segunda-feira, 6 de setembro de 2010

68) Algumas grandes obras da ciência espírita (2ª parte)

Camille Flammarion

Ernesto Bozzano


6) A Morte e o seu Mistério, de Camille Flammarion (editora da FEB).
Trata-se de três monumentais volumes sobre três palpitantes temas: ANTES, À VOLTA e DEPOIS DA MORTE.
Ao todo 1064 páginas de composição compacta e bem impressas, que formam um dos mais completos e positivos documentários sobre as três questões acima enunciadas.
O sábio astrônomo francês, diretor do Observatório de Juvisy e fundador da Sociedade Astronômica de França, seguindo um método de cunho eminentemente científico, sem frases, sem hipóteses nem dissertações metafísicas, apresenta FATOS, e tão somente FATOS, catalogados entre milhares de observações, escrupulosamente verificados, examinados e discutidos, e que resistem a quaisquer teorias que contra eles se tentem levantar.
Em síntese, o 1º volume estabelece, com provas irretorquíveis, através dos fenômenos de sugestão mental, transmissão do pensamento, visão à distância através dos corpos opacos, e pré-conhecimento do futuro, que a alma humana existe e independe do organismo físico; o 2º volume demonstra, à saciedade, a manifestação de fantasmas de vivos (fenômenos de desdobramento ou bilocação), bem como as aparições e manifestações de moribundos; o 3º volume, finalmente, abre a porta do túmulo, e, com testemunhos cuja autenticidade não pose ser negada, dá-nos a suprema CERTEZA da sobrevivência da alma após o trespasse, sua existência numa vida ultraterrena, e sua possibilidade de se comunicar com os que ficaram na Terra.
São, irrecusavelmente, três volumes graníticos, que nem o tempo nem os homens jamais conseguirão demolir, e cuja leitura se faz obrigatória para todos aqueles que meditam sobre os destinos humanos.
Ver, também, do mesmo autor, "As Casas Mal Assombradas" (ed. FEB).

7) A Propósito da Introdução à Metapsíquica Humana, de Ernesto Bozzano (Editora da FEB).
Trata-se de uma refutação ao livro "Introdução à Metapsíquica Humana", do psiquista francês René Sudre, que procurou infirmar a hipótese espírita através do que chamou "prosopose-metagnomia", termo empolado que significa uma mudança na personalidade do médium por sugestão ou autossugestão (prosopopese), combinada com as faculdades clarividentes do médium (metagnomia). No final do prefácio de sua obra, o grande mestre da Ciência da Alma afirma:
"Sob o ponto de vista pessoal meu -- que diametralmente diverge daquele em que se coloca Sudre -- é natural me disponha a analisar, discutir e refutar, ponto por ponto, as principais opiniões e hipóteses antiespíritas emitidas pelo autor, mormente por me parecer estar ele bem enfronhado no assunto e ser um pensador de talento indiscutível. É, sem dúvida alguma, um valente contendor, com o qual a discussão de grande proveito será, pois se apresenta na arena terçando as armas mais formidáveis dentre as que são usadas no campo em que milita".
À pág. 65, o filósofo italiano apresenta 11 categorias de fenômenos psíquicos inexplicáveis pela "prosopopese-metagnomia", ou por meio de qualquer teoria metapsíquica, discute e analisa cada uma delas em capítulos separados, e pulveriza todos os sofísticos argumentos de Sudre. Nas suas conclusões, Bozzano assim se pronuncia:
"Chegando ao termo deste trabalho, de ampla refutação de um livro excepcionalmente parcial e superlativamente sofístico, devo declarar-me plenamente convencido de, pelos fatos, haver provado que a "prosopese-metagnomia", hipótese fundamental sustentada por Sudre, para por ela explicar as manifestações metapsíquicas de efeitos inteligentes, de modo algum atinge o fim que teve em vista o autor".... "Daí se vê que o trabalho de Sudre, que apresentava manifestamente o grave inconveniente de não se propor a, através da Verdade chegar à Verdade, antes a intenção clara de, a todo transe, procurar demolir a hipótese espírita, encontrou a sorte que merecia, desmantelando-se por completo ao primeiro impacto com a eloquência demonstrativa dos fatos".
"E se outra é a opinião de Sudre a tal respeito, é que certamente dispõe de elementos que a justifiquem e então fácil lhe deverá ser achar uma explicação natural para todos os casos de que trata este meu trabalho, competindo-lhe refutar, uns após outros, todos os argumentos por mim apresentados em favor da sua gênese indiscutivelmente espírita. Uma explicação natural, repito, para todos os casos que eu acabo de relatar e não para alguns, escolhidos a dedo e que se prestem a exercitações sofísticas".

8) Povos Primitivos e Manifestações Supranormais, de Ernesto Bozzano (Editora Fé)
O autor apresenta uma série de casos selecionados e documentados acerca de manifestações paranormais entre os povos primitivos e selvagens, narrados por missionários e antropólogos que viveram muitos anos entre eles. Trata-se de uma análise acurada de documentos sobre a telepatia, a clarividência, a precognição, a levitação humana, os transportes, a voz direta, as materializações, as aparições dos vivos e dos mortos, e outras manifestações psíquicas que se realizam entre os povos selvagens.
O que, acima de tudo, importa notar, é que os fenômenos manifestados naqueles povos são, em tudo, análogos aos que se verificam junto a nós, povos civilizados. Isto tornar-se-á particularmente evidente porque o autor teve o cuidado de reviver continuamente, ou de citar os casos semelhantes da casuística europeia-americana. Esta exposição, comentada cientificamente, sem possibilidades de objeção e provida de casos moderníssimos, não deixará de interessar até a não cultores da Metapsíquica, como antropólogos, etnólogos e psicólogos.
Estes últimos encontrarão uma concepção totalmente nova acerca da gênese da ideia da sobrevivência do "eu" entre os selvagens; ideia que foi sempre atribuída, -- haja vista a escola de Spencer e seus partidários -- , entre os selvagens, a casos banais, como os fenômenos do sonho, do eco, da própria imagem refletida na água, etc.. Entretanto, na realidade, ela tem origem nos fatos verificados e indiscutíveis, como são os fatos metapsíquicos, que se realizam entre os povos selvagens, e isto contado pelos antropólogos que viveram entre eles, da mesma maneira que ocorrem entre nós. A importância e a originalidade dessas demonstrações de Bozzano assinalão o início de uma concepção totalmente nova nos campos da Antropologia e da Psicologia.

9) Os Animais Têm Alma?, de Ernesto Bozzano (Editora Eco)
Depois de escrever cerca de 103 obras, entre artigos para revistas, monografias e livros compactos, parece não haver ramo ou sub-ramo da casuística paranormal que não tenha sido escrupulosamente analisada e dissecada pelo "grande Mestre da Ciência da Alma". No caso em apreço, trata-se das manifestações psíquicas ocorridas com animais, nas quais eles figuram como percipientes ou agentes. Neste caso, a melhor informação sobre a obra é verificar o índice da mesma. Vejamos então:

Cento e trinta e quatro casos de manifestações de assombração, aparições e fenômenos paranormais com animais.
1ª Categoria: Alucinações telepáticas nas quais um animal desempenha o papel de agente.
2ª Categoria: Alucinações telepáticas nas quais um animal é o percipiente.
3ª Categoria: Alucinações telepáticas percebidas coletivamente pelo animal e pelo homem.
4ª Categoria: Visões de espíritos humanos obtidas fora de qualquer coincidência telepática e percebidas coletivamente por homens e animais.
5ª Categoria: Animais e premonições de morte.
1º Subgrupo: Manifestações premonitórias de morte percebidas coletivamente por homens e por animais.
2º Subgrupo: Aparições de animais sob forma simbólico-premonitória.
3º Subgrupo: Premonições de morte nas quais os animais são percipientes.
6ª Categoria: Animais e fenômenos de assombração.
1º Subgrupo: Animais que percebem coletivamente com o homem as manifestações de assombração
2º Subgrupo: Aparição de animais em lugares assombrados.
7ª Categoria: Materializações de animais.
8ª Categoria: Visão e identificação de fantasmas de animais mortos.

Nas suas conclusões, o filósofo italiano cita as definições que uma personalidade espiritual ditou à médium Lady Cathness: "O gás se mineraliza, o mineral se vegetaliza, o vegatal se animaliza, o animal se humaniza, o homem se diviniza". E continua:
"Se fossem acolhidas as conclusões acima, em favor da existência e da sobrevivência da psique animal, e da sua passagem ascensional através da escala dos seres, por meio de sucessivas reencarnações, até o ponto de se humanizar, uma nova luz esclareceria o eterno problema que todas as filosofias e todas as religiões se propuseram resolver sem consegui-lo: o grande problema da finalidade da vida no Universo".

10) Xenoglossia, de Ernesto Bozzano (Editora da FEB).
Trabalho monumental, talvez o mais notável e concludente sobre os fenômenos espíritas. Os fenômenos, devido à denominação que lhes deu o ilustre Prof. Charles Richet, nos quais o Espírito que se manifesta usa de um idioma absolutamente desconhecido do médium e, muitas vezes, ignorado também de todos os presentes às experiências, são, talvez, em toda a fenomenologia psíquica, os mais maravilhosos e, sem dúvida, os que mais perturbam e desorientam os inventores e cultores da Metapsíquica materialista, e quantos anseiam por poder negar, com alguma aparência de verdade, a fonte donde promanam os fatos que alicerçam o Espiritismo.
Tomando para objeto do seu novo trabalho de análise, dentre os já numerosíssimos casos de "xenoglossia", aqueles que foram observados e registrados de maneira rigorosamente científica, Bozzano, com a clareza de raciocínio e o vigor de lógica que o sagraram "primus inter pares", lhes aplicou, usando de método também puramente científico, todas as hipóteses "naturalísticas", como ele as qualifica, inventadas para explicá-los com exclusão da intervenção de entidades espirituais, e chegou sempre e sempre à demonstração positiva, insofismável, irretorquível, de que nenhuma de tais hipóteses pode se manter de pé; de que uma só os explica plenamente, satisfatoriamente e racionalmente: a hipótese espírita.
É tão completa, tão exaustiva a sua demonstração, que ele não trepida, e o faz a cada passo do seu trabalho, em desafiar todos os impugnadores, ainda os mais extremados dessa última hipótese, a que saiam a campo para lhe apontar uma falha de raciocínio e, por conseguinte, qualquer erro de conclusão. Tão formidáveis e certeiros foram os golpes que, produzindo essa demonstração, desferiu nas aludidas hipóteses naturalísticas, sem deixar de apreciar uma só delas, que, apesar de haver sido o referido trabalho publicado por partes, em números sucessivos da revista italiana "Riserca Psichica" (Pesquisa Psíquica), de setembro de 1931 a fevereiro de 1932, até hoje nenhuma das revistas metapsíquicas de cunho materialista sequer ousou aludir à sua publicação. Fato é este bem significativo da perturbação, do aturdimento que a portentosa obra do fecundo e ilustre pensador lançou nos arraiais metapsíquico-materialistas.

