sábado, 12 de outubro de 2013

98) Os fenômenos do Espiritismo e a Parapsicologia moderna

Alexandre Aksakof
J. B. Rhine
 
     A primeira classificação científica dos fenômenos paranormais foi feita, em 1890, por um espírita, doutor em Filosofia, Conselheiro de Estado do Imperador (Czar) da Rússia Alexandre III, professor de línguas estrangeiras na Academia Alemã de Leipzig, Alexandre Aksakof (1832-1903), em sua grande obra "Animismo e Espiritismo", uma réplica formidável ao livro "O Espiritismo", do filósofo alemão Eduardo von Hartmann (1842-1906).
     Eis como o sábio russo se expressa no prefácio à edição alemã do seu livro:     Podemos classificar todos os fenômenos mediúnicos em três grandes categorias que se poderiam designar da maneira seguinte:
 
Personismo -- Fenômenos psíquicos inconscientes, produzindo-se nos limites da esfera corpórea do médium, ou intramediúnicos, cujo caráter distintivo é, principalmente, a personificação, isto é, a apropriação (ou adoção) do nome e muitas vezes do caráter de uma personalidade estranha à do médium. (Obs. minha: como acontece nos fenômenos hipnóticos por sugestão do hipnotizador, ou por autosugestão).
     Por sua etimologia, a palavra pessoa seria inteiramente apta para justificar o sentido que convém dar à palavra personismo. No latim, persona se referia antigamente à máscara que os atores colocavam no rosto para representar a comédia, e mais tarde se designou por esta palavra o próprio ator.
 
Animismo -- Fenômenos psíquicos inconscientes, produzindo-se fora dos limites da esfera corpórea do médium, ou extramediúnicos. [Obs. minha: podem ser psicológicos - telepatia, clarividência, precognição; ou físicos - deslocamento de objetos à distância (telecinesia), teleplastia, materializações]. Temos aqui a manifestação culminante do desdobramento psíquico da personalidade.
     A palavra alma (anima, em latim), com o sentido que tem geralmente no Espiritismo e no Espiritualismo, justifica plenamente o emprego da palavra animismo. Segundo a noção espirítica, a alma não é o "eu" individual (que pertence ao Espírito), porém o envoltório, o corpo fluídico ou espiritual desse "eu". Por conseguinte, nós teríamos, nos fenômenos anímicos, manifestações da alma humana.
 
Espiritismo -- Fenômenos de personismo e de animismo na aparência, porém em que se reconhece uma causa extramedíunica ou supraterrestre, isto é, fora da esfera da nossa existência, provinda de uma personalidade que já viveu no nosso mundo. Temos aqui a manifestação terrestre do "eu" individual por meio daqueles elementos da personalidade que tiveram a força de manter-se em roda do centro individual, depois de sua separação do corpo, e que se podem manifestar pela mediunidade ou pela associação com os elementos psíquicos homogêneos de um ser vivo. Isto faz com que os fenômenos do Espiritismo, quanto ao seu modo de manifestação, sejam semelhantes aos do personismo e do animismo, e não se distingam deles a não ser pelo conteúdo intelectual ou cognitivo, que denotam uma personalidade independente. (Animismo e Espiritismo, 2ª ed., FEB, 1956, págs. 23, 24 e 25).

