sexta-feira, 4 de junho de 2010



61)30 Abr 2010
Antes do seu desencarne, teria Rui Barbosa aderido ao Espiritismo?

Na "Oração aos Moços", "ato de fé", "conselho de pai a filhos", testamento de uma carreira, em que, diz ele, "estou-vos abrindo o livro da minha vida", escrita nas antevésperas do seu desencarne e, por isso mesmo, lida por Reinaldo Porchat em cerimônia pública, há uma passagem em que a eloquência indiscutivelmente espiritualista de Rui Barbosa dá conselhos aos colegas e afilhados em termos inequívocos de quem tomou conhecimento da sobrevivência humana, de acordo com a Doutrina Espírita. Abramos a "Oração aos Moços", 9ª ed. FORENSE, Rio, pág. 10:

A maior de quantas distâncias logre a imaginação conceber, é a da morte; e nem esta separa entre si os que a terrível apartadora de homens arrebatou aos braços uns dos outros.
Quantas vezes não entrevemos, nesse fundo obscuro e remotíssimo, uma imagem cara? Quantas vezes não a vemos assomar nos longes da saudade, sorridente ou melancólica, alvoroçada ou inquieta, severa ou carinhosa, trazendo-nos o bálsamo ou o conselho, a promessa ou o desengano, a recompensa ou o castigo, o aviso da fatalidade ou os presságios de bom agouro?
Quantas nos não vem conversar, afável e tranquila, ou pressurosa e sobressaltada, com o afago nas mãos, a doçura na boca, a meiguice no semblante, o pensamento na fronte, límpida ou carregada, e lhe saímos do contato, ora seguros e robustecidos, ora transidos de cuidado e pesadume, ora cheios de novas inspirações, e cismando, para a vida, novos rumos?

Quantas outras, não somos nós os que vamos chamar esses leais companheiros de além-túmulo, e com eles renovar a prática interrompida, ou instar com eles por um alvitre, em vão buscado, uma palavra, um movimento do rosto, um gesto, uma réstia de luz, um traço, do que por lá se sabe, e aqui se ignora? (negrito meu).

O Dr. Sérgio Valle, em seu livro, hoje raro, "Silva Mello e os Seus Mistérios" (Editora LAKE, 2ª edição, São Paulo, 1959), fêz uma visita à casa de Rui Barbosa, tombada pelo Patrimônio Histórico, situada na rua São Clemente, Botafogo, RJ, e cita os livros que o grande jurisconsulto e filólogo baiano leu, com vários textos sublinhados em vermelho, para escrever o texto acima. Vejamos a relação:

William Crookes: Les Nouvelles Expériences sur la Force Psychique.
Charles Richet: Traité de Metapsychique.
Sir Oliver Lodge: Raymond or Life and Death; The Proofs of Life After Death; La Vie et la Matière
Alexander Aksakof: Animisme et Spiritisme.
Ernesto Bozzano: Les Phénomènes de Hantise.
Frederic Myers: Les Hallucinations Telépathiques.
Conan Doyle: The New Revelation.
Léon Denis: Les Problèmes de L'Être et de la Destinée.
Alfred Russel Wallace: La Place de L'Homme dans L'Univers
Camille Flammarion: Dieu dans la Nature; L'Inconnu et les Problèmes Psychiques; La Mort e son Mistère (3 volumes); Recits de L'Infini; Uranie.

Como vimos, para escrever um pequeno e belíssimo texto, eivado de considerações autenticamente espíritas, Rui Barbosa leu alguns dos maiores cientistas e filósofos espíritas de todos os tempos.
Rochester

Wera Krijanowskaia


60)29 Abr 2010
Uma reapreciação histórica da figura de Moisés, feita pelo Espírito do Conde de Rochester.

Convém esclarecer que as obras do Espírito do Conde de Rochester, psicografadas pela médium russa Wera Krijanowsky (ou Krijanowskaia, como querem alguns), escritas no final do século dezenove e início do vinte, abrangem, ao que se sabe, 57 obras, sob a forma de romances de fundo espiritista. Dessas, graças principalmente aos esforços de espíritas brasileiros, admiradores da obra do autor espiritual, que viajaram pelo mundo todo (principalmente o eslavo) e conseguiram recuperar muitas que se julgavam perdidas, em virtude da destruição causada por duas guerras mundiais, foram traduzidas (até do russo e do polonês, entre outras línguas) e publicadas 42 obras, dando-se 15, ao que parece até agora, como perdidas.
A jovem médium era filha de família russa muito distinta. Não obstante ter recebido no Instituto Imperial de S. Petersburgo uma sólida instrução, ela não se aprofundou em nenhum ramo de conhecimentos. Sua mediunidade, segundo se pode saber pelas revistas europeias da época, consistia principalmente na escritura mecânica, e o automatismo lhe era tão caracterizado que a sua mão traçava as palavras com uma rapidez vertiginosa, com uma inconsciência completa das ideias contidas em seus escritos. Além disso, as narrações que lhe eram assim ditadas denotavam tal conhecimento da vida e dos costumes das mais antigas civilizações do passado, traziam, em suas minúcias, tal cunho de feição da época e de veracidade histórica, que será difícil ao leitor não lhes reconhecer a autenticidade. Sábios e estudiosos de antigas civilizações, como o prof. alemão G. Ebers, afirmaram que seria impossível, ao historiador mais erudito, estudar, simultaneamente e a fundo, épocas e meios tão diferentes, com conhecimento de causa, como as civilizações assíria, babilônica, egípcia, fenícia, grega e romana; costumes tão dessemelhantes como os da França de Luiz XI e da Renascença; em uma palavra, seria impossível, diz Ebers, ao historiador mais fecundo, passar, com notável facilidade e fidelidade histórica, de Moisés a Carlos IX, ainda mais quando se sabe que a médium traçava os seus escritos com incrível celeridade.
Embora "A Vingança do Judeu" seja considerada a sua obra prima, um lugar de grande destaque é ocupado também pela sua obra "O Faraó Mernephtah" (ed. da LAKE). Nela, Rochester afirma ter sido, na Terra, o citado Faraó, que foi derrotado por Moisés, na célebre fuga dos judeus do seu cativeiro no antigo Egito. (Esses fatos remontam a cerca de 1200 anos a.c.). O autor espiritual afirma que Moisés era filho biológico da jovem princesa Thermutis (filha do Faraó) com um judeu chamado Ithamar (embora a Bíblia diga que era filho adotivo da princesa), e, pois, neto do Faraó. Nele, entretanto, predominavam nitidamente os traços fisionômicos do hebreu (judeu) clássico, e não deixava de ser um filho bastardo, fruto da união de uma nobre egípcia com um escravo. Quem quiser aquilatar o valor da obra, concordando ou não com ela, deverá ler o original, facilmente encontrado nas boas livrarias. Aqui, entretanto, devo cingir-me a fazer duas citações da mencionada obra. Moisés, apesar dos seus traços, sob a discreta proteção da mãe, que muito poucos sabiam ser sua mãe verdadeira (só o Faraó, um médico de sua estrita confiança, e a dama de companhia da princesa sabiam), foi educado nas melhores escolas do Egito e frequentava, desde pequeno, a alta corte egípcia, sendo tratado então com carinho pelo próprio Faraó. Mas qual a sua verdadeira missão? Demos a palavra, agora, a Rochester.

"A missão divina de Moisés era conquistar, com brandura e meiguice, a amizade de Mernephtah e dominar, assim, esse homem violento, mas generoso. Por intermédio do Faraó, deveria aliviar pacientemente a sorte dos hebreus, prepará-los para a liberdade e, chegado o momento favorável, obter de Mernephtah a sua libertação. O ensejo de tornar-se árbitro da situação não lhe teria faltado, no momento oportuno"
( - )
"Para disciplinar o turbulento e desleixado povo hebreu daquela época, decretou leis. Aqui, faço inteira justiça à sabedoria e profundeza do seu espírito, que soube reunir num resumo exato a essência da sabedoria da Índia e do Egito, e que, pelos dez mandamentos e a crença num único Deus, estabeleceu as bases das leis fundamentais da moralidade, que se tornaram herança de todos os povos cristãos. Nisso, o grande missionário foi digno do seu mandato divino; mas, onde o homem político sobrepõe-se ao profeta, surge a sombra. Ele sabia que a união faz a força; deu, pois, às hordas vacilantes que conduzia, um código que as galvanizou num povo indestrutível. Entretanto, essas leis que ele afirmava ter recebido diretamente do Criador Eterno, são excessivamente crueis; consagram a pilhagem, a carnificina, a pena de maior vingança até a quarta geração, e o ódio a tudo que não seja hebreu; elas fizeram do povo judeu inimigo de tudo que não seja dele, buscando a vantagem fácil a expensas de outrem, recordando que os roubos ordenados pelo Eterno, por ocasião da saída do Egito, o haviam enriquecido sem esforço".
"Tudo quanto acabo de referir, bem o sei, levantará uma tempestade contra mim, espírito audacioso, que ousou erguer a ponta do lendário veu que encobre o grande legislador hebreu, para revelar, por baixo do Moisés profeta, o ambicioso candidato a um trono. Caros leitores, não vos esqueçais, porém, de que o escritor destas linhas é Mernephtah, o infeliz Faraó que lutou contra esse homem férreo, com desespero do soberano que assiste à destruição da prosperidade do seu povo, mediante inauditas calamidades e comoções políticas sem precedentes na história".
"Submetido pelo terror, quase louco pela impossibilidade em que me encontrava de compreender o modo pelo qual Moisés agia, na missão divina de que se dizia possuidor, e em que eu não acreditava, cedi ; mas, após a morte do Faraó, meu espírito sondou avidamente a vida e as ações do antagonista que me vencera. Diante do olhar desabusado do meu espírito, o grande profeta empalidece, não restando senão alguns raios divinos; dele apenas fica, sob o grande sábio, o hábil e ambicioso político. É assim que ele me ressurge na memória, ao vos oferecer estas páginas de um longínquo passado".
No final da obra, Rochester diz:

"É verdade que Moisés pregou a existência de um Deus único e, pelos dez mandamentos, estabeleceu uma base para o futuro edifício da cristandade, mas também lhe pertencerá a responsabilidade de ter feito do Supremo Criador do Universo, do Ser infinitamente grande, sábio e misericordioso, o Deus parcial, vingativo e sanguinário do Velho Testamento".

Aqui, seria conveniente dizer que alguns espiritualistas (entre os quais não me incluo), não concordam com as opiniões do autor, embora respeitem o seu ponto de vista.
Carlos Imbassahy


59)29 Abr 2010
A Bíblia (Velho Testamento) não representa a Palavra de Deus.

