quarta-feira, 2 de outubro de 2019

126) A opinião do físico Sir William Barrett sobre os dois fenômenos, o espírita e o místico.

    Sir William Barrett
   Problema bastante complexo, sobre o qual tentei empreender uma abordagem sumária, sujeita a retificações e ampliações, no artigo número 114 deste blog. Por outro lado, no artigo 97, apresentei as credenciais científicas de Sir William Barrett e seus experimentos psíquicos que o levaram a comprovar a sobrevivência humana. Neste, ressalto a semelhança dos conceitos de 'Sua Voz" em "A Grande Síntese" (capítulos II e IV), sobre a intuição supra-racional, sintetizados por mim nos artigos 21 e 22, com os expostos  abaixo pelo eminente físico.

     Em seu livro "On the Treshold of the Unseen", traduzido para a nossa língua pelo espírita português Isidoro Duarte Santos sob o título "Nos Umbrais do Além" (Estudos Psíquicos Editora, Lisboa, 1947), o físico experimental inglês Sir William Fletcher Barrett (1844-1925), Professor de Física da Universidade de Dublin, após apresentar uma grande cópia de fatos paranormais que comprovam a existência e sobrevivência do espírito humano, à pág. 263, escreve o seguinte:

     Os fenômenos transcendentes que acabamos de estudar, longe de excluir, pressupõem o 'princípio divino da alma', empregando aqui a expressão mística. No verdadeiro sentido da palavra, o sobrenatural transcende o supranormal (ou paranormal). No dizer do reverendo J. R. Ilingworth, em seu livro 'Personality', "além da própria consciência, coloca-se certamente a realidade última, de que a consciência é o reflexo ou a fraca representação".
     A união íntima da alma com Deus, a manifestação do Infinito no finito e para o finito, eis a ideia fundamental, não só dos místicos, mas também do Novo Testamento e de todos os grandes pensadores cristãos. Atingir esta consciência mais profunda e, consequentemente, a nossa personalidade integral, pertence ao domínio da 'Religião', cujo verdadeiro tema é a vida superior, em vez da vida futura. 
     Este conhecimento de Deus, e não das modalidades de Sua ação, isto é, a consciência de Sua presença em toda parte, é o que se entende por Religião. É evidente que, nesta acepção especial, o Espiritismo não é, nem pode ser uma religião, cuja base essencial reside nos pendores elevados da alma, a que chamamos 'fé'. O cônego Scott Holland diz em "Lux Mundi": 'A fé á força que liga a vida consciente a Deus... Portanto, a fé abre à criatura uma existência inteiramente nova, que se exprime pelo Sobrenatural. O mundo sobrenatural abre-se-nos, logo que a fé verdadeira atinge o ser.'
     O Espiritismo tampouco nos poderá certificar do sobrenatural, como se pretendeu. No verdadeiro sentido da palavra, o sobrenatural é incomunicável da parte de fora, pois é a voz do Espírito Universal que fala ao espírito humano, ou, no dizer de Plótino, 'o voo da consciência pessoal em direção à Consciência Transcendental, porque se quiser ouvir a voz de Deus, a alma deve permanecer em absoluta paz interna'. À semelhança dos grandes profetas e dos poetas, algumas almas humanas mais humildes tiveram esta revelação divina.
     Esta separação de si mesmo, esta renúncia total é que permite à Consciência de Deus penetrar em nossa vida. Sentimos enfraquecer a vontade consciente, tomamos contato com a Vontade Divina e só então atingimos a finalidade da existência terrestre: contatar a Consciência Divina e descobrir a nossa verdadeira personalidade, que é imortal e só se realizará integralmente quando atingir esse objetivo. É a finalidade da vida. Hermann Lotze disse-nos que 'a personalidade integral está em Deus'. Por outras palavras, quando nos tornarmos conscientes da Vida e do Amor Divino em nós, nossa vida humana partilhará conscientemente da Vida sem fim na Divindade; sem esta consciência, a existência não só é pouco satisfatória, mas também difícil de suportar. 
     Concluir, pois, como se faz habitualmente, que as comunicações espíritas nos ensinam a imortalidade indubitável, inerente, da alma, parece-me um grande erro. É verdade que nos demonstram que a vida pode existir no invisível, e (se aceitarmos as provas de identidade) que alguns seres que conhecemos na Terra continuam a viver e estão perto de nós. Mas a existência da vida após a morte não implica, necessariamente, na imortalidade, ou seja, na persistência eterna da nossa personalidade; isso prova apenas que a sobrevivência se estende a todos. Evidentemente, nenhuma prova experimental poderá jamais afirmar-nos uma ou outra crença, embora a crença espírita possa fazer ou faça justiça às objeções levantadas contra a possibilidade da sobrevivência.

Nota minha: Para se atingir esse estado voluntário de 'comunhão íntima com o divino', necessário se faz um laborioso trabalho de ascese e purificação, moral e espiritual, evitando até mesmo a ingestão de alimentos nocivos ao circuito vital. É o que nos ensinam os grandes místicos.

sábado, 31 de agosto de 2019

125) Ernesto Bozzano, o grande mestre da ciência da alma, faz alvissareiras previsões sobre o futuro da humanidade. Quando elas se efetivarão?