11) A Crise da Morte, Segundo o Depoimento dos Espíritos que se Comunicam, de Ernesto Bozzano (FEB e Editora do Conhecimento).
O que se sente no momento do desencarne? Como é o primeiro contato com a nova dimensão? Com quem realmente vamos nos encontrar? Qual será a nossa nova forma de vida no Além? Será mais feliz ou não do que a vida terrestre? Para responder, de forma cabal a essas perguntas, o grande sábio italiano escreveu a obra acima, em que realiza um notável trabalho de análise comparada sobre 30 casos de "revelações transcendentais", como são chamadas as revelações feitas por espíritos, falecidos, em geral, há pouco tempo e que narram, através de médiuns, as experiências que tiveram, o ambiente que encontraram e os fatos que lhes sucederam, após atravessar o período crítico que Bozzano denomina a crise da morte. Trata-se de um trabalho considerado dos mais importantes pelos que estudam, de um modo científico, a doutrina espírita. Assim, diz o grande mestre italiano:

"Até aos nossos dias, as narrações dos Espíritos (sobre o meio em que se acham após a crise da morte) pareceram mesmo aos pensadores ponderados, sem distinção de escola, de tal modo absurdas, inverossímeis, antropomórficas, pueris e ridículas, que os induziram a negar todo valor ao conjunto das revelações transcendentais. Mas, as últimas descobertas no domínio das forças psíquicas, até aqui ignoradas, prepararam de súbito o terreno para que aquelas narrações fossem compreendidas e apreciadas. Com efeito, as pretendidas inverossimilhanças nos fenômenos acharam seu paralelo em experiências análogas, que se realizam no mundo dos vivos".
"O problema das revelações transcendentais passou assim a se apresentar à razão sob aspecto muito outro, fazendo entrever a verossimilhança e mesmo a necessidade psicológica de uma primeira fase de existência espiritual, a desenrolar-se num meio, qual o descrevem, de comum acordo, as personalidades dos mortos que se comunicam, isto é, de que esse meio espiritual é o meio terrestre espiritualizado".
"O valor teórico inerente à circunstância de serem contrárias às opiniões dos próprios médiuns, e de toda gente, as informações que aqueles, desde 1853 (metade do séc. XIX, 4 anos antes do advento da 1ª obra de Allan Kardec), davam acerca da existência espiritual, não escapou à mentalidade investigadora do Dr. Gustavo Geley, que a ele alude nos termos seguintes:

Concluamos, pois, que todas as objeções tão levianamente feitas ao Espíritismo, a propósito do conteúdo intelectual das comunicações, a propósito das obscuridades, das banalidades, das mentiras, das contradições que elas contêm, não são razoáveis. Ainda mais, o caráter das comunicações, diferentes do que se poderia supor a priori, no começo do movimento espírita, contrário às idéias que se faziam em geral sobre o "Além", de acordo com as religiões cristãs tradicionais, constitui uma prova a favor da doutrina que as soube verificar e explicar tão completamente. (Resumo da Doutrina Espírita).

"É precisamente isso. Fica, pois, entendido que a circunstância de as personalidades dos mortos descreverem, desde o começo do movimento espírita, modalidades de existência espiritual, em oposição diametral às opiniões dos médiuns, dos assistentes e do meio cristão em geral, (baseadas nas crenças de céu, inferno e purgatório), poderia bastar para excluir as hipóteses da sugestão,da autossugestão e dos romances subconscientes..... Resulta daí que esta obra de análise comparada autoriza a preconizar a aurora não distante de um dia em que se chegará a apresentar à humanidade pensante, que atualmente caminha a tatear nas trevas, um quadro de conjunto, de caráter um tanto vago e simbólico, mas verdadeiro em substância e cientificamente legítimo, das modalidades da existência espiritual nas "esferas" mais próximas do nosso mundo, "esferas" onde todos os vivos terão que se achar, depois da crise da morte. Isto permitirá que a Humanidade se oriente com segurança para a solução dos grandes problemas concernentes à verdadeira natureza da existência corporal, das finalidades da vida, das bases da ética, da moral e dos deveres do homem. Estes deveres, na crise de crescimento que a sociedade civilizada hoje atravessa, terão que decidir dos seus destinos futuros. Quer isto dizer que os povos civilizados, se os reconhecerem e cumprirem, se verão encaminhados para uma meta cada vez mais luminosa de progresso social e espiritual; se os repelirem ou desprezarem, seguir-se-á necessariamente, para esses mesmos povos, a decadência, a fim de cederem o lugar a outras raças menos corrompidas do que a raça ora dominante. (Negrito meu).

12) Animismo ou Espiritismo? Qual dos dois explica o conjunto dos fatos?, de Ernesto Bozzano (Editora da FEB).
Numa extraordinária síntese da sua obra de 40 anos, o grande filósofo e sábio Bozzano responde de forma irrefutável à pergunta acima, não deixando de pé uma única das múltiplas hipóteses que os opugnadores da teoria espírita têm continuamente engendrado para invalidá-la. "Estou preparado para esta discussão", dizia Bozzano, "por 40 anos de estudo metódico, severo, sistemático, de natureza nitidamente científica, e sobretudo imparcial, pois durante a mocidade, militei nos ramos do positivismo materialista, defendendo apaixonadamente as minhas convicções filosóficas de então".
O eminente pensador italiano arrasa, uma após outra, as objeções antiespíritas, e demonstra, exaustiva e insofismavelmente, que os fenômenos anímicos, ao invés de invalidarem a hipótese espírita, facultam ao homem a prova mais solene e incontestável da sobrevivência, ou seja, segundo suas próprias palavras, "o animismo prova o espiritismo, pois ambos são efeito de uma única causa, e essa causa é o Espírito humano, que, quando age, em momentos fugazes, durante a existência encarnada, determina os fenômenos anímicos, e quando age, mediunicamente, durante a existência desencarnada, determina os fenômenos espíritas. De fato, animismo e espiritismo são complementares um do outro, e ambos indispensáveis à explicação do conjunto dos fenômenos paranormais, pois tudo o que um espírito desencarnado pode fazer, também deve podê-lo, embora menos bem, um espírito encarnado, sob a condição, porém, de que se ache numa fase transitória de diminuição vital, fase que corresponde a um processo incipiente de desencarnação do espírito, quais se verificam, por exemplo, no sono fisiológico, sono sonambúlico, êxtase, delíquio, narcose, estados comatosos, de convalescença, etc., e se observa experimentalmente que essas são, precisamente, as condições necessárias para que se produzam os fenômenos anímicos".
Ver, também, todas as obras do mesmo autor publicadas em português, e o livro "A Grande Esperança", do criador da Metapsíquica, Prof. Dr. Charles Richet.

67) Algumas grandes obras da ciência espírita (1ª parte)

Alexandre Aksakof













César Lombroso









1) Animismo e Espiritismo, de Alexandre Aksakof (editora da FEB).
Alexandre Aksakof, tido, com muita verdade, como um dos gigantes das ciências psíquicas, reuniu saber, erudição e imparcialidade na monumental obra que originalmente saiu publicada em alemão ("Animismus und Spiritismus", ano de 1890), e que, pelo seu justo valor, se projetou no mundo inteiro, com traduções para o inglês, o espanhol, o francês, o italiano e o russo, constituindo, no entender de certos estudiosos "a obra mais importante e mais completa que se escreveu acerca do Espiritismo, do ponto de vista científico".
Aksakof -- o sábio e incansável pesquisador dos fenômenos psíquicos, pois viajou meio mundo para estudá-los; Conselheiro de Estado de Sua Majestade, o Imperador (Czar) de todas as Rússias, Alexandre III; doutor em filosofia, professor de línguas estrangeiras na Academia Alemã de Leipzig (falava 8 línguas correntemente); fundador e diretor de duas das melhores revistas com que a imprensa espírita já contou: "Psychische Studien", na Alemanha e "Rebus", na Rússia; tradutor de diversas obras estrangeiras para o alemão e o russo, cujo nome se aureolou do respeito e da admiração de todos os chamados metapsiquistas -- respondeu superior e vantajosamente à brochura que o mais famoso filósofo da época, o Dr. Eduardo von Hartmann, escreveu com relação ao Espiritismo, opondo-lhe uma extensa fenomenologia do mediunismo, ilustrada de imensa mole de fatos maravilhosos, recolhidos em todo o mundo, de vários cientistas da época, e da qual bom número é também devido às observações e experiências do próprio autor.
"Animismo e Espiritismo", obra recomendada pelo grande filósofo bávaro, Barão Karl du Prel, como indispensável a qualquer investigador consciencioso, coloca, com uma argumentação incontestável e vitoriosa, as teorias antiespíritas no seu devido lugar, mostrando-lhes o seu exato valor, e guia os primeiros passos da Filosofia no Além, sem sair de considerações rigorosamente positivas. Essa obra, hoje clássica, do Espiritismo oferece, apesar de suas 705 páginas de composição compacta, uma leitura que cativa e prende a atenção do leitor, pela magnitude dos assuntos que nela são tratados.
Em sua autobiografia, o grande mestre da Ciência da Alma e ex-materialista Ernesto Bozzano, nos conta que a leitura da obra de Aksakof foi o seu primeiro passo dado na "estrada de Damasco".
Pode-se ler, também, do mesmo autor, "Um Caso de Desmaterialização Parcial do Corpo da Médium E. d'Esperance" (ed. FEB).

2) A Evolução Anímica, de Gabriel Delanne (FEB e Editora do Conhecimento).
O autor procura demonstrar que é mediante uma evolução ininterrupta, a partir das formas mais rudimentares, até a condição humana, que o princípio inteligente conquista, lentamente, a sua individualidade, elevando-se, começando no reino mineral, atravessando os reinos vegetal e animal, até desabrochar no reino hominal, por uma série imensa de reencarnações, marchando para destinos sempre mais elevados. As formas desaparecem, mas o princípio psíquico que as anima permanece, entesourando em si todos os progressos realizados nesse processo de evolução contínua e de ascensão crescente, do qual não se vislumbra o final.
Os estudiosos da doutrina encontrarão aqui rico material sobre o importantíssimo elemento de ligação entre o corpo e o Espírito: o perispírito (ou duplo psíquico), cuja realidade Delanne procura demonstrar.
No exame das origens e evolução do princípio inteligente (Espírito), é evidenciada a existência de um determinismo divino, numa grandiosa síntese da vida universal. Esta obra ressalta que o Espiritismo faculta a chave daquilo que a ciência humana é impotente para explicar.

