terça-feira, 16 de abril de 2013

85) Dois assuntos: 1º - O "prisma-verdade" de Giuseppe Mazzini; 2º - Como os Espíritos desencarnados descrevem o meio em que vivem

1º - O lutador político e filósofo italiano Giuseppe Mazzini (1805-1872) dizia que a Verdade Absoluta é um prisma com um número muito grande de faces e que cada um de nós, vivendo num mundo relativo, apenas consegue enxergar uma de suas faces. Só o Ser Supremo e os Altos Espíritos que Lhe estão próximos, numa dimensão muitíssimo mais elevada que a nossa, conseguem lobrigar todas as faces do prisma-Verdade. Com outras palavras, posto que não muito diferente em substância, é o que afirma o filósofo positivista francês Auguste Comte (1798-1857) -- Tudo é relativo, eis o único princípio absoluto. Por outro lado, "o grande mestre da ciência da alma", o "primus inter pares" na análise e evisceração dos fenômenos mediúnicos, nome que dispensa apresentação para todos os espiritistas, Ernesto Bozzano (1862-1943) afiançava -- A Verdade, para refulgir, precisa do entrechoque das idéias.
     Um amigo e correspondente virtual solicitou-me que lhe enviasse uma definição que eu considerasse a ideal para o Espiritismo, dentro dos meus angustos conhecimentos. Lembrei-lhe que eu via apenas uma face do prisma-Verdade mazziniano, e que talvez outros, mais competentes do que eu, conseguissem perceber uma face maior do mesmo prisma. Mas não desejando desapontá-lo, remeti-lhe a seguinte resposta:

     Modificando um pouco a definição para o Espiritismo que me foi dada pelo escritor patrício Carlos Imbassahy, diria o seguinte:

     "O Espiritismo é uma doutrina científica e filosófica que não se baseia em confusos, contraditórios e anacrônicos textos "pseudo-sagrados" do velho testamento bíblico (firmados na vingança, na velha lei moisaica do "olho por olho, dente por dente", derrogada pelo Cristo), mas nos fatos cientificamente comprovados (por eminentes cientistas de diferentes países), e nos ensinamentos morais do próprio Jesus (assentados na lei do amor, no "ama ao próximo como a ti mesmo"), ensinamentos cristãos confirmados e ampliados nas obras de Allan Kardec, codificando o que os espíritos superiores lhe transmitiram."


- Nesse complexo tema, não há como deixarmos de nos socorrer do maior estudioso dos fenômenos psíquicos, que possuía a mais completa biblioteca sobre esses temas (biblioteca que hoje está aberta aos pesquisadores), que pesquisou a fundo todos os fenômenos da casuística paranormal, tendo escrito mais de 100 obras sobre essa casuística, o "grande mestre da ciência da alma", filósofo Ernesto Bozzano. Faz-se nacessário consultar "A Crise da Morte, nas Descrições dos Espíritos Que se Comunicam".
     Tentarei sintetizar alguns pontos dessa obra. Em primeiro lugar, o mundo espiritual é tão real para os Espíritos quanto o material é para nós. E por que? Porque ele é feito da mesma substância sutil de que é feito o corpo desses espíritos (isto é, o seu "perispírito", na nomenclatura kardequiana), assim como o nosso é feito dos mesmos átomos e moléculas que constituem o nosso corpo. Seria absurdo que o espírito, ao desencarnar, se visse num mundo, para ele, completamente estranho, qualitativa e quantitativamente diferente do nosso, o que o mergulharia num tremendo caos mental. Quanto tempo levaria para que ele pudesse adaptar-se a esse novo mundo, que não deveria ter nenhum ponto de contato, nenhuma ligação com este? Ora, sabemos que "natura non facit saltus". Assim, faz-se necessário, nos primeiros estágios da vida espiritual, que os desencarnados encontrem um mundo semelhante a esse, onde a maioria deles passou toda a sua vida terrena, e onde o choque, que já não é pequeno para os que se veem numa nova existência, de outro modo seria insuportável.
     Um segundo ponto é que as casas e contruções dessa nova existência são feitos por espíritos de ordem média, que para isso se habilitaram especificamente, sob a supervisão, naturalmente, de espíritos mais adiantados, assim como, no nosso mundo, as construções são feitas por operários qualificados, sob a supervisão de engenheiros, ou mestres de obra com mais experiência. Os desencarnados possuem o pensamento e a vontade como força criadora, e podem criar objetos para seu uso imediato, mas não podem alterar as contruções de ordem geral.
     No mencionado livro de Bozzano, editado pela Editora do Conhecimento, há o relato de 30 casos de diferentes Espíritos desencarnados há pouco tempo, citando a existência de casas, escolas, hospitais, mas em nenhum há menção de conduções, como automóveis, ônibus ou trens, o que seria mesmo de espantar já que os espíritos se movem com a força do pensamento, podendo se mover, pois, lenta ou quase instantaneamente, conforme sua vontade. Assim, realmente, não sei como explicar o fato de, no livro "Nosso Lar", o Espírito André Luiz fazer menção à existência de um meio de transporte (algo parecido a um ônibus elétrico), que locomove os espíritos de uma parte a outra. Por outro lado, não me sinto com capacidade para declará-lo uma inverdade. O certo é que, na citada obra do pensador italiano, os espíritos comunicantes são acordes em afirmar que o meio espiritual (pelo menos nos seus primeiros estágios) é como se fosse "o meio terrestre espiritualizado".
     Vamos ao último ponto. Kardec realizou a quase inacreditável façanha de codificar, em 12 ou 13 anos, uma doutrina da complexidade da Doutrina Espírita. Isto, por si só, já seria suficiente para se tê-lo como um  grande Mestre, ou mesmo um Gênio. Mas ele escrevia em meados do século 19, utilizando-se dos conceitos científicos da época. A meu ver, alguns dos seus escritos, por essa razão, devem ser revistos, sem nenhum demérito para ele. Um deles é o que diz respeito ao chamado "fluido cósmico universal".
     Retornando a Bozzano, crê aquele filósofo e cientista que, banhando todo o Universo, exista uma "Energia Cósmica", sutil, primitiva e fundamental, a mais sutil de todas, da qual deriva, por condensações progressivas (a falta de um termo melhor), todas as coisas criadas, todas as formas conhecidas de matéria e energia. Esta "Energia Cósmica" seria a Essência Básica de que se constitui tudo o que existe no Universo. Bozzano a identifica com o próprio Deus, que assim seria onipresente e onisciente. Nada pode existir fora dessa Energia, e, desta forma, Deus seria infinito e ilimitado em todas as direções que se imaginar, e nada pode existir fora Dele. Todavia, entre esse Deus-Energia Cósmica e a energia e matéria que conhecemos, há uma infinidade de estágios intermediários, bem menos sutis que a Energia citada. É num desses estágios que se acha a energia que constitui o "corpo espiritual" (ou perispírito) dos desencarnados e o material das construções do mundo espiritual.