     Texto de autoria de Francesco Leti, sobre o filósofo espiritualista Ernesto Bozzano, publicado em março de 1936, no "Reformador", órgão oficial da Federação Espírita Brasileira. Ei-lo:

     Ernesto Bozzano, entre os pioneiros dos estudos da fenomenologia paranormal, é certamente o que ocupa o grau mais elevado, o posto mais eminente, pela profundeza e genialidade da sua mente, pela agudeza incomparável da sua análise, pelo conhecimento vasto e profundo que possui do assunto de que trata. Quando a ciência conseguir demonstrar a sobrevivência da alma e começar a ensiná-la das cátedras universitárias, nesse dia, finalmente, se iniciará uma profunda revolução, que transformará e redimirá seriamente a humanidade.
     Num recente artigo na revista "A Pequisa Psíquica", Ernesto Bozzano escreveu estas palavras de ouro: 
     Quando luzir a alvorada do grande dia em que, das cátedras universitárias se anunciará, a uma humanidade sequiosa de penetrar o mistério do ser, que a ciência há chegado, afinal, a demonstrar experimentalmente a existência e sobrevivência do espírito humano, iniciar-se-á a transformação, a reconstituição, a redenção espiritual da humanidade civilizada, dado que uma coisa é crer por um "ato de fé", e outra, bem diversa, o saber, por comprovação científica, que o espírito humano sobrevive à morte do corpo. Quando se der o grande acontecimento, despontará a alvorada de uma nova era no horizonte do cognoscível humano, em que as bases do saber terreno deixarão de se assentar sobre a concepção mecânico-materialista do universo, para se estabelecerem sobre a concepção dinâmico-espiritualista do ser, com todas as consequências éticas, filosóficas, sociais e morais que daí decorrerão. Nesse dia, já não haverá disputas entre os doutos acerca da existência de uma ética na vida, porque todos conhecerão as bases de uma ética superior, e cada pessoa fará o melhor possível para moldar a sua própria transformação diante da vida de além-túmulo. E como os povos são constituídos por pessoas, não haverá mais no mundo nações antagônicas: realizada estará, ao contrário, a unidade harmônica da grande família humana. Já não haverá partidos, seitas, utópicos fermentos sociais, flageladores da vida dos povos, porque reinará soberana uma lei espiritual compreendida e praticada espontaneamente por todos: fraternidade, solidariedade, amor, entre os peregrinos de um instante no mundo dos vivos. 

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

124) Os fenômenos paranormais, em sua totalidade, são fruto de embustes, dizem os prestidigitadores; pois provem, retruca o Dr. Geley.

      Carlos Imbassahy                  Gustavo Geley 
                                                                             
Extraio o conteúdo abaixo do livro "O Espiritismo à Luz dos Fatos" (5a. ed., FEB, 1998), do escritor Carlos Imbassahy: 

     Quando o médium polonês Jean Guzik se submeteu à inspeção do Instituto Metapsíquico Internacional (I.M.I.) e produziu admiráveis fenômenos paranormais, um grupo seleto de intelectuais franceses, entre os quais se achavam grandes notabilidades científicas do país, firmou um abaixo assinado, denominado o Relatório dos 34, onde os signatários concluíam pela autenticidade irrefragável dos fatos que tinham testemunhado e submetido à mais rigorosa experimentação. 
     Tal relatório, como é de ver, dado o valor dos que o subscreveram, produziu, nuns, profunda emoção e, noutros, grande azáfama. Sobressaltaram-se os adversários dos estudos psíquicos e não faltaram os que, sem nada haver presenciado, inquinassem logo de fraude tudo aquilo. Os leigos opinaram pelo embuste; a coisa se resumia, nem mais nem menos, do que nisso: - “prestidigitação”. Ou seja: tudo jogo de mãos, e talvez de pés. E aquela descoberta teve um reforço considerável: é que saiu a campo para roborá-la o prestidigitador Dickson. Este, com admiração geral, declarou pela imprensa que não havia  fenômeno nenhum extraordinário, senão truques, que ele reproduziria. Falava um perito! 
     Esta afirmativa de um prestidigitador animou, incentivou, desencadeou a campanha dos negativistas, e Dickson, envaidecido pelos aplausos, chegou a lançar um desafio pelo “Le Matin” de 9 de junho de 1923, onde se comprometia a reproduzir os fenômenos realizados por Guzik. 
     Foi quando o entrou em cena o diretor do Instituto (I.M.I.), Dr. Gustavo Geley. Este, dirigiu então, oficialmente, em 14 de junho de 1923, ao “Matin”, a seguinte carta: 

     Sr. Redator Chefe: 
     Em resposta ao artigo intitulado – Uma declaração do Prof. Dickson – aparecida no “Matin” de 9 de junho, pedimos-lhe a fineza de inserir em seu jornal a nota seguinte: - O Instituto Metapsíquico se associa ao desafio lançado pelo prestidigitador Dickson e oferece por seu turno uma soma de 10.000 francos, não só ao Sr. Dickson, como a qualquer prestidigitador que conseguir reproduzir, sem o concurso de um médium, e nas mesmas condições de “controle” do I.M.I., os fenômenos constantes da relação assinada por 34 nomes eminentes e publicadas por extenso pelo “Matin” de 1 de junho. 
     O I.M.I. entregará a soma de 10.000 francos ao presidente do júri. Se o prestidigitador conseguir realizar as condições do desafio, retomará os seus 10.000 francos depositados e ficará com a plena propriedade dos 10.000 francos do Instituto. No caso contrário, o Instituto retirará, apenas, os seus 10.000 francos e os do prestidigitador serão entregues ao “Matin”, em proveito dos laboratórios.  
      O prestidigitador será submetido exatamente à mesma fiscalização que o nosso médium. Ele virá ao Instituto, será despido e examinado por dois dos signatários do relatório, revestido de um pijama sem bolsos, fornecido por nós. 
     Só nesse momento entrará na sala de sessões; será seguro pelas mãos; seus pulsos serão presos aos pulsos de dois fiscalizadores por uma fita curta, duplamente lacrada;  seus pés e suas pernas serão imobilizados. 
     Como nas sessões do I.M.I., serão os assistentes ligados uns aos outros por cadeados e correntes, que os prenderão mão a mão, em torno de uma mesa; todas as portas e aberturas serão fechadas antes de começar a sessão e seladas por meio de cintas de papel, revestidas das assinaturas dos presentes. 
     Nessas condições, o prestidigitador deverá reproduzir os fenômenos de Guzik: - deslocamentos amplos de uma cadeira ou mesa colocados a 1m, 50 atrás de si; toques feitos na cabeça e nas costas dos fiscalizadores; fenômenos luminosos a distância. 
     Diz o adágio jurídico que pertence ao acusador fazer a prova. O Sr. Dickson, em nome da prestidigitação, acusa; nós lhe oferecemos, a ele ou à qualquer prestidigitador, provar o fundamento da acusação. 
     Receba, Sr. Redator Chefe, a segurança... 
     Pelo Instituto Metapsiquico Internacional, 
     O Diretor - Gustavo Geley. 
     
     Como se lê, o que o diretor do Instituto oferecia ao prestidigitador pela quantia de 10.000 francos, era reproduzir os fenômenos de Guzik, tais como este os fazia, com o “controle” exercido pelo Instituto, isto é, o prestidigitador deveria sujeitar-se à fiscalização a que Guzik se sujeitara. 
     Ótima oportunidade para que o mágico demonstrasse o ilusionismo da fenomenologia psíquica; como o convite fora feito ao Dickson, em particular, e aos mágicos em geral, a oportunidade era ótima para que dela se aproveitassem todos os que proclamam a fácil imitação dos processos espíritas. 
     Pois o Dickson não apareceu no Instituto. Nem o Dickson, nem nenhum outro. A abstenção foi completa. 
     Não se trata de um caso isolado, nem seria a primeira vez que um ilusionista, chamado à prova, depois de assegurar as suas habilidades em matéria de imitação psíquica, se veria na contingência de evadir-se, ao lhe imporem as condições de “controle” estabelecidas para os médiuns. Não há, na história dos fatos parapsíquicos, um prestidigitador que se tenha saído feliz, quando se mete a reptar um médium verdadeiro ou a demonstrar-lhe os truques, desde que submetido às mesmas condições daquele. De boca todos o fazem, mas não na prática, vistoriado e controlado por argutos e perspicazes experimentadores.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

123) Um livro que merece ser reeditado: "Silva Mello e os Seus Mistérios", do Dr. Sérgio Valle.

 Apresentemo-lo pela pena do grande escritor espírita brasileiro, Dr. Carlos Imbassahy:
     "O Dr. Antônio da Silva Mello, médico, profissional de fama, já se havia celebrizado nas letras por várias obras, umas de fundo científico, outras de cunho filosófico. Médico e autor, que deixava atrás de si um rastro de admiração e entusiasmo, rastro luminoso como o de certos meteoros quando sulcam o espaço."
     "Mas a admiração subiu de ponto, quando apareceu o seu último trabalho, intitulado 'Mistérios e Realidades Deste e do Outro Mundo'. Já a admiração se transformava em assombro. Eram seiscentas páginas compactas, maciças, de 'provas' contra os fenômenos espíritas. Em meio aos cortes e recortes, às transcrições de livros, aos nomes de autores que ninguém conhecia, mas que eram precedidos de adjetivos sonoros, no meio de todos os temperos com que condimentou o seu guizado, o Dr. Mello, com as tintas da sua psicologia, resolveu entrar com o fator sugestivo, e começou a fazer com que o leitor se sugestionasse, acreditando na autenticidade das citações, na irrefragabilidade da argumentação, na impecabilidade da construção, na sublimidade da obra."
     "E a coisa pegou. Pegou, ao que parece, a julgar-se pelos encômios que choviam de toda a parte, como as luzes dos fogos de bengala. É que o médico dizia: -- 'acreditem em mim, eu estou dizendo a verdade, é isso mesmo, estou fazendo obra muito útil'..."
     "O pessoal foi caindo... E os elogios vieram cantando, e se os pudéssemos musicar, teríamos composto um hino de louvores, um poema, uma "silvíada", ou coisa que lembrasse a epopeia de Camões."  
     "Não há mal, porém, que sempre perdure, nem bem que nunca se acabe. Assim é que apareceu em cena, sem que ninguém esperasse, o Dr. Sérgio Valle, colega do outro, e lançou o seu formidável contra-libelo -- 'Silva Mello e os Seus Mistérios'."
     "Cientista como o autor dos Mistérios, médico como ele, escritor de pulso, ainda leva sobre o seu adversário a vantagem do estilo, de uma ironia, talvez a pior para o antagonista, porque é aquela que faz rir, e o riso do leitor, atuando como um pé de vento, põe em baixo, com uma só rajada, o volumoso castelo de papelão que o Dr. Silva Mello havia armado com tanto jeito."
     "Os pontos do livro do escritor anti-psíquico que Sérgio Valle analisa, são para logo arrasados. Foi uma contra-ofensiva inesperada, com todos os sintomas de ataque fulminante. Não fica nada de pé: é uma destruição apocalíptica."
     "Por falta de sorte, teve Mello que se avir com com um antagonista temível, sob o ponto de vista literário. Sérgio Valle escreve bem, argumenta bem, ironiza bem. Está senhor do terreno. Dir-se-ia que, como um estrategista da pena, sondou as posições do adversário, viu-lhe a vulnerabilidade, onde todos julgavam a fortaleza inexpugnável, e caiu-lhe em cima com um vigor, uma habilidade e uma inteligência desnorteantes."
     "Nem o ilustre Mello se poderá queixar. Dele partiu a ofensiva, violenta e mascarada. Di-lo muito bem Sérgio Valle: -- 'O duelo entre mim e o colega Silva Mello nasceu da provocação insólita dos Mistérios. Foi ele quem escolheu o campo no qual nos enterreiramos, quem elegeu o pretexto, a maneira e o estilo de resolvê-lo. Forçou-nos àquela situação descrita por Euclides da Cunha, no estouro da boiada, quando o vaqueiro se arremessa, impetuoso, na esteira dos destroços, enristado o ferrão, rédeas soltas, soltos os estribos, estirado sobre o lombo, preso às crinas do cavalo'. "
     "Disse... e lavou as mãos. E, agora, tome lenha. Lenha que, no caso, atuou como específico. Bom médico, viu logo que o doente precisava de um remédio forte."

