sexta-feira, 4 de junho de 2010



56)19 Abr 2010
Uma bela página de Léon Denis sobre a missão do Cristo (2)

Algumas vezes, o Cristo resumia as verdades eternas em imagens grandiosas, em traços brilhantes. Nem sempre os apóstolos o compreendiam, mas ele deixava aos séculos e aos acontecimentos o cuidado de fazer frutificar esses princípios na consciência da Humanidade, como a chuva e o Sol fazem germinar a semente que caiu na Terra. É nesse sentido que assim se exprimiu: "O ceu e a Terra passarão, porém não as minhas palavras."
Jesus dirigia-se pois, simultaneamente, ao espírito e ao coração. Aqueles que não tivessem podido compreender Pitágoras e Platão, sentiam suas almas comoverem-se aos eloquentes apelos do Nazareno. É por aí que a doutrina cristã domina todas as outras. Para atingir a sabedoria, era preciso, nos santuários do Egito e da Grécia, franquear os degraus de uma longa e penosa iniciação, ao passo que pela bondade e caridade todos podiam tornar-se bons cristãos e irmãos em Jesus.
Mas, com o tempo, as verdades transcendentais se velaram. Aqueles que as possuíam foram suplantados pelos que acreditavam saber, e o dogma material substituiu a pura doutrina. Dilatando-se, o Cristianismo perdeu em valor o que ganhava em extensão.
A ciência profunda de Jesus vinha juntar-se à potência energética do iniciado superior, da alma livre do jugo das paixões, cuja vontade domina a matéria e impera sobre as forças sutis da Natureza. O Cristo possuía a dupla-vista; seu olhar sondava os pensamentos e as consciências; curava com uma palavra, com um sinal, ou mesmo só com a sua presença. Eflúvios benéficos se lhe escapavam do ser, e, à sua ordem, os maus espíritos se afastavam. Comunicava-se facilmente com as potências celestes e, nas horas de provação, alentava desse modo a força moral que lhe era necessária em sua viagem dolorosa. No Monte Tabor, seus discípulos, deslumbrados, o veem conversar com Moisés e Elias. É assim mesmo que mais tarde, depois de crucificado, Jesus lhes aparece, materializado, na irradiação do seu corpo psíquico, desse corpo a que S. Paulo se refere nos seguintes termos: "Há, em cada homem, um corpo animal e um corpo espiritual." (1ª Epíst. aos Coríntios, cap. XV, 5 - 8). A existência desse corpo espiritual (ou duplo psíquico) parece demonstrada pelas experiências da Parapsicologia.
Não podem ser postas em dúvida tais aparições, pois explicam por si sós a persistência da ideia cristã. Depois do suplício do Mestre e da dispersão dos discípulos, o Cristianismo estava moralmente morto. Foram porém as aparições e as conversas de Jesus que restituíram aos apóstolos sua energia e sua fé, tão vívidas que os fizeram sofrer as maiores perseguições e as maiores torturas a fim de espalhar, mundo afora, a ideia cristã.
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No séc. lV, o Cristianismo foi considerado a religião oficial do império romano pelo Imperador Constantino, um dos grandes criminosos da história, que, no seu íntimo, nada tinha de cristão (como demonstram as suas ações), mas que se utilizou da religião cristã, em franca ascensão, para consolidar o poder romano, admitindo a igreja de Roma como a única fiel depositária dos ensinamentos cristãos, e massacrando as outras (nessa época havia várias igrejas cristãs) a ferro e fogo.
Foi a partir de então que os sacerdotes romanos perderam de vista a luz que Jesus tinha trazido a este mundo, e recaíram na obscuridade. A noite que quiseram para os outros fêz-se neles mesmos. O templo deixou de ser, como nos tempos antigos, o asilo da verdade. E esta abandonou os altares para buscar um refúgio oculto. Desceu às classes pobres; foi inspirar humildes missionários, apóstolos obscuros que, sob o nome do Evangelho de S. João, procuravam restabelecer, em diferentes pontos da Europa, a simples e pura religião de Jesus, a religião da igualdade e do amor. Porém estas doutrinas foram asfixiadas pela fumaça das fogueiras, ou afogadas em lagos de sangue.

Estes excertos (1 e 2) foram por mim extraídos de dois livros de Léon Denis: Depois da Morte e Cristianismo e Espiritismo.

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