Extraio os trechos abaixo do livro do escritor Carlos Imbassahy, "À Margem do Espiritismo"
(2ª ed., FEB, 1950, pág. 229). Diz o eminente polemista e estudioso do Espiritismo:

Acha-se em Números, cap. 31:vers. 1 em diante - "Disse Jeová a Moisés: Vinga os filhos de Israel dos Medianitas". E se Jeová o disse, Moisés melhor o fêz. Armou os homens para a guerra a fim de executarem a vingança de Deus. "E eles pelejaram comtra Midian, como Jeová ordenou a Moisés e mataram todos os homens". E mataram também o rei dos Medianitas, e Balaão, filho de Beor. E mais: "Os filhos de Israel levaram cativas as mulheres de Midian com seus pequeninos; e despojaram-nos de todos os seus rebanhos e de todos os seus bens. Queimaram-lhes a fogo todas as cidades em que habitavam e todos os acampamentos".
Parece que depois do terrível saque e da pavorosa matança, a ira de Deus e a de Moisés deveriam estar aplacadas. Pois não se saciaram. Moisés ficou furioso diante da ninharia da pilhagem e da fraqueza do morticínio: "Indignou-se Moisés contra os oficiais do exército, capitães dos milhares e capitães das centenas". E não era para menos. Uma vingança como a ordenava o Senhor deveria ser muito pior. Uma carnificina assombrosa. E Moisés intimou: "Agora matai a todos os machos entre os pequeninos e matai as mulheres que conheceram homem, e quanto às meninas deixai-as viver para vós".
Não será, porém, de admirar esse gosto pelas batalhas, esse degolamento de vencidos, essa sede de sangue, quando, segundo Êxodo, 15:3, "Jeová é homem de guerra".
Fêz ele os homens e o mundo e achou, no momento, que estava tudo muito bem feito. E era natural que o achasse. Tratava-se do Onisciente, do Onipotente. Engano, puro engano, porque depois "viu que era grande a maldade humana e então se arrependeu de ter feito o homem" (Gênesis, 6:5 a 8). Aliás, toda a sua vida bíblica é uma série de arrependimentos. Como qualquer mortal de mau gênio e maus bofes, enche-se constantemente de ira. De uma feita, Moisés chamou-o às falas: "Por que se acende a tua ira contra o teu povo?". E o aconselha, ou melhor, ordena: "Volve-te do furor da tua ira e arrepende-te deste mal contra teu povo". (Êxodo, 32:11 a 14). E vai daí, Jeová caiu em si, viu que tinha errado e, graças a Moisés, voltou atrás de suas maldades.
E ele se arrependia tanto que chegou a cansar. Como se vê em Jeremias, 15:1 a 6, ameaça fazer coisas medonhas e confessa "que está cansado de ter piedade".
Moisés desce do Sinai com as tábuas da lei, onde se dizia -- não matarás -- e logo, para exemplificar, manda matar três mil pessoas e pede a bênção para os assassinos. Pois é ainda esse quem detém o braço do Criador nas suas inomináveis violências. Aliás, foi o próprio Jeová quem, propositadamente, endureceu o coração do Faraó e de seus oficiais, para que pudesse fazer os Seus sinais diante deles (Êxodus, 10-1).
Deus ordena mais, "que se escravizem os que se entregarem, ainda mesmo por meio de paz, sem pelejarem". (Deuteron., 20:10 a 11). Nas cidades em que pelejarem manda assassinar todos, não devendo ficar coisa alguma que tenha fôlego (ídem, 20:12 a 16). Os pais devem levar os filhos desobedientes à morte (ídem, 21:18 a 21). Josué fêz parar o Sol e a Lua, quase um dia inteiro, para que os israelitas tivessem tempo de trucidar seus inimigos amorreus (Josué, 10:12 a 14). Um absurdo biológico: Jonas passa três dias no ventre de uma baleia e depois é vomitado em terra (Jonas, 1-17 e 2-1 a 10).

Convenhamos: Hitler, Napoleão, Átila, César, e outros foram muito mais humanos.

Para encerrar, e por tudo que foi dito acima, gostaria de acrescentar três pontos:

1º) Imbassahy nos deu uma das melhores definições que conheço acerca do Espiritismo:
"O Espiritismo é uma doutrina científica e filosófica que não se baseia em anacrônicos textos "pseudo-sagrados" (cujas interpretações, aliás, variam ao infinito, conforme a posição religiosa ou doutrinária de cada um), mas nos fatos cientificamente comprovados (por eminentes cientistas de diferentes países), e nos ensinamentos morais de Jesus, confirmados e ampliados nas obras de Allan Kardec, codificando o que os espíritos superiores lhe transmitiram."

2º) É um engodo, puro engodo de certas religiões e seitas, afirmarem que a Bíblia (refiro-me especificamente ao Velho Testamento) é a palavra de Deus; pode ser a palavra de um Nero, de um Hitler, mas não de Deus. A palavra de Deus encontra-se basicamente nos Evangelhos de Jesus, que substituiu toda a lei mosaica (baseada no "olho por olho, dente por dente"), pela lei do Amor: "Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo; aí estão toda a Lei e os profetas" (grifo meu). "Não façais aos outros o que não quereis que eles vos façam". "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei". "Ouvistes o que foi dito aos antigos: olho por olho, dente por dente; eu porém vos digo: não resistais ao homem mau, mas a quem te bater na face direita, oferece-lhe também a outra"; e ao que quer demandar-te em juízo e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e se alguém te obrigar a caminhar mil passos com ele, caminha mais dois mil", etc..

3º) A crença no Deus parcial (pró-hebreus), vingativo e rancoroso do Velho Testamento é o que leva os judeus a praticar a sua política de isolamento religioso, e na crença de um Cristo verdadeiro, que virá no futuro para lhes oferecer um lugar de primazia na história da humanidade (o povo privilegiado, escolhido pelo próprio Jeová).
Claude Bernard


58)23 Abr 2010
O "perispírito" ou "duplo psíquico" representa a "ideia diretriz", do fisiologista Claude Bernard.

Demos a palavra a Claude Bernard, um dos maiores fisiologistas de todos os tempos:

"Se fosse preciso definir a vida, eu diria: a vida é a criação. O que caracteriza a máquina viva não é a natureza de suas propriedades físico-químicas, é a criação dessa máquina junto de uma ideia definida. Esse agrupamento se faz em virtude de leis que regem as propriedades físico-químicas da matéria; mas o que é essencialmente do domínio da vida, o que não prtence nem à Física, nem à Química, é a ideia diretriz dessa evolução vital.
Há como um desenho vital que traça o plano de cada ser, de cada órgão, de sorte que, considerado isoladamente, cada fenômeno do organismo é tributário das forças gerais da Natureza; tomadas em sua sucessão e em seu conjunto, parecem revelar um liame especial; dir-se-iam dirigidos por alguma condição invisível, na rota que seguem, na ordem que os encadeia.
A vida é uma ideia; é a ideia do resultado comum, ao qual estão associados e disciplinados todos os elementos anatômicos; é a ideia da harmonia que resulta do seu concerto, da ordem que reina em suas ações.
Vemos, na evolução do embrião, surgir um simples esboço do ser antes de qualquer organização. Os contornos do corpo e dos órgãos, a princípio, são meros delineamentos, começando pelas construções orgânicas provisórias, que servem de aparelhos funcionais e temporários do feto. Até então, nenhum tecido se distingue. Toda a massa é constituída apenas por células plasmáticas e embrionárias. Mas, nesse esboço vital, está traçado o desenho ideal de um organismo ainda invisível para nós, estando já designados, a cada parte e a cada elemento, seu lugar, sua estrutura, suas propriedades. Onde devem estar vasos sanguíneos, nervos, músculos, ossos, as células embrionárias se transformarão em glóbulos de sangue, em tecidos arterial, venoso, muscular, nervoso e ósseo." (Claude Bernard, apud Gabriel Delanne, "A Reencarnação", ed. FEB, 2006, trad. de Carlos Imbassahy).

A "ideia diretriz" do notável fisiologista nada mais é que o "perispírito" (Kardec) ou "duplo psíquico" (Lombroso), que contem a rota ideal, a trama invisível, a "forma-arquétipo" (Bozzano), o "modelo organizador biológico" (H. G. Andrade). Vejamos o que, a este respeito, diz Bozzano:

"A ideia-diretriz, de Claude Bernard, que regula a origem e a evolução das espécies vegetais, animais e humanas no ambiente terrestre, exterioriza-se numa forma-arquétipo invisível (aos nossos olhos), que precede a criação somática, cujas fases ulteriores de desenvolvimento são igualmente precedidas pelas formas-arquétipo correspondentes e destinadas a servirem de modelo, em torno do qual deverá condensar-se, gradualmente, por lei de afinidade, a matéria viva, que atinge a individualidade vegetal, animal e humana graças à nutrição fisiológica," (Ernesto Bozzano, "Pensamento e Vontade", ed. FEB, 1991).

Voltemos à Gabriel Delanne, na obra já citada:

"Se perguntarmos onde o perispírito pode adquirir suas propriedades funcionais, parece lógico supor que ele as fixou em si, no curso de suas evoluções terrestres, passando, sucessivamente, por toda a fieira da série animal, subindo, durante milhares ou milhões de anos, todos os degraus da escala zoológica, integrando, em sua substância indestrutível, as leis cada vez mais complicadas que lhe permitem animar, automaticamente, organismos cada vez mais complexos, das formas mais simples ao homem. É uma gradação sucessiva e uma evolução contínua.
Pode-se conceber, então, que esse gigantesco progresso evolutivo não é devido a causas exclusivamente externas, mas, primordialmente, ao psiquismo interior, que procura quebrar a ganga da matéria, e faz esforços ininterruptos por amortecê-la e permitir às suas faculdades entrarem em relação cada vez mais íntima com a natureza exterior. A criação dos sentidos, depois a de órgãos cada vez mais aperfeiçoados, seria o resultado de um esforço reiterado, e não o produto de felizes acasos, como querem os materialistas.....
Uma vez que o perispírito possui a faculdade, após a morte, de materializar-se, reconstituindo, integralmente, o organismo físico que aqui possuía, somos levados a supor que, no instante do nascimento, é ele que forma seu invólucro corporal, o qual não passa de uma materialização estável e permanente, enquanto nas sessões experimentais ela é apenas temporária, porque produzida fora das vias normais da geração." (Gabriel Delanne, "A Reencarnação").
Léon Denis


57)19 Abr 2010
Onde Reside Hoje os Anseios do Homem de Nazaré, para Léon Denis

"Não é nas igrejas tradicionais, nem nas instituições do pretenso "direito divino" que se encontra, hoje, a seiva pura do pensamento do meigo nazareno. O pensamento de Jesus só vive hoje na alma do povo simples, nesses milhões de trabalhadores que lutam e sofrem, diuturnamente, para levar às suas famílias, com honestidade, o pão de cada dia, muitos dos quais, aliás, não se dizendo ou não se acreditando cristãos, trazem, inconscientemente em si, o ideal sonhado por Jesus. É aí que se encontra essa grande corrente humanitária, cuja nascente está no alto do Calvário, e cujas ondas nos arrastam para um futuro que jamais conhecerá as vergonhas da miséria, da prostituição e da ignorância". (Léon Denis, Socialismo e Espiritismo, Editora O Clarim).