     Ao mesmo tempo em que o Dr. Sérgio Valle escrevia o seu livro, os escritores Carlos Imbassahy (já citado) e Pedro Granja também preparavam o seu, a que puseram o título "Fantasmas, Fantasias e Fantoches" (que também mereceria ser reeditado), refutando os argumentos do Dr. Silva Mello. Escreve Imbassahy:
     "O Dr. Mello teve uma habilidade rara, a de não deixar escapar nenhuma das anedotas que correm mundo, a respeito das experiências clássicas da Metapsíquica, isto de envolta com o relato de fraudes que existem, e sempre existiram, e hão de existir, enquanto houver fraudulentos e embusteiros, para atestar a má qualidade do barro com que fomos forjados."
     "Quem quiser um vasto repositório de inverdades, baboseiras, frivolidades, invenções ridículas, confissões inverossímeis, auto-acusações, burlas imaginárias, é só pegar o livro do doutor: há ali uns indivíduos que vieram dizer que os médiuns trapaceavam, sem se saber que idoneidade tinham; outros relatam confissões de médiuns feitas a eles, ali ao pé do ouvido, às vezes quando o médium expirava e não podia desmenti-los; outros, não se sabe porquê, substituíam-se ao sacerdote nessas confissões; as confissões, em regra, só estouram depois da morte do mistificador; outros dizem que sabem como a coisa foi feita pelo hipotético burlão, mas não aceitam submeter-se às mesmas condições a que os médiuns verdadeiros ficaram sujeitos, para que provem de uma vez a farsa na produção dos fenômenos. Em algumas vezes, são umas acusações imprecisas, vagas, onde não aparece ninguém, onde não se vê o nome do acusador. Outras vezes são o Paul Heuzé, o Max Dessoir e quejandos, que nada viram e nada experimentaram, já várias vezes desmoralizados pelos psiquistas sérios, que desmentiram publicamente suas falsas informações."
     "E naquele vê-se, ouve-se, sabe-se, sente-se, diz-se, contou-se, está a condenação formal, a perda irremediável das mais comprovadas, das mais graníticas experiências, realizadas por centenas de cientistas e filósofos de vários países do mundo, que se cercaram de todos os cuidados, de todos os apetrechos e instrumentos necessários para elidir a fraude."

     Finalizemos com o texto de um grande psiquista francês, investigador profundo dos fenômenos paranormais, também médico, Dr. Gustave Geley, em seu livro "Resumo da Doutrina Espírita":
     "Os fenômenos espíritas têm sido observados por muitíssimas testemunhas conscientes e por muitíssimos sábios ilustres que os controlaram, para que hoje se possam negar a priori. E mais ainda: ninguém tem o direito de combater, sem prévia contra-experimentação, as conclusões experimentais dos Robert Hare, William Crookes, Russel Wallace, Cromwell Varley, Henry Sidgwick, Edmund Gurney, Alexandre Aksakof, Friedrich Zöllner, Carl du Prel, Paul Gibier, Dale Owen, James Hyslop, Richard Hodgson, Frank Podmore, Oliver Lodge, William Barrett, Frederic Myers, César Lombroso, Enrico Morselli, Albert de Rochas, Charles Richet, Camille Flammarion, César de Vesme, Julian Ochorowicz, Schrenck-Notzing, Ernesto Bozzano, e tantos outros não menos ilustres."
     "Justificada ou não justificada, a doutrina espírita é suficientemente grandiosa para suscitar discussão profunda aos pensadores, aos cientistas e aos filósofos."
     "E muitos deles, depois de sério exame, concluirão certamente que uma doutrina baseada em fatos experimentais tão numerosos e precisos, de acordo com os conhecimentos científicos dos diversos ramos da atividade humana; que dá solução clara e satisfatória dos grandes problemas psicológicos e metafísicos; que uma doutrina assim, repito, é verossímil. Chegarão até a afirmar que deve ser verdadeira, que é muito provavelmente verdadeira."
     "Em todo o caso, não se trata já de quimeras, de se deixar embalar por 'velhas canções', ou de dormitar sobre a 'fofa almofada da dúvida'. Devemos saber, queremos saber, podemos saber." (...)
     "A imortalidade -- dizia Pascal -- importa-nos tanto, interessa-nos tão profundamente, que é preciso ter perdido todo o sentimento para demonstrar indiferença por ela."

sábado, 6 de julho de 2019

122) A convicção espiritualista de Cromwell F. Varley, físico e engenheiro elétrico inglês.

