sexta-feira, 4 de junho de 2010


32)11 Abr 2010
A Lamentável Existência do Misoneísmo Científico (textos de Bozzano)

"Existe um número muito grande de casos de identificação espirítica, cientificamente inatacáveis, que se acumulam em grande número nos arquivos da nova Ciência da Alma, sendo que cada um deles, por si só, bastaria para resolver afirmativamente o problema da sobrevivência humana. Por consequência, esta solução afirmativa do grande problema deveria tomar lugar entre as verdades cósmicas mais sólidas, demonstradas experimentalmente graças às investigações científicas.
Poder-se-ia indubitavelmente observar que, se isto é teoricamente verdadeiro, apresentam-se as coisas de um modo muito diferente do ponto de vista prático. Basta considerar que há pesquisadores dos fenômenos parapsicológicos que conhecem, ou conheceram, a maior parte dos casos relatados nos Anais das Ciências Psíquicas e em outras sérias publicações parapsicológicas, e que, no entanto, permanecem negadores irredutíveis ou eternos céticos entregues à dúvida (lamento citar entre estes o meu grande amigo, prof. Charles Richet). Isto é incontestável e depende de uma lei psicológica de alcance universal, lei normal e benéfica, porque regula a evolução das grandes ideias. Ela impede que estas, impondo-se muito rapidamente na sociedade humana, possam causar desordens profundas ou cataclismos econômicos e morais muito perigosos no conjunto das instituições sociais de uma dada época.
Esta lei consiste no fato de que, tanto a mentalidade de um indivíduo quanto a de uma coletividade humana, quando se desenvolveram longamente em um meio de ensinos religiosos, científicos ou filosóficos orientados numa certa direção, não estão mais em condições de assimilar as novas verdades que se opõem ao que se acha solidamente organizado em suas circunvoluções cerebrais. Sendo assim, apenas as mentalidades de primeira ordem e aqueles que, na coletividade, não tiveram ocasião de experimentar pressões demasiadamente fortes e prolongadas neste sentido, são capazes de se desembaraçar das ideias preconcebidas que os dominam. Este é o fenômeno que alguns psicólogos chamam de misoneísmo (manutenção das ideias preconcebidas e aversão a ideias novas).
Eis porque no domínio das pesquisas psíquicas se renova o que sempre acontece em qualquer outro ramo do saber, isto é, assiste-se ao triste espetáculo de um grande número de pesquisadores que, mesmo quando estão favoravelmente dispostos a aceitar a interpretação espirítica de fenômenos mediúnicos de uma categoria superior e embora atravessando fases de convicção sincera neste sentido, recaem infalivelmente na perplexidade anterior. Eles continuam, durante toda a sua vida, a se comportar da mesma maneira, passando de um caso a outro, de uma prova a outra, esquecendo tudo, sem entesourar coisa alguma, e, por conseguinte, caminhando sempre no vácuo.
Infelizmente, esse fenômeno psicológico não se dá somente com leitores apressados e superficiais, desprovidos de senso filosófico, mas também com todas as classes de leitores e investigadores, mesmo entre os mais eminentes estudiosos da Parapsicologia. E se dá com uma tal frequência, uma tal uniformidade, que é preciso concluir tratar-se de uma lei psicológica inerente à mentalidade humana. Essa lei, embora tendo sua razão de existir e, no fundo, sendo útil à evolução ordenada do progresso humano, deve entretanto ser encarada como uma imperfeição inata da razão humana: imperfeição das faculdades de síntese porque, quando a inteligência está saturada de ideias preconcebidas, não consegue mais manter, frente à consciência, todos os elementos que, embora conhecidos do indivíduo, se relacionam com um assunto contrário àquelas ideias preconcebidas que nele predominam. Segue-se que, para tais pessoas, a eficácia irresistível das provas cumulativas é deploravelmente suprimida.
Com efeito, as vias cerebrais, tornadas intransponíveis para as verdades contrárias, forçam o pensador a esquecer constante, sucessiva e rapidamente todos os episódios que ele não pode assimilar. Conserva-se, pelo contrário, perpetuamente, a recordação de todas as incertezas de um interesse secundário, mas que se revestem, para a pessoa em questão, de aspectos monstruosos. (Analogamente, a teoria da Evolução, de Darwin, apresenta, ainda hoje, várias incertezas, embora não sejam suficientes para fazer com que os cientistas e homens cultos duvidem dela).
Os que se acham nestas condições mentais quase sempre fazem induções e deduções muito parciais, passando de uma pseudo-conclusão a outra que não o é menos. É notório para todas as pessoas despidas de preconceitos misoneístas que as incertezas a que aludi são inseparáveis de uma ciência que dá os seus primeiros passos e que, conquanto reais, são de ordem secundária e não infirmam, de modo algum, o grande fato de havermos conseguido organizar imponentes classificações de variadíssimos fenômenos paranormais -- anímicos e espiríticos -- todos convergentes para a demonstração experimental da existência e sobrevivência do espírito humano, fato que assume um valor científico de primeiríssima ordem, dificilmente contestável.
Nada mais resta, então, senão nos resignarmos ante o inelutável, embora essa imperfeição do raciocínio humano seja motivo de espanto para os poucos que se encontram na posse da modesta, mas capitalíssima faculdade de ter sempre em mente todos os dados da questão a resolver, dados que, em nosso caso, consistem nas inúmeras variedades de episódios parapsicológicos inexplicáveis por meio de qualquer hipótese chamada de "naturalística". Para os que possuem tal faculdade, a demonstração da existência e sobrevivência do espírito humano é, de há muito tempo, conquista da ciência parapsicológica, baseada nos fatos, e somente a imperfeição congênita do raciocínio humano impede que os demais o reconheçam.
Nestas condições, não há outro remédio senão a resignação ao inelutável, refletindo que, se tudo isto é, em suma, providencial e necessário, um dia, fatalmente, a obra do tempo amadurecerá, na coletividade humana, a disