sexta-feira, 4 de junho de 2010



52)19 Abr 2010
O Testamento Científico de um Astrônomo

Este é o testamento científico do astrônomo Jorge Spero (que nunca existiu realmente, sendo um pseudônimo do célebre astrônomo francês Camille Flammarion).

"Quisera deixar, sob a forma de aforismos, o resultado das minhas investigações. Parece-me que não se pode chegar à Verdade senão pelo estudo da Natureza, isto é, pela Ciência. Eis as induções que se me afiguram baseadas nesse método de observação e experimentação".

I
O universo visível, tangível, ponderável e em movimento incessante, é composto de átomos invisíveis, intangíveis, imponderáveis e também em constante movimento.

II
Para construir os corpos e organizar os seres, esses átomos são regidos por forças, que, por sua vez, dão origem aos vários tipos de energia.

III
A Energia é a entidade essencial, pois toda a matéria não passa de energia num alto grau de concentração ou energia congelada, como dizem alguns, embora de uma forma um tanto imprópria.

IV
A visibilidade, a tangibilidade, a solidez, a duração, o peso, são propriedades relativas dos corpos, e não realidades absolutas.

V
Os átomos que compõem os corpos são, para a sensação humana, infinitamente pequenos.
As experiências feitas sobre a laminagem das folhas de ouro mostram que dez mil folhas destas se contêm na espessura de um milímetro. Chegou-se a dividir um milímetro sobre uma lâmina de vidro, em mil partes iguais, e existem infusórios tão pequenos que o seu corpo inteiro, colocado entre duas dessas divisões, não as toca; os membros e os órgãos desses seres são formados por células, estas por moléculas, e estes por átomos. Vinte centímetros cúbicos de óleo estendido sobre um lago, chegam a cobrir 4.000 metros quadrados de superfície, de sorte que a camada de óleo assim espalhada mede um ducentésimo milésimo de milímetro de espessura. A análise espectral da luz revela a presença de um milionésimo de miligrama de sódio em uma chama. As ondas de luz têm um comprimento de onda compreendido entre 4 e 8 décimos milésimos de milímetro, do vermelho ao violeta. Seriam necessárias 2300 dessas ondas para encher um milímetro. Na duração de um segundo, as ondas luminosas visíveis executam setecentos trilhões de oscilacões, cada uma das quais é matematicamente definida. O olfato percebe 1/64.000.000 de miligramas, por exemplo, de gás sulfídrico, no ar respirado. A dimensão dos átomos é de cerca de um décimo milionésimo de milímetro de diâmetro.

VI
O átomo, intangível, invisível, dificilmente concebível para o nosso espírito afeito aos julgamentos superficiais, constitui a única matéria verdadeira, e o que chamamos matéria é apenas um efeito produzido em nossos sentidos pelo movimento incessante dos átomos, isto é, uma possibilidade permanente de sensações.
Daí resulta que a matéria, apesar da sua aparente fixidez exterior, apresenta, no seu interior, a soma de velozes movimentos atômicos; por sua vez, a energia das ondulações luminosas e eletromagnéticas se propagam pelo espaço com a enorme velocidade de 300.000 km/s. Portanto, se todo o movimento cessasse, o universo, qual o conhecemos, deixaria de existir. ( Isto poderia acontecer se a temperatura caísse para - 273°C, ou zero absoluto, a mais baixa temperatura que o universo poderia atingir, o que provocaria a cessação de todo o movimento ).

VII
O universo visível é composto por partículas invisíveis. Quanto se vê, é feito de coisas que não se vêem.
A menor porção de uma substância que ainda conserva as suas mesmas propriedades é chamada de molécula da substância. Em geral, a molécula é constituída de dois, três ou mais átomos do mesmo elemento ou de elementos diferentes. Por exemplo, a molécula da água é composta pela reunião de dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Tanto as moléculas quanto os átomos que as constituem estão em constante e perpétuo movimento.

VIII
O que chamamos matéria se esvai quando a análise científica acredita atingí-la. De fato, os espaços interatômicos e intermoleculares são milhares de vezes maiores que as dimensões dos próprios átomos e moléculas. O que dá a matéria a idéia da sua solidez aparente é a enorme velocidade (e, portanto, a energia de vibração das moléculas, átomos e partículas sub-atômicas que a constituem). Não fosse isso e enxergaríamos através da matéria tão facilmente quanto o fazemos através de uma tela de arame de largo espaçamento entre si. Tomemos um exemplo simples: a hélice de um avião, quando gira a grande velocidade, parece um corpo sólido, não dando idéia alguma dos claros que existem entre elas.

IX
O ser humano tem por princípio essencial a alma ou espírito (pouco importa o nome). O corpo é aparente e transitório.

X
Sabemos hoje que os átomos são compostos de partículas sub-atômicas. A quantidade de energia que constitui o universo é invariável, mas a sua possibilidade de uso prático pelo ser humano está sempre em declínio (é o processo que os físicos chamam de entropia).
A alma humana é indestrutível.