   Cromwell Varley
   Cromwell Fleetwood Varley foi um eminente físico, pesquisador dos fenômenos da Eletricidade, e engenheiro elétrico inglês, chefe das linhas telegráficas da Inglaterra e membro da Sociedade Real de Londres, que construiu e lançou o cabo telegráfico submarino, intercontinental, que ligou os dois continentes, a Europa e a América. Pesquisando na Internet, eis o que encontrei sobre ele:


Cromwell Fleetwood "CF" Varley, FRS-Fellow of the Royal Society (6 de abril de 1828 - 2 de setembro de 1883) foi um engenheiro elétrico e físico inglês, particularmente associado ao desenvolvimento do telégrafo elétrico e do cabo telegráfico transatlântico . Ele também se interessou pelas reivindicações da parapsicologia e do espiritismo. [1] 
Varley juntou-se à recém-fundada Electric Telegraph Company em 1846, tornando-se engenheiro-chefe da área de Londres em 1852 e para toda a empresa em 1861. Ele inventou muitas técnicas e instrumentos para encontrar falhas e melhorar o desempenho do telégrafo. Em 1870, ele patenteou o cymaphen , uma espécie de telégrafo que podia transmitir a fala. O primeiro cabo telegráfico transatlântico falhou em 1858, e Varley foi nomeado para um comitê de investigação, criado em conjunto pela Junta Comercial e pela Atlantic Telegraph Company . [3]
O comitê apresentou seu relatório em 1861, e resultou no lançamento de um segundo cabo em 1865, Varley substituindo Wildman Whitehouse como eletricista chefe. Apesar das dificuldades, o segundo cabo foi um sucesso final e Varley desenvolveu muitas melhorias na tecnologia. 

Em 1871, ele escreveu um artigo científico sugerindo que os raios catódicos eram fluxos de partículas eletrizadas, de carga elétrica negativa. [3] Varley acreditava que a radiação catódica era causada pela colisão de partículas. Sua crença baseava-se na ideia de que, como os raios foram desviados na presença de um imã, essas partículas devem ser consideradas portadoras de carga elétrica. Isso o levou a acreditar que as partículas eletricamente carregadas deveriam ser desviadas também pela presença de um campo elétrico.   

Ele simpatizava com as alegações do espiritismo e realizou investigações com o colega físico William Crookes, usando um galvanômetro para fazer medições dos supostos fenômenos. [3]  


Obs. minha: os experimentos parapsicológicos dos físicos Crookes e Varley são narrados, em detalhe, na grande obra "Animismo e Espiritismo" (pág. 230 em diante da edição brasileira, Feb, 1956), do filósofo, professor, diplomata e poliglota russo Alexandre Aksakof, Conselheiro de Estado do Imperador da Rússia Alexandre III, e professor de línguas estrangeiras na Academia Alemã de Leipzig.

Eis o depoimento de C. F. Varley perante a Sociedade Dialética de Londres:

"Empreguei o termo Espiritismo, embora não ignore que a possibilidade de comunicação com os nossos amigos que deixaram seu corpo material não seja geralmente admitida. Os motivos que me induzem a afirmar que os Espíritos de nossos semelhantes vêm realmente visitar-nos, são os seguintes:" 

1) "Eu os tenho visto, distintamente, em algumas ocasiões". (Obs. minha: alusão provável aos experimentos feitos com seu amigo, o físico-químico William Crookes, e a médium de ectoplasmia Florence Cook).
2) "Coisas que não eram conhecidas senão de mim mesmo e da pessoa falecida a quem era dado comunicar-se, e cuja exatidão reconheci, foram-me divulgadas mais de uma vez, posto que o médium não tivesse disso o menor conhecimento".
3) "Por repetidas vezes, coisas que eram conhecidas somente por mim, e das quais me havia esquecido completamente, foram-me lembradas pelo Espírito que se comunicava, de modo que não podia existir aí nenhuma transmissão de pensamento".
4) "Quando me aconteceu obter comunicações desse gênero, propus, em diversas ocasiões, questões mentais, às quais só o médium, senhora de posição muito independente, respondia por escrito, ficando completamente alheia do sentido das comunicações".
5) "A época e o gênero de certos acontecimentos imprevistos, desconhecidos, quer de mim próprio, quer do médium, foram-me anunciados, mais de uma vez, alguns dias antes, e se realizaram perfeitamente. Como aqueles que me forneciam essas informações, dizendo-se Espíritos, expunham a verdade quanto aos acontecimentos futuros, e como nenhum mortal presente podia ter conhecimento do que eles comunicavam, não sei que razão possa haver para não se crer neles". (Apud Gabriel Delanne, "O Fenômeno Espírita: Testemunho dos Sábios", Livraria Garnier, 1910).

     Diante desse depoimento, só restam duas alternativas aos ateus fundamentalistas: acoimar o depoente de mentiroso ou de paspalhão. Mas as pessoas de bom senso, por certo, darão crédito ao brilhante e experiente físico e engenheiro elétrico.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

121) Povos primitivos e fenômenos paranormais (3)

     Com a palavra "o grande mestre da ciência da alma", Ernesto Bozzano, em sua obra já citada na primeiro artigo desta trilogia:
     