     A moderna Parapsicologia, ciência criada pelo biólogo e pesquisador norteamaricamo Joseph Banks Rhine (1895-1980), ou simplesmente J. B. Rhine, criou uma nomenclatura especial para os termos propostos por Aksakof.
     A primeira categoria (personismo) não recebeu nome especial, mas é aceita como inteiramente válida. Todavia, o Dr. Jayme Cerviño, em seu livro "Além do Inconsciente" (Feb, 2005, pág. 97) propõe designá-la por fenômenos alfa.
     A segunda categoria (animismo) foi batizada pelo nome de fenômenos psi.
    Os fenômenos psicológicos ou subjetivos receberam a denominação de psi-gama (PG) ou ESP (do inglês, Extra Sensorial Perception). A Parapsicologia os considera demonstrados.
     Os fenômenos físicos ou objetivos foram batizados de psi-kapa (PK). Atualmente, considera-se provada a psicocinésia (telecinesia, na classificação de Aksakof), mas apenas para o deslocamento de objetos leves. Quanto aos fenômenos de teleplastia ou materialização, a Parapsicologia moderna ainda os considera em aberto. Apesar do grande número de provas apresentadas pelos antigos metapsiquistas, a Parapsicologia considera cedo ainda para uma chancela definitiva, aguardando que novas provas aconteçam para uma possível autenticação.
     A terceira categoria de fenômenos (espiritismo) é conhecida como psi-theta (PT). Sobre esta há uma divisão mais ideológica do que factual. Um pequeno grupo, que poderia ser chamado de "materialista totalitário" (Bozzano), considera que a existência de faculdades psi na subconsciência humana torna impossivel que o Espiritismo venha, um dia, a ser  demonstrado. Os dois maiores grupos também se bipartem: um deles considera o Espiritismo cientificamente provado, pois as provas cumulativas que convergem a seu favor são muito fortes. O outro ainda acha prematura essa afirmação, mas julga que um número ainda maior de provas poderá sancioná-lo no futuro.
     O que pensa J. B. Rhine sobre o tema? Vejamos:
     Existe algo extrafísico ou espiritual na personalidade humana? A resposta experimental é afirmativa. (Rhine - "The Reach of the Mind", apud Jayme Cerviño, "Além do Inconsciente", pág. 12).
     Sobre a sobrevivência, Rhine incentiva o estudo de certas manifestações que os antropólogos registram nas culturas primitivas e a análise dos relatórios de todos os tipos de experiências parapsíquicas espontâneas que tragam consigo qualquer sugestão de agente incorpóreo ou espírito. (Rhine - obra citada, apud "Além do Inconsciente", pág. 16).
     O Prof. Jorge Ayala, da Universidade do México, que conheceu Rhine pessoalmente, afirma: Ele segue por etapas - a primeira foi a prova de que os fenômenos existem; a segunda, a prova de que a mente é não física; a terceira será a da sobrevivência espiritual do homem.
     Mas ele faleceu antes de chegar à terceira etapa.
    
     É interessante assinalar que o parapsicólogo René Sudre, em seu livro "Tratado de Parapsicologia" (Zahar Editores, 1976), sanciona todas as categorias de fenômenos citadas por Aksakof e por todos os antigos metapsiquistas (Richet,  Bozzano, Lombroso, Zöllner, Gibier, Flammarion, Geley, Osty, Hyslop, Crookes, Wallace, Myers, Lodge, Barrett, etc.), contudo, sendo um materialista totalitário, nega com veemência a sobrevivência espiritual.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

97) Sir William Barrett, o físico inglês, e seus experimentos psíquicos

Sir William Barrett
     
     Sir William Fletcher Barrett (1844-1925) foi um físico experimental inglês nascido em Kingston, Jamaica (então uma colônia britânica) e falecido em Melbourne, Austrália.
     Barrett mudou para Londres durante sua juventude e foi educado em Old Trafford Grammar School. Estudou Química e Física no Royal College of Chemistry em Londres, depois tornou-se o assistente de John Tyndall na Royal Institution (1862-67), em seguida, mestre de Física na Real Escola de Arquitetura Naval (1867-73), para finalmente, em 1873, ocupar o cargo de professor de Física Experimental do Royal College of Science em Dublin, República da Irlanda, onde permaneceu por 37 anos, aposentando-se em 1910. 
     Ele foi eleito membro da Royal Society of London em 1899, e também da Royal Society of Edinburgh, da Royal Dublin Society e do Instituto de Engenheiros Elétricos da Irlanda. Em 1912, por suas contribuições científicas, foi agraciado com o título de Cavaleiro do Reino Unido, sendo-lhe conferido o título de "Sir".
     Na qualidade de físico experimental, descobriu uma liga de ferro-silício que ficou conhecida como "Stalloy" (ou "Permaloy"), muito utilizada em engenharia elétrica, no desenvolvimento comercial do telefone e dos transformadores, e também realizou uma série de experimentos sobre as chamas sensíveis e seus empregos em demonstrações acústicas (chamas afetadas por sons de frequências elevadas). Durante suas pesquisas sobre os metais e suas propriedades, descobriu o encurtamento do níquel sob forte magnetização em 1882.
     Em seus últimos anos, Sir William Barrett desenvolveu catarata, e começou a estudar oftalmologia através de uma série de experimentos destinados a localizar e analisar agentes causadores de moléstias no interior dos olhos. O resultado dessas experiências foi o desenvolvimento do que ficou conhecido como Ortóptica, e a construção, por Barrett, de um novo optômetro ótico.

