sexta-feira, 3 de julho de 2015

110) Extraordinário caso de materialização de uma menina de 6 anos numa sessão familiar em Londres, autenticada por um cético parapsicólogo - artigo de Ernesto Bozzano.

     Exorto os eventuais leitores deste blog, com relação ao texto contido no "link" abaixo, a ler e meditar, com atenção e cuidado, as 25 páginas do mesmo, e ficarão convictos da existência e sobrevivência do espírito humano, ou melhor, neste caso, convictos da persistência do "Eu" espiritual de uma criança de seis anos. E como diz o grande físico, pioneiro da radiocomunicação, Sir Oliver Lodge, em seu livro "Raymond" (tradução de Monteiro Lobato), se posso estabelecer a sobrevivência de um só indivíduo, "ipso facto", tê-la-ei estabelecido para todos. O artigo contido no "link" é de autoria do sábio filósofo e psiquista italiano Ernesto Bozzano.

http://www.autoresespiritasclassicos.com/Autores%20Espiritas%20Classicos%20%20Diversos/Ernesto%20Bozzano/38/Ernesto%20Bozzano%20-%20De%20um%20impressionante%20e%20recente%20caso%20de%20materialização.pdf

segunda-feira, 27 de abril de 2015

109) A filosofia hinduísta

O Ouroboros da Antiguidade

     Escreve o grande vulgarizador científico, médico e cientista judeu-alemão, Dr. Fritz Kahn (1888-1968):     
     "Jamais foi elaborada uma doutrina, abrangendo a ciência e a ética, como a filosofia dos antigos indianos. Schopenhauer celebrou a tradução dos Upanixades como o maior acontecimento espiritual do século dezenove."
     "Os hindus imaginam o mundo repleto de uma energia cósmica primária, a que chamam "Brama", que tem, no pensamento deles, o mesmo significado que Deus no Velho Testamento. O que se segue deve ser lido não uma, mas três vezes e lentamente, de viva voz, pois é o que de mais belo foi dito acerca da essência do universo:"
      
     "No princípio não havia nem o ser nem o não-ser. Não existia o ar, nem o céu sobre ele; não existia a água, nem as alturas, nem os abismos. Ainda não havia diferença entre o dia e a noite, nem entre a vida e a morte. Era escuro, e a escuridão ocultava o o princípio da criação. Só um existia, e nada além dele: Brama. Mas ele ainda não tinha nenhum movimento. Nem os deuses* existiam ainda, pois os deuses só mais tarde chegaram ao mundo. Por isso, ninguém conhece a origem de Brama, nem os deuses a conhecem. Mas foram os sábios** que descobriram a relação entre o ser de agora com o não ser de outrora."
     "Invisível é, ó Brama, e, todavia, está em toda parte. A mão não pode contê-lo, mas ele tudo abrange. Não pode ser visto, mas é dele que vem a luz. Ninguém o pode sentir, mas todo sentir dele provém. Por transformações sucessivas, dele nasce tudo o que existe e acontece, mas ele permanece sempre o mesmo. Nada o surpreende, e nenhuma palavra diz, seja a que respeito for. Tudo vê e tudo permite que aconteça. Tudo criado por ele é inquietação, mas ele mesmo permanece tranquilo. Assim como todas as coisas dele surgiram, assim a ele todas regressam***; por isso é paciente e tranquilo."
(Fritz Kahn, O Livro da Natureza, vol. 1, Edições Melhoramentos, 1966, págs. 25 e 26).

Observações minhas:

-- *A palavra deuses indica, no caso, a geração dos primeiros espíritos criados por Brama, antes da criação do mundo. (Uma possível explicação para este "perturbador mistério", como dizia Bozzano, sem nenhuma pretensão de infalibilidade, pode ser encontrada nos 7 primeiros artigos deste modesto blog).

-- **Os sábios de que fala o texto eram os estudiosos da "doutrina secreta", os iniciados nos mistérios dos templos da Índia e dos povos antigos. A esse respeito diz Léon Denis: "Levantando-se o véu exterior e brilhante que ocultava às massas os grandes mistérios, penetrando-se nos santuários da ideia religiosa, verificamos que as formas materiais, as cerimônias extravagantes dos cultos tinham por fim chocar a imaginação do povo. Por trás desses véus, as religiões antigas apareciam sob aspecto diverso, revestiam caráter grave e elevado, simultaneamente científico e filosófico. Seu ensino era duplo: exterior e público de um lado, interior e secreto de outro, e, neste caso, reservado somente aos iniciados. (...) Todos os ensinos religiosos do passado, o Bramanismo na Índia, o Hermetismo no Egito, o Politeísmo grego, o próprio Cristianismo em sua origem, têm uma ligação oculta, porque em sua base se encontra uma só e mesma doutrina, transmitida de idade em idade, a uma série ininterrupta de sábios e pensadores." (Léon Denis, Depois da Morte, ed. FEB, 1958, págs. 13 e 14).
     
     Por sua vez, Gabriel Delanne escreve: "No Evangelho de S. João, um senador judeu, o fariseu Nicodemos, pede a Jesus explicações sobre o dogma da vida futura. Jesus responde: Em verdade, em verdade te digo, ninguém verá o reino de Deus se não nascer de novo."
     "Nicodemos, perturbado por esta resposta, porque a tomou em seu sentido material, indagou: -- Como pode um homem nascer sendo velho? Pode, porventura, entrar no seio de sua mãe e nascer segunda vez? Jesus respondeu: -- Em verdade, em verdade te digo, que se alguém não nascer da água (obs. minha: água era, para os antigos, o elemento gerador da matéria, como se depreende das palavras iniciais do Gênesis bíblico) e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. Não te maravilhes de te dizer que é necessário nascer de novo: o espírito sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. (...)
     -- Como pode ser isto? Jesus respondeu: -- Como? Tu és mestre em Israel e ignoras isto?
     "Esta última observação do Cristo mostra bem que ele se surpreendeu não conhecesse um mestre em Israel a doutrina reencarnacionista, porque ela era ensinada como doutrina secreta aos intelectuais da época."
(Gabriel Delanne, A Reencarnação, ed. FEB, 2006, pág. 27).

Nota: Para maior esclarecimento, ver o livro "Os Grandes Iniciados", de Édouard Schuré.

-- ***Esta ideia de que Brama é tudo, e que tudo sai dele para mais tarde voltar a ele, formando um ciclo completo que se abre e fecha sobre si mesmo, como a serpente que se dobra em círculo e morde o próprio rabo (o Ouroboros da Antiguidade, que simboliza o ciclo completo das coisas, o Eterno Retorno), convalida a teoria de Deus-Energia Cósmica do filósofo Ernesto Bozzano, e sua concepção panteístico-espiritualista do Universo, como a mais convinhável para explicar o grande enigma da existência do mesmo. (Ver artigos 8, 9, 10 e 11 deste blog).
     