     Chegou o momento de abordar as teorias que os antropólogos propuseram para explicar como a crença na existência e sobrevivência do espírito humano, entre os povos selvagens, teve origem num complexo de observações rudimentares, tendo relação com a vida comum, observações que aqueles povos teriam interpretado de modo errôneo e infantil.
     A título de síntese preliminar, passo a expor, de modo adequado, o pensamento dos hodiernos antropólogos, a fim de que os leitores se encontrem em condições de formular, a respeito, um juízo independente. Tudo isso em homenagem às regras da severa imparcialidade a que se deve submeter toda discussão científica.
     Como os pontos de vista dos antropólogos e sociólogos difere unicamente em particularidades secundárias sobre a tese propugnada, limitar-me-ei a citar um dos maiores entre eles: Herbert Spencer. Este, em seus 'Princípios de Sociologia', esforça-se para demonstrar, com argumentação sutil mas pouco convincente, que o selvagem, "que não tem nenhuma ideia de uma causa física, chega necessariamente à conclusão de que uma sombra é um ser real, pertencente, seja como for, à pessoa que a projeta". Dá, assim, uma primeira noção sugestiva da existência de um espírito capaz de separar-se do corpo, noção que seria fortalecida por outro fato análogo, do reflexo da própria imagem na água.
     Ele escreve: "As imagens refletidas geram uma crença confusa e talvez inconsistente, mas que, contudo, não deixa de ser uma crença, segundo a qual todo indivíduo teria um 'duplo', comumente invisível, mas que se pode perceber indo para as margens da água e olhando nela". 
     Essa crença seria confirmada posteriormente pelo fenômeno do eco.
     Prossegue Spencer: 
     "O homem primitivo nada poderia conceber sobre o que se assemelhasse a uma explicação física do eco. Que sabia ele sobre a reflexão das ondas sonoras? Se não fosse pela ciência, que transformou nossas ideias sobre a causa dos fenômenos naturais, hoje em dia talvez se explicasse o eco atribuindo-o à ação de um ser invisível".
     E a mesma crença estaria mais do que reforçada pela experiência dos sonhos. Ele refere:
     "Testemunhas observaram que uma pessoa, quando dormia, jazia em completo repouso. Não obstante, ao despertar, lembrava-se de acontecimentos havidos durante o sono, e os narra para outros. Lembra-se de ser levada para outro lugar, mas as testemunhas negam e este testemunho se torna válido pelo fato de, a pessoa que sonhou encontrar-se no mesmo lugar onde havia adormecido. Toma então o partido mais simples, que é o de acreditar, ao mesmo tempo, ter permanecido no lugar e ter saído para longe; de possuir, pois, duas individualidades, das quais uma pode abandonar temporariamente a outra, e depois regressar. Portanto, ela mesma possui uma dupla existência como tantas outras coisas".
     Finalmente, da crença na existência de um 'duplo' separável temporariamente do corpo, passa-se à crença de um 'duplo' separável permanentemente. Spencer arremata: "Da crença na ausência comum do outro 'eu' durante o sono, e de sua ausência inusual nos casos de síncopes, apoplexias, estados comatosos, etc., passa-se à crença da sua ausência permanente no momento da morte, quando, depois de um intervalo de espera, se é obrigado a renunciar à esperança de vê-lo retornar. Este foi o prólogo da crença nos "espíritos dos mortos", no sobrenatural, que depois evolveu para uma ideia mais ou menos confusa de um Deus Supremo, e cuja consequência final, posteriormente, veio a ser as diversas religiões que hoje existem no mundo".

     Como resultado das citações expostas, a atilada mentalidade de Herbert Spencer tinha intuído corretamente sobre qual deveria ser a única via da pesquisa capaz de guiar, na prática, para a solução do grande quesito que abordava a gênese da crença na sobrevivência da alma. Mas a lamentável circunstância de não ter concedido valor à fenomenologia paranormal (que já era estudada na segunda metade do séc. XIX), colocou-o na absoluta impossibilidade de alcançar a meta, constrangendo-o a contentar-se com simples induções elementares, facilmente rechaçáveis e literalmente insuficientes para demonstrarem a origem da crença universal da existência e sobrevivência do espírito humano.
     Com tudo o que expus na síntese acima relativamente às teses dos antropólogos, parece-me ter cumprido meu dever de relator imparcial das opiniões alheias. Ora, para todo aquele que tenha noções elementares sobre a pesquisa psíquica, tornar-se-á fácil avaliar toda a espantosa deficiência das investigações antropológicas referidas acima, que não justificam as conclusões elaboradas por aqueles pesquisadores. 
     Com o advento da ciência que estuda, com todo rigor, os chamados fenômenos paranormais (Metapsíquica, hoje Parapsicologia), não é difícil levar a remate a intuição de Spencer. 
     De fato, a Parapsicologia nos mostra que, a par do resultado (bem pouco sugestivo no sentido aqui considerado) dos sonhos comuns, vêm a juntar-se os 'sonhos paranormais', com seus incidentes verídicos de ordem telepática, clarividente, precognitiva e espirítica. Sonhos que se realizavam entre os povos primitivos e selvagens (como atestam os missionários que viveram entre eles), assim como se realizam, hoje, entre os povos civilizados.
     Com a dedução (muito duvidosa, na prática) que a mentalidade de um pobre selvagem tiraria da visão da própria imagem refletida na água, ou da sombra projetada do próprio corpo, vinham a acrescentar-se outras observações eloquentes tendentes a demonstrar a existência real de um 'duplo psíquico', como as aparições de moribundos à distância (e mesmo de viventes), e os fenômenos de desdobramento (ou bilocação). Assim, as conclusões - muito sutis para a mentalidade de um selvagem - favoravelmente à sobrevivência, eles as extraem a partir da observação real de que, se um vivo que desperta do sono, ou de uma síncope, ou de um desmaio, o 'duplo psíquico', depois de afastar-se do corpo (muitas vezes deambulando à distância e mostrando-se a terceiros), acaba por voltar ao corpo, então, o 'duplo' de um morto, que se distancia para não mais retornar, deve, pois, existir em algum lugar. A essas conclusões indiretas, vêm acrescentar-se outras diretas muito mais convincentes, tais como as deduzidas das observações de aparições de mortos, vistos coletiva ou sucessivamente, dos fenômenos de desdobramento no leito de morte, dos casos de assombramento, dos fenômenos de identificação de espíritos em comunicações mediúnicas, e outros mais (a existência de todos esses fatos, entre os povos selvagens, foi demonstrada neste livro).
     Por conseguinte, desta vez achamo-nos efetivamente em presença de uma solução positiva, exaustiva, definitiva, do grande mistério que envolve a origem da crença universal na existência e sobrevivência do espírito humano, depois na concepção, mais ou menos confusa, de uma divindade suprema, e, finalmente, no aparecimento das religiões. Infelizmente, os hodiernos antropólogos faliram na árdua tarefa de indicar os fatos especiais que trariam um bom resultado para orientar a humanidade inteira na solução dessas questões. Se faliram nesse objetivo, não se deve atribuir isso à deficiência de penetração intelectual e de método, mas à circunstância de haverem ignorado a existência daquela classe de fatos que tinham, efetivamente, conduzido os povos da Terra a conclusões unânimes.