56)19 Abr 2010
Uma bela página de Léon Denis sobre a missão do Cristo (2)

Algumas vezes, o Cristo resumia as verdades eternas em imagens grandiosas, em traços brilhantes. Nem sempre os apóstolos o compreendiam, mas ele deixava aos séculos e aos acontecimentos o cuidado de fazer frutificar esses princípios na consciência da Humanidade, como a chuva e o Sol fazem germinar a semente que caiu na Terra. É nesse sentido que assim se exprimiu: "O ceu e a Terra passarão, porém não as minhas palavras."
Jesus dirigia-se pois, simultaneamente, ao espírito e ao coração. Aqueles que não tivessem podido compreender Pitágoras e Platão, sentiam suas almas comoverem-se aos eloquentes apelos do Nazareno. É por aí que a doutrina cristã domina todas as outras. Para atingir a sabedoria, era preciso, nos santuários do Egito e da Grécia, franquear os degraus de uma longa e penosa iniciação, ao passo que pela bondade e caridade todos podiam tornar-se bons cristãos e irmãos em Jesus.
Mas, com o tempo, as verdades transcendentais se velaram. Aqueles que as possuíam foram suplantados pelos que acreditavam saber, e o dogma material substituiu a pura doutrina. Dilatando-se, o Cristianismo perdeu em valor o que ganhava em extensão.
A ciência profunda de Jesus vinha juntar-se à potência energética do iniciado superior, da alma livre do jugo das paixões, cuja vontade domina a matéria e impera sobre as forças sutis da Natureza. O Cristo possuía a dupla-vista; seu olhar sondava os pensamentos e as consciências; curava com uma palavra, com um sinal, ou mesmo só com a sua presença. Eflúvios benéficos se lhe escapavam do ser, e, à sua ordem, os maus espíritos se afastavam. Comunicava-se facilmente com as potências celestes e, nas horas de provação, alentava desse modo a força moral que lhe era necessária em sua viagem dolorosa. No Monte Tabor, seus discípulos, deslumbrados, o veem conversar com Moisés e Elias. É assim mesmo que mais tarde, depois de crucificado, Jesus lhes aparece, materializado, na irradiação do seu corpo psíquico, desse corpo a que S. Paulo se refere nos seguintes termos: "Há, em cada homem, um corpo animal e um corpo espiritual." (1ª Epíst. aos Coríntios, cap. XV, 5 - 8). A existência desse corpo espiritual (ou duplo psíquico) parece demonstrada pelas experiências da Parapsicologia.
Não podem ser postas em dúvida tais aparições, pois explicam por si sós a persistência da ideia cristã. Depois do suplício do Mestre e da dispersão dos discípulos, o Cristianismo estava moralmente morto. Foram porém as aparições e as conversas de Jesus que restituíram aos apóstolos sua energia e sua fé, tão vívidas que os fizeram sofrer as maiores perseguições e as maiores torturas a fim de espalhar, mundo afora, a ideia cristã.
( - )
No séc. lV, o Cristianismo foi considerado a religião oficial do império romano pelo Imperador Constantino, um dos grandes criminosos da história, que, no seu íntimo, nada tinha de cristão (como demonstram as suas ações), mas que se utilizou da religião cristã, em franca ascensão, para consolidar o poder romano, admitindo a igreja de Roma como a única fiel depositária dos ensinamentos cristãos, e massacrando as outras (nessa época havia várias igrejas cristãs) a ferro e fogo.
Foi a partir de então que os sacerdotes romanos perderam de vista a luz que Jesus tinha trazido a este mundo, e recaíram na obscuridade. A noite que quiseram para os outros fêz-se neles mesmos. O templo deixou de ser, como nos tempos antigos, o asilo da verdade. E esta abandonou os altares para buscar um refúgio oculto. Desceu às classes pobres; foi inspirar humildes missionários, apóstolos obscuros que, sob o nome do Evangelho de S. João, procuravam restabelecer, em diferentes pontos da Europa, a simples e pura religião de Jesus, a religião da igualdade e do amor. Porém estas doutrinas foram asfixiadas pela fumaça das fogueiras, ou afogadas em lagos de sangue.

Estes excertos (1 e 2) foram por mim extraídos de dois livros de Léon Denis: Depois da Morte e Cristianismo e Espiritismo.
Léon Denis


55)19 Abr 2010
Uma bela página de Léon Denis sobre a missão do Cristo (1)

Um pouco antes da era atual, à proporção que o poder de Roma cresce e se estende, vê-se a doutrina secreta recuar, perder a sua autoridade. São raros os verdadeiros iniciados. O pensamento se materializa, os espíritos se corrompem. A Índia fica como adormecida num sonho: extingue-se a lâmpada dos santuários egípcios, e a Grécia, assenhoreada pelos retóricos e pelos sofistas, insulta os sábios, proscreve os filósofos, profana os Mistérios. Os oráculos ficam mudos. A superstição e a idolatria invadem os templos. E a orgia romana se desencadeia pelo mundo, com suas bacanais, sua luxúria desenfreada, seus inebriamentos bestiais. Do alto do Capitólio, a prostituta saciada domina povos e reis. César, imperador e deus, se entroniza numa apoteose ensanguentada !
Entretanto, nas margens do Mar Morto, surge um Homem, uma Alma bastante vasta, tão superabundante de luz e de amor, para nela própria sorver os elementos de sua missão. Jamais a Terra viu passar maior Espírito. Uma serenidade celeste envolvia-lhe a fronte. Nele se uniam todas as perfeições para formar um tipo de pureza ideal, de inefável bondade.
Há em seu coração imensa piedade pelos humildes, pelos deserdados. Todas as dores humanas, todos os gemidos, todas as misérias encontram nele um eco. Para acalmar esses males, para secar essas lágrimas, para consolar, para curar, para salvar, ele irá ao sacrifício da própria vida oferecer em holocausto a fim de reerguer a Humanidade. Quando, pálido, se dirige para o Calvário, e é pregado ao madeiro infamante, encontra, ainda em sua agonia, a força de orar por seus carrascos, e de pronunciar estas palavras que nenhum impulso de ternura ultrapassará jamais:
"Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem !"
Entre os grandes missionários, o Cristo, o primeiro de todos, comunicou às multidões as verdades que, até então, tinham sido o privilégio de pequeno número. Para ele, o ensino oculto tornava-se acessível aos mais humildes, senão pela inteligência, ao menos pelo coração, e lhes oferecia esse ensino sob formas que o mundo não tinha conhecido, com uma potência de amor, uma doçura penetrante, uma fé comunicativa, que faziam fundir os gelos do ceticismo, eletrizar os ouvintes e arrastá-los após si.
O que ele chamava "pregar o Evangelho do reino dos ceus aos simples" era por ao alcance de todos o conhecimento da imortalidade e o do Pai comum. Os tesouros intelectuais, que os adeptos avaros só distribuíam com prudência, o Cristo os espalhava pela grande família humana, por esses milhões de seres curvados sobre a Terra, que nada sabiam do destino e que esperavam, na incerteza e no sofrimento, a palavra nova que os devia consolar e reanimar.
Essa palavra, esse ensino, ele distribuiu sem contar, e lhes deu a consagração do seu suplício e da sua morte. A cruz, esse símbolo dos antigos iniciados, que se encontra em todos os templos do Egito e da Índia, tornou-se, pelo sacrifício de Jesus, o sinal da elevação da Humanidade, tirada do abismo das trevas e das paixões inferiores, para ter enfim acesso à vida eterna, à vida das almas regeneradas.
O Sermão da Montanha condensa e resume o ensino popular de Jesus. Aí se mostra a lei moral com todas as suas consequências; nele os homens aprendem que as qualidades brilhantes não fazem sua elevação nem sua felicidade, mas que só poderão conseguir isto pelas virtudes modestas e ocultas -- a Solidariedade, a Bondade, a Justiça e o Amor.

Obs. minha: Que profunda inspiração nessas palavras do mestre Léon Denis, ele que, em sua vida, foi um grande médium inspirado! E ainda dizem que o Espiritismo não é cristão. Como negá-lo diante do texto acima? Alguém poderia escrever sob a figura e a missão do Cristo com maior fulgor?


54)19 Abr 2010
Por que existe o MAL? E a MORTE, será necessariamente um mal?

No seu livro "Os Enigmas da Psicometria", o filósofo Ernesto Bozzano faz notáveis digressões sobre a existência do mal no nosso mundo e o significado da morte. Eis a primeira:


"Uma grave proposição identifica-se com a da existência do MAL -- uma tese posta de milênios por todas as filosofias, inutilmente, sem conseguirem elucidá-la. Limitar-me-ei a transcrever aqui uma frase do Dr. Geley, que diz: a existência do mal é a medida da inferioridade dos seres e dos mundos".

"Penso que este conceito contém a melhor definição que o espírito humano pode formular sobre este problema, pois ninguém ousará contestar que este é um mundo inferior, no qual a dura disciplina do mal é ainda necessária à elevação espiritual do homem, assim como nô-lo atestam a História e a Psicologia de todos os povos. É de todo evidente que, se o Mal não existisse na Terra, ninguém compreenderia o Bem. Menos evidente não é que a História nos ensina a estimar no Mal, sob todas as suas formas, um instrumento indispensável ao progresso da Humanidade".
"Indubitável, finalmente, que, quando um povo atinge o vértice do poderio e da riqueza -- coisas que constituem para nós o maior Bem -- esse povo não tarda a corromper-se: menoscaba a virtude, degenera, entra em fase decadente. Lícito é, pois, afirmar sem receio de errar, que o Mal é o estimulante regenerador, que reconduz ao caminho da virtude, da abnegação, do progresso, a Humanidade recalcitrante".
"Por outras palavras: o Mal é o Bem que nós desconhecemos".


A segunda refere-se ao filósofo Sócrates. Segundo seu discípulo Platão, Sócrates ouvia, de vez em quando, uma voz interior, ou um gênio familiar (certamente ele era médium e ouvia a voz de um espírito protetor, diríamos nós hoje), que sempre o orientou na vida e o livrou de diversos perigos que, muitas vezes, o ameaçaram. Por exemplo, certa vez a voz lhe mandou mudar o caminho que sempre tomava ao voltar para casa. Posteriormente, ele soube que, se tivesse seguido aquele caminho, teria sido ferido por inimigos que esperavam, numa esquina, a sua passagem, para apedrejá-lo. Este é apenas um entre outros casos. Pois bem, como todos sabem, em virtude dos seus ensinos, contrários ao que pensavam os doutos da época, ele foi condenado à morte pela cicuta (um veneno terrível). É neste ponto que entra o texto de Bozzano. Diz ele:


"Ouvindo a sua própria condenação, Sócrates dirigiu aos seus juízes estas palavras memoráveis":
"Senhores: durante toda a minha vida, várias vezes ouvi a voz profética de um gênio familiar que sempre me desviou do que me pudesse acarretar um mal; hoje, que me sobreveio, aparentemente, o pior dos males, por que não escuto mais essa voz?
"É porque tudo isto que agora me sucede é um benefício. Nós nos enganamos quando pensamos que a morte seja um mal".


A terceira digressão diz respeito às pessoas que morrem muito jovens (como a pequena Isabela que comoveu todo o país). Diz Bozzano:


"Lembremo-nos da velha sentença do poeta grego Menandro: Os que morrem moços, caros são aos deuses, sentença concordante com a doutrina reencarnacionista, segundo a qual uma morte prematura deixaria supor que a pessoa tenha assaz progredido para abreviar o estágio de aprendizado na evolução ascendente das vidas progressivas, e, no caso de mortes infantis, que tenha progredido bastante para suprimir muitas provações, mergulhando na Terra com o só fito de resgatar o pouco que ainda deve ao ambiente terreno, para concentrar suas energias no sentido de reencarnações mais felizes, talvez bem longe do orbe terráqueo. (Ernesto Bozzano, Os Enigmas da Psicometria, ed. FEB, 1949).


53)19 Abr 2010
O Lento Caminho do Progresso

Lembro-me de que, em 1961, o então presidente John Kennedy foi obrigado a lançar mão de tropas federais para garantir que dois estudantes negros, aprovados nos concursos, pudessem estudar em Universidades norteamericanas (não me lembro agora quais); houve de tudo: confrontos entre manifestantes brancos e a polícia, bombas de gás lacrimogêneo, feridos, presos, mas, no final, os negros conseguiram adentrar na universidade e terminar o seu curso, embora, no correr do mesmo, tivessem sofrido inúmeros deboches e hostilidades. Pois bem, quem diria, naquela época, que precisamente 47 anos depois, a maioria dos americanos escolheriam um negro para presidente da república? Sim, como dizia o astrônomo Flammarion, o progresso caminha ... com prudente lentidão. (Neste caso, nem se pode dizer que foi com tanta lentidão assim).
Estou me valendo de uma frase que o célebre astrônomo exarou ao fazer um prefácio genial para o livro de M. Sage que, em português, se chamou "Outra Vida?" (hoje raríssimo), editado em 1903 por Laemmert & C. -- Editores (rua do Ouvidor, 66, RJ), livro já por mim citado em artigo anterior. Diz então Flammarion, que escrevia, é bom frisar, em finais do século dezenove:

"As Atas da Sociedade de Pesquisas Psíquicas ficarão na ciência do futuro como uma biblioteca de documentos do maior valor para o conhecimento da alma humana, entidade ainda tão misteriosa hoje como na época em que Sócrates recomendava que nos estudássemos a nós mesmos. Determinamos a posição do nosso planeta no universo, medimos o sistema do mundo, calculamos os pesos dos astros, analisamo-lhes a constituição química, calculamos até as distâncias das estrelas, e -- não nos conhecemos a nós mesmos !"
"Entretanto, parece que é esse o estudo mais importante que poderíamos fazer. Mas há cerca de dois mil anos que somos educados com a idéia de que isso seria uma indagação inútil, perigosa e proibida; diziam-nos: "Nada tendes que ver com isso, profanos, estamos aqui para vos ensinar a verdade que possuímos, que recebemos de Deus em pessoa; a alma nasce com o corpo, mas não morre com ele; é enviada ao inferno, ao purgatório ou ao céu. É muito simples, não vos deis ao trabalho de procurar outra coisa".
"Houve pesquisadores, curiosos, alquimistas, feiticeiros, extratores da quinta essência, que tentaram evocar mortos, e que foram, em grande parte, vítimas de singulares ilusões. Muitos desses investigadores não tiveram grande êxito, e, para prová-lo, a Inquisição queimou-os aos milhares, em todos os países, em Paris como em Roma, em Colonha como em Cadix".
"Os tempos mudaram, mas muito lentamente. Queimaram Giordano Bruno, em Roma, porque ensinava a doutrina da pluralidade dos mundos habitados; não queimaram Galileu porque deu aos seus juízes a honra de lhes confessar que o nosso planeta não se move; não se queima mais ninguém hoje: mas os jornais bem orientados declaram que os únicos sábios verdadeiros são aqueles que vão à missa. Sim, o progresso caminha ... com prudente lentidão".

Recordo que essas citações são, como disse, de finais do 19º século, quando a Igreja Católica ainda era muito obscurantista.


52)19 Abr 2010
O Testamento Científico de um Astrônomo

Este é o testamento científico do astrônomo Jorge Spero (que nunca existiu realmente, sendo um pseudônimo do célebre astrônomo francês Camille Flammarion).

"Quisera deixar, sob a forma de aforismos, o resultado das minhas investigações. Parece-me que não se pode chegar à Verdade senão pelo estudo da Natureza, isto é, pela Ciência. Eis as induções que se me afiguram baseadas nesse método de observação e experimentação".

I
O universo visível, tangível, ponderável e em movimento incessante, é composto de átomos invisíveis, intangíveis, imponderáveis e também em constante movimento.

II
Para construir os corpos e organizar os seres, esses átomos são regidos por forças, que, por sua vez, dão origem aos vários tipos de energia.

III
A Energia é a entidade essencial, pois toda a matéria não passa de energia num alto grau de concentração ou energia congelada, como dizem alguns, embora de uma forma um tanto imprópria.

IV
A visibilidade, a tangibilidade, a solidez, a duração, o peso, são propriedades relativas dos corpos, e não realidades absolutas.

V
Os átomos que compõem os corpos são, para a sensação humana, infinitamente pequenos.
As experiências feitas sobre a laminagem das folhas de ouro mostram que dez mil folhas destas se contêm na espessura de um milímetro. Chegou-se a dividir um milímetro sobre uma lâmina de vidro, em mil partes iguais, e existem infusórios tão pequenos que o seu corpo inteiro, colocado entre duas dessas divisões, não as toca; os membros e os órgãos desses seres são formados por células, estas por moléculas, e estes por átomos. Vinte centímetros cúbicos de óleo estendido sobre um lago, chegam a cobrir 4.000 metros quadrados de superfície, de sorte que a camada de óleo assim espalhada mede um ducentésimo milésimo de milímetro de espessura. A análise espectral da luz revela a presença de um milionésimo de miligrama de sódio em uma chama. As ondas de luz têm um comprimento de onda compreendido entre 4 e 8 décimos milésimos de milímetro, do vermelho ao violeta. Seriam necessárias 2300 dessas ondas para encher um milímetro. Na duração de um segundo, as ondas luminosas visíveis executam setecentos trilhões de oscilacões, cada uma das quais é matematicamente definida. O olfato percebe 1/64.000.000 de miligramas, por exemplo, de gás sulfídrico, no ar respirado. A dimensão dos átomos é de cerca de um décimo milionésimo de milímetro de diâmetro.

VI
O átomo, intangível, invisível, dificilmente concebível para o nosso espírito afeito aos julgamentos superficiais, constitui a única matéria verdadeira, e o que chamamos matéria é apenas um efeito produzido em nossos sentidos pelo movimento incessante dos átomos, isto é, uma possibilidade permanente de sensações.
Daí resulta que a matéria, apesar da sua aparente fixidez exterior, apresenta, no seu interior, a soma de velozes movimentos atômicos; por sua vez, a energia das ondulações luminosas e eletromagnéticas se propagam pelo espaço com a enorme velocidade de 300.000 km/s. Portanto, se todo o movimento cessasse, o universo, qual o conhecemos, deixaria de existir. ( Isto poderia acontecer se a temperatura caísse para - 273°C, ou zero absoluto, a mais baixa temperatura que o universo poderia atingir, o que provocaria a cessação de todo o movimento ).

VII
O universo visível é composto por partículas invisíveis. Quanto se vê, é feito de coisas que não se vêem.
A menor porção de uma substância que ainda conserva as suas mesmas propriedades é chamada de molécula da substância. Em geral, a molécula é constituída de dois, três ou mais átomos do mesmo elemento ou de elementos diferentes. Por exemplo, a molécula da água é composta pela reunião de dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Tanto as moléculas quanto os átomos que as constituem estão em constante e perpétuo movimento.

VIII
O que chamamos matéria se esvai quando a análise científica acredita atingí-la. De fato, os espaços interatômicos e intermoleculares são milhares de vezes maiores que as dimensões dos próprios átomos e moléculas. O que dá a matéria a idéia da sua solidez aparente é a enorme velocidade (e, portanto, a energia de vibração das moléculas, átomos e partículas sub-atômicas que a constituem). Não fosse isso e enxergaríamos através da matéria tão facilmente quanto o fazemos através de uma tela de arame de largo espaçamento entre si. Tomemos um exemplo simples: a hélice de um avião, quando gira a grande velocidade, parece um corpo sólido, não dando idéia alguma dos claros que existem entre elas.

IX
O ser humano tem por princípio essencial a alma ou espírito (pouco importa o nome). O corpo é aparente e transitório.

X
Sabemos hoje que os átomos são compostos de partículas sub-atômicas. A quantidade de energia que constitui o universo é invariável, mas a sua possibilidade de uso prático pelo ser humano está sempre em declínio (é o processo que os físicos chamam de entropia).
A alma humana é indestrutível.

XI
A individualidade da alma é recente na história da Terra. O nosso planeta formou-se de uma enorme nuvem rotativa de poeira e gás, de que, no centro formou-se o Sol e na periferia os diversos planetas, inclusive a Terra, a princípio muito quente, mas cujo solo foi progressivamente se esfriando. No início, não existia nenhum ser vivo. Depois, a vida começou pelos organismos mais rudimentares; progrediu de século em século para atingir o estado atual, que não é o último. A inteligência, a razão, a consciência, o que chamamos faculdades da alma encarnada, são modernas. O Espírito se desembaraçou gradualmente da matéria tal como -- se a comparação não fosse grosseira -- o gás se desprende do carvão, o perfume da flor, a labareda do fogo.