     Para finalizar, um ponto importante da filosofia hinduísta, de a sabedoria consistir no fato da criatura pairar acima dos acontecimentos da existência, quer bons, quer ruins (Fritz Kahn, obra citada, pág. 26):

Se a posse de um mundo perdeste,
Não sofras por isto... não importa!
Se a posse de um mundo ganhaste,
Não te alegres por isto... não importa!
Passam as dores e os prazeres,
E tu pelo mundo passas... não importa!

terça-feira, 24 de março de 2015

108) Analogia entre o espectro luminoso e a consciência humana, por Frederic Myers

 
Frederic Myers

     Se, por um prisma de vidro, atravessarmos um estreito feixe de luz solar (repetindo o famoso experimento de Sir Isaac Newton), aquele será decomposto nas cores do arco íris, formando o espectro luminoso visível; quem já viu esses espectro, contemplou na realidade toda a extensão da luz visível, pois o olho humano só é sensível a uma estreita faixa de radiações, situadas entre o vermelho e o violeta, de frequência mais elevada que o vermelho. Uma pequena diferença de frequências separa a visibilidade da invisibilidade. 
     Mas o Sol ainda emite outras espécies de radiações. Na região de frequência ainda mais baixa, aquém do vermelho espectral, estão os raios infravermelhos, que já não podem excitar a retina para dar a sensação de luz, embora a pele os sinta sob a forma de calor. Do mesmo modo, na região de frequência ainda mais alta, além do violeta, estão os raios ultravioleta, de elevada frequência para serem percebidos por nossos olhos, mas que podem ser registrados por uma placa fotográfica e possuem uma ação actínica.
     
     Na sua grande obra "A Personalidade Humana", o literato e psicólogo de Cambridge, Frederic Myers, estabelece uma importante analogia entre o espectro luminoso visível e a consciência humana, aquela que conhecemos e sentimos em nosso dia a dia, a consciência normal, que ele chama de consciência supraliminar. Fora dessa consciência, há o que os psicólogos chamam de inconsciente, e que Myers prefere denominar consciência subliminar. Assim, estamos autorizados a falar em um "Eu" supraliminar (consciente), e em um "Eu" subliminar (inconsciente). Em termos simbólicos, o primeiro estaria situado acima do limiar da consciência normal, este último abaixo.
    
     Analogamente, fora do espectro visível, existem os raios infravermelhos (aquém do vermelho), e os ultravioleta (além do violeta).

     De acordo com a analogia de Myers, correspondendo à região do infravermelho, de baixa frequência, estariam as chamadas "personalidades segundas", provocadas por sugestão (como no hipnotismo), ou espontâneas (por autossugestão), os sonhos ordinários, os estados mórbidos, as dissociações da personalidade, etc..
     Seguindo a mesma analogia, do outro lado do espectro, correspondendo à região do ultravioleta, de alta frequência, estariam as inspirações do gênio, o êxtase dos místicos, as faculdades paranormais da mente (memória integral, telepatia, clarividência e, às vezes, precognição).
     

     No primeiro caso teríamos a emersão do "Eu" subliminar inferior, altamente sugestionável, ligado ao funcionamento de centros cerebrais primitivos, ordinariamente inconscientes.     
     No segundo caso, teríamos a emersão de uma fração ou frações do "Eu" subliminar superior, onde, muitas vezes, já repontam as faculdades paranormais, e que não é sugestionável. Na sua inteireza, ele representaria o "Eu" espiritual, preexistente e sobrevivente à morte do corpo

quarta-feira, 18 de março de 2015

107) Os fenômenos anímicos já são, por si sós, suficientes para provar a sobrevivência humana, sem necessidade de recorrer aos fenômenos espíritas


Já tive ocasião de mencionar que os chamados fenômenos anímicos (denominação dada pelo sábio russo A. Aksakof) são aqueles produzidos pelo Espírito humano na sua condição de encarnado, em momentos raros e excepcionais de emancipação transitória de sua "prisão corporal", isto é, durante determinadas fases do sono natural, sono hipnótico, sonambúlico, êxtase, desmaio, delíquio, narcose, coma, etc.. Tais fenômenos são: memória integral, telepatia, clarividência e, mais raramente, precognição (ou premonição). Não há, no caso específico dessa fenomenologia, nenhuma ligação ou vinculação ao Espírito de pessoas falecidas. 

O filósofo Ernesto Bozzano respalda a tese de que essa casuística é fundamental para a demonstração da existência e sobrevivência do Espírito humano, não cabendo aos fenômenos espíritas propriamente ditos senão a adução da prova complementar (embora de si importante) da mesma demonstração.

Vejamos o que nos diz o pensador italiano em sua obra "A Propósito da Introdução à Metapsíquica Humana" (ed. FEB, 1992): (fiz pequenas modificações no texto, sem alterar-lhe o sentido, para adaptá-lo aos objetivos do blog).

Do lado psicofisiológico das manifestações anímicas, os defensores da hipótese espírita partem dos fenômenos de exteriorização da motricidade (telecinesia) e da sensibilidade para aqueles em que a telecinesia se entrelaça com o da passagem da matéria através da matéria, fenômeno que por sua vez se prende ao da desintegração a distância, transporte e reintegração instantânea de um objeto qualquer durante a sessão.
Nesse estudo os espíritas põem em ação os métodos de análise comparada, aproximando e ligando os ditos fenômenos aos da ideoplastia propriamente dita, em que a matéria somática do organismo do médium, exteriorizada sob forma fluídica ou semifluídica, se concretiza em um membro, em uma cabeça, em uma forma organizada, com o auxílio da vontade subconsciente do médium, compreendendo nesta série todas as manifestações anímicas de uma mesma ordem, que não diferem uma da outra senão pela gradação evolutiva e que respectivamente demonstram:

1º)   que a sensibilidade e a motricidade podem ser separadas dos sistemas nervoso e muscular;

2º)   que a subconsciente vontade humana tem o poder de desintegrar, a distância, e de transportar e de reintegrar a matéria;

3º)   que essa mesma vontade possui a faculdade de converter o organismo humano na substância amorfa e primitiva que o compõe, para, em seguida, empregá-la em reorganizar membros humanos, rostos e organismos também humanos, perfeitos e independentes do médium. Esse conjunto de faculdades naturalmente leva a inferir-se que o organismo humano deve resultar, por seu turno, de um produto dessas mesmas forças e faculdades exteriorizáveis, dominando a matéria inanimada, organizando a matéria somática, forças e faculdades dirigidas por uma vontade subconsciente de natureza transcendental. Em outros termos, esse conjunto leva logicamente a concluir-se que o espírito organiza o corpo e de modo nenhum o corpo organizado engendra o espírito, como afirmam os representantes da ciência oficial.

Nesse sentido, a obra magistral do Dr. Gustave Geley, De l’Inconscient au Conscient, é inteiramente consagrada à demonstração científica desta verdade básica. Escreve ele:

“A noção da ideoplastia imposta pelos fatos é capital: a idéia não mais é uma dependência, um produto da matéria; é a idéia, pelo contrário, que modela a matéria, transmitindo-lhe a forma e os atributos.” (Pág. 699.)