120) Povos primitivos e fenômenos paranormais (2)

     Para ilustrar o tema, citarei um único caso de fenômeno paranormal (assim mesmo, extremamente resumido) ocorrido entre os povos selvagens, instando os leitores a que recorram à monografia de Ernesto Bozzano (citada no primeiro artigo desta trilogia), para que possam conhecê-los, às dezenas, sem resumo, em sua integralidade. Vejamos:
     
     Um antropólogo e explorador inglês, Alexandre Henry, foi feito prisioneiro pelos índios norte-americanos, em 1759. Conta Henry que Sir William Johnson, comandante do Forte Niágara, enviara amistosa mensagem aos peles vermelhas, convidando seus chefes, instalados no Salto Santa Maria, a virem concluir a paz no Forte. Sendo assunto importante, quiseram consultar o espírito de um sábio cacique, falecido há alguns anos, conhecido como 'Grande Tartaruga'. Feitos os preparativos, depois de algum tempo, apresentou-se o espírito, manifestando-se na tenda mágica, primeiro sacudindo-a, e depois com a voz. Perguntado se no Forte havia muitos soldados, ausentou-se e voltou após 15 minutos, dizendo que eram pouquíssimos no Forte, e que a maioria estava esparsa, ao longo do rio, em barcos, e que se os chefes da tribo atendessem ao pedido, receberiam muitos presentes e a paz seria selada. E tal, realmente, aconteceu.

     Em sua grande obra, "Ricerche Sui Fenomeni Ipnotici ed Spiritici", o sábio psiquiatra e criminologista italiano César Lombroso, dedica dois capítulos (5 e 13, parte 2) aos fenômenos em apreço. No final do quinto capítulo, ele refere:
     "O que mais importa em todo este capítulo é a analogia entre todas as variedades de médiuns, nos mais variados tempos e povos. As manifestações especiais dos magos, feiticeiros, pajés, xamãs, taumaturgos, lamas, faquires, profetas, etc., repetem aquelas dos nossos médiuns, em especial as levitações, transportes, materializações, invulnerabilidade, incombustibilidade, profecia, xenoglossia. Ora, estes fenômenos parecem inverossímeis, porém surge a grande verossimilhança, para não dizer certeza, do fato de que se repetem em épocas, regiões e nações diversas, sem ligações históricas entre si, e algumas, ao contrário, em completo antagonismo religioso e político. E, a exemplo dos nossos médiuns, dão lugar a verdadeiros prodígios quando em estado de transe, e também agem como se estivessem sob a influência de seres diferentes dos vivos, e que prestam aos médiuns momentânea superioridade sobre os viventes privados desta associação".
     "À objeção de que as maravilhas mediúnicas se tornaram raras, é fácil de responder que, como vimos neste capítulo, nos níveis populares não são tão raras, e seriam também mais frequentes nas outras classes se fossem acolhidas sem prevenção pela opinião pública, porém são negadas e esquecidas, como se não houvessem ocorrido. Isto se depreende porque a História, a Imprensa e a Estatística fornecem respostas aparentemente mais seguras de fatos e acontecimentos próximos ou afastados, suprindo a curiosidade do público, e ainda sobre perspectivas futuras".
     "Eu, que por muitos anos venho estudando os fenômenos paranormais (anímicos e espiríticos), observei que muitos deles deviam ter sido mais frequentes em tempos anteriores, em que a magia, a telepatia, a profecia, os sonhos paranormais, estavam tão disseminados, e em que havia encarregados de descobrir e revelar indivíduos que possuíam tais faculdades".
     "É provável que em tempos muito antigos, em que a escrita era embrionária, a transmissão do pensamento entre pessoas afins, a profecia e a magia mediúnica fossem mais frequentes e mais resguardadas. E que, por isso, os povos selvagens, em vista da sua maior ocorrência nas mulheres, nos castos, e em pessoas pouco sociáveis, chegassem a escolher entre estes os seus médiuns, e fazê-los ou criá-los artificialmente".
     "Mas, com o incremento da civilização, com a escrita, com a linguagem sempre mais aperfeiçoada, o trâmite direto -- o da transmissão de pensamento -- se tornou para eles incerto e, com maior razão, prejudicial e incômodo, traindo os segredos e transmitindo as ideias com erros e confusões sempre maiores do que quando por meio dos sentidos, pelo que foram deixando de ocorrer, e assim diminuíram muito, os profetas, os magos e as aparições verídicas".
     "E, enquanto perduram, em vasta escala, nos vulgos do interior, nos aborígenes e selvagens (indianos, peles vermelhas, etc.), em nossos tempos de rapidez e alta tecnologia só despontam, de modo a serem notados, em raros indivíduos".