XI
A individualidade da alma é recente na história da Terra. O nosso planeta formou-se de uma enorme nuvem rotativa de poeira e gás, de que, no centro formou-se o Sol e na periferia os diversos planetas, inclusive a Terra, a princípio muito quente, mas cujo solo foi progressivamente se esfriando. No início, não existia nenhum ser vivo. Depois, a vida começou pelos organismos mais rudimentares; progrediu de século em século para atingir o estado atual, que não é o último. A inteligência, a razão, a consciência, o que chamamos faculdades da alma encarnada, são modernas. O Espírito se desembaraçou gradualmente da matéria tal como -- se a comparação não fosse grosseira -- o gás se desprende do carvão, o perfume da flor, a labareda do fogo.

XII
A força psíquica começou a se afirmar desde há 30 ou 40 séculos na humanidade terrestre; a ação dela está apenas na aurora.
As almas, conscientes da sua individualidade ou ainda inconscientes, apenas quando encarnadas estão presas às condições de Espaço e Tempo. Após a morte dos corpos, elas estão fora daquelas condições, embora as muito atrasadas possam pensar que não estejam. Algumas vão habitar outros mundos.
Não têm consciência de sua vida extracorpórea e da sua imortalidade senão aquelas que ainda não se desprenderam dos laços materiais.

XIII
A Terra é uma província da pátria eterna; faz parte do Céu, o Céu é infinito; todos os mundos fazem parte do Céu. Nosso planeta e um navio espacial que transporta, através do infinito, uma população de almas com a velocidade de cerca de 3.860.000 quilômetros por dia em torno de uma pequena estrela, e todo o sistema solar viaja a, aproximadamente, um bilhão de quilômetros em direção à constelação de Hércules.

XIV
Os sistemas planetários e siderais que constituem o Universo estão em diversos graus de organização e adiantamento. É infinita a extensão da sua diversidade; os seres guardam, em toda parte, em sua constituição física, relação direta com os mundos em que vieram à luz.

XV
Os mundos, atualmente, não são todos habitados. A época presente não tem importância maior do que as precedentes e nem sobre as que se lhe hão de seguir.
Tais mundos foram habitados no passado, há milhares de séculos; tais outros sê-lo-ão no futuro, em milhares de séculos. Alguns são habitados atualmente, como o nosso.
Um dia, nada restará da Terra, e as suas próprias ruínas estarão destruídas. Mas o -- Nada -- jamais substituirá o Universo. Se as coisas e os seres não renascessem das suas cinzas, não existiria uma única estrela no Céu, pois, desde a eternidade pretérita, todos os Sóis estariam extintos, datando toda a Criação da eternidade. A duração total da humanidade representa um momento no Tempo eterno.

XVI
A vida terrestre não é o tipo das outras vidas. Ilimitada diversidade reina no Universo. Há mansões onde o peso é intenso, onde a luz é desconhecida, onde o tato, o olfato e o ouvido são os únicos sentidos; onde, não se tendo formado o nervo óptico, todos os seres são cegos. Outras há onde o peso é apenas sensível; onde os entes são tão leves e tão tênues que seriam invisíveis para os olhos terrestres; onde sentidos de extrema delicadeza revelam a Espíritos privilegiados sensações vedadas à Humanidade terrestre.

XVII
O espaço que existe entre os mundos espalhados no imenso Universo não os isola uns dos outros. Estão todos em perpétua comunicação uns com os outros pela atração gravitacional (força descoberta por Newton), que, através das distâncias, estabelece indissolúvel laço entre todos os mundos.

XVIII
O Universo forma uma unidade única.

XIX
O sistema do mundo físico é a base material, o ambiente do sistema do mundo moral ou espiritual. A Astronomia deve pois, ser a base de toda a crença filosófica e religiosa. Todo o ser pensante traz em si o sentimento, mas não a certeza da imortalidade. É porque somos as rodas microscópicas de um mecanismo desconhecido.

XX
O próprio homem é quem faz o seu destino. Levanta-se ou cai segundo as suas obras. As criaturas presas aos interesses materiais, os avarentos, os ambiciosos, os hipócritas, os mentirosos, os filhos de Tartufo, moram, com os perversos, nas zonas inferiores. Mas uma lei, primordial e absoluta, rege a Criação: a lei do Progresso. Tudo se eleva ao infinito. As faltas são quedas.

XXI
Na ascensão das almas, as qualidades morais não têm menos valor do que as qualidades intelectuais. A bondade, o devotamento, a abnegação e o sacrifício apuram a alma e a elevam, e assim também o estudo e a ciência.

XXII
A Criação universal é uma imensa harmonia na qual a Terra é um insignificante fragmento, pesado e obscuro. O conjunto dos mundos forma uma hierarquia progressiva, desde os mais atrasados aos mais adiantados, já próximos da luz divina.

XXIII
A Natureza é um perpétuo futuro. O Progresso é a lei. A progressão é eterna.

XXIV
A eternidade de uma alma não seria suficiente para visitar o Infinito e tudo conhecer.

XXV
O destino da alma é desprender-se, cada vez mais, do mundo material e pertencer definitivamente à vida superior, de onde dominará a matéria e não sofrerá mais. O fim supremo dos seres é a aproximação perpétua da perfeição absoluta e da felicidade divina.
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"Tal era o testamento científico e filosófico de Jorge Spero". (Texto extraído do livro "Urânia" de Camille Flammarion. ed. de 1966).

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