Não nos esqueçamos, portanto, de que essas primeiras conclusões, rigorosamente fundadas nos fatos, bastam, por si só, para demonstrar a existência no homem de um espírito independente da matéria, espírito que tudo indica preexistir ao corpo e que lhe sobrevive à morte, e são ao mesmo tempo mais que suficientes para aniquilar de vez o postulado fundamental em que repousa a biologia moderna, segundo o qual o órgão cerebral cria a função do pensamento, quando os fatos demonstram que é o espírito – isto é, a função do pensamento – que cria os órgãos.

Sempre sob a relação psicofisiológica, mas de um ponto de vista diferente, os defensores da hipótese espírita partem dos fenômenos de exteriorização da sensibilidade e da motricidade para chegar gradativamente às outras manifestações aliadas da formação completa de um “duplo psíquico” exteriorizado, idêntico ao do sensitivo submetido à experiência; duplo psíquico  provido de sensibilidade e de motricidade, mas desprovido de atributos inteligentes, pois reproduz mimeticamente todos os movimentos do sensitivo; passam em seguida nos casos espontâneos ou provocados, em que o “desdobramento” é ao mesmo tempo fluídico, sensorial e psíquico (bilocação), deslocando a personalidade consciente do sensitivo para o “duplo”, que então percebe, a distância, o seu próprio corpo somático inanimado e adormecido. Chegados a esse ponto, os defensores da hipótese espírita concluem necessariamente que no homem existe um “duplo psíquico" (perispírito) que se pode separar do organismo somático em circunstâncias especiais de afrouxamento vital, como na síncope, no êxtase, no sono fisiológico, no sonambúlico e no hipnótico, nos casos de inalação de clorofórmio, etc.
Todas essas condições de fatos, conjuntamente, levam de modo lógico a admitir-se que, se no homem existe um "duplo psíquico", que se pode afastar temporariamente do organismo somático, mesmo durante a vida terrestre, a morte não deve, então, ser mais que a definitiva separação do corpo somático do duplo, enriquecido este do espírito, que é o seu nível de mente.


Sob o ponto de vista puramente psíquico os defensores da hipótese partem das experiências de transmissão do pensamento, a curta distância, e passam às que são obtidas a distâncias consideráveis, abrindo caminho às manifestações telepáticas propriamente ditas, para as quais nenhum limite pode ser marcado.
Aproximam, em seguida, ligam e comparam essas manifestações demonstrativas do poder funcional do pensamento com as manifestações complementares da evolução e da espiritualização das faculdades sensoriais, a começar do fenômeno de “transposição dos sentidos” que, evoluindo gradativamente, se transformam nos de autoscopia e de aloscopia, em que o sensitivo percebe macroscopicamente e microscopicamente o interior do próprio corpo ou do de outrem.
Esses fenômenos se elevam por sua vez até se transformarem em lucidez propriamente dita, em que o sensitivo percebe através de qualquer corpo opaco inanimado; e abrem caminho para outros bastante mais importantes da percepção das causas e dos acontecimentos a qualquer distância do sensitivo (clarividência ou telestesia), fenômenos que se elevam até atingirem, por vezes, o cimo da clarividência no futuro (precognição). 
Ora, é desse maravilhoso conjunto de manifestações anímicas que os defensores da hipótese espírita logicamente deduzem o que dá motivo às considerações precedentes, isto é, que tudo isto vem demonstrar que, nos recônditos da subconsciência humana, se encontram faculdades psico-sensoriais de ordem muito elevada, que independem da “lei da seleção natural” que, por conseguinte, outros não podem ser senão os sentidos espirituais existentes e preformados, em estado latente nessa subconsciência humana, esperando emergir e exercer-se num meio espiritual, após a crise da morte, como no embrião existem pré-formados, no estado latente, os sentidos da vida terrestre, esperando emergir e exercer-se no meio terrestre, após a crise do nascimento.

Não há quem possa deixar de compreender que as três conclusões a que chegam os defensores da hipótese espírita, de que uma é o complemento da outra, cumulativamente equivalem a uma demonstração rigorosamente experimental da existência no homem: de um espírito independente do corpo, organizador do corpo e sobrevivente à morte deste mesmo corpo – demonstração que para se tornar incontestável e definitiva só espera a quarta conclusão complementar a tirar-se dos fenômenos espíritas propriamente ditos.

Tal a base indestrutível sobre a qual se apóia a hipótese espírita, sob o ponto de vista anímico, das manifestações metapsíquicas.
Não vejo aqui oportunidade de enumeração da gradação fenomênica, seguida no estudo das manifestações espíritas, propriamente ditas. Com efeito, uma vez provado que no homem existe independente do corpo um espírito que sobrevive à morte deste mesmo corpo, as conclusões a que se chega pela teoria espírita não são mais do que o corolário inevitável das premissas em foco.
Para validade de qualquer tese ou teoria, como para a solidez de qualquer construção material, tudo depende dos fundamentos, e dado nos foi ver que os fundamentos em que se firma aquela hipótese, graças aos fenômenos anímicos, são de uma solidez a toda prova, embora os opositores se quisessem servir do animismo para demonstrar o erro das teses espíritas.

terça-feira, 10 de março de 2015

106) Acerca dos fenômenos de ectoplasmia ou teleplastia (ou seja, de materialização parcial ou total)

Barão von Notzing
 
Dr. Eugène Osty

     Comecemos por um trecho do pai da Antropologia Criminal, o médico, psiquiatra e criminologista italiano César Lombroso. Ele escreve:      
     Sir Oliver Lodge compara os fenômenos de materialização aos do molusco que pode extrair da água a matéria da sua concha, ou ao animal que pode assimilar a matéria da sua nutrição e convertê-la em músculos, pele, ossos, penas. E assim esta entidade viva, que não se manifesta ordinariamente aos nossos sentidos, se bem esteja em relação constante com o nosso universo psíquico, possuindo uma espécie de corpo sutil (melhor diremos -- radiante), pode utilizar temporariamente as moléculas terrestres que a circundam (especialmente aquelas subtraídas ao organismo do médium que geralmente está profundamente adormecido, perdendo transitoriamente parte do seu peso e, ao que tudo indica, do próprio volume corporal), para confeccionar uma espécie de estrutura material capaz de manifestar-se aos nossos sentidos.     
     (Hipnotismo e Mediunidade, 1ª ed. FEB).     
     
     Vejamos o que nos diz, sobre esses fenômenos, o pranteado mestre da Sorbonne e Prêmio Nobel de Medicina, Prof. Dr. Charles Richet, o criador da Metapsíquica (atual Parapsicologia):    
     

     Eu poderia citar numerosíssimos casos, mas me contentarei em indicar somente alguns, retornando ao meu "Tratado de Metapsíquica", aos trabalhos de Flammarion, de Gabriel Delanne, de Bozzano e de Sudre. 

1) São, em primeiro lugar (e sempre) as admiráveis experiências de Sir William Crookes que devemos relatar. Ele viu, tocou, fotografou Katie King, que tinha todas as aparências de uma pessoa real. Ele estava com a médium, Srta. Florence Cook, em seu próprio laboratório e pode observar Katie King ao mesmo tempo que Florence Cook. Pode até ouvir as pulsações do coração de Katie. Nada mais comovente que a despedida da misteriosa e fantasmagórica Katie King. Ela anuncia que chegou a hora de partir, sua missão estava cumprida e, dirigindo-se à sua médium Florence Cook, que jazia inanimada no assoalho, desperta-a, dizendo-lhe: --"Acorde, Florence, agora preciso deixá-la". Florence despertou e, entre lágrimas, suplicou à Katie que ficasse, mas foi em vão. Katie, com seu vestido branco, desapareceu. Sir William aproximou-se então de Florence, prestes a desfalecer, e Katie desapareceu qual fumaça. Nunca mais voltou.     
     Nada satisfaria mais que essa experiência feita por um homem de ciência como Crookes. René Sudre diz, com razão: "Em um Congresso científico, 24 anos depois de suas experiências no campo psíquico, o grande cientista, no apogeu de sua glória, declarou solenemente que nada havia para se retratar de seus experimentos psíquicos. Não se pode distinguir o Crookes do tálio, dos raios catódicos e dos tubos ou ampolas que levam o seu nome, do Crookes de Katie King". 

2) Meu amigo, o Dr. Gibier, sábio eminente, diretor do Instituto Bacteriológico Pasteur de Nova York... (obs.: fato já narrado no artigo 102). 

3) Com o poderoso polonês Frank Kluski, que, infelizmente, consente com relutância em fazer experimentos, meu amigo Gustavo Geley, no laboratório do Instituto Metapsíquico Internacional (IMI), tendo-o despido completamente, vê surgir diferentes formas vivas: uma velha desdentada e enrugada, um oficial polonês de uniforme e quepe, um oficial alemão igualmente de uniforme, com capacete de ponta.      
     Em outra ocasião, Geley e eu obtivemos com ele moldagens em uma parafina, trazida por nós, e caracterizada por uma reação química especial, só por nós conhecida. São moldagens de pés e mãos de crianças, moldagens que se podem ver no IMI, e que não é possível produzir por um artifício mecânico qualquer. 

4) Tive ocasião de observar, em condições de controle irrepreensível, um fantasma que era produzido pela médium Marthe Béraud, na residência do General Noel em Argel, brilhante aluno da Escola Politécnica e Comandante de Artilharia na Argélia. Esse fantasma, que dava o nome ridículo de Bien Boa, pôde, soprando em um tubo que continha água de barita, fazer a água de barita embranquecer, como se tivesse exalado gás carbônico, à maneira de um ser vivo. O fantasma achava-se de pé, diante de Marthe, que estava sentada. Fotografias estereoscópicas demonstrativas foram tiradas. Delanne, os assistentes e eu mesmo vimos, claramente, o fantasma separado de Marthe.     
     Outra vez, em outro experimento, nós todos vimos sair do chão um vapor branco que pouco a pouco se condensou, tomando a forma de um indivíduo vivo, um homem de pequena estatura, vestido com uma túnica oriental. Depois de dar alguns passos titubeantes diante de nós, bem perto de todos, a menos de um metro, desapareceu, abatendo-se sobre o solo com o ruído de clac clac, como se fossem ossos que tombavam. A impressão foi tão clara que desconfiei de um alçapão. Mas constatamos que não havia alçapão algum.      
     Quando esses experimentos foram publicados, alguns jornalistas inescrupulosos de jornais franceses, que nada viram nem nada experimentaram, espalharam que tudo foi uma grande fraude, que eu fui ridiculamente embrulhado. A falar verdade, não era só eu, mas o General Noel, de quem já falei, o Sr. Demadrille, comandante de navio, o Sr. Decréquy, o engenheiro Gabriel Delanne.      
     Mas qual foi o erro? Oh, bem simples. O General Noel tinha um cocheiro árabe, chamado Areski, que roubava a aveia dos cavalos, e a quem ele teve que despedir. Então, para vingar-se, Areski contou que entrava na sala das sessões, um tanto clareada, fechada à chave, e examinada por nós minuciosamente, antes e depois das sessões. E disse que bancava o fantasma. E como teve a sorte de encontrar um médico enigmático de Argel, que acolheu os seus ditos, conseguiu aparecer num teatro daquela cidade e mostrar-se em cena, agitando um pano branco, como nos Sinos de Corneville. Eis tudo o que se opôs às minhas experiências.     
     
     Experimentos ulteriores, aliás, reabilitaram essa Marthe, a quem acusavam de grosseira burla. Ela foi estudada com admirável cuidado pelo Barão Albert von Schrenck-Notzing, pela Sra. Juliette Bisson, pelo Dr. Geley, pelo Dr. Bourbon, e outros. Foram tiradas várias fotografias que mostraram as espantosas ectoplasmias de Marthe. Revestiam-na de roupas costuradas especialmente para ela. Exploravam tudo. Por vezes, mesmo, levaram o controle experimental até administrar-lhe um vomitório, para que se ficasse certo de que nada tinha no estômago. Detetives foram incumbidos de espreitá-la, sem nada encontrar. Durante dois anos, von Notzing e Bisson obtiveram fenômenos extraordinários e publicaram, num grosso volume, as belas provas e fotografias obtidas.     
     
     Passemos rapidamente por outros fenômenos de ectoplasmia.     
     Houve Willy Schneider, médium austríaco, sobre o qual o já citado Barão von Notzing realizou experiências positivas, severas, reiteradas, para as quais convidou cientistas, escritores, médicos, intelectuais diversos. Todos firmaram um documento, reconhecendo a autenticidade dos fenômenos. Ao todo, 58 pessoas assinaram o documento, autenticando a realidade dos fatos observados, e reafirmando a inexistência de fraudes, graças às precauções observadas pelo Barão (ver o livro do Dr. Carlos Imbassahy, "O Espiritismo à Luz dos Fatos", 5ª ed., FEB, 1998, pág. 89).    
     

     Houve Jean Guzik, médium polonês, que foi examinado no Instituto Metapsíquico Internacional (IMI), por vários cientistas, entre os quais o Dr. Gustavo Geley, e sobre cujos fenômenos (de telecinésia e ectoplasmia), 34 pessoas influentes, da elite parisiense, assinaram um documento, garantindo a autenticidade dos fenômenos observados e a impossibilidade da existência de fraude por parte do médium, devido à rigorosa fiscalização implementada (C. Imbassahy, obra citada, pág. 96).       
     
     Houve Rudi Schneider, irmão de Willy, que foi examinado, também no IMI, pelo Dr. Eugène Osty e seu filho, o Engº Marcel Osty, acompanhados por vários cientistas, com o emprego, inclusive, de raios infravermelhos a fim de averiguar as emanações psíquicas oriundas do corpo do médium, e que deu resultados conclusivos, levando à segurança absoluta, afirma o Dr. Osty, da existência dos fenômenos de ectoplasmia. (C. Imbassahy, obra citada, pág. 92).      
     
