência divina. Os espíritos sublevados fragmentaram esta unidade em múltiplos "eus" separados, e agora devem expandir-se, através de múltiplas existências de lutas e sofrimentos, no altruísmo, na abnegação, na renúncia, até sua volta definitiva ao S. Figurativamente, poderíamos considerar o S como uma esfera iluminada, com a Luz Divina no centro, e o AS como uma esfera escura, concêntrica com a primeira, mas distante dela, estando Deus no centro se ambas. De fato, Deus se encontra tanto no centro do S quanto do AS, a fim de este possa se salvar, regressando ao S. Vemos aqui, ratificados, os dois atributos que a filosofia e a teologia sempre emprestaram a Deus: imanência e transcendência. Deus é imanente quando está no AS (isto é, no nosso mundo espaço-temporal), e é transcendente quando está no S (ou seja, fora do mundo espaço-temporal).

O Cristo nos mostrou como fazer a passagem do AS ao S, isto é, como se reintegrar definitivamente ao S, e esta foi, como já foi dito antes, sua grande missão na Terra. E aqui chegamos a uma conclusão espantosa, ou seja, que o mundo que a própria Ciência tanto estuda e toma como verdadeiro, é um mundo às avessas e negativo.

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