sexta-feira, 20 de julho de 2018

118) Os casos de identificação de Espíritos, que ministram informações verídicas sobre sua existência terrena, demonstram a sobrevivência humana, afirma o grande mestre da Ciência da Alma.


                                            Texto do filósofo e sábio Ernesto Bozzano, extraído dos livros "Comunicações Mediúnicas Entre Vivos" e "Animismo ou Espiritimo?" :

     Uma classe importante de identificação de espíritos é a identificação baseada nos informes fornecidos pelos mortos, em torno de fatos ocorridos durante sua existência terrena. Os opositores agarram-se à hipótese pela qual a gênese dos informes verídicos de tal natureza se explica pressupondo que as faculdades paranormais do médium conseguem obtê-las na subconsciência dos vivos que tenham conhecido o morto que se afirma presente, qualquer que seja a distância a que estejam aqueles vivos (esta faculdade era chamada de clarividência telepática ou telemnésia, e hoje é rotulada, por alguns parapsicólogos modernos, de super-PES: obs. minha).
     Todavia, convém observar, a propósito, que, se se quiser chegar a explicar os fatos por meio de semelhante hipótese, devem ser feitas as seguintes concessões: em primeiro lugar, urge conceder às faculdades paranormais dos médiuns a fabulosa potencialidade de poderem manifestar-se, instantaneamente, sem limites de distância, de tempo e de condições, ou, em outros termos, deve-se conferir à subconsciência humana a onividência e onisciência divinas. Em segundo lugar, deve-se conceder mais, que uma vez descoberta, em alguma parte do mundo, a subconsciência, ou subconsciências, depositária(s) dos informes desejados, se consiga selecionar, de modo quase instantâneo, recordações latentes em que jazem sepultados os ditos informes, em meio ao emaranhado imenso de outras recordações latentes que constituem a trama da vida individual, e isto de forma tão perfeita, que retirassem somente os que se referissem ao pretenso morto comunicante, sem jamais cair em falta, sem nunca tropeçar em algum pequeno incidente ocorrido a outro que não seja o morto. Também esse atributo de nunca se enganar é reservado à onisciência e onividência divinas. Em terceiro lugar, conceder tudo isto equivaleria a admitir que um evento portentoso como o que ora examinamos, devido ao exercício de faculdades espirituais nobres e elevadas, tenha, como fim insulso e único, a manipulação de falsas personalidades de mortos, a fim de mistificar o próximo. São estas as concessões que teriam de ser feitas à hipótese em apreço, quanso se quisesse explicar os casos de identificação pessoal dos mortos sem recorrer à interpretação espírita. Não duvido de que os leitores sensatos concordem comigo, achando excessivas tais concessões.  
     Em verdade, a circunstância essencial nesta ordem de pesquisa, e que é sistematicamente esquecida pelos propugnadores da onisciência e onividência subconscientes, consiste em que as comunicações telepáticas e clarividentes com pessoas distantes são condicionadas, isto é, limitadas pela necessidade imprescindível da lei da "relação psíquica", que só pode ser estabelecida caso ocorra uma das três seguintes condições: A) Quando o médium tenha relações de amizade ou pelo menos conheça a pessoa distante; B) quando um dos presentes a conheça; C) quando seja entregue ao médium um objeto que a pessoa distante tenha usado por algum tempo, saturado, portanto, das suas "vibrações psíquicas" (psicometria). Segue-se, pois, que na falta das  três condições acima, não é possível que o médium entre em em relações telepáticas com uma pessoa distante. Ora, como tal circunstância assume o valor de uma lei que rege as manifestações psíquicas (e isto em correspondência com a lei de afinidade que governa os fenômenos do universo), conclui-se que ela resolve a tese em exame, de modo que a hipótese da onisciência e onividência subconscientes converte-se em pura elucubração fantástica, filosoficamente absurda e cientificamente insustentável. Torna-se então evidente que a lei da "relação psíquica" serve para circunscrever, em limites bem definidos, as faculdades paranormais investigadoras da subconsciência humana, e mais, que os casos de identificação pessoal de mortos desconhecidos de todos os presentes, quando se dão sem o concurso de objetos psicometrizáveis, levam racionalmente a admitir-se a presença, "na outra extremidade do fio", do morto que se comunica. Daí decorre que que estamos habilitados, desde já, a proclamar a grande nova de que a demonstração científica da sobrevivência humana se acha conseguida pela Ciência, tendo por base a categoria dos casos de identificação pessoal de espíritos desconhecidos do médium e dos presentes, e que se manifestam de modo independente de qualquer forma de relação psíquica terrena.  