Obs. minha: Julgo que o meio e as condições em que viviam e vivem os povos primitivos e selvagens, de uma vida mais interior, contemplativa, em contato direto com a natureza, facilitavam, e muito, a emersão das faculdades paranormais subconscientes, ao contrário das populações do mundo tecnológico de hoje, cuja vida voltada para o exterior, em grandes cidades, longe do contato com a natureza, calcada na busca de fama, dinheiro, prazer, bens materiais e tecnológicos em ritmo superior às necessidades do próprio "eu", dificultam a irrupção daquelas faculdades subconscientes. Creio que é isto o que, em substância, Lombroso quis significar nos textos citados acima.

119) Povos primitivos e fenômenos paranormais (1)

Ernesto Bozzano
Carlos Imbassahy


Obs. minha: Todos os textos referidos abaixo foram extraídos, integralmente, da obra "O Espiritismo à Luz dos Fatos", do brilhante escritor Carlos Imbassahy (Ed. Feb, 1998, págs. 130 a 133). Imbassahy discorre:

     Em sua monografia -- "Delle Manifestazioni Supernormali tra i Poppoli Selvaggi" ("Povos Primitivos e Manifestações Paranormais", na tradução brasileira), o filósofo italiano Ernesto Bozzano escreve:
     
Basta consultar as obras dos mais eminentes antropólogos e sociólogos para verificar que todos esses autores reconhecem, de comum acordo, que a crença na sobrevivência do espírito humano é universal.
     
     E. B. Tylor, em sua obra Primitive Culture, observa que "a fórmula mínima para definir uma religião consiste na crença da existência de entidades espirituais, crença que se encontra nas raças humanas mais atrasadas com as quais conseguimos entrar em relações mais íntimas". Ele salienta ainda que "a crença em entidades espirituais implica, em seu pleno desenvolvimento, na crença da existência de uma alma sobrevivente à morte do corpo", e prossegue dizendo: "Essa crença é a base fundamental da filosofia de todas as religiões, a partir da religião dos selvagens mais atrasados para chegar à dos povos mais civilizados; essa mesma crença constitui, aliás, a filosofia mais antiga e mais universal".

     Bozzano cita ainda o reparo de Grant Allan:
     "A religião contém, em si própria, um elemento infinitamente mais antigo do que a própria religião, mais fundamental e persistente do que toda crença em Deus e nos deuses; isto é, mais antigo mesmo que o uso da propiciação aos deuses e aos espíritos por meio de oferendas, e este elemento é  a crença na sobrevivência dos trespassados. Ora, é nessa crença, universal, primitiva, que se fundaram todas as religiões". 

     Também é essa a opinião de Brinton, o qual se torna ainda mais claro e categórico quando escreve:
     "Demonstrar-vos-ei que há religiões, por tal forma rudimentares, que não têm nem altares, nem templos, nem ritos; mas me é impossível demonstrar que haja haja uma só que não nos ensine a crença em entidades espirituais que são capazes de se comunicar com os homens".

     Globet d'Alviella, tão conhecido por suas pesquisas nesse terreno, exclama:
     "As descobertas desses últimos vinte e cinco anos, sobretudo nas grutas da França e da Béigica, mostraram, de maneira decisiva, que, na época do mamute, já o homem praticava os ritos fúnebres, cria na sobrevivência da alma, possuía fetiches, e talvez ídolos". 

     Colhemos, ainda, na citada obra de Bozzano, a referência de Powers às tribos da Califórnia. Declara aquele escritor que "elas não têm nenhuma ideia do Ser Supremo, mas creem na existência dos espíritos", e Huxley afirma que "há povos selvagens sem a ideia de Deus, mas não os há sem os espíritos dos falecidos".

     Finalmente, conviria reproduzir o tópico do grande filósofo e sociólogo que foi Herbert Spencer:
     "Encontramos por toda parte a ideia da sobrevivência do espírito à morte do corpo, com todas as múltiplas consequências que daí resultam. Encontramo-la idêntica, tanto nas regiões árticas como nas tropicais; tanto nas florestas da América do Norte como nos desertos da Arábia; nos vales do Himalaia como nas extensões da África; nas fraldas dos Andes como nas ilhas da Polinésia. Essa ideia é expressa com a maior nitidez por tão diferentes raças que os técnicos foram levados a crer que tal transformação se deu antes da distribuição atual das terras e das águas, isto é, tanto entre as cabeças de cabelos lisos como entre as cabeças de cabelos anelados, ou entre as cabeças de cabelos lanosos; entre as raças brancas como entre as amarelas, as vermelhas e as negras; entre os povos mais atrasados e selvagens, como entre os bárbaros, os semicivilizados e os que se encontram na vanguarda da civilização".

     Estas citações, segundo Bozzano, representam o pensamento dos antropólogos e sociólogos mais eminentes.

     Por seu turno, em sua obra "Histoire du Spiritualisme Expérimental" (2 volumes), premiada pela Academia de Ciências da França, o psiquista e historiador César de Vesme escreve o seguinte:
     "No que se refere à doutrina teológica, limitemo-nos a notar aqui que, se nos preferirmos ater à letra de tal ou qual texto sagrado, do que ao resultado das pesquisas etnográficas, devemos, então, perguntar porque a parte essencial da revelação - a que concerne a Deus - pôde desaparecer, quase por toda parte, entre os mais atrasados povos selvagens, e desnaturar-se entre os outros até o ponto de não ser mais facilmente reconhecida, para ceder o lugar, invariavelmente, às mesmas crenças: espíritos inferiores, fantasmas, etc.?"

     Mais adiante, assegura o historiador:
     "A crença na alma, na sobrevivência, nos espíritos, impõe-se ao homem, bon gré, mal gré, independentemente de seus desejos, pela observação dos fatos de que nos iremos ocupar. Eis tudo".