3) A Alma é Imortal, de Gabriel Delanne (FEB e Editora do Conhecimento).
Espíritos se materializam, deixam-se fotografar, moldam braços e mãos perfeitos na parafina líquida; transportam objetos de longe para dentro de salas e caixas fechadas; materializam-se na hora do desencarne e vão ver seus familiares, abrindo portas, tocando campainhas, fazendo-se visíveis e audíveis a ponto de serem tomados por "vivos"; projetam seus corpos perispirituais à distância e se fazem ver e ouvir, como o amigo que o poeta Goethe viu na estrada de sua casa.
Em A Alma é Imortal, reunindo um acervo impressionante desses fatos paranormais, sobretudo materializações e aparições, quer de vivos, quer de mortos, o sábio estudioso Gabriel Delanne relata esses casos extraordinários, analisa-os com raciocínio científico, e conclui: é a verdade se mostrando na sua esplêndida evidência; sim, nós temos uma alma imortal, e as vidas sucessivas são uma realidade incontestável: são fatos, reproduzidos às centenas e milhares, com todo o rigor de cientistas e pesquisadores. Livro fascinante e indispensável àqueles que buscam as evidências da imortalidade, ou desejam enriquecer o conhecimento desses fenômenos que balizaram o início da "era do espírito".

4) Pesquisas Sobre a Mediunidade, de Gabriel Delanne (Editora do Conhecimento).
Esta obra do sábio francês Gabriel Delanne é um precioso documentário da fenomenologia paranormal, constituindo o que se pode chamar de provas irrefutáveis da comunicação com o mundo dos espíritos. Entre dezenas de casos, salientam-se as biografias de Joana d"Arc e de Luis XI, ditadas a uma jovem de apenas 14 anos, a conclusão de um romance do escritor Charles Dickens por um médium semianalfabeto de 15 anos, a revelação dos dois satélites de Marte, dezoito anos antes de sua descoberta, bem como soluções de problemas científicos e apresentação de remédios eficazes. Há casos curiosos e raros, como a psicografia de bebês e de médiuns analfabetos, mensagens em línguas estrangeiras e por código Morse (do espírito de um telegrafista para outro) e de um ex-surdo-mudo por linguagem de sinais; tudo de absoluto desconhecimento dos médiuns.
Mas o criterioso espírito científico de Delanne vai mais além e faz questão de analisar e conceituar separadamente a mediunidade mecânica de outros fenômenos anímicos, como a telepatia, a clarividência, o sonambulismo, a sugestão e a autossugestão. Assim, neutralizando críticas, faz ressaltar de forma lúcida a autenticidade da verdadeira intervenção dos espíritos, compondo um precioso documento para compreender-se as origens do Espiritismo. Esta obra, de quase 600 páginas, é o que se pode dispor de mais valioso para o aprofundamento do entendimento da verdadeira mediunidade.
Ver, ainda, do mesmo autor, "A Reencarnação" (ed. FEB) e "O Fenômeno Espírita" (idem).

5) Hipnotismo e Mediunidade, de Cesare Lombroso (Editora da FEB)
Obs. minha: o título real desta obra deveria ser Hipnotismo e Espiritismo.
Cesare (ou em português, César) Lombroso é considerado o pai da chamada "Antropologia Criminal". Descobriu a causa específica, profilaxia e tratamento da doença conhecida como "pelagra", escreveu diversos trabalhos sobre os delinquentes e a gênese natural do delito, sobre a natureza do homem de gênio, sobre Medicina Legal, disciplinas carcerárias, sobre a natureza da histeria e da epilepsia, sobre o hipnotismo, etc.. Foi médico, criminologista, psiquiatra e antropólogo. Materialista ferrenho, mudou as suas opiniões lentamente nos últimos 18 anos de sua vida, após emprender várias experiências com a médium Eusápia Paladino.
Vejamos os títulos dos capítulos do seu grande e bem documentado livro:

1ª parte -- Hipnotismo: 1- Transposição dos sentidos em histéricos hipnotizados; 2- Tansmissão do pensamento; 3- Premonições por histéricos e epilépticos; 4- Lucidez e profecia nos sonhos. Estudos de Myers. 5- Fenômenos físicos e psíquicos com os hipnotizados; 6- Polarização e despolarização psíquica.

2ª parte -- Espiritismo: 1- Fenômenos espiríticos com Eusápia; 2- Resumo dos fenômenos mediúnicos de Eusápia; 3- Fisiopatologia de Eusápia. Influência e ação dos médiuns. 4- Condições e influência dos médiuns. 5- Médiuns e magos entre os povos primitivos e os selvagens; 6- Limites à influência do médium; 7- Experiências fisiológicas com os médiuns; 8- Materializações e aparições de falecidos; 9- Fotografias transcendentais; 10- Identificação de espíritos; 11- Duplos; 12- Casas assombradas; 13- A crença dos Espíritos dos mortos emtre os selvagens e os bárbaros; 14- Epílogo.

Vejamos o que diz Lombroso sobre a Telepatia como explicação para os fenômenos espíritas:
"Tentam-se várias explicações para evitar a da influência dos mortos: por exemplo, a de que o médium extrai do cérebro dos presentes as informações verídicas que fornece sobre as pessoas falecidas. Eu compreendo a telepatia no caso, por exemplo, de Stainton Moses, que teve a aparição de um amigo, o qual, antes de adormecer, fixou vivamente o pensamento nele.
Porém, conforme nota James Hyslop, a sucessão de vários Espíritos comunicantes, 5, 6, 10 vezes, com personalidades distintas e caracteres bem nítidos, inteiramente diferentes uns dos outros, não se pode explicar pela telepatia. E viu-se com a médium, Sra. Piper, que os Espíritos comunicantes que, em vida, não conheceram o Dr. Hodgson, sabiam assinalar esse fato, coisa igualmente inexplicável pela telepatia. E os próprios erros das comunicações excluem a telepatia, enquanto, ao contrário, eles bem se explicam pela dificuldade que têm esses seres, chegados a uma nova forma de existência, para transmitir seu pensamento através de um cérebro que lhes é estranho".
"Se, repito, as comunicações mediúnicas viessem da telepatia, se todas fossem telepáticas, por que tantas confusas e falsas? Por que, a não ser em casos especiais, raramente aparecem aqueles seres que os assistentes desejam contactar, e nos quais pensam tão vivamente? E como, assim, com frequência, perdiam as noções do tempo e dos nomes (ver capítulos anteriores), enquanto entre os vivos permanecem tão intensos e precisos? E como pode a telepatia explicar as comunicações de espíritos desconhecidos do médium e de todos os presentes, ou, quando é conhecido de algum dos presentes, cita fato ou fatos de todos desconhecidos? Nem a telepatia pode revelar fatos que acontecerão no futuro, como quando a Srta. Curtis, por exemplo (ver o livro Phantasmas of the Living), sonha ver certa mulher passar a seu lado, depois de encontrá-la estendida na rua, enquanto, entre os presentes, uns diziam que estava viva e outros morta. Tratava-se da Sra. C., sua amiga, de quem, havia tempo, não tinha notícias. Na manhã seguinte, a Sra. C. caía na rua, ferindo-se. Como poderia a telepatia transmitir o que ainda não havia aontecido?".
"Alguns críticos apelam para a ação do inconsciente do médium. Mas inconsciente não é sinônimo de inexistente; o estado de inconsciência pode revelar e reunir, numa síntese fecunda, ideias e fatos mais ou menos esquecidos, mas não pode suscitar o que nunca se soube."

No fim do livro, seu competente tradutor, Almerindo Martins de Castro, relembra as palavrras que constam do prefácio do próprio Lombroso: "Mas se cada um desses fenômenos nos pode ser ou parecer incerto, o conjunto de todos forma um compacto mosaico de provas, resistentes aos ataques da mais severa dúvida".

66) Algumas opiniões sobre "A Grande Síntese"

Do escritor, tradutor e editor Monteiro Lobato:
"Todos nós temos o vago sonho de encontrar um livro que nos seja como uma casa definitiva: a casa de sonho que procuramos. Um livro no qual moremos ou passemos a morar. Pois creio que encontrei o meu livro . Ele se chama A Grande Síntese, e foi recebido pela inspiração de Pietro Ubaldi. Temos de lê-lo e relê-lo. Lendo-o, estou a vagar no alto mar desse livro: tonto, deslumbrado, maravilhado!".

Do latinista e helenista, Prof. Carlos Torres Pastorino:
"Ao finalizar a leitura de A Grande Síntese, temos a impressão de haver lido, ressurgido no século vinte, um dos grandes profetas bíblicos. Igualá-la é difícil; superá-la, impossível; negá-la, absurdo; discutí-la, loucura. Mas aceitá-la e sentí-la é prova de que, em nós, há uma centelha da divindade. Merece, realmente, ser encadernada, no mesmo volume que o Novo Testamento, como coroamento das obras dos grandes e primeiros Apóstolos. A força e a segurança fazem desta Grande Síntese uma continuação natural das Epístolas e do Apocalipse, nada ficando a dever a elas."

Do escritor, filósofo e cientista italiano Ernesto Bozzano:
"A onda de inspiração supranormal lhe ditou a mais extraordinária, concreta e grandiosa mensagem mediúnica, de ordem científica, que se conhece em Parapsicologia. É tão plena de pensamento, de ciência e de sabedoria que impossível se torna, com uma só leitura, emitir sobre ela um juízo sumário."
(Alguns meses depois)
"Trata-se verdadeiramente de uma grande síntese de tudo o que forma o acervo do conhecimento humano, considerado por um prisma positivamente transcendental, em que são passados em revista todos os ramos do saber; em que se aclaram e resolvem numerosas questões até agora insolúveis, mediante, não só, novas diretrizes científicas, como também mediante considerações filosóficas, éticas, sociais e morais tão sublimadas que causam reverente assombro!".