Observações minhas:

1) Para esclarecer melhor o tema, sugiro a leitura das seguintes monografias do mestre italiano: "Cinco Excepcionais Casos de Identificação de Espíritos", Editora Lachâtre, "Telepatia, Telemnésia e a Lei da Relação Psíquica", Editora Eco, e "Metapsíquica Humana" (Cap. VI), Editora da FEB.

2) Às considerações acima de Bozzano, pode-se acrescentar, com o Prof. Lombroso, que a sucessão de vários espíritos comunicantes, 5, 6, ..., 10 vezes, com personalidades distintas bem nítidas, com seus trejeitos pessoais, suas peculiaridades próprias, modos de ser, agir e falar que lhes são característicos, não se podem explicar pela telepatia, porque são coisas abstratas que não podem ser lidas na subconsciência de ninguém. Também os erros, lapsos de memória, esquecimento de nomes, etc., que ocorrem, com alguma frequência, nessas comunicações, quando entre os vivos permanecem tão intensos e precisos, não se explicam pela leitura do pensamento nas subconsciências alheias, mas obtêm muito melhor explicação pela dificuldade que têm esses seres, chegados a uma nova forma de vida, para exprimir seu pensamento através de um organismo que não foi feito à sua feição, que lhes é totalmente estranho. Por outro lado, fatos que ainda virão a ocorrer (precognição), e que não se podem inferir de causas atuantes no presente, também não têm explicação pela telepatia.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

117) Aparição e manifestação espontânea de um morto a duas pessoas, fora de toda influência telepática.

(Nota: Este caso, que foi observado espontaneamente, pode ser conjugado ao de número 45, com a diferença de que este último foi verificado numa sessão mediúnica).

     O caso citado abaixo foi investigado, com todo cuidado, por 3 investigadores da Society of Psychical Research (S.P.R.) inglesa (dentre os quais Myers), que conversaram longamente com as testemunhas do fato, convencendo-se da perfeita correção e honorabilidade delas, fazendo um relatório completo do mesmo, relatório que foi publicado originalmente no volume VI, pág. 26, dos "Proceedings of the S.P.R.". Posteriormente, o caso foi citado por Flammarion ("A Morte e o Seu Mistério", vol.3), e Bozzano ("Animismo ou Espiritismo?"). A percipiente e relatora - Sra. P - não quis fossem publicados os nomes dos protagonistas e os motivos ressaltarão da exposição dos fatos. Eis o que narrou, em síntese:

     "Casada em 1867, minha vida foi tranquila e feliz até o fim de 1869, quando a saúde do meu marido se alterou, tornando-se de gênio irritável. A todas as minhas perguntas, ele respondia evasivamente, dizendo-me que eu estava a fantasiar, que ele sentia muito bem. Desisti então de importuná-lo. Na véspera do Natal, pelas 21h30min, meu marido se deitara, deixando aceso o lampião, porque eu ficara um instante perto do berço de minha filhinha, que contava então 15 meses. De repente, com grande espanto meu, vi um homem fardado de oficial da Marinha, com um boné de pala sobre a cabeça. Para mim, seu rosto ficava na sombra, mesmo porque apoiava o cotovelo na cabeceira da cama, sustentando a cabeça com a mão. Perguntei-me a mim mesma quem poderia ser esse homem; toquei meu marido no ombro, pois ele estava voltado para o lado oposto, e murmurei-lhe: -- Willie, quem é este homem? Ele virou-se, olhou estupefato o intruso, depois, levantando-se de repente, gritou-lhe: -- Senhor, que vem fazer aqui? 
     A forma se alçou lentamente, depois, com voz imperiosa e descontente, exclamou: -- Willie! Willie! Olhei meu marido. Tornara-se lívido e na maior agitação; levantou-se da cama para, aparentemente, interceptar o intruso, mas imediatamente estacou, ficou perplexo e espantado, enquanto a forma atravessava o quarto, impassível e solene, dirigindo-se em linha reta para a parede. Quando passou diante do lampião, uma sombra escura projetou-se na parede e sobre nós mesmos, como se fosse uma pessoa viva; apesar disso, o fantasma desapareceu de maneira misteriosa através da parede. Meu marido, sempre agitado, tomou o lampião, dizendo: -- Quero percorrer a casa e ver onde ele foi.
     Eu estava também muito agitada; entretanto, lembrando-me de que a porta estava fechada e que o misterioso visitante não se tinha dirigido para aquele lado, observei: -- Mas ele não saiu pela porta!
     Todavia, meu marido puxou os ferrolhos, abriu a porta e foi revistar a casa. Tendo ficado sozinha no escuro, eu pensava: -- Vimos uma aparição. Que anuncia ela? Talvez meu irmão Artur esteja doente (era oficial da Marinha e estava de viagem para a Índia). Sempre ouvi dizer que essas coisas acontecem.
     Estava a refletir, apertando nos braços minha filhinha, que acordara, quando vi voltar meu marido, mais lívido e agitado do que nunca. Sentou-se à beira do leito, passou-me o braço pelos ombros e murmurou: -- Sabes quem vimos? -- Sim, respondi eu, um espírito; receio que se trate de Artur, mas não lhe pude ver, com nitidez, o rosto. Ele respondeu: -- Não, não era Artur, ERA MEU PAI !
     O pai de meu marido falecera havia 14 anos; quando moço, fora oficial da Marinha, depois, por motivos de saúde, tivera de abandonar a carreira antes do nascimento de meu marido, e este só o vira fardado uma ou duas vezes. Quanto a mim, não o conheci. No dia seguinte, contamos o caso a nossos tios, e todos pudemos notar que a agitação do meu marido não se acalmava, embora fosse cético feroz com referência a manifestações que parecessem sobrenaturais.
     À medida que os dias se passavam, ele ia se alimentando menos e emagrecendo, até que teve de se acamar, bastante doente. Foi somente a partir desse momento que me pôs gradualmente a par do seu segredo. Desde algum tempo, estava em grandes dificuldades financeiras; e quando lhe apareceu o pai, ele estava a ponto de se deixar levar pelos maus conselhos de um homem que o teria levado à total ruína, ou a coisa pior ainda. É por isso que tenho de me conservar reticente ao falar do sucedido. Por tudo quanto pude verificar pelos acontecimentos que se seguiram, aquele foi um aviso providencial, trazido ao meu marido, por meio da voz e da fisionomia daquele que mais venerara em vida e ao qual, unicamente, teria obedecido."

     O marido da narradora respondeu ao inquérito promovido pela S.P.R.:

     "Nada tenho a acrescentar à narração de minha mulher; é rigorosamente exata e os fatos ocorreram exatamente como ela os descreveu. Empenho nisto minha palavra de honra." 

Obs. minha: a hipótese telepática ainda poderia ser invocada, em desespero de causa, pelos materialistas empedernidos, afirma Ernesto Bozzano, mas, neste caso, seria necessário supor que o marido da narradora, estando prestes a se meter numa empresa lesiva da sua honra, houvesse pensado intensamente na memória honrada do pai, provocando uma correspondente alucinação telepática em sua mulher que, a seu turno, atraindo-lhe a atenção para o campo da sua objetivação, lha teria retransmitido, de sorte que ele, presa de remorso à vista do fantasma paterno, houvera sido vítima de uma complementar auto-alucinação verbal, através da qual o mesmo fantasma lhe redarguia, em tom imperioso e descontente, auto-alucinação verbal que ele teria retelepatizado para a mulher. Ora, convenhamos, diz o filósofo italiano, trata-se de uma explicação tão fantástica, contorcida e absurda, que qualquer pessoa sensata se recusaria a admiti-la.