     Os fantasmas verdadeiros têm uma realidade objetiva, com roupas, um uniforme, um boné, rendas, etc.. Os olhos movem-se, a voz é ouvida, há exalações de gás carbônico. Todos os assistentes podem vê-los, eles podem ser fotografados e movem objetos. Nenhuma diferença entre esses fantasmas e um ser vivo, a não ser que, algumas vezes, eles se atenuem e desapareçam. Formam-se de um vapor, reduzem-se depois a vapor, e se desvanecem. Enfim, os fantasmas não são somente seres humanos; mostram-se vestidos, havendo portanto materialização de objetos materiais. Katie King, antes de partir, deu fragmentos do seu vestuário que, depois, soube recompor.      
     Não há somente materialização de pessoas, também há materialização de animais. De minha parte, com Guzik, consegui uma que foi realmente espantosa.     
      Em Varsóvia, numa sala fechada à chave, apareceram, iluminadas pelo luar, duas formas de indivíduos fantasmagóricos, dos quais não se viam as faces. Conversavam entre si em polonês. Um disse: -- "Por que trouxeste teu cão?". Nesse momento, ouvimos na sala o trote de um cão. Senti o cão aproximar-se de mim e morder gentilmente meu tornozelo, sem, contudo, me machucar. Foi tão nítido que pude distinguir ser um pequeno cão do qual eu sentia os pequenos dentes pontiagudos. Depois o cãozinho aproximou-se de Geley e mordeu-o com mais força, de sorte que Geley disse: -- "Chega, chega!", ao que censurei energicamente. Deveria ter dito: -- "Mais, mais!"     
     Outra vez, Kluski sendo o médium (em minha ausência), houve materialização de uma enorme águia e uma surpreendente fotografia foi tirada. Também com Kluski, Geley viu um homem primitivo com uma crina e barba espessa, a emitir sons roucos, exalando um odor de louro e roçando as mãos dos assistentes.

Notas:
1ª) Os textos do Prof. Richet, eu os extraí dos seus livros: "A Grande Esperança", "Tratado de Metapsíquica", e do discurso que pronunciou ao retirar-se, por limite de idade, de sua cátedra na Sorbonne.

2ª) Nos trechos que extraí de trabalhos do Prof. Richet, há apenas uma pequena síntese. Muitos outros fenômenos de materialização podem ser encontrados nas obras de Alexandre Aksakof ("Animismo e Espiritismo" e "Um Caso de Desmaterialização"), de Ernesto Bozzano ("Metapsíquica Humana"), de Carlos Imbassahy ("O Espiritismo à Luz dos Fatos"), de César Lombroso ("Hipnotismo e Mediunidade"), de Alfred Erny ("O Psiquismo Experimental"), de Wallace Leal Rodrigues ("Katie King"), de R. A. Ranieri ("Materializações Luminosas"), de Nogueira de Faria ("O Trabalho dos Mortos"), etc.. Quem desejar, pode consultar o trabalho original de Crookes, "Fatos Espíritas", edição da FEB.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

105) Ligeiro bosquejo sobre a vida e obra do filósofo e cientista Ernesto Bozzano

Ernesto Bozzano
     
     Foi no ano de 1891 (diz Ernesto Bozzano) -- data para mim memorável -- que pela primeira vez me pus em contato com as pesquisas psíquicas e isso se deu por obra do professor Ribot, diretor da "Revue Philosophique", o qual espontaneamente me enviou o primeiro número dos "Anais das Ciências Psíquicas", em que se falava de telepatia (obs. minha: como frisei no artigo anterior, "telepatia" foi a palavra cunhada por Frederic Myers para designar o fenômeno em que uma pessoa prestes a morrer, ao pensar num parente ou amigo distante, transmite a este, por meio de ondas cerebrais, a sua imagem -- pelo menos esta foi a primeira interpretação que Myers deu ao fenômeno). Esta "fortuita coincidência", continua Bozzano, decidiu para sempre do meu futuro de escritor e pensador. Uma vocação predominante me havia, ao invés, conduzido a ocupar-me, exclusiva e apaixonadamente, de filosofia da ciência e Herbert Spencer era, naquele tempo, o meu ídolo. (...) Não obstante, a síntese conclusiva das minhas concepções filosóficas gravitava decisivamente na órbita dos pensadores materialistas, que negavam a existência de um Ente Supremo e a sobrevivência humana. Nessa conformidade, defendia eu, nas revistas filosóficas, esse ponto de vista com apaixonado ardor, correspondente, em tudo, ao que mais tarde viria a demonstrar em defesa de uma causa diametralmente oposta, porém infinitamente mais reconfortante.     
     
     Charles Richet (1850 - 1935) e Ernesto Bozzano (1862 - 1943) mutuaram-se influências e estímulos durante mais de 40 anos. O filósofo italiano contaria mais tarde que foi através do primeiro número dos "Anais das Ciências Psíquicas", da qual Richet era o orientador e Darieux o diretor (e que lhe foi enviado pelo prof. Ribot), que travou conhecimento com a fenomenologia paranormal. Leu os artigos iniciais dos "Anais" e leu a resposta do professor Rosembach na "Revue Philosophique", clamando contra a intrusão sacrílega desse novo misticismo na Psicologia oficial, procurando explicar os novos fatos pelas hipóteses da alucinação e das coincidências casuais. No número seguinte dos "Anais", um artigo do professor Richet, baseado em fatos comprovados, refutava, ponto por ponto, os argumentos de Rosembach. Foram justamente os argumentos fragílimos e insubsistentes de Rosembach que começaram a despertar em Bozzano o interesse pelo assunto, tendendo a levá-lo à opinião contrária a do opositor de Richet. Mas ainda era muito cedo para isto. No entanto, diria mais tarde Bozzano em sua "Autobiografia", mesmo sem dar por tal, eu já havia dado o primeiro passo no caminho da "estrada de Damasco".     
     Mas o que abalou seriamente o seu critério positivista-materialista foi a leitura da grande obra "Animismo e Espiritismo", do poliglota, conselheiro de estado russo e professor da Academia Alemã de Leipzig, Alexandre Aksakof. (...)     
     Depois do estudo das principais obras e de nove anos de experimentos (de que falaremos adiante), desfêz-se-lhe a síntese filosófica materialista, laboriosamente adquirida através dos livros e trabalhos de Büchner, Moleschott, Vogt, Feuerbarch, Tanzi, Sergi, Ardigo, Haeckel, Huxley, Comte, Taine, Guyau, Le Dantec, Morselli e do seu ídolo maior -- Herbert Spencer.       
     Pode-se dizer que Richet foi o iniciador de Bozzano nos estudos parapsíquicos. Enfrentaram-se mais tarde, várias vezes, em polêmicas serenas e elevadas -- Richet, materialista, versus Bozzano, espiritualista. E foi Bozzano quem colheu a confissão final e confidencial de Richet, poucos meses antes de sua morte (confissão que é mostrada no artigo 43 deste blog).     
     