Do grande físico experimental Enrico Fermi (Prêmio Nobel de Física, 1938):
"Goethe, o grande poeta alemão, já dizia, em sua Conversação com Eckermann: Nenhuma produção de ordem superior, nenhuma invenção jamais foi devida ao homem, mas surgiu de fonte ultraterrena. O homem deveria, pois, condiderá-la como um dom inesperado do Alto e aceitá-la com gratidão e veneração. Nestas circunstâncias, o homem não passa de instrumento de um poder superior, como um vaso achado digno de receber um conteúdo divino."
"É o pensamento dos profetas, expresso quase nos mesmos termos. Pois bem, em A Grande Síntese, Ubaldi, apoiado no seu enorme poder de inspiração, traçou um quadro de filosofia científica e de antropologia ético-social que deixa muito para trás as tentativas similares do último século, pela amplitude da trama e pela existência, no seu caso, de uma disciplina superior, uma verdadeira ars regia que, partindo de um certo conhecimento das leis cósmicas e da estrutura do espírito humano, contribui para sintonizar este com as primeiras, para abraçar e exprimir muitas verdades desconhecidas; ou, tratando-se de verdades conhecidas, circundá-las de luz deslumbrante, geradora de evidência e de inefável consolo".

Do grande físico-matemático Albert Einstein (Prêmio Nobel de Física, 1921):
"Li parte do seu livro e fiquei profundamente admirado pela força da linguagem e pela vasta extensão dos assuntos abordados; infelizmente, o meu tempo é pouco, pois estou inteiramente absorvido na formulação de uma nova teoria que unifique as forças fundamentais da Física, em que já trabalho há alguns anos".

Do próprio médium que a recebeu, Prof. Pietro Ubaldi:
"A Grande Síntese, no seu aspecto interior e profundo, é uma revelação. Num mundo em que todo ser é constrangido, por uma lei feroz, a reclamar da carne do próprio semelhante para seu alimento, esta é uma Voz que tem um timbre diferente. Sua vestimenta científica é exterior e cobre, realmente, uma substância evangélica que une a Síntese ao desenvolvimento gradual, na Terra, do pensamento do Cristo, que é uma contínua irradiação".

65) A Grande Síntese, obra mediúnica recebida pela inspiração de Pietro Ubaldi



"A onda de inspiração supranormal lhe ditou a mais extraordinária, concreta e grandiosa mensagem mediúnica, de ordem científica, que se conhece em Metapsíquica". Isto escreveu o grande pensador e filósofo Ernesto Bozzano, em carta a Pietro Ubaldi, sobre a transcendente obra que é A Grande Síntese, acrescentando mais adiante: "A Grande Síntese é de tal modo plena de pensamento, de ciência e de sabedoria que impossível se torna, com uma só leitura, emitir sobre ela um juízo sumário".
A opinião como essa, exteriorizada por uma das mais pujantes mentalidades dos tempos hodiernos, inexpressivo será tudo o que se enuncie em louvor dessa obra formidável, que nenhum engenho humano seria capaz de conceber, delinear e executar, de um trabalho dessa envergadura, em que se elucida assombrosamente a gênese e a evolução da vida no Universo, em que se estuda o Amor e a ascese do Amor como elemento essencial dessa vida e dessa evolução, em que se apresentam as características do super-homem do futuro e se demonstra o seu advento, em que se estuda a missão do gênio e do santo na vida, em que se evidencia a penetração da humanidade no ciclo da superconsciência e se analisa a intuição supra-racional como o instrumento de pesquisa desse novo ciclo a que tem de ascender o gênero humano.
Os cem capítulos de A Grande Síntese são a história maravilhosa de uma grande viagem que se inicia nos mais profundos e obscuros planos da matéria e atinge as mais altas metas do Espírito. Oferece-nos a compreensão da verdadeira estrutura do Universo e da ainda tão desconhecida natureza do homem.
De fato, A Grande Síntese abrange essa vastidão de sabedoria, humana e cósmica, terrestre e divina. Que estonteante a visão do Universo em suas páginas ! Seus aspectos estático, cinemático e conceptual, a grande equação da substância, a trajetória típica dos motos fenomênicos, a lei dos ciclos, o processo genético do Cosmos, gênese do espaço e do tempo, astroquímica e espectroscopia, nebulosas, transposições biológicas, energia e sua degradação, passagem da matéria à vida, o princípio cinético da substância, gênese dos motos vorticosos, eletricidade globular e vida, a lei biológica da renovação, origens do psiquismo, as bases psíquicas do fenômeno biológico....... E finalmente o homem com todos os seus problemas: o trabalho, a renúncia, a dor, o amor, a justiça, a delinquência, a guerra, a riqueza, o Estado, a saúde, a arte.....
Do átomo ao super-homem, do hidrogênio ao santo e ao sábio, eis o itinerário da Síntese na sua portentosa revelação ! Como escreveu G. Vingiano, em "IL Loto", de Florença, "ler este livro é como fazer uma fantástica viagem, do mundo atômico ao mundo galático, do microcosmo ao macrocosmo, e repousar depois, reconhecido e jubiloso, nos braços paternais de Deus".

domingo, 5 de setembro de 2010

64) O Espiritismo é uma religião? O Grande Mestre da Ciência da Alma responde a um crítico

Ernesto Bozzano


O "primus inter pares" na análise e dissecação dos fenômenos parapsicológicos, Ernesto Bozzano, escreve em sua obra "Metapsíquica Humana", pág. 226, ed. FEB, 1992, trad. de Araújo Franco:

O biólogo anglo-italiano, Dr. William Mackenzie, dirigindo-se a mim pessoalmente, escreve que: "Se os espíritas querem conferir aos fenômenos parapsicológicos foros de religião, deles não poderão esperar mais do que se consegue daquela, isto é, pouco para o sentimento e nada para a Ciência".

Penso ser de não pequena utilidade destruir essa deplorável prevenção, filha de uma observação estranhamente parcial e superficial do movimento espírita, encarado em seu conjunto. Se é verdade que o Espiritismo seja tomado num sentido religioso por uma multidão, aliás muito respeitável, de almas simples, não quer dizer isso que ele seja religioso, mas tão somente que as conclusões rigorosamente experimentais e, portanto, científicas, a que conduzem as investigações mediúnicas, têm a virtude de reconfortar um grande número de almas atormentadas pela dúvida. Mas os opositores não se deviam esquecer que, culminando sobre essa multidão, em que prevalece o sentimento, existe numerosa coorte de experimentadores exercitados nos métodos científicos, também homens de ciência, em que prevalece a fria razão, e que estes examinaram os fatos com o fim exclusivo de, através da Verdade, chegar à Verdade. Se acabaram por aderir à hipótese espírita, não quer isso dizer que se tenham tornado místicos, senão que se convenceram experimentalmente de que essa hipótese era a única capaz de explicar o conjunto complexo de todos os fenômenos paranormais. E nada mais científico. Nem Crookes, nem Wallace, nem Hare, nem Myers, nem Hodgson, nem Hyslop, nem a Sra. Verrall, nem Lodge, nem Barrett, nem Zöllner, nem Du Prel, nem Aksakof, nem Boutlerow, nem Gibier, nem Geley, nem Schrenck-Notzing, nem Brofferio, nem Flammarion, nem Lombroso, nem o abaixo assinado tinham tendências místicas; ao contrário, quase todos eram dominados por fortes convicções positivistas-materialistas. Foi a eloquência irresistível dos fatos e, sobretudo, a constatação imponente da convergência admirável de todas as provas -- anímicas e espiríticas -- para a demonstração da existência e sobrevivência do espírito humano, que os levaram a concluir definitivamente a favor da hipótese espírita. As conclusões a que chegaram são, pois, rigorosamente científicas, tanto pelo menos como as que embevecem os seus opositores, com a diferença apenas de que estes últimos baseiam as suas induções e as suas deduções em grupos insulados de fatos e nunca sobre a sua totalidade, enquanto aqueles se firmam, e muito solidamente, sobre a totalidade das manifestações paranormais, anímicas e espiríticas. Pela centésima vez repito, pois, que a hipótese espírita é uma hipótese científica e que aqueles que a contestam dão apenas mostra de não haver ainda formado uma ideia clara sobre o problema que pretendem discutir.

Prefaciando a obra "Fenômenos de Transporte", o conceituado espírita brasileiro, já falecido, Deolindo Amorim, escreveu:
"Ernesto Bozzano é ainda, sem a menor dúvida, a maior expressão espírita nos dias que correm". (Edições FEESP, 1995).

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

63) A noção dos "eus subliminares", segundo Frederic Myers (1843-1901) - 2ª parte

Frederic Myers


Em seu livro "A Farsa Escura da Mente", uma resposta do escritor espírita Carlos Imbassahy ao livro "A Face Oculta da Mente", do trêfego e caricato Padre Oscar Quevedo, à pág. 199, Edicel Ltda., há trechos esclarecedores sobre o Hipnotismo. Escreve Imbassahy:

"Quem fala em hipnose, fala em sugestão. A sugestão, afirmava Bernheim, é a chave de todos os fenômenos do hipnotismo. Atualmente, dizia Boirac, todos os médicos, todos os estudiosos que se ocupam da questão, inclinam-se fortemente a pensar como Bernheim, que a sugestão é a chave dos fenômenos da hipnose, ou mesmo, que não há hipnose quando não há sugestão".
"Braid, para quem o hipnotismo era de origem física, compreendeu mais tarde que ele era de origem sugestiva. São do mesmo parecer Liégeois e toda a escola de Nancy; Pitres, de Bordeus, e Delboeuf, já em 1891, declaravam: não há hipnotismo, senão diversos graus de sugestibilidade; e Hartenberg: não falemos de hipnotismo, mas de sugestão. Para o Professor Forel, de Zurich: tudo é sugestão no hipnotismo. O Professor Masius declarava: Já sei o que se passa na Salpetrière -- era tudo exercício e sugestão, não há hipnotismo senão graus e modos diversos de sugestibilidade. E Bertrand: tudo é sugestão aplicada. O Dr. Van Velsen: tenhamos como certo que no fundo de todas as manobras dos hipnotizadores, encontra-se a sugestão".
"Define o Dicionário de Psicologia, de Warren -- Um estado tendente a aguçar a sugestibilidade. E o nosso patrício Dr. Osmar Andrade: seria Liébault um dos primeiros a conceituar a ideia de sugestão. Nasceram as primeiras obras colocando a sugestão em plano de destaque na gênese do fenômeno hipnótico".

Entretanto, em estágios bem mais avançados de sono ou hipnose, emerge um "eu" mais profundo: uma fração, provavelmente, do eu subliminar superior, de Myers, que outro não seria senão o eu espiritual, ou eu integral subconsciente (expressão de Bozzano); este, quando emerge, não é mais sugestionável, isto é, não aceita representar personalidades que não sejam a sua própria, e já apresenta um rudimento de faculdades paranormais, quais sejam: captação dos pensamentos dos assistentes (telepatia), visão a distância através dos corpos opacos (clarividência), fenõmenos de desdobramento, e, em casos mais raros, de precognição.
Os antigos magnetizadores chamavam esse estágio mais avançado de "sonambulismo lúcido".