     Sir William Fletcher Barrett (10 de fevereiro de 1844 - 26 de maio 1925) foi um dos pioneiros da pesquisa psíquica. Foi idéia de Barrett formar a Sociedade de Pesquisas Psíquicas (SPR), em Londres, em 1882. No entanto, como Barrett estava vivendo em Dublin, na Irlanda, no momento, ele não foi capaz de tomar parte ativa na organização da sociedade. Ele estimulou três estudiosos de Cambridge, seus amigos Henry Sidgwick , Frederic W. H. Myers e Edmund Gurney, a fundarem a sociedade. Barrett também incentivou seu amigo, o filósofo e professor norteamericano William James , de Harvard, a organizar o ramo americano da SPR em 1884. Editou o Jornal SPR 1884-99 e serviu como presidente da entidade em 1904.
     Como pesquisador dos fenômenos chamados paranormais, Barrett era de um rigor extremo, draconiano. Nos anos setenta do século dezenove, havia em Londres um certo Dr. Monck, que produzia fenômenos aparentemente mediúnicos, mas que eram sujeitos a dúvidas: dos que presenciaram seus fenômenos, uns diziam que eram reais, outros afirmavam que, muitas vezes, ele usava de truques, quando claudicavam as suas faculdades mediúnicas. Em 1876, foi à Irlanda e Sir William Barrett resolveu verificar se as faculdades mediúnicas de Monck eram reais ou não, e foi observá-lo. Eis suas conclusões:
 
     Apanhei o "doutor" numa fraude grosseira; um pedaço de musselina branca numa instalação de arame, ligada a um parafuso preto, sendo empregada pelo "médium" para simular a materialização parcial. (Apud Sir Arthur Conan Doyle, "História do Espiritismo", Editora O Pensamento, 1960, pág. 255).
     Sir Conan Doyle (o genial criador do detetive Sherlock Holmes) afirma, por sua vez: Tal desmascaramento, vindo de fonte tão segura, produz um sentimento de mal estar, que nos induz a abandonar toda evidência a respeito dele na cesta de lixo.
     
     Sir William Barrett escreveu várias obras sobre temas relacionados, tanto à Física, quanto ao "modern spiritualism". No que se refere a este, a mais importante é "On the Threshold of the Unseen", traduzida para a língua portuguesa por Isidoro Duarte Santos, e publicada, em 1947, pela Estudos Psíquicos Editora, de Lisboa, Portugal, sob o título "Nos Umbrais do Além", obra raríssima hoje em dia. Para mostrar a convicção de Barrett, extrairei alguns trechos dessa importante e documentada obra:
 
      
     Estou absolutamente convencido de que a ciência psíquica provou experimentalmente a existência de uma entidade transcendente e imaterial, chamada alma ou espírito humano. Além disso, estabeleceu também a existência de um mundo espiritual invisível de seres vivos e inteligentes que podem comunicar-se conosco, quando se apresenta ocasião favorável. E digo mais; que apesar de muitas ilusões, de simulações e outros erros, existem numerosas provas favoráveis à sobrevivência do homem depois da morte e dissolução do corpo e do cérebro. (Sir William Barrett, "Nos Umbrais do Além", págs. 14 e 15).
     As minhas conclusões não provêm de exame rápido e superficial. Há mais de quarenta anos que estudo os fenômenos ditos paranormais com toda independência e desinteresse. (Obra citada, pág. 21)
     Ninguém, dos que ridicularizam o Espiritismo, lhe dispensou qualquer atenção refletida e paciente. Afirmo até que todos aqueles que dedicarem, ao seu estudo prudente e imparcial, tantos dias ou mesmo tantas horas quanto de anos alguns de nós lhe tem dedicado, se verão obrigados a mudar de opinião. (Obra citada, pág. 28).
     Como se compreende, pois, que as negações sistemáticas dos que nada viram, nada experimentaram, dos ignorantes e sectários, tenham tido mais valor para a ciência do que as afirmações dos ilustres testemunhos que temos enumerado? (Ob. cit., pág. 45).
     É tempo de abandonar discussões fastidiosas e de expor os testemunhos pessoais que me convenceram da objetividade destes fenômenos. Aos que não fizeram experiências semelhantes, é quase impossível dar ideia da influência e da acumulação de provas que nos levaram à convicção. (Ob. cit., pág. 55).

     E em outra obra:
     É evidente a existência de um mundo espiritual, a sobrevivência depois da morte e a comunicação ocasional dos que morreram. (W. Barrett, "Some Reminiscences of Fifty Years of Psychical Research, apud Miguel Timponi, "A Psicografia Ante os Tribunais, ed. Feb, págs. 98 e 99).
     Citarei apenas duas fontes onde hauri dados biográficos sobre Sir William Barrett:  http://en.wikipedia.org/wiki/William_Fletcher_Barrett  
http://redpill.dailygrail.com/wiki/William_Barrett