     Continuando a exposição, Bozzano começa a ler os livros e revistas especializados que versam sobre o assunto, publicados em todos os principais centros do mundo. Da leitura, seleciona todos os casos interessantes, escrupulosamente verificados, classifica todos os fatos, dividindo-os em categorias, grupos, subgrupos, e mantém cuidadosamente em dia um quadro geral das matérias. Leu as obras de Allan Kardec, de Gabriel Delanne, Léon Denis, Eugênio Nus, Alfredo Erny, Paul Gibier, William Crookes, Alfred Russel Wallace, Edmond Gurney, Frederic Myers, Adolphe D'Assier, Karl du Prel, Alexandre Aksakof, etc., e adquire as principais obras inglesas e norteamericanas publicadas desde a origem do "movimento de Hydesville" (Dale Owen, Epes Sargent, Sra. De Morgan, Dr. Wolfe, Sra. Emma Hardinge-Britten, William Howitt). E vai catalogando os fatos, por meio de um classificador alfabético, método precioso e prático que empregará durante a sua gloriosa vida de pesquisador exemplar. Adquire, assim, uma cultura psíquica sólida e só depois considera que chegou o momento de por frente a frente os seus conhecimentos teóricos com as pesquisas experimentais, para comprovar se estas confirmam ou não aqueles.      
     Com alguns amigos de Gênova funda uma sociedade de estudos psíquicos: o "Círculo Científico Minerva", onde realiza experimentos psíquicos desde o ano de 1892 até 1906. O "Círculo" vive, especialmente, oito anos magníficos, durante os quais obtém as mais genuínas provas experimentais sobre a fenomenologia anímica e espirítica, inclusive materializações de Espíritos.     
     Quando, em 1901, decidiu entrar na liça, seu primeiro trabalho foi divulgado pela "Revista de Estudos Psíquicos", de Paris, cujo título atraía a atenção dos metapsiquistas e dos espíritas -- "O Animismo Prova o Espiritismo". Coincidência ou não, o fato é que daí em diante -- diz Bozzano -- não mais pude deixar de eviscerar, sob todos os aspectos, essa questão, que é fundamental para a correta interpretação da fenomenologia metapsíquica e cuja solução, em sentido espirítico, se apresenta como a única apta a explicar o conjunto inteiro dos fenômenos paranormais.     
     Como todo pesquisador de um ramo da ciência, Bozzano sempre empregou o método de análise comparada e fê-lo seguir de uma síntese. Daí então ele nos apresenta um acervo de 1.200 classificações de fatos extra-sensoriais pelas vias do Animismo e do Espiritismo, rigorosamente selecionados, controlados e verificados. Jamais ousou emitir conclusões de natureza geral relativamente à origem provável de qualquer categoria de fatos psíquicos, sem primeiro ter passado em revista, analisado e comparado todos os fatos daquela categoria, e todas as hipóteses formuladas para explicá-los, quer as de ordem materialista (fraudes, sugestões, autossugestões, alucinações, coincidências fortuitas), quer as de ordem anímica (memória integral, telepatia, clarividência), quer as de ordem espirítica.     
     Graças a este método que o conduzirá à convergência das provas, critério adotado em toda a sua investigação científica, graças a esta prodigiosa massa de fatos inteligentemente reunidos, Bozzano pronuncia-se com autoridade. Rebate as hipóteses dos seus contraditores em todos os domínios do pensamento: filosófico, científico, teológico. A sua lógica cerrada e o seu raciocínio preciso tornaram-no temível lutador. Sob o fogo dos seus argumentos lógicos, os adversários emudecem.     
     Cria renome cada vez maior: depressa é considerado "o grande mestre da ciência da alma". Mais de duzentas cartas por mês, provenientes de pesquisadores e curiosos de todas as partes do mundo, vêm interromper-lhe as meditações e o trabalho perseverante, executado em reclusão quase completa. A parte essencial da sua obra consiste na publicação ininterrupta de monografias poderosas, profundas (mais de cem, segundo os que as contaram), das quais só algumas foram traduzidas em francês, inglês e português. Nelas reúne os fatos mais importantes de cada categoria de fenômenos paranormais, e não elimina "a priori" qualquer hipótese, por que só tem um objetivo: através da Verdade chegar à Verdade, como ele próprio dizia. Não emprega frases impressionantes e vazias de sentido. Analisa, compara e demonstra com base exclusivamente nos fatos. Fatos, sempre fatos...        
     Para finalizar, demos a palavra ao filósofo e cientista italiano:      
     
     Na minha qualidade de defensor da teoria espírita, tomei a meu encargo submeter aos "animistas totalitários" o primeiro ensaio do material paranormal em discussão.        
     Não duvido que completarei assim um trabalho eminentemente científico e, sobretudo, literalmente decisivo relativamente à controvérsia que nos divide, e que pode se desenrolar de forma cortês de um lado como de outro. Estou preparado para esta discussão por 43 anos de estudo metódico, severo, sistemático, de natureza nitidamente científica, e sobretudo imparcial, pois, durante a mocidade, militei nos ramos do positivismo materialista, escrevendo artigos apaixonados nas Revistas filosóficas para sustentar convicções dessa época.     
     Então, nada de misticismo nas minhas convicções atuais: não é senão a lógica irresistível dos fatos que realizou a grande transformação, lógica fundada na análise comparada de um acervo imponente de 1.200 classificações de fatos, nos quais se acham registrados todos os importantes fenômenos paranormais verificados experimentalmente, ou que se produziram espontaneamente depois do movimento espiritualista até os nossos dias, assim como todas as teorias, todas as hipóteses que se têm imaginado até aqui para explicar os fatos; todas as argumentações excelentes, boas, medíocres, sofísticas, absurdas que se têm formulado a respeito.      Com este aparato formidável para a ofensiva e para a defensiva, não temo quem quer que seja, e me considero seguro para para demolir, aniquilar, pulverizar todas as hipóteses, todas as objeções, todos os sofismas da dialética contrária. E digo "dialética", porque não se pode tratar de fatos: os fatos estão ao meu lado, e a este respeito eu sei o que digo; ninguém pode saber melhor do que eu porque, sem nenhuma vaidade, nenhuma pessoa fêz o que eu fiz.      
     
     Os textos citados acima eu os respiguei dos seguintes livros: "Animismo ou Espiritismo?", e "Autobiografia" (do próprio Bozzano), "Silva Mello e os Seus Mistérios" (de Sérgio Valle), e "Os Simples e os Sábios" (de Pedro Granja).
     