Ponhamos um exemplo tomado do livro de Gabriel Delanne, "A Alma é Imortal", Editora do Conhecimento, pág. 48:

Eis alguns trechos de Chardel que nos dão, ao mesmo tempo, esclarecimentos sobre as relações dos sonâmbulos com o mundo desencarnado e sobre o estado da alma do paciente durante o sonambulismo:

"Um dia, quando a sonâmbula Adéle Lefrey ditava ao seu magnetizador algumas prescrições terapêuticas, ele lhe perguntou em tom estranho:
-- A senhora ouve perfeitamente quem está receitando?
-- O senhor não o ouve?
-- Não, não ouço, nem vejo ninguém.
-- Ah, claro! -- retrucou ela -- O senhor está dormindo, quem está acordada sou eu."

Ante os protestos do doutor, de que poderia despertá-la do sono sonambúlico quando bem entendesse, a sonâmbula responde:

" -- O senhor está dormindo, repito; eu, ao contrário, estou quase tão completamente acordada quanto todos estaremos um dia. Explico-me: tudo que o senhor pode ver atualmente é grosseiro, material; o senhor só lhe distingue a forma aparente, mas as belezas reais lhe escapam, ao passo que eu, em quem as sensações corporais estão momentaneamente suspensas, em quem a alma está quase totalmente livre dos seus entraves ordinários, eu vejo o que aos seus olhos é invisível, ouço o que seus ouvidos não podem ouvir, compreendo o que para o senhor é incompreensível....... Quando quero, ouço um ruído produzido ao longe, sons que partem e se espalham a cem léguas daqui; resumindo, não preciso que as coisas venham a mim, posso ir até elas, onde quer que estejam, e delas fazer uma apreciação muito mais correta do que outra pessoa, que não esteja num estado igual ao meu, poderia fazer."

62) A noção dos "eus subliminares", segundo Frederic Myers (1843-1901) - (1ª parte)

Frederic Myers


Frederic William Henry Myers (mais conhecido simplesmente como Frederic Myers), foi um poeta, ensaísta, escritor e psicólogo inglês, professor da Universidade de Cambridge, mais conhecido por suas pesquisas psíquicas, tendo fundado, com alguns amigos, em 1882, a Sociedade de Estudos Psíquicos de Londres. Foi considerado o pilar básico dessa Sociedade. Em 1886, publicou, juntamente com Edmond Gurney e Frank Podmore, um livro que se tornaria célebre e que abriria todo o campo para as pesquisas psíquicas (ou parapsicológicas, como se diz hoje): os "Phantasmas of the Living" (Fantasmas dos Vivos), logo traduzido para o francês sob o título transformado de "Hallucinations Télépathiques" (Alucinações Telepáticas). Quando começou os estudos psíquicos era um materialista irredutível, mas suas convicções nesse campo foram lentamente evoluindo até se tornar um convicto da sobrevivência do espírito humano. Sua obra póstuma sobre esse assunto foi publicada em 1903, dois anos após sua desencarnação, reunindo os seus últimos escritos. Seu título é "The Human Personality and it's Survival of Bodily Death" (A Personalidade Humana e sua Sobrevivência à Morte Corporal), em dois grossos volumes de 1360 páginas ao todo, reunindo todas as sua pesquisas e conclusões sobre os fenômenos psíquicos. Dele disse Theodore Flournoy, afamado psicólogo suíço, professor da Universidade de Genebra, inteiramente avesso à teoria espírita: Se futuras descobertas científicas vierem a confirmar a tese espírita de Myers, o seu nome será inscrito no livro de ouro dos iniciados, e junto aos de Copérnico e Darwin, completará a tríade de gênios que mais profundamente revolucionaram o pensamento da humanidade, nas ordens cosmológica, biológica e psicológica. (Apud Carlos Imbassahy, O Espiritsmo à Luz dos Fatos, ed. FEB, pág.180).
Há uma tradução ultra-resumida da grande obra de Myers para o português, intitulada A Sobrevivência Humana, pela Edigraf - S. Paulo, com 348 páginas. Destaco, à pág. 28, o seguinte e importante texto:

"A ideia de limiar (Schwelle) da consciência, de um nível que um pensamento ou uma sensação devem ultrapassar para entrar na vida consciente, é tão simples quanto familiar. A palavra subliminar que significa o que está sob o limiar, já foi empregada para designar as sensações demasiadamente débeis para serem diferenciadas individualmente. Proponho estender o sentido deste termo, de modo a ser empregado para designar tudo o que se encontra sob o limiar comum ou, se convier, fora do limite comum da consciência. Não só estes estímulos débeis, que a própria debilidade obriga a ficarem submersos, por assim dizer, mas também muitas outras coisas semelhantes que a Psicologia atual apenas percebe. Sensações, pensamentos, emoções que podem ser fortes, definidas e independentes, mas que, em virtude da constituição mesma de nosso ser, emergem raramente nessa corrente supraliminar de nossa consciência, ou consciência normal, em que nos identificamos a nós mesmos. Como reconheço que essas emoções e pensamentos submersos possuem as mesmas características das que associamos com a vida consciente, acredito-me autorizado a falar de uma consciência subliminar que, como veremos, manifesta-se, por exemplo, por meio de frases escritas ou faladas tão complexas e tão coerentes que se diriam ditadas pela consciência supraliminar. Como considero, por outro lado, que esta consciência subliminar não é descontínua ou intermitente, mas como existem processos subliminares isolados, comparáveis aos processos supraliminares isolados (como quando um problema é resolvido durante o sonho, mediante um processo desconhecido), existe também uma série contínua de lembranças subliminares (ou melhor, de uma corrente) que implicam o mesmo gênero de revivescência individual e persistente de impressões antigas e de reações às impressões novas que caracteriza o que ordinariamente chamamos de eu, sinto-me autorizado a falar dos eus subliminares, ou, abreviadamente, de um eu subliminar.

Esse eu subliminar pode se apresentar sob dois aspectos: o eu subliminar inferior, dependente do funcionamento de centros cerebrais ordinariamente inconscientes, que se manifesta, por exemplo, nos nossos sonhos (sendo, por isso, também chamado de eu onírico), e nos fenômenos hipnóticos; ele é altamente sugestionável, isto é, representa passivamente todos os tipos ou personalidades que a vontade do hipnotizador lhe queira impor. Tomemos alguns exemplos ao Prof. Charles Richet em seu livro A Grande Esperança, ed. LAKE, pág. 126:

"Hipnotizo uma senhora, minha parenta, respeitável e idosa, mãe de família muito religiosa, e lhe sugiro que é uma atriz, uma dançarina. Diz-me ela então: -- Você está vendo esta saia, meu bem, foi o diretor que me obrigou a encompridá-la. Que pena! Quanto mais curta, melhor fica. Como cacetes são esses diretores!... Você é muito tímido com as mulheres! Vá à minha casa às 3 horas. Poderemos conversar porque estarei só... Digo-lhe depois que é general. Então, imediatamente, ela assume um ar marcial, dá ordens, cai por terra, imaginando-se ferida durante uma batalha".
"A uma outra mulher, um modelo de ateliê, sugiro que se transforme em general. Ela assume um ar completamente diferente. Pede um vinho, jura, fuma, encoleriza-se contra um oficial. Sugiro que a mesma mulher se transforme em pasteleiro, a saber, um determinado indivíduo com o qual, tempos atrás, estando a seu serviço, ela teve uma séria contenda; toma então, resolutamente, o partido desse pasteleiro contra ela própria. Depois, eu lhe sugeri que iria fazer-lhe uma operação e cortar-lhe a mão. Eis, disse-lhe eu, o sangue que corre. Foi quando fiquei horrivelmente assustado, porque ela teve uma síncope e caiu".
"Algumas vezes, as personificações se tornam de tal forma intensas e ridículas que hesitamos em narrá-las. Sugeri a meu amigo Ferrari que se transformasse em papagaio. Ele me diz, então, seriamente: -- Será que posso comer o milho que se acha em minha gaiola? O estado de credulidade foi bem denominado por De Rochas como uma das condições do sonho".
(Fim da 1ª parte)

sexta-feira, 4 de junho de 2010



61)30 Abr 2010
Antes do seu desencarne, teria Rui Barbosa aderido ao Espiritismo?

Na "Oração aos Moços", "ato de fé", "conselho de pai a filhos", testamento de uma carreira, em que, diz ele, "estou-vos abrindo o livro da minha vida", escrita nas antevésperas do seu desencarne e, por isso mesmo, lida por Reinaldo Porchat em cerimônia pública, há uma passagem em que a eloquência indiscutivelmente espiritualista de Rui Barbosa dá conselhos aos colegas e afilhados em termos inequívocos de quem tomou conhecimento da sobrevivência humana, de acordo com a Doutrina Espírita. Abramos a "Oração aos Moços", 9ª ed. FORENSE, Rio, pág. 10:

A maior de quantas distâncias logre a imaginação conceber, é a da morte; e nem esta separa entre si os que a terrível apartadora de homens arrebatou aos braços uns dos outros.
Quantas vezes não entrevemos, nesse fundo obscuro e remotíssimo, uma imagem cara? Quantas vezes não a vemos assomar nos longes da saudade, sorridente ou melancólica, alvoroçada ou inquieta, severa ou carinhosa, trazendo-nos o bálsamo ou o conselho, a promessa ou o desengano, a recompensa ou o castigo, o aviso da fatalidade ou os presságios de bom agouro?
Quantas nos não vem conversar, afável e tranquila, ou pressurosa e sobressaltada, com o afago nas mãos, a doçura na boca, a meiguice no semblante, o pensamento na fronte, límpida ou carregada, e lhe saímos do contato, ora seguros e robustecidos, ora transidos de cuidado e pesadume, ora cheios de novas inspirações, e cismando, para a vida, novos rumos?

Quantas outras, não somos nós os que vamos chamar esses leais companheiros de além-túmulo, e com eles renovar a prática interrompida, ou instar com eles por um alvitre, em vão buscado, uma palavra, um movimento do rosto, um gesto, uma réstia de luz, um traço, do que por lá se sabe, e aqui se ignora? (negrito meu).