XII
A força psíquica começou a se afirmar desde há 30 ou 40 séculos na humanidade terrestre; a ação dela está apenas na aurora.
As almas, conscientes da sua individualidade ou ainda inconscientes, apenas quando encarnadas estão presas às condições de Espaço e Tempo. Após a morte dos corpos, elas estão fora daquelas condições, embora as muito atrasadas possam pensar que não estejam. Algumas vão habitar outros mundos.
Não têm consciência de sua vida extracorpórea e da sua imortalidade senão aquelas que ainda não se desprenderam dos laços materiais.

XIII
A Terra é uma província da pátria eterna; faz parte do Céu, o Céu é infinito; todos os mundos fazem parte do Céu. Nosso planeta e um navio espacial que transporta, através do infinito, uma população de almas com a velocidade de cerca de 3.860.000 quilômetros por dia em torno de uma pequena estrela, e todo o sistema solar viaja a, aproximadamente, um bilhão de quilômetros em direção à constelação de Hércules.

XIV
Os sistemas planetários e siderais que constituem o Universo estão em diversos graus de organização e adiantamento. É infinita a extensão da sua diversidade; os seres guardam, em toda parte, em sua constituição física, relação direta com os mundos em que vieram à luz.

XV
Os mundos, atualmente, não são todos habitados. A época presente não tem importância maior do que as precedentes e nem sobre as que se lhe hão de seguir.
Tais mundos foram habitados no passado, há milhares de séculos; tais outros sê-lo-ão no futuro, em milhares de séculos. Alguns são habitados atualmente, como o nosso.
Um dia, nada restará da Terra, e as suas próprias ruínas estarão destruídas. Mas o -- Nada -- jamais substituirá o Universo. Se as coisas e os seres não renascessem das suas cinzas, não existiria uma única estrela no Céu, pois, desde a eternidade pretérita, todos os Sóis estariam extintos, datando toda a Criação da eternidade. A duração total da humanidade representa um momento no Tempo eterno.

XVI
A vida terrestre não é o tipo das outras vidas. Ilimitada diversidade reina no Universo. Há mansões onde o peso é intenso, onde a luz é desconhecida, onde o tato, o olfato e o ouvido são os únicos sentidos; onde, não se tendo formado o nervo óptico, todos os seres são cegos. Outras há onde o peso é apenas sensível; onde os entes são tão leves e tão tênues que seriam invisíveis para os olhos terrestres; onde sentidos de extrema delicadeza revelam a Espíritos privilegiados sensações vedadas à Humanidade terrestre.

XVII
O espaço que existe entre os mundos espalhados no imenso Universo não os isola uns dos outros. Estão todos em perpétua comunicação uns com os outros pela atração gravitacional (força descoberta por Newton), que, através das distâncias, estabelece indissolúvel laço entre todos os mundos.

XVIII
O Universo forma uma unidade única.

XIX
O sistema do mundo físico é a base material, o ambiente do sistema do mundo moral ou espiritual. A Astronomia deve pois, ser a base de toda a crença filosófica e religiosa. Todo o ser pensante traz em si o sentimento, mas não a certeza da imortalidade. É porque somos as rodas microscópicas de um mecanismo desconhecido.

XX
O próprio homem é quem faz o seu destino. Levanta-se ou cai segundo as suas obras. As criaturas presas aos interesses materiais, os avarentos, os ambiciosos, os hipócritas, os mentirosos, os filhos de Tartufo, moram, com os perversos, nas zonas inferiores. Mas uma lei, primordial e absoluta, rege a Criação: a lei do Progresso. Tudo se eleva ao infinito. As faltas são quedas.

XXI
Na ascensão das almas, as qualidades morais não têm menos valor do que as qualidades intelectuais. A bondade, o devotamento, a abnegação e o sacrifício apuram a alma e a elevam, e assim também o estudo e a ciência.

XXII
A Criação universal é uma imensa harmonia na qual a Terra é um insignificante fragmento, pesado e obscuro. O conjunto dos mundos forma uma hierarquia progressiva, desde os mais atrasados aos mais adiantados, já próximos da luz divina.

XXIII
A Natureza é um perpétuo futuro. O Progresso é a lei. A progressão é eterna.

XXIV
A eternidade de uma alma não seria suficiente para visitar o Infinito e tudo conhecer.

XXV
O destino da alma é desprender-se, cada vez mais, do mundo material e pertencer definitivamente à vida superior, de onde dominará a matéria e não sofrerá mais. O fim supremo dos seres é a aproximação perpétua da perfeição absoluta e da felicidade divina.
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"Tal era o testamento científico e filosófico de Jorge Spero". (Texto extraído do livro "Urânia" de Camille Flammarion. ed. de 1966).


51)19 Abr 2010
Os Dois Primeiros Livros de Flammarion

1) O livro "A Pluralidade dos Mundos Habitados" (ano de 1862) de Flammarion é dividido em 5 partes: a 1a. parte intitula-se Estudo Histórico e se compõe de dois capítulos; 1.1) Da Antiguidade à Idade Média, 1.2) Da Idade Média até os nossos dias. A 2a. parte intitula-se Os Mundos Planetários e se compõe também de dois capítulos: 2.1) Descrição do sistema solar, 2.2) Estudo comparativo dos planetas. A 3a. parte intitula-se Fisiologia dos Seres e se compõe de três capítulos: 3.1) Os seres sobre a Terra, 3.2) A vida, 3.3) A habitabilidade da Terra. A 4a. parte intitula-se Os Céus e se compõe de um único capítulo: A imensidão dos céus. A 5a. parte intitula-se A Humanidade no Universo e se compõe de três capítulos: 5.1) Os possíveis habitantes dos outros mundos, 5.2) Inferioridade do habitante da Terra, 5.3) A humanidade coletiva.

2) O livro "Deus na Natureza" (ano de 1867) também é dividido em 5 partes: a 1a. intitula-se A Força e a Matéria e se compõe de três capítulos: 1.1) Posição do problema, 1.2) O céu, 1.3) A Terra . A 2a. parte intitula-se A Vida e se compõe de dois capítulos: 2.1) A circulação da matéria, 2.2) A origem dos seres. A 3a. parte intitula-se A alma e se compõe de três capítulos: 3.1) O cérebro, 3.2) A personalidade humana, 3.3) A vontade do homem. A 4a. parte intitula-se Destino dos Seres e das Coisas e se compõe de dois capítulos: 4.1) Plano da natureza - construção dos seres vivos, 4.2) Plano da natureza - instinto e inteligência. A 5a. parte intitula-se Deus e não tem nenhum capítulo mas apenas considerações gerais tiradas de toda a obra sobre a possível natureza do Ser Supremo.


50)19 Abr 2010
A evolução darwiniana não elimina a existência de Deus, diz Flammarion

"Digamo-lo com firmeza: mesmo admitindo, sem reservas, todos os fatos invocados pelos materialistas; mesmo perfilando-nos ao lado de Darwin, Owen, Lamarck, Saint-Hilaire e, sobretudo, com estes (porque há sempre gente mais realista do que o rei), para supor que os olhos, os ouvidos, os sentidos, os homens, os animais, seres e plantas vivos, em suma, se tenham formado pela ação permanente de uma força natural, nem por isso se provaria a inexistência de Deus, e, sim, ao invés, que Deus existe. Somente, o que se dá é que, em vez de se nos revelar como pedreiro, ele se nos antolha como arquiteto. E com isso, cremos, nada perde, ao contrário, ganha."
"Em nosso estudo geral da Força e da Matéria (feito no tomo 1), acompanhamos essa metamorfose da idéia de Deus. Do ponto de vista da destinação dos seres e das coisas, a idéia correlativa sofre a mesma progressão; longe de enfraquecer a antiga beleza do plano criador, ela o desenvolve e reforça grandemente. Se, em vez de uma mão a construir o protótipo de cada espécie animal e vegetal, admitirmos uma força íntima, aplicada à matéria, isso em nada afeta a idéia de uma inteligência criadora e da finalidade da Criação. Porque, na verdade, é preciso cerrar preconcebidamente os olhos, para que se não veja nessa força íntima da Natureza, o efeito de um pensamento inteligente. É preciso ser cego para desprezar o indício evidente de uma causa poderosa e eterna que arrasta progressivamente tudo e todos para um ideal superior."
"Pretender que a Natureza se forme de si mesma e progrida instintivamente, numa direção constante para resultados cada vez mais perfeitos, é confessar em parte que ela se encaminha a esse ideal devido a uma causa inteligente. Como poderia a matéria inerte ter tido a idéia de se enformar sucessivamente como vegetal, como animal, como homem, engendrando todos esses órgãos que constituem o ser vivente e conservam a vida atavés dos séculos? Como não reconhecer em tudo isto uma ordem geral? Porque a Natureza não representa um caos de monstruosidades?"
"A toda essas perguntas, respondem-nos com a lei de seleção natural. Explicam todos os problemas repetindo que a Natureza é arrastada a um progresso incessante, que despreza o mau pelo bom e tende sempre a realizar formas mais perfeitas."
"Mas, em suma, que é que vem a ser essa tendência, esse progresso instintivo, essa necessidade de engrandecimento, senão o ato de uma força universal dirigindo o mundo para o ideal? Que significa essa marcha simultânea de todos os seres para a perfeição, senão a revelação eloquente de uma causa, que sabe onde e como conduz o carro, sem que a matéria servil pudesse jamais opor-lhe o mínimo obstáculo?"
(Camille Flammarion, Deus na Natureza; Tomo 4, Destino dos Seres e das Coisas, cap.1, Plano da Natureza - Construção dos Seres Vivos, ed. FEB, 1959, trad. de M. Quintão).