     Vejamos, entre as centenas de trabalhos escritos pelo pensador italiano, aqueles já traduzidos para a nossa língua, até o momento presente, se o meu modesto conhecimento não me leva a omissões:

-- Cinco Excepcionais Casos de Identificação de Espíritos
-- A Propósito da Obra "Psicologia e Espiritismo", do Prof. Enrico Morselli
-- Fenômenos Premonitórios
-- Fenômenos de Assombramento (*)
-- Enigmas da Psicometria  
-- Fenômenos de Telestesia
-- Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte
-- A Alma nos Animais
-- Comunicações Mediúnicas Entre Vivos 
-- Povos Primitivos e Manifestações Paranormais
-- Notáveis Intuições Filosóficas e Científicas entre os Selvagens Africanos
-- A Propósito da Introdução à Metapsíquica Humana
-- Pensamento e Vontade
-- A Crise da Morte
-- Literatura de Além-Túmulo
-- Fenômenos de Transporte
-- Xenoglossia
-- Fenômenos de Bilocação
-- Breve História dos "Raps"
-- Marcas e Impressões Paranormais de Mãos de Fogo
-- Fenômenos de Transfiguração
-- Materializações de Espíritos em Proporções Minúsculas
-- Remontando às Origens
-- Visão Panorâmica ou Memória Sintética na Iminência da Morte
-- Telepatia, Telemnésia e a lei da Relação Psíquica
-- Experiências Espíritas de um Ministro da Igreja Anglicana
-- Cérebro e Pensamento
-- Gemas, Amuletos e Talismãs
-- Animismo ou Espiritismo? Qual Deles Explica os Fatos?

(*) Obra traduzida pelo "site"  http://www.autoresespiritasclassicos.com
     Nesse site, há duas outras obras de Bozzano em vias de tradução:
     "Guerra e Profecia" e "Os Mortos Retornam".
     
     Para finalizar, faço minhas as palavras do grande filósofo e cientista italiano, refutando o psiquista francês, materialista, René Sudre, na sua obra "A Propósito da Introdução à Metapsíquica Humana":
    
     "Se outra é a opinião de Sudre
(e de seus adeptos materialistas - obs. minha) a tal respeito, é que certamente dispõe de elementos que a justifiquem e então fácil lhe será achar uma explicação natural para todos os casos de que tratam alguns dos meus trabalhos, competindo-lhe refutar, uns após outros, todos os argumentos por mim apresentados em favor da sua gênese indiscutivelmente espírita. Uma explicação natural, repito, para a todos os casos de que tratam alguns dos meus trabalhos, e não para dois ou três casos, escolhidos a dedo, e que se prestem a "exercitações" sofísticas. Espero que os meus contraditores não emudeçam, mas que venham contestar-me no terreno dos fatos, pois sinto-me em condições para responder em todas as circunstâncias, graças, é certo, não ao meu mérito, mas à qualidade da causa que defendo.


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

104) Como surgiu a palavra "telepatia" e quem foi o seu criador?

Charles Richet
     
Frederic Myers

Camille Flammarion
     












     O vocábulo "telepatia" significa, é certo, transmissão de pensamentos. Contudo, talvez poucas pessoas saibam que é muito mais frequente a ocorrência de fenômenos telepáticos sob a forma de transmissão ou projeção de imagens do que sob a forma de transmissão de palavras ou frases.     
     Demos a palavra ao professor, médico e fisiologista francês (Prêmio Nobel de Medicina) Charles Richet, fundador da Metapsíquica, em sua conferência de despedida na Cátedra da Sorbonne, por ter atingido o limite de idade. 
     Diz ele: (farei alguns adendos para esclarecer melhor a exposição do mestre).     

     "Pode-se resumir toda a Metapsíquica subjetiva em uma proposição muito simples que não é, de todo, uma teoria. É unicamente a exposição de um fato que me parece evidente e que formularei assim: há, para o conhecimento da realidade, outras vias além das vias sensoriais comuns. Por outras palavras, a inteligência pode conhecer um fragmento da realidade quando nem a vista normal, nem o ouvido, nem o tato, puderam revelar-lhe".     
     "Para chegar a essa verificação existem as observações e os experimentos. Falarei, primeiro, das observações".     
     "Elas são inumeráveis. Foram recolhidas, com cuidado extremo, por meus sábios amigos da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres, Gurney, Myers e Podmore, que publicaram um belo livro em 1886 -- Phantasmas of the Living -- com 770 páginas e 702 casos. Trata-se, as mais das vezes, do que se pode chamar uma alucinação verídica, porque há concordância entre ela e um acontecimento exterior que nada faria prever".     
      "Em quantos casos bem autenticados indivíduos viram aparecer a imagem de outra pessoa, amiga ou parente, que, nesse exato instante, falecia ! Não podendo apresentar, nesta sucinta exposição, mais que um miserável resumo, citarei apenas dois fatos".     

     "Smith, empregado bancário em Londres, entra em casa e, depois do jantar, conversa tranquilamente com sua esposa. De repente, pergunta: -- Que horas são? -- Oito e quarenta e cinco -- É, pois, à 8 e 45 que Fred morre; acabo de vê-lo. Com efeito, nesse momento preciso morria Fred, que não estava doente".     

     "O Sr. Wingfield, na Índia, achava-se acordado num iate, quando vê aparecer, na cabine, o irmão, pálido e triste. Espantado, vai para outra cabine e escreve em seu caderno de notas as iniciais do irmão, com estas palavras: God forbid (Deus nos livre). Ele anota a data e a hora da aparição. À mesma hora e no mesmo dia, na Inglaterra, morria seu irmão, William Baker, por motivo da queda de um cavalo".     

     "Paro aqui: poderia citar mais de cem casos análogos, igualmente probantes. Nem o erro, nem a fraude, nem o acaso, bastariam para explicá-los".     
     "Frederic Myers deu a essas alucinações verídicas, isto é, tendo alguma relação com a realidade, e verificadas em condições irrepreensíveis, o nome de telepatia. Ele supôs que as vibrações cerebrais do indivíduo A, geralmente prestes a morrer, se propagam por ondas esféricas circulares, e são captadas pelo cérebro do indivíduo B, ligado a A por laços de parentesco ou amizade, sob a forma de uma imagem de A (A seria o agente e B o percipiente). Na Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres adotou-se rapidamente essa opinião, e a teoria da telepatia presto se vulgarizou".

Obs. minha: "O pensamento produtor de imagens", é como o astrônomo Camille Flammarion designou os fenômenos acima, também conhecidos como aparições telepáticas de moribundos, porque na maior parte dos casos (embora não em todos) são moribundos os responsáveis pelos fenômenos. Os fenômenos de transmissão telepática de imagens, como disse antes, são muito mais frequentes do que os de transmissão de palavras ou frases. Recomendo o livro "O Desconhecido e os Fenômenos Psíquicos" (ed. FEB, 555 páginas), do astrônomo francês, onde esses e outros fenômenos (visão à distância sem o auxílio dos olhos, e previsão do futuro) são citados às centenas. Pode-se consultar também, do mesmo autor, "A Morte e o Seu Mistério", em 3 volumes ("Antes da morte", "À Volta da Morte", e "Depois da Morte").