O Dr. Sérgio Valle, em seu livro, hoje raro, "Silva Mello e os Seus Mistérios" (Editora LAKE, 2ª edição, São Paulo, 1959), fêz uma visita à casa de Rui Barbosa, tombada pelo Patrimônio Histórico, situada na rua São Clemente, Botafogo, RJ, e cita os livros que o grande jurisconsulto e filólogo baiano leu, com vários textos sublinhados em vermelho, para escrever o texto acima. Vejamos a relação:

William Crookes: Les Nouvelles Expériences sur la Force Psychique.
Charles Richet: Traité de Metapsychique.
Sir Oliver Lodge: Raymond or Life and Death; The Proofs of Life After Death; La Vie et la Matière
Alexander Aksakof: Animisme et Spiritisme.
Ernesto Bozzano: Les Phénomènes de Hantise.
Frederic Myers: Les Hallucinations Telépathiques.
Conan Doyle: The New Revelation.
Léon Denis: Les Problèmes de L'Être et de la Destinée.
Alfred Russel Wallace: La Place de L'Homme dans L'Univers
Camille Flammarion: Dieu dans la Nature; L'Inconnu et les Problèmes Psychiques; La Mort e son Mistère (3 volumes); Recits de L'Infini; Uranie.

Como vimos, para escrever um pequeno e belíssimo texto, eivado de considerações autenticamente espíritas, Rui Barbosa leu alguns dos maiores cientistas e filósofos espíritas de todos os tempos.
Rochester

Wera Krijanowskaia


60)29 Abr 2010
Uma reapreciação histórica da figura de Moisés, feita pelo Espírito do Conde de Rochester.

Convém esclarecer que as obras do Espírito do Conde de Rochester, psicografadas pela médium russa Wera Krijanowsky (ou Krijanowskaia, como querem alguns), escritas no final do século dezenove e início do vinte, abrangem, ao que se sabe, 57 obras, sob a forma de romances de fundo espiritista. Dessas, graças principalmente aos esforços de espíritas brasileiros, admiradores da obra do autor espiritual, que viajaram pelo mundo todo (principalmente o eslavo) e conseguiram recuperar muitas que se julgavam perdidas, em virtude da destruição causada por duas guerras mundiais, foram traduzidas (até do russo e do polonês, entre outras línguas) e publicadas 42 obras, dando-se 15, ao que parece até agora, como perdidas.
A jovem médium era filha de família russa muito distinta. Não obstante ter recebido no Instituto Imperial de S. Petersburgo uma sólida instrução, ela não se aprofundou em nenhum ramo de conhecimentos. Sua mediunidade, segundo se pode saber pelas revistas europeias da época, consistia principalmente na escritura mecânica, e o automatismo lhe era tão caracterizado que a sua mão traçava as palavras com uma rapidez vertiginosa, com uma inconsciência completa das ideias contidas em seus escritos. Além disso, as narrações que lhe eram assim ditadas denotavam tal conhecimento da vida e dos costumes das mais antigas civilizações do passado, traziam, em suas minúcias, tal cunho de feição da época e de veracidade histórica, que será difícil ao leitor não lhes reconhecer a autenticidade. Sábios e estudiosos de antigas civilizações, como o prof. alemão G. Ebers, afirmaram que seria impossível, ao historiador mais erudito, estudar, simultaneamente e a fundo, épocas e meios tão diferentes, com conhecimento de causa, como as civilizações assíria, babilônica, egípcia, fenícia, grega e romana; costumes tão dessemelhantes como os da França de Luiz XI e da Renascença; em uma palavra, seria impossível, diz Ebers, ao historiador mais fecundo, passar, com notável facilidade e fidelidade histórica, de Moisés a Carlos IX, ainda mais quando se sabe que a médium traçava os seus escritos com incrível celeridade.
Embora "A Vingança do Judeu" seja considerada a sua obra prima, um lugar de grande destaque é ocupado também pela sua obra "O Faraó Mernephtah" (ed. da LAKE). Nela, Rochester afirma ter sido, na Terra, o citado Faraó, que foi derrotado por Moisés, na célebre fuga dos judeus do seu cativeiro no antigo Egito. (Esses fatos remontam a cerca de 1200 anos a.c.). O autor espiritual afirma que Moisés era filho biológico da jovem princesa Thermutis (filha do Faraó) com um judeu chamado Ithamar (embora a Bíblia diga que era filho adotivo da princesa), e, pois, neto do Faraó. Nele, entretanto, predominavam nitidamente os traços fisionômicos do hebreu (judeu) clássico, e não deixava de ser um filho bastardo, fruto da união de uma nobre egípcia com um escravo. Quem quiser aquilatar o valor da obra, concordando ou não com ela, deverá ler o original, facilmente encontrado nas boas livrarias. Aqui, entretanto, devo cingir-me a fazer duas citações da mencionada obra. Moisés, apesar dos seus traços, sob a discreta proteção da mãe, que muito poucos sabiam ser sua mãe verdadeira (só o Faraó, um médico de sua estrita confiança, e a dama de companhia da princesa sabiam), foi educado nas melhores escolas do Egito e frequentava, desde pequeno, a alta corte egípcia, sendo tratado então com carinho pelo próprio Faraó. Mas qual a sua verdadeira missão? Demos a palavra, agora, a Rochester.

"A missão divina de Moisés era conquistar, com brandura e meiguice, a amizade de Mernephtah e dominar, assim, esse homem violento, mas generoso. Por intermédio do Faraó, deveria aliviar pacientemente a sorte dos hebreus, prepará-los para a liberdade e, chegado o momento favorável, obter de Mernephtah a sua libertação. O ensejo de tornar-se árbitro da situação não lhe teria faltado, no momento oportuno"
( - )
"Para disciplinar o turbulento e desleixado povo hebreu daquela época, decretou leis. Aqui, faço inteira justiça à sabedoria e profundeza do seu espírito, que soube reunir num resumo exato a essência da sabedoria da Índia e do Egito, e que, pelos dez mandamentos e a crença num único Deus, estabeleceu as bases das leis fundamentais da moralidade, que se tornaram herança de todos os povos cristãos. Nisso, o grande missionário foi digno do seu mandato divino; mas, onde o homem político sobrepõe-se ao profeta, surge a sombra. Ele sabia que a união faz a força; deu, pois, às hordas vacilantes que conduzia, um código que as galvanizou num povo indestrutível. Entretanto, essas leis que ele afirmava ter recebido diretamente do Criador Eterno, são excessivamente crueis; consagram a pilhagem, a carnificina, a pena de maior vingança até a quarta geração, e o ódio a tudo que não seja hebreu; elas fizeram do povo judeu inimigo de tudo que não seja dele, buscando a vantagem fácil a expensas de outrem, recordando que os roubos ordenados pelo Eterno, por ocasião da saída do Egito, o haviam enriquecido sem esforço".
"Tudo quanto acabo de referir, bem o sei, levantará uma tempestade contra mim, espírito audacioso, que ousou erguer a ponta do lendário veu que encobre o grande legislador hebreu, para revelar, por baixo do Moisés profeta, o ambicioso candidato a um trono. Caros leitores, não vos esqueçais, porém, de que o escritor destas linhas é Mernephtah, o infeliz Faraó que lutou contra esse homem férreo, com desespero do soberano que assiste à destruição da prosperidade do seu povo, mediante inauditas calamidades e comoções políticas sem precedentes na história".
"Submetido pelo terror, quase louco pela impossibilidade em que me encontrava de compreender o modo pelo qual Moisés agia, na missão divina de que se dizia possuidor, e em que eu não acreditava, cedi ; mas, após a morte do Faraó, meu espírito sondou avidamente a vida e as ações do antagonista que me vencera. Diante do olhar desabusado do meu espírito, o grande profeta empalidece, não restando senão alguns raios divinos; dele apenas fica, sob o grande sábio, o hábil e ambicioso político. É assim que ele me ressurge na memória, ao vos oferecer estas páginas de um longínquo passado".
No final da obra, Rochester diz:

"É verdade que Moisés pregou a existência de um Deus único e, pelos dez mandamentos, estabeleceu uma base para o futuro edifício da cristandade, mas também lhe pertencerá a responsabilidade de ter feito do Supremo Criador do Universo, do Ser infinitamente grande, sábio e misericordioso, o Deus parcial, vingativo e sanguinário do Velho Testamento".

Aqui, seria conveniente dizer que alguns espiritualistas (entre os quais não me incluo), não concordam com as opiniões do autor, embora respeitem o seu ponto de vista.
Carlos Imbassahy


59)29 Abr 2010
A Bíblia (Velho Testamento) não representa a Palavra de Deus.

Extraio os trechos abaixo do livro do escritor Carlos Imbassahy, "À Margem do Espiritismo"
(2ª ed., FEB, 1950, pág. 229). Diz o eminente polemista e estudioso do Espiritismo:

Acha-se em Números, cap. 31:vers. 1 em diante - "Disse Jeová a Moisés: Vinga os filhos de Israel dos Medianitas". E se Jeová o disse, Moisés melhor o fêz. Armou os homens para a guerra a fim de executarem a vingança de Deus. "E eles pelejaram comtra Midian, como Jeová ordenou a Moisés e mataram todos os homens". E mataram também o rei dos Medianitas, e Balaão, filho de Beor. E mais: "Os filhos de Israel levaram cativas as mulheres de Midian com seus pequeninos; e despojaram-nos de todos os seus rebanhos e de todos os seus bens. Queimaram-lhes a fogo todas as cidades em que habitavam e todos os acampamentos".
Parece que depois do terrível saque e da pavorosa matança, a ira de Deus e a de Moisés deveriam estar aplacadas. Pois não se saciaram. Moisés ficou furioso diante da ninharia da pilhagem e da fraqueza do morticínio: "Indignou-se Moisés contra os oficiais do exército, capitães dos milhares e capitães das centenas". E não era para menos. Uma vingança como a ordenava o Senhor deveria ser muito pior. Uma carnificina assombrosa. E Moisés intimou: "Agora matai a todos os machos entre os pequeninos e matai as mulheres que conheceram homem, e quanto às meninas deixai-as viver para vós".
Não será, porém, de admirar esse gosto pelas batalhas, esse degolamento de vencidos, essa sede de sangue, quando, segundo Êxodo, 15:3, "Jeová é homem de guerra".
Fêz ele os homens e o mundo e achou, no momento, que estava tudo muito bem feito. E era natural que o achasse. Tratava-se do Onisciente, do Onipotente. Engano, puro engano, porque depois "viu que era grande a maldade humana e então se arrependeu de ter feito o homem" (Gênesis, 6:5 a 8). Aliás, toda a sua vida bíblica é uma série de arrependimentos. Como qualquer mortal de mau gênio e maus bofes, enche-se constantemente de ira. De uma feita, Moisés chamou-o às falas: "Por que se acende a tua ira contra o teu povo?". E o aconselha, ou melhor, ordena: "Volve-te do furor da tua ira e arrepende-te deste mal contra teu povo". (Êxodo, 32:11 a 14). E vai daí, Jeová caiu em si, viu que tinha errado e, graças a Moisés, voltou atrás de suas maldades.
E ele se arrependia tanto que chegou a cansar. Como se vê em Jeremias, 15:1 a 6, ameaça fazer coisas medonhas e confessa "que está cansado de ter piedade".
Moisés desce do Sinai com as tábuas da lei, onde se dizia -- não matarás -- e logo, para exemplificar, manda matar três mil pessoas e pede a bênção para os assassinos. Pois é ainda esse quem detém o braço do Criador nas suas inomináveis violências. Aliás, foi o próprio Jeová quem, propositadamente, endureceu o coração do Faraó e de seus oficiais, para que pudesse fazer os Seus sinais diante deles (Êxodus, 10-1).
Deus ordena mais, "que se escravizem os que se entregarem, ainda mesmo por meio de paz, sem pelejarem". (Deuteron., 20:10 a 11). Nas cidades em que pelejarem manda assassinar todos, não devendo ficar coisa alguma que tenha fôlego (ídem, 20:12 a 16). Os pais devem levar os filhos desobedientes à morte (ídem, 21:18 a 21). Josué fêz parar o Sol e a Lua, quase um dia inteiro, para que os israelitas tivessem tempo de trucidar seus inimigos amorreus (Josué, 10:12 a 14). Um absurdo biológico: Jonas passa três dias no ventre de uma baleia e depois é vomitado em terra (Jonas, 1-17 e 2-1 a 10).