49)19 Abr 2010
A Posição Filosófico-Científica do Astrônomo Flammarion

Ao final do prefácio da 10a. edição francesa da "Pluralidade dos Mundos Habitados" (isto em 1867), Flammarion diz: "Vejo com prazer coincidir a publicação desta nova edição com o aparecimento da nossa obra "Deus na Natureza" . Esta última é, com efeito, o desenvolvimento da idéia que ditou a precedente. Seu fim acha-se por inteiro nestas palavras: A Religião pela Ciência. Procuramos formular neste trabalho uma filosofia positiva das ciências e dar uma refutação não teológica do materialismo comtemporâneo. Possa esta obra, fundada sobre a observação racional e científica, seguir e mostrar o caminho seguro do espiritualismo racional, a igual distância do ateísmo científico e da superstição religiosa, com seus dogmas e mistérios".
Vejamos agora a sua opinião no final do livro já citado, "Deus na Natureza":
"Vigem hoje no mundo dois grandes erros, tão vivazes e profundos como nos tempos mais obscuros da História, isto é, nas épocas recuadas em que a inteligência humana ainda podia formular nenhuma concepção exata da natureza".
"Esses dois erros, por nós combatidos paralelamente, são: de um lado o ateísmo científico, que, por puro preconceito ou soberba, nega a existência do espírito; e do outro lado a superstição religiosa, que, com seus dogmas, concebeu um Deusinho semelhante a seus interesses e fêz do Universo uma imensa lanterna mágica para uso e gozo da humanidade".
"Como esses dois erros igualmente funestos -- posto que à primeira vista pareçam inócuos -- procuram agora apoiar-se em princípios sólidos da Ciência contemporânea, impusêmo-nos o dever de mostrar que eles não podem reivindicar tais princípios em seu favor; que jazem fatalmente isolados da ciência positiva e se desarticulam ao primeiro embate, qual castelo de cartas, enquanto -- idéia central -- continua em linha reta o espiritualismo científico".

Esta foi a resposta que enviei a um amigo, que ficou muito impressionado com as mensagens de Flammarion que eu havia lhe remetido, e me pediu lhe informasse qual seria então a posição do célebre astrônomo sobre Deus e as religiões. Logicamente que eu lhe disse também que, para obter uma visão mais completa do assunto, deveria consultar as obras da lavra do eminente astrônomo, pelo menos as publicadas em português.


48)15 Abr 2010
Uma bela página do "poeta da Astronomia"

"Quem não se assombra, quem não se extasia ao contemplar, nas noites claras, a vastidão do céu noturno, cravejado de miríades de pontos faiscantes de luz, milhões de estrelas brilhantes emoldurando o que parece ser um jardim celestial, quem não se embriaga com a esplendorosa visão? Pois bem, eis um fato em que não havia pensado antes; se o nosso grãozinho de poeira perdido no espaço, chamado Terra, fosse o único planeta habitado por seres inteligentes, o universo inteiro consubstanciado nesses milhões de astros que sulcam o espaço infinito não passaria, para o habitante do nosso pífio planeta, de um universo de ostentação...-- sim, um universo de ostentação! Uma perspectiva inútil de aparências mentirosas! Uma imensa lanterna mágica!, uma fantasmagoria, ai de mim, inebriante e fascinadora, colocada diante de nossas almas para induzí-las ao erro -- arrebatadoras imagens que o Ente supremo diverte-se em fazer desfilar diante de nossas beatas figuras, como nesses pequenos teatros ao ar livre se fazem dançar figuras de papelão para divertir as crianças risonhas!!! Eis o último refúgio daqueles que rejeitam a teoria da Pluralidade dos Mundos Habitados".
Há ainda páginas muito belas escritas pelo "poeta da astronomia" (como ele foi chamado pelo famoso escritor Michelet), mas para não me estender muito termino pelo último parágrafo da obra, que é o seguinte:
"Tornaremos a cair agora na sombra em que ontem dormíamos, e nos deixaremos outra vez atrair para o abismo da dúvida? Lá no alto a luz que resplende: fecharemos os olhos para nã vê-la? Os astros falam e sua palavra eloquente cai junto de nós: ficaremos surdos à sua voz? Sejamos humildes para merecer compreender o ensino da natureza, porém sejamos sinceros quando o tivermos compreendido. Reconheçamos quem somos e proclamêmo-lo altamente. Se foram precisos sessenta séculos e mais, antes que as ciências exatas pudessem produzir os elementos de nossa certeza, esclarecendo-nos sobre o nosso verdadeiro lugar no universo e nos permitindo chegar ao conhecimento de nosso destino; se foi precisa esta longa e santa incubação dos anos para animar com um sopro de vida nossa bela doutrina e afirmar a sua verdadeira grandeza; oh! guardêmo-la preciosamente, esta doutrina, como uma riqueza d'alma; consagrêmo-la ao Deus das Estrelas; -- E quando noites sublimes, envolvendo-nos de magnificências, acenderem no oriente suas constelações diamantinas, e no céu sem limites desenrolarem suas misteriosas claridades... através da imensidade dos Mundos, entre os céus estrelados, debaixo do véu argênteo das nebulosas longínquas, nas profundezas incomensuráveis do infinito, e até além das regiões desconhecidas onde se desenvolve o eterno esplendor... saudemos! Meus irmãos, saudemos todos: são as Humanidades, nossas irmãs, que passam! (Camille Flammarion, A Pluralidade dos Mundos Habitados, 1910, Ed. Garnier).

Esta obra é a primeira escrita pelo célebre astrônomo (em 1862, a tradução é que é de 1910), quando ele contava apenas 20 anos e é considerada, talvez, a sua obra prima; foi a primeira a tratar, de um ponto de vista rigorosamente científico , isto é, sem misticismos tolos, a questão da pluralidade dos mundos habitados. Esta obra, hoje rara, é, como dizem os americanos, um cult, e permanece atualíssima, não obstante os enormes progressos científicos obtidos desde então.


47)15 Abr 2010
Continuação da Viagem de Flammarion pelo Imenso Espaço Exterior (2)


Continuando a sua "viagem espiritual" pelo espaço sideral afora, o sábio astrônomo Camille Flammarion, encontra-se agora a cem mil trilhões de quilômetros da Terra, e, nessas condições, todo o sistema solar, há muito tempo, desapareceu completamente da vista, e sua existência, não pode ser sequer suspeitada. O astrônomo francês continua então a sua narração:
"No meu vôo rumo ao infinito, passei por um grupo de mundos multicores iluminados por três sóis: um vermelho-rubi, um verde-esmeralda e um azul-safira, e tão singularmente iluminados por essa luz -- artificial para nós, natural para eles -- que eu perguntei a mim mesmo se não era o joguete de uma ilusão e se realmente tais criações podiam existir, do que, entretanto não poderia absolutamente duvidar um só instante, pois que eu próprio observara centenas de vezes ao telescópio essas associações de sóis coloridos, tão conhecidos dos astrônomos. Detive-me, aproximei-me de um desses mundos e o vi habitado por seres que pareciam tecidos de luz, aos olhos dos quais, muito provavelmente, os habitantes de nosso planeta pareceriam de tal modo escuros, pesados e grosseiros que, a seu turno, perguntariam uns aos outros se realmente vivemos e se nos sentimos realmente viver".
"São astros, esses, povoados por organismos aéreos cujo brilho deixa muitíssimo longe a delicada contextura das nossas rosas mais frescas e dos nossos lírios mais puros. Tais seres nutrem-se da própria atmosfera que respiram, sem se verem condenados, como os habitantes do nosso planeta, a massacrar perpetuamente inúmeros animais para alimentar com eles os seus corpos. Sua beleza, seu brilho, sua vivacidade, levaram-me a recordar, pelo contraste, as condições exigidas pela vida terrestre. Considerei que a força brutal reina aqui soberanamente, que milhões de seres vivos são mortos cada dia, para assegurar a existência dos outros, que a guerra é uma lei natural entre os seres humanos, como se fossem feras, e que a humanidade está ainda tão pouco desembaraçada da barbárie animal que muitos povos continuam a aceitar, como nos tempos primitivos, a miséria, a fome e exploração. Constatei, estando tão longe da Terra, que a inépcia dos cidadãos deste planeta é verdadeiramente colossal. Os milhões de homens que povoam atualmente as nações ditas civilizadas não percebem que são os escravos de um estado maior de militarismo e belicismo sanguinários. Que seriam dos governantes desses países sem o militarismo? Por meio de frases retumbantes, das palavras sonoras de glória e pátria, confundindo a pátria intelectual com a força bruta, procurando manter na alienação o seu próprio país, arrastam consigo milhões de soldados-escravos, os quais, ao primeiro sinal, experimentam uma sublime felicidade em se lançar à carnagem, à pilhagem e à morte. São eles, se o quiserem, bastante livres para recusarem essa escravidão; mas nem sequer lhes ocorre essa idéia! E para garantir a sua pretensa superioridade militar, esses países mantêm exércitos permanentes, subtraem os seus homens ao trabalho útil e fecundo, e lançam todas as suas forças, todos os seus recursos (bilhões por ano) em um abismo sem fundo. Os soldados-escravos sentem-se felizes, orgulhosos com esse procedimento, e se gloriam dele! Inteligente humanidade! Admirável planeta!"
"Vista desta distância, a política dos Estados terrestres parecia-me de uma barbárie singular. Mas cada árvore produz o fruto correspondente à sua espécie: as tartarugas e os ursos não poderiam ambicionar as asas da andorinha ou o canto do rouxinol. A glória militar dos Alexandre, dos César, dos Carlos Magno, dos Tamerlão, dos Napoleão, dos Bismarck, sendo da ordem dos instintos dos animais carnívoros, não dura quase nada mais que um banquete brutal, e alguns séculos bastam para tudo apagar na própria história do planeta. Realmente, que é feito dos grandes impérios terrestres, o romano, o persa, o assírio, o mongol, o babilônico,etc.? Ruíram séculos atrás, e deles só restam hoje cinzas, nada mais do que cinzas... Austerlitz, Waterloo, Sebastopol, Magenta, Sadowa, Reichshoffen, Sedan: agitações microcópicas em um formigueiro liliputiano, divertimentos de crianças ávidas de exercícios musculares, de sangue e de fogo. Por que censurá-los, por que lamentá-los? Fazem o que lhes agrada e ninguém os força a isso. São talvez os astrônomos que têm culpa de não observar os planetas com um microscópio mais possante para determinar os parasitas que os mesmos contêm... (Camille Flammarion, Sonhos Estelares, ed. da FEB, 1941).