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

103) Os experimentos psíquicos do astrofísico alemão Friedrich Zöllner

Friedrich Zöllner

     Johann Karl Friedrich Zöllner, ou apenas Friedrich Zöllner, como era mais conhecido, foi um famoso astrofísico alemão e professor da Universidade de Leipzig, Alemanha. Foi também membro da Sociedade Real de Ciências da Inglaterra, membro correspondente da Real Sociedade Astronômica de Londres, da Imperial Academia de Ciências Físicas e Naturais de Moscou, membro honorário da Associação de Ciências Físicas de Frankfurt em Main, da Sociedade Científica de Estudos Psíquicos em Paris, e da Associação Britânica de Espiritualistas de Londres. Nasceu em Berlim, a 08 de novembro de 1834 e faleceu precocemente em Leipzig, Alemanha, a 25 de abril de 1882, aos 48 anos de idade, em virtude do súbito rompimento de um aneurisma cerebral. Deixou inúmeros trabalhos na área da astronomia e da ótica física, onde ficou bastante conhecido por suas pesquisas na área da ilusão de ótica. Seu trabalho em ótica, desenvolvido em 1860, foi denominado Ilusão de Zöllner, em que linhas paralelas se mostravam como diagonais. Na área da astronomia ele se destacou provando a teoria de Christian Doppler sobre o efeito do movimento na cor das irradiações eletromagnéticas das estrelas em consequência do desvio das linhas do espectro da luz emitida por estes corpos celestes. Ele inventou um aparelho muito sensível chamado Astrophotometer, capaz de medir essas variações. Em sua homenagem, uma das crateras da lua foi denominada Cratera de Zöllner. Em 1872, foi convidado a ocupar a cátedra de Astrofísica na Universidade de Leipzig. Em Astrofísica, seus principais trabalhos foram "A Natureza dos Cometas", "Esboço de Fotometria Universal dos Céus Estrelados", "Natureza dos Corpos Celestes".
     Zöllner estudou cuidadosamente os fenômenos psíquicos através do médium norteamericano Henry Slade, desenvolvendo uma série de experimentos em sua própria casa, juntamente com outros cientistas (Weber, Fechner, Scheibner, Erdmann, Thiersch, etc.). É preciso ler o seu livro "Física Transcendental" (no original alemão), ou, na tradução brasileira, "Provas Científicas da Sobrevivência" (Edicel, 1966) para se ter uma ideia dos fenômenos observados. Farei um breve apanhado: escrita entre duas lousas hermeticamente lacradas (escrita direta), impressões permanentes de mãos e pés, nós em uma corda cujas pontas foram lacradas juntas, materialização de mãos, desaparecimento e posterior reaparecimento de objetos, moedas transportadas de caixas hermeticamente fechadas, diversos exemplos de fenômenos da chamada "passagem da matéria através da matéria", etc.. Para explicar tais fatos, Zöllner postulou a existência de uma quarta dimensão do espaço (completamente inconcebível para os nossos cérebros tridimensionais), e de seres espirituais vivendo nessa quarta dimensão espacial, seres esses que seriam os causadores dos fenômenos observados, todos eles obtidos sem nenhuma escuridade.     

     Eis o que, a este respeito, nos diz o sábio criminologista César Lombroso:

     Para que um objeto possa penetrar, do exterior de uma habitação fechada, sem abrir as portas, ou as janelas, é preciso fazê-lo passar através da madeira, ou do vidro, ou dos tijolos; mas para isto, é necessário que suceda uma destas duas coisas: que os átomos do objeto passem pelos intervalos interatômicos das paredes, isto é, que o objeto seja decomposto em matéria imponderável (operação denominada desmaterialização) antes de passar pelas paredes, e recomposto depois; ou, para aparecer ou desaparecer, sem passar pelas paredes, seria necessário que ele entrasse em uma quarta dimensão do espaço e depois tornasse a sair. Para seres que vivessem num espaço de apenas duas dimensões (seres bidimensionais), poderíamos fazer desaparecer um objeto retilíneo bidimensional situado dentro de um círculo, e depois fazê-lo reaparecer fora desse círculo, porque podemos erguê-lo no ar, fazê-lo desaparecer numa terceira dimensão, na altura ou profundidade (que esses seres bidimensionais não poderiam sequer imaginar).
     Esta hipótese (da quarta dimensão espacial) foi sustentada, primeiramente, pelo astrônomo e físico alemão Friedrich Zöllner, em seus experimentos com o médium Slade.
(Hipnotismo e Mediunidade, 1ª ed., FEB, sem data).


     Citarei agora um trecho bastante esclarecedor do Dr. Jayme Cerviño, no seu livro "Além do Inconsciente", ed. Feb, 2005:
      
     O aspecto mais enigmático dos fenômenos de transporte não é o trazimento de um objeto situado noutra parte da própria casa ou a muitas léguas, mas a penetração do mesmo em um recinto hermeticamente fechado, onde se reúnem médium e experimentadores. Zöllner, em seu livro, não só pretende ter demonstrado a "penetração da matéria através da matéria", como sugere uma quarta dimensão do espaço para explicar o fato. No cinema, o projetor, através de uma terceira dimensão, coloca e tira da tela bidimensional, todas as imagens que animam o filme. Assim, o objeto transportado penetraria, através da quarta dimensão espacial, no ambiente tridimensional representado pela sala fechada. Ernesto Bozzano, que escreveu uma extensa monografia para provar a existência dos fenômenos de transporte, considera fantástica a hipótese de Zöllner. Admite e argumenta, com certas observações parapsicológicas, que todos os corpos possuem uma "forma arquétipo" ou "duplo psíquico", que permanece após a desintegração e possibilita a reintegração instantânea da matéria. Quanto à prodigiosa soma de energia necessária a uma transformação dessa natureza, salienta que que "não se trata somente de energia física, mas, acima de tudo, de energia psíquica, liberada por um ato de vontade subconsciente ou extrínseca".

Obs. minhas:

1ª) Para não deixar margem a dúvidas, todos os fatos citados por Bozzano em sua documentada monografia sobre os "Fenômenos de Transporte" (ed. Calvário, 1972) foram obtidos em plena luz ou com luz suficiente.

2ª) O fato de, em alguns casos citados por Bozzano, os objetos transportados terem sido encontrados tépidos ou quentes, demonstra, segundo o filósofo italiano, que houve "comoção molecular" do objeto, o que abona a hipótese de uma provável desintegração e posterior reintegração material, segundo o modelo preexistente no "duplo" do objeto, e afasta a hipótese gratuita e insustentável de uma quarta dimensão espacial, hipótese ultrametafísica, indemonstrável e que permanecerá eternamente impensável, afirma o mestre italiano.

3ª) Não posso esconder a minha predileção pela teoria do "grande mestre da ciência da alma", como era chamado pelos espíritas ingleses, mesmo porque, como dizia Flammarion, "um fato incompreensível é sempre um fato, mas uma explicação incompreensível não é uma explicação".