Convenhamos: Hitler, Napoleão, Átila, César, e outros foram muito mais humanos.

Para encerrar, e por tudo que foi dito acima, gostaria de acrescentar três pontos:

1º) Imbassahy nos deu uma das melhores definições que conheço acerca do Espiritismo:
"O Espiritismo é uma doutrina científica e filosófica que não se baseia em anacrônicos textos "pseudo-sagrados" (cujas interpretações, aliás, variam ao infinito, conforme a posição religiosa ou doutrinária de cada um), mas nos fatos cientificamente comprovados (por eminentes cientistas de diferentes países), e nos ensinamentos morais de Jesus, confirmados e ampliados nas obras de Allan Kardec, codificando o que os espíritos superiores lhe transmitiram."

2º) É um engodo, puro engodo de certas religiões e seitas, afirmarem que a Bíblia (refiro-me especificamente ao Velho Testamento) é a palavra de Deus; pode ser a palavra de um Nero, de um Hitler, mas não de Deus. A palavra de Deus encontra-se basicamente nos Evangelhos de Jesus, que substituiu toda a lei mosaica (baseada no "olho por olho, dente por dente"), pela lei do Amor: "Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo; aí estão toda a Lei e os profetas" (grifo meu). "Não façais aos outros o que não quereis que eles vos façam". "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei". "Ouvistes o que foi dito aos antigos: olho por olho, dente por dente; eu porém vos digo: não resistais ao homem mau, mas a quem te bater na face direita, oferece-lhe também a outra"; e ao que quer demandar-te em juízo e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e se alguém te obrigar a caminhar mil passos com ele, caminha mais dois mil", etc..

3º) A crença no Deus parcial (pró-hebreus), vingativo e rancoroso do Velho Testamento é o que leva os judeus a praticar a sua política de isolamento religioso, e na crença de um Cristo verdadeiro, que virá no futuro para lhes oferecer um lugar de primazia na história da humanidade (o povo privilegiado, escolhido pelo próprio Jeová).
Claude Bernard


58)23 Abr 2010
O "perispírito" ou "duplo psíquico" representa a "ideia diretriz", do fisiologista Claude Bernard.

Demos a palavra a Claude Bernard, um dos maiores fisiologistas de todos os tempos:

"Se fosse preciso definir a vida, eu diria: a vida é a criação. O que caracteriza a máquina viva não é a natureza de suas propriedades físico-químicas, é a criação dessa máquina junto de uma ideia definida. Esse agrupamento se faz em virtude de leis que regem as propriedades físico-químicas da matéria; mas o que é essencialmente do domínio da vida, o que não prtence nem à Física, nem à Química, é a ideia diretriz dessa evolução vital.
Há como um desenho vital que traça o plano de cada ser, de cada órgão, de sorte que, considerado isoladamente, cada fenômeno do organismo é tributário das forças gerais da Natureza; tomadas em sua sucessão e em seu conjunto, parecem revelar um liame especial; dir-se-iam dirigidos por alguma condição invisível, na rota que seguem, na ordem que os encadeia.
A vida é uma ideia; é a ideia do resultado comum, ao qual estão associados e disciplinados todos os elementos anatômicos; é a ideia da harmonia que resulta do seu concerto, da ordem que reina em suas ações.
Vemos, na evolução do embrião, surgir um simples esboço do ser antes de qualquer organização. Os contornos do corpo e dos órgãos, a princípio, são meros delineamentos, começando pelas construções orgânicas provisórias, que servem de aparelhos funcionais e temporários do feto. Até então, nenhum tecido se distingue. Toda a massa é constituída apenas por células plasmáticas e embrionárias. Mas, nesse esboço vital, está traçado o desenho ideal de um organismo ainda invisível para nós, estando já designados, a cada parte e a cada elemento, seu lugar, sua estrutura, suas propriedades. Onde devem estar vasos sanguíneos, nervos, músculos, ossos, as células embrionárias se transformarão em glóbulos de sangue, em tecidos arterial, venoso, muscular, nervoso e ósseo." (Claude Bernard, apud Gabriel Delanne, "A Reencarnação", ed. FEB, 2006, trad. de Carlos Imbassahy).

A "ideia diretriz" do notável fisiologista nada mais é que o "perispírito" (Kardec) ou "duplo psíquico" (Lombroso), que contem a rota ideal, a trama invisível, a "forma-arquétipo" (Bozzano), o "modelo organizador biológico" (H. G. Andrade). Vejamos o que, a este respeito, diz Bozzano:

"A ideia-diretriz, de Claude Bernard, que regula a origem e a evolução das espécies vegetais, animais e humanas no ambiente terrestre, exterioriza-se numa forma-arquétipo invisível (aos nossos olhos), que precede a criação somática, cujas fases ulteriores de desenvolvimento são igualmente precedidas pelas formas-arquétipo correspondentes e destinadas a servirem de modelo, em torno do qual deverá condensar-se, gradualmente, por lei de afinidade, a matéria viva, que atinge a individualidade vegetal, animal e humana graças à nutrição fisiológica," (Ernesto Bozzano, "Pensamento e Vontade", ed. FEB, 1991).

Voltemos à Gabriel Delanne, na obra já citada:

"Se perguntarmos onde o perispírito pode adquirir suas propriedades funcionais, parece lógico supor que ele as fixou em si, no curso de suas evoluções terrestres, passando, sucessivamente, por toda a fieira da série animal, subindo, durante milhares ou milhões de anos, todos os degraus da escala zoológica, integrando, em sua substância indestrutível, as leis cada vez mais complicadas que lhe permitem animar, automaticamente, organismos cada vez mais complexos, das formas mais simples ao homem. É uma gradação sucessiva e uma evolução contínua.
Pode-se conceber, então, que esse gigantesco progresso evolutivo não é devido a causas exclusivamente externas, mas, primordialmente, ao psiquismo interior, que procura quebrar a ganga da matéria, e faz esforços ininterruptos por amortecê-la e permitir às suas faculdades entrarem em relação cada vez mais íntima com a natureza exterior. A criação dos sentidos, depois a de órgãos cada vez mais aperfeiçoados, seria o resultado de um esforço reiterado, e não o produto de felizes acasos, como querem os materialistas.....
Uma vez que o perispírito possui a faculdade, após a morte, de materializar-se, reconstituindo, integralmente, o organismo físico que aqui possuía, somos levados a supor que, no instante do nascimento, é ele que forma seu invólucro corporal, o qual não passa de uma materialização estável e permanente, enquanto nas sessões experimentais ela é apenas temporária, porque produzida fora das vias normais da geração." (Gabriel Delanne, "A Reencarnação").
Léon Denis


57)19 Abr 2010
Onde Reside Hoje os Anseios do Homem de Nazaré, para Léon Denis

"Não é nas igrejas tradicionais, nem nas instituições do pretenso "direito divino" que se encontra, hoje, a seiva pura do pensamento do meigo nazareno. O pensamento de Jesus só vive hoje na alma do povo simples, nesses milhões de trabalhadores que lutam e sofrem, diuturnamente, para levar às suas famílias, com honestidade, o pão de cada dia, muitos dos quais, aliás, não se dizendo ou não se acreditando cristãos, trazem, inconscientemente em si, o ideal sonhado por Jesus. É aí que se encontra essa grande corrente humanitária, cuja nascente está no alto do Calvário, e cujas ondas nos arrastam para um futuro que jamais conhecerá as vergonhas da miséria, da prostituição e da ignorância". (Léon Denis, Socialismo e Espiritismo, Editora O Clarim).