Estas palavras geniais foram proferidas pelo eminente astrônomo, no início do séc. vinte (por volta de 1912), e, ainda hoje, estou de pleno acordo com elas, como acredito que todos também estejam. Afinal, quando esta humanidade conseguirá superar essa sua fase animal para atingir um estágio evolutivo superior? Nós, certamente, não veremos isso, mas os nossos tetranetos, quem sabe?
Camille Flammarion


46)15 Abr 2010
Um Texto Crítico (mas justo) do Astrônomo Flammarion sobre a Humanidade Terrestre
(1)


No livro Sonhos Estelares, o grande astrônomo francês Camille Flammarion imagina um fenômeno de bilocação (ou desdobramento) do seu espírito pelo espaço infinito afora, narrando então suas impressões e as reflexões que essa viagem espacial lhe sugere. Em certo instante, ele se encontra a 4 bilhões de quilômetros da Terra, na distância aproximada do planeta Netuno e vê o nosso planeta com muita dificuldade, como um grãozinho de poeira perdido no espaço. Como se poderá ver, trata-se de um texto meio ácido, mas nem por isso menos verdadeiro, sobre o estado ainda quase selvagem do homem e da humanidade que, em seus desvarios, usam como pretexto o sagrado nome de Deus (inclusive os que se dizem ou se diziam cristãos). Diz ele então:

"O ser definido pelos habitantes da Terra, até aqui, como Deus, não existe. O homem concebeu um Deus à sua imagem e semelhança, atribuindo-lhe não somente suas aspirações mais elevadas e suas virtudes mais sublimes, mais ainda e sobretudo, suas prevaricações mais grosseiras e seus vícios mais perversos".
"É em nome desse pretenso deus que presidentes, monarcas e pontífices têm, em todos os séculos e sob a capa de todas as religiões, submetido a humanidade a uma servidão de que ainda não pode se libertar; é em nome desse deus, que "protege a Inglaterra", que "protege os Estados Unidos", que "protege a França", que "protege a Alemanha", que "protege a Rússia",etc., que protege todas as dissenções e todas as barbarias; é em nome dele que, ainda em nossos dias, os povos pseudo-civilizados de nosso planeta estão perpetuamente armados e em guerra uns contra os outros, excitados como cães furiosos a se precipitarem em uma refrega acima da qual a hipocrisia e a mentira, assentadas sobre os degraus dos palácios, fazem reinar o "deus dos exércitos", que benze os fuzis e mergulha suas mãos no sangue fumegante das vítimas, para marcar com ele a fronte dos governantes ungidos. É a esse Deus que se elevam cânticos e altares. Foi em nome dos deuses do Olimpo que os gregos condenaram Sócrates a beber a cicuta; foi em nome de Jeová que os príncipes dos sacerdotes e os fariseus crucificaram Jesus; foi em nome de Jesus, tornado deus a seu turno, que o fanatismo fêz, ignominiosamente, subir à fogueira Giordano Bruno, Vanini, Etienne Dolet, João Huss, Savonarola, e tantas outras vítimas heróicas; que a Inquisição impôs a Galileu mentir à sua consciência; que milhares e milhares de desgraçados, acusados de feitiçaria, foram queimados vivos, em cerimônias populares; que Ravaillac apunhalou Henrique lV. Foi com a bênção expressa do papa Gregório Xlll que as matanças da noite de São Bartolomeu ensanguentaram Paris, e que os livres pensadores da Reforma foram expulsos da França; foi para abolir pretensas heresias que milhares e milhares de pessoas respeitáveis foram queimadas vivas. Empunhando a cruz foi como os espanhóis massacraram selvagemente os pacíficos indígenas das Américas, num dos episódios mais covardes e vergonhosos da História. Foi em nome dos deuses adorados em Roma que os mártires cristãos sofreram os mais aterradores suplícios; foi em nome do deus cristão que os energúmenos do bispo São Cirilo lapidaram a bela e sábia Hipácia, e que, mais tarde, o bispo de Beauvais conduziu à fogueira a virgem de Domrémy (Joana D'Arc); foi em nome da Bíblia e do Deus cristão que, na Idade Média, as Cruzadas exterminaram ferozmente os seus vizinhos; foi em nome de Allá que os estandartes de Maomé cobriram a Europa de exércitos de assassinos; que Átila, Gengis Khan e Tamerlão assinalaram os caminhos de suas conquistas por pirâmides de cabeças decepadas; é em nome de tais inspiradores imaginários que ainda atualmente tantas almas piedosas e inúteis se condenam a bizarras penitências e doações financeiras em templos e conventos, que certas seitas fanáticas estrangulam crianças e bebem-lhes o sangue. Símbolo da opressão dos povos, do assassinato e do roubo, tal ser infame não existe, nunca existiu!"
"Fazendo um deus à sua imagem e semelhança, tão miserável como eles mesmos, os homens assemelham-se a macacos que, supondo elevar-se à idéia de Deus, tivessem feito dele um grande macaco -- a cães que dele fizessem um grande cão, -- a pulgas que o representassem sob a forma de uma grande pulga. Mas, do fato de que esse deus minúsculo não existe, não se segue que o universo marcha sem desígnio, sem objetivo e sem leis. Se os crentes de todos os ritos estão em erro, os negadores de todo princípio inteligente ordenador do universo não o estão menos".
"Mas que, em nossa época, nações poderosas queiram anexar ou mesmo destruir nações mais fracas, alegando mesquinhas razões para encobrir interesses econômicos, empregando suas armas para criar monstruosas chagas sociais e decorando com a imagem de uma providência local as suas bandeiras de guerra ensanguentadas, como ao tempo de Joana d'Arc, de Constantino ou de Davi, eis aí certamente um anacronismo chocante, um misto de impostura e de credulidade, de hipocrisia e de estupidez, indigno da era de estudo leal e positivo, na qual vivemos, e que levaria ao desprezo de qualquer homem independente, todos os escalões e instâncias que vivem às expensas de um tal sistema". (Camille Flammarion, Sonhos Estelares, edição da FEB, 1941).

O sábio astrônomo francês, fundador da Sociedade Astronômica de França e diretor do Observatório de Juvissy, escrevia esse texto no final do século dezenove (a tradução brasileira, hoje esgotada, é que é de 1941). Será que a nossa humanidade mudou muito desde então, ou ainda temos um texto, em muitos pontos, bastante atual?
Carlos Imbassahy

45)15 Abr 2010
Excepcional Caso de Identificação de um Espírito

Este caso excepcional e profundamente documentado, foi narrado pelo escritor Raoul Montandon em seu livro "La mort, Cette Inconnue" e a minha citação é apud Carlos Imbassahy, "Enigmas da Parapsicologia", Edição Calvário, 1967. (Também é citado em "Cinco Excepcionais Casos de Identificação de Espíritos", de Ernesto Bozzano, Publicações Lachatre, 1998).

Escreve o narrador, Sr. Francisco Del Rio:

O fenômeno se produziu em 1 de março de 1901. Estava em Paris havia um ano para onde fui por ocasião da Exposição Internacional de 1900, como correspondente do "El Figaro" de Buenos Aires. O Sr. Giuseppe Borgazzi viajara da América do Sul a Paris em minha companhia.
Em minha casa manifestou-se-lhe uma faculdade mediúnica até então ignorada que, em alguns meses, atingiu rara perfeição, em transe completo, sob a forma de escrita automática. Na noite de 1 de março de 1901, interrompendo as respostas às questões habituais, de natureza teórica, o médium escreveu:
-- Em face de minha nova existência, tudo desaparece: rancores, ódios, cóleras. Abandono tudo e me limito a invocar a clemência de Deus para meus inimigos e para todos aqueles que me tornaram amarga a existência. Sois os únicos com quem consegui por-me em relação depois de minha morte. Penosamente impressionado por meu novo estado, peço que não me abandonem em meu desejo de reabilitação. Foi-me permitido comunicar para encarregá-los do cumprimento de uma vontade que eu tinha expresso em vida e que meus herdeiros neglicenciaram.
Seguiu-se a indicação dessa última vontade não executada, de natureza íntima, que, por questão de delicadeza, devo omitir. Perguntei-lhe então:
-- Seu desejo consta do testamento?
-- Não - respondeu ele - a coisa foi dita à única pessoa que estava presente.
Como eu o convidasse a precisar o nome e os dados necessários, a entidade respondeu:
-- Sou Vicenzo Reggio, Presidente da Corte de Apelação, falecido em Gênova, a 27 de outubro de 1900. Meu domicílio era Corso Paganini, 16. Meu irmão é Tommazo Reggio, Arcebispo de Gênova. Escrevei-lhe. Adeus.
Escrevo então ao Arcebispo de Gênova a seguinte carta, datada de Paris, a 03 de março de 1901:
Peço à Vossa Eminência perdoar-me a liberdade que tomo em lhe escrever. Eis o assunto: Cultivo seriamente e com ponderação a ciência que se propõe examinar os mistérios do prosseguimento da vida do espírito em outras existências, após a morte, ou, para melhor dizer, depois da destruição do corpo terrestre.
Entre as minhas experiências de penetração do invisível, sucede muitas vezes receber comunicações de personalidades desconhecidas, que trazem mensagens para pessoas vivas, que me são igualmente desconhecidas. Uma dessas comunicações provém de uma personalidade que afirmou ser Vicenzo Reggio, Presidente da Corte de Apelação, irmão de Tommazo Reggio, Arcebispo de Gênova. Disse a data e onde faleceu. Acrescentou que era V. Emcia. a única pessoa presente no momento de sua morte e que lhe tinha manifestado uma vontade que a consciência lhe impunha e que seu testamento não indicava. Ora, ele se queixa de que essa vontade não foi executada.
Limito-me por prudência e por uma reserva facilmente compreensível, a fornecer à V. Emcia. as primeiras indicações do fato. Transmiti-lo-ei quando me tiver declarado que os dados fornecidos são exatos e que deseja conhecer o resto da mensagem. Minha fé não é cega. Desejo que tudo passe pelo crivo da verdade, visto que minha alma não se alimenta de ilusões em suas pesquisas, mas de verdades do que há de positivo. Ligo a este fato um interesse extraordinário se me for confirmado por uma personalidade elevada e especial como V. Emcia. Devo acrescentar que, firmado sobre a fé de minha honra, empenho-me a nunca revelar o objeto da comunicação. Quanto ao fenômeno probante, só o farei conhecer se V. Emcia. m'o autorizar.
O Arcebispo respondeu na volta do correio, em carta registrada, com data de 7 de março de 1901. Após a sua morte, reproduzi, em "IL Mistero", e em fototipia, a carta autógrafa, com a reprodução fotográfica do envelope, com os carimbos e os selos, na época, da Agência de Gênova, o dia, o mês e o ano. É a seguinte a carta do Arcebispo Tommazo Reggio:
-- Senhor. Sua carta causou-me, ao mesmo tempo, um sentimento de surpresa e curiosidade. Agradeço-lhe vivamente a comunicação que me dirigiu. Os dados que me indicou são exatos. Receberei de bom grado a outra carta que me prometeu, e que deve conter importantes palavras ditadas por meu saudoso irmão. Queria saber como invocou seu Espírito, ou como se manifestou sem ser evocado. É este um caso, como bem disse em sua carta, que me interessa vivamente. Grato por me haver escrito, peço-lhe ainda completar as demais informações que possui a este respeito. Agradecido... Tommazo, Arcebispo.
Respondi à carta do Arcebispo, transmitindo-lhe integralmente a comunicação do falecido. Não recebi outra carta do Arcebispo. Em compensação, o finado Vicenzo Reggio deu-me a última comunicação seguinte:
-- Meu irmão, reconhecendo a falta, ou inspirado por seu Espírito protetor, remediou o mal que havia feito. Sinto-me feliz com essa intervenção superior; tranquilizado, posso prosseguir no caminho do meu aperfeiçoamento espiritual.
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Tais os fatos. Vamos à análise das comunicações e das consequências que comportam. Os três pontos principais são os seguintes:

1 - Assim como o médium, nunca tive conhecimento da existência do morto, do seu irmão Arcebispo, nem dos dados precisos concernentes à morte da personalidade que se comunica.