56)19 Abr 2010
Uma bela página de Léon Denis sobre a missão do Cristo (2)

Algumas vezes, o Cristo resumia as verdades eternas em imagens grandiosas, em traços brilhantes. Nem sempre os apóstolos o compreendiam, mas ele deixava aos séculos e aos acontecimentos o cuidado de fazer frutificar esses princípios na consciência da Humanidade, como a chuva e o Sol fazem germinar a semente que caiu na Terra. É nesse sentido que assim se exprimiu: "O ceu e a Terra passarão, porém não as minhas palavras."
Jesus dirigia-se pois, simultaneamente, ao espírito e ao coração. Aqueles que não tivessem podido compreender Pitágoras e Platão, sentiam suas almas comoverem-se aos eloquentes apelos do Nazareno. É por aí que a doutrina cristã domina todas as outras. Para atingir a sabedoria, era preciso, nos santuários do Egito e da Grécia, franquear os degraus de uma longa e penosa iniciação, ao passo que pela bondade e caridade todos podiam tornar-se bons cristãos e irmãos em Jesus.
Mas, com o tempo, as verdades transcendentais se velaram. Aqueles que as possuíam foram suplantados pelos que acreditavam saber, e o dogma material substituiu a pura doutrina. Dilatando-se, o Cristianismo perdeu em valor o que ganhava em extensão.
A ciência profunda de Jesus vinha juntar-se à potência energética do iniciado superior, da alma livre do jugo das paixões, cuja vontade domina a matéria e impera sobre as forças sutis da Natureza. O Cristo possuía a dupla-vista; seu olhar sondava os pensamentos e as consciências; curava com uma palavra, com um sinal, ou mesmo só com a sua presença. Eflúvios benéficos se lhe escapavam do ser, e, à sua ordem, os maus espíritos se afastavam. Comunicava-se facilmente com as potências celestes e, nas horas de provação, alentava desse modo a força moral que lhe era necessária em sua viagem dolorosa. No Monte Tabor, seus discípulos, deslumbrados, o veem conversar com Moisés e Elias. É assim mesmo que mais tarde, depois de crucificado, Jesus lhes aparece, materializado, na irradiação do seu corpo psíquico, desse corpo a que S. Paulo se refere nos seguintes termos: "Há, em cada homem, um corpo animal e um corpo espiritual." (1ª Epíst. aos Coríntios, cap. XV, 5 - 8). A existência desse corpo espiritual (ou duplo psíquico) parece demonstrada pelas experiências da Parapsicologia.
Não podem ser postas em dúvida tais aparições, pois explicam por si sós a persistência da ideia cristã. Depois do suplício do Mestre e da dispersão dos discípulos, o Cristianismo estava moralmente morto. Foram porém as aparições e as conversas de Jesus que restituíram aos apóstolos sua energia e sua fé, tão vívidas que os fizeram sofrer as maiores perseguições e as maiores torturas a fim de espalhar, mundo afora, a ideia cristã.
( - )
No séc. lV, o Cristianismo foi considerado a religião oficial do império romano pelo Imperador Constantino, um dos grandes criminosos da história, que, no seu íntimo, nada tinha de cristão (como demonstram as suas ações), mas que se utilizou da religião cristã, em franca ascensão, para consolidar o poder romano, admitindo a igreja de Roma como a única fiel depositária dos ensinamentos cristãos, e massacrando as outras (nessa época havia várias igrejas cristãs) a ferro e fogo.
Foi a partir de então que os sacerdotes romanos perderam de vista a luz que Jesus tinha trazido a este mundo, e recaíram na obscuridade. A noite que quiseram para os outros fêz-se neles mesmos. O templo deixou de ser, como nos tempos antigos, o asilo da verdade. E esta abandonou os altares para buscar um refúgio oculto. Desceu às classes pobres; foi inspirar humildes missionários, apóstolos obscuros que, sob o nome do Evangelho de S. João, procuravam restabelecer, em diferentes pontos da Europa, a simples e pura religião de Jesus, a religião da igualdade e do amor. Porém estas doutrinas foram asfixiadas pela fumaça das fogueiras, ou afogadas em lagos de sangue.

Estes excertos (1 e 2) foram por mim extraídos de dois livros de Léon Denis: Depois da Morte e Cristianismo e Espiritismo.
Léon Denis


55)19 Abr 2010
Uma bela página de Léon Denis sobre a missão do Cristo (1)

Um pouco antes da era atual, à proporção que o poder de Roma cresce e se estende, vê-se a doutrina secreta recuar, perder a sua autoridade. São raros os verdadeiros iniciados. O pensamento se materializa, os espíritos se corrompem. A Índia fica como adormecida num sonho: extingue-se a lâmpada dos santuários egípcios, e a Grécia, assenhoreada pelos retóricos e pelos sofistas, insulta os sábios, proscreve os filósofos, profana os Mistérios. Os oráculos ficam mudos. A superstição e a idolatria invadem os templos. E a orgia romana se desencadeia pelo mundo, com suas bacanais, sua luxúria desenfreada, seus inebriamentos bestiais. Do alto do Capitólio, a prostituta saciada domina povos e reis. César, imperador e deus, se entroniza numa apoteose ensanguentada !
Entretanto, nas margens do Mar Morto, surge um Homem, uma Alma bastante vasta, tão superabundante de luz e de amor, para nela própria sorver os elementos de sua missão. Jamais a Terra viu passar maior Espírito. Uma serenidade celeste envolvia-lhe a fronte. Nele se uniam todas as perfeições para formar um tipo de pureza ideal, de inefável bondade.
Há em seu coração imensa piedade pelos humildes, pelos deserdados. Todas as dores humanas, todos os gemidos, todas as misérias encontram nele um eco. Para acalmar esses males, para secar essas lágrimas, para consolar, para curar, para salvar, ele irá ao sacrifício da própria vida oferecer em holocausto a fim de reerguer a Humanidade. Quando, pálido, se dirige para o Calvário, e é pregado ao madeiro infamante, encontra, ainda em sua agonia, a força de orar por seus carrascos, e de pronunciar estas palavras que nenhum impulso de ternura ultrapassará jamais:
"Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem !"
Entre os grandes missionários, o Cristo, o primeiro de todos, comunicou às multidões as verdades que, até então, tinham sido o privilégio de pequeno número. Para ele, o ensino oculto tornava-se acessível aos mais humildes, senão pela inteligência, ao menos pelo coração, e lhes oferecia esse ensino sob formas que o mundo não tinha conhecido, com uma potência de amor, uma doçura penetrante, uma fé comunicativa, que faziam fundir os gelos do ceticismo, eletrizar os ouvintes e arrastá-los após si.
O que ele chamava "pregar o Evangelho do reino dos ceus aos simples" era por ao alcance de todos o conhecimento da imortalidade e o do Pai comum. Os tesouros intelectuais, que os adeptos avaros só distribuíam com prudência, o Cristo os espalhava pela grande família humana, por esses milhões de seres curvados sobre a Terra, que nada sabiam do destino e que esperavam, na incerteza e no sofrimento, a palavra nova que os devia consolar e reanimar.
Essa palavra, esse ensino, ele distribuiu sem contar, e lhes deu a consagração do seu suplício e da sua morte. A cruz, esse símbolo dos antigos iniciados, que se encontra em todos os templos do Egito e da Índia, tornou-se, pelo sacrifício de Jesus, o sinal da elevação da Humanidade, tirada do abismo das trevas e das paixões inferiores, para ter enfim acesso à vida eterna, à vida das almas regeneradas.
O Sermão da Montanha condensa e resume o ensino popular de Jesus. Aí se mostra a lei moral com todas as suas consequências; nele os homens aprendem que as qualidades brilhantes não fazem sua elevação nem sua felicidade, mas que só poderão conseguir isto pelas virtudes modestas e ocultas -- a Solidariedade, a Bondade, a Justiça e o Amor.

Obs. minha: Que profunda inspiração nessas palavras do mestre Léon Denis, ele que, em sua vida, foi um grande médium inspirado! E ainda dizem que o Espiritismo não é cristão. Como negá-lo diante do texto acima? Alguém poderia escrever sob a figura e a missão do Cristo com maior fulgor?


54)19 Abr 2010
Por que existe o MAL? E a MORTE, será necessariamente um mal?

No seu livro "Os Enigmas da Psicometria", o filósofo Ernesto Bozzano faz notáveis digressões sobre a existência do mal no nosso mundo e o significado da morte. Eis a primeira:


"Uma grave proposição identifica-se com a da existência do MAL -- uma tese posta de milênios por todas as filosofias, inutilmente, sem conseguirem elucidá-la. Limitar-me-ei a transcrever aqui uma frase do Dr. Geley, que diz: a existência do mal é a medida da inferioridade dos seres e dos mundos".

"Penso que este conceito contém a melhor definição que o espírito humano pode formular sobre este problema, pois ninguém ousará contestar que este é um mundo inferior, no qual a dura disciplina do mal é ainda necessária à elevação espiritual do homem, assim como nô-lo atestam a História e a Psicologia de todos os povos. É de todo evidente que, se o Mal não existisse na Terra, ninguém compreenderia o Bem. Menos evidente não é que a História nos ensina a estimar no Mal, sob todas as suas formas, um instrumento indispensável ao progresso da Humanidade".
"Indubitável, finalmente, que, quando um povo atinge o vértice do poderio e da riqueza -- coisas que constituem para nós o maior Bem -- esse povo não tarda a corromper-se: menoscaba a virtude, degenera, entra em fase decadente. Lícito é, pois, afirmar sem receio de errar, que o Mal é o estimulante regenerador, que reconduz ao caminho da virtude, da abnegação, do progresso, a Humanidade recalcitrante".
"Por outras palavras: o Mal é o Bem que nós desconhecemos".


A segunda refere-se ao filósofo Sócrates. Segundo seu discípulo Platão, Sócrates ouvia, de vez em quando, uma voz interior, ou um gênio familiar (certamente ele era médium e ouvia a voz de um espírito protetor, diríamos nós hoje), que sempre o orientou na vida e o livrou de diversos perigos que, muitas vezes, o ameaçaram. Por exemplo, certa vez a voz lhe mandou mudar o caminho que sempre tomava ao voltar para casa. Posteriormente, ele soube que, se tivesse seguido aquele caminho, teria sido ferido por inimigos que esperavam, numa esquina, a sua passagem, para apedrejá-lo. Este é apenas um entre outros casos. Pois bem, como todos sabem, em virtude dos seus ensinos, contrários ao que pensavam os doutos da época, ele foi condenado à morte pela cicuta (um veneno terrível). É neste ponto que entra o texto de Bozzano. Diz ele:


"Ouvindo a sua própria condenação, Sócrates dirigiu aos seus juízes estas palavras memoráveis":
"Senhores: durante toda a minha vida, várias vezes ouvi a voz profética de um gênio familiar que sempre me desviou do que me pudesse acarretar um mal; hoje, que me sobreveio, aparentemente, o pior dos males, por que não escuto mais essa voz?
"É porque tudo isto que agora me sucede é um benefício. Nós nos enganamos quando pensamos que a morte seja um mal".


A terceira digressão diz respeito às pessoas que morrem muito jovens (como a pequena Isabela que comoveu todo o país). Diz Bozzano:


"Lembremo-nos da velha sentença do poeta grego Menandro: Os que morrem moços, caros são aos deuses, sentença concordante com a doutrina reencarnacionista, segundo a qual uma morte prematura deixaria supor que a pessoa tenha assaz progredido para abreviar o estágio de aprendizado na evolução ascendente das vidas progressivas, e, no caso de mortes infantis, que tenha progredido bastante para suprimir muitas provações, mergulhando na Terra com o só fito de resgatar o pouco que ainda deve ao ambiente terreno, para concentrar suas energias no sentido de reencarnações mais felizes, talvez bem longe do orbe terráqueo. (Ernesto Bozzano, Os Enigmas da Psicometria, ed. FEB, 1949).