2 - O falecido veio comunicar-nos um fato que não consta de qualquer documento público, isto é, de que seu irmão era a única pessoa presente no momento de sua morte.

3 - O falecido revela-nos um segredo íntimo, apenas conhecido dele próprio e de seu irmão.

Relativamente ao primeiro ponto, a HIPERCRÍTICA poderia observar que o médium ou eu mesmo poderíamos ter tido, de qualquer maneira, o conhecimento do conjunto de dados a respeito, ou das duas personalidades em questão, ou da morte da personalidade que se comunicava. Esse fato fora publicado nos jornais.
No que toca ao segundo ponto, pode-se objetar que o fato de ser o Arcebispo de Gênova a única pessoa presente na morte do irmão, poderia também ser conhecido do público.
Mas o terceiro ponto é formidável. Não apresenta qualquer lado fraco que possa dar brecha à crítica. Trata-se ali de um segredo encerrado no círculo em que só há um morto e um vivo. Há o fato muito simples de uma ordem dada no momento da morte, que não fora executada, e que o falecido vem recordar.
O fato é indiscutivelmente confirmado pelo precioso documento constituído pela carta do Arcebispo de Gênova, o qual, pondo de lado todas as conveniências que lhe impunha a delicada situação, arrastado pela natureza extraordinária do que lhe era revelado, foi levado a responder de maneira fulminante, para liberar a consciência, como num ato de contrição: - É verdade !
Que prova mais decisiva da sobrevivência do Eu se poderia imaginar?

Obs. minha: até hoje a pergunta acima, feita pelo narrador, Sr. Francisco Del Rio, espera uma resposta convincente dos ateus e materialistas de plantão. Será que algum dia condeguirão fazê-lo? Na realidade, eles sempre fingirão ignorar este e muitos outros fatos que infirmam as suas teorias.


44)15 Abr 2010
Consciente, Subconsciente e Superconsciente, segundo "Sua Voz"

"Os resultados da experiência da vida, em todos os níveis, gravitam para o interior, que é onde se destilam os valores, somam os totais e se apura a síntese da ação. Para lá descem, em camadas sucessivas, os produtos da vida. O psiquismo se acha em crescimento contínuo, porquanto, em torno do primeiro núcleo, se vão depositando, por progressiva superposição, os valores, os totais e as sínteses da vida. De um a outro extremo da vida, o centro psíquico se enriquece em qualidade e potência, e adquire, desse modo, a capacidade de construir para si órgãos cada vez mais aptos a exprimir a sua mais complexa estrutura".
"Que isto não vos espante, pois não é fora da vossa consciência que se efetua o funcionamento orgânico, confiado a unidades inferiores de consciência, exteriores a esta? A economia do esforço, que a lei do meio mínimo impõe, limita a consciência humana ao âmbito em que se executa o labor útil das construções. O que foi vivido e assimilado definitivamente é abandonado nos substratos da consciência, zona a que se poderia chamar do subconsciente. Daí vem que o processo de assimilação, base do desenvolvimento da consciência, se realiza precisamente por transmissão ao subconsciente, onde tudo se conserva, ainda que esquecido, pronto a ressurgir, desde que uma excitação o desperte, um fato o exija".
"O subconsciente é exatamente a zona dos instintos, das ideias inatas, das qualidades obtidas; é o passado transposto, inferior, mas adquirido. Aí se depositam todos os produtos substanciais da vida; nessa zona encontrais de novo o que fostes e o que fizestes, o caminho seguido na construção de vós mesmos, assim como nas estratificações geológicas se vos depara a vida que o planeta viveu. A transmissão ao subconsciente se dá por meio da repetição constante. Dizeis então que o hábito transforma um ato consciente em ato inconsciente e dele forma uma segunda natureza. É este o método da educação. Podeis assim, pela educação, o estudo, o hábito, construir-vos a vós mesmos. Mal um ato é assimilado, a economia da natureza o deixa fora da consciência, porque, para subsistir, não mais necessita de que esta o dirija. Logo que uma qualidade se torna possuída, é imediatamente abandonada aos automatismos, sob a forma de instinto, de caráter que a personalidade assumiu".
"Não se trata de extinção ou de perda, porque tudo subsiste, presente e ativo, senão na consciência, sem dúvida no funcionamento da vida, e continua a dar todo o seu rendimento. Apenas é eliminado da zona consciência, porque pode, de então em diante, funcionar por si, deixando em repouso o Eu. Transmitida ao subconsciente, a qualidade assimilada cessa, assim, de ser esforço, mas se torna uma necessidade, um instinto, uma precisão. De modo que a consciência representa só a a zona da personalidade onde se produz o esforço para a construção do Eu e para sua ulterior dilatação. Em outros termos: ela se limita tão só à zona de labor e é lógico. O consciente compreende apenas a fase ativa, única que sentis e conheceis, porque é a fase em que viveis e em que opera a evolução".
"Há, pois, uma zona obscura do subconsciente e uma zona lúcida do consciente. Além das duas, ainda há uma terceira zona, a do superconsciente, onde tudo é expectativa e se preparam as conquistas do amanhã: fase possuída apenas como pressentimento e contida em gérmem nas causas atuantes do presente, do qual exprime ela o desenvolvimento. Zonas de amplitude e posição relativas ao ser, segundo o grau do seu desenvolvimento".
"Resumindo rapidamente todo o caminho percorrido por evolução, a zona do consciente tende sempre a ascender, deslocando-se para o superconsciente. Educação, bons e maus hábitos, tudo se fixa em automatismos transmitidos ao subconsciente. Assim, avança a evolução e o superconsciente é conquistado, passando através da fase consciência e, depois, à assimilação completa na subconsciência. Desse modo, a zona móvel, a do trabalho, cobre, no seu progressivo avanço, uma zona cada vez mais vasta de subconsciência, a zona das aquisições definitivas, do armazenamento do indestrutível na eternidade. A fase lúcida do labor construtivo se transfere, nos campos mais elevados e mais profundos, para o íntimo do ser, como assimilação de qualidades espirituais". (A Grande Síntese, cap.65: Instinto e Consciência - Técnica dos Automatismos, ed. FEB, 1939, trad. de Guillon Ribeiro)


43)14 Abr 2010
Última Carta de Charles Richet a Ernesto Bozzano, em que Richet aceita a sobrevivência

O texto que segue abaixo é extraído do livro "Silva Mello e os seus Mistérios", de autoria do Dr. Sérgio Valle (ed. LAKE, 1959, cap. X, pág. 394). Sob a rubrica Richet aceita a sobrevivência, escreve o autor:

Richet e Bozzano mutuaram-se influências e estímulos durante mais de 40 anos. Na "Revue Spirite" (fev. de 1939), o filósofo italiano confessou que foi através dos "Annales de Sciences Psychiques", dos quais Richet era o orientador e Darieux o diretor, que travou conhecimento com a fenomenologia paranormal. Leu os artigos iniciais de Richet e leu a refutação de Rosembach, na "Revue Philosophique" do Prof. Ribot. Foram justamente os argumentos fragílimos e insubsistentes de Rosembach que lhe despertaram o interesse inicial pelo assunto, levando-o à convicção contrária à do opositor de Richet. (Formou então um seleto grupo de experimentadores, criando o renomado Círculo Científico Minerva, de Gênova, que ficou conhecido em toda a Europa pelas experiências com a famosa Eusápia Paladino, e outros médiuns menos conhecidos; tais experiências duraram de 1891 a cerca de 1899). Ao mesmo tempo, leu os principais livros publicados, até então, em toda a Europa e EUA, sobre o assunto. Daí partiu em busca da convergência das provas, através da análise comparada dos fatos que caracterizam cada tipo de fenômeno, "critério decisivo em qualquer pesquisa científica", segundo suas próprias palavras.
Ao término do estudo e das experiências, desfêz-se-lhe a síntese filosófica materialista, laboriosamente conquistada através de Büchner, Moleschott, Vogt, Feuerbach, Morselli, Tanzi, Sergi, Ardigo, Haeckel, Huxley, Comte, Taine, Guyau, Le Dantec, e de seu ídolo maior -- o filósofo agnosticista Herbert Spencer.
Richet, indiretamente, iniciou Bozzano nos estudos metapsíquicos (ou parapsicológicos). Enfrentaram-se, mais tarde, várias vezes, em polêmicas serenas e elevadas. E foi Bozzano que colheu a confissão final e confidencial de Richet, poucos meses antes de sua morte. Em respeito à palavra confidencial, essa carta só foi publicada por Bozzano após o desencarne de Richet; fê-lo na revista "Psychic News", de 30/05/1936. Eis, na íntegra, o teor da missiva:
Meu caro e eminente colega e amigo:
Sou inteiramente do seu parecer: não creio, com efeito, na explicação simplista segundo a qual os acontecimentos da nossa existência e a direção da nossa vida são provocados exclusivamente pelo acaso, embora não seja possível apresentar prova nesse sentido. O Fado existe, o que equivale a dizer: uma Força que nos guia e conduz aonde bem lhe pareça, por vias indiretas, tortuosas e muitas vezes bizarras. E também, fora da direção da vida, há coincidências tão estonteantes que é bem difícil não se veja a obra de uma intencionalidade. (De quem? De que?)...
E agora, abro-me a você, de modo absolutamente confidencial. O que você supunha é verdade. Aquilo que não conseguiram Myers, Hodgson, Hyslop e Sir Oliver Lodge, obteve-o você por meio de suas magistrais monografias, que sempre li com religiosa atenção. Elas contrastam, estranhamente, com as teorias obscuras que atravancam a nossa ciência.
Creia, peço-lhe, nos meus integrais sentimentos de simpatia e de gratidão.
Charles Richet.
E Bozzano conclui: "É, para mim, profundamente animador saber que finalmente venci, porque Richet morreu convencido da verdade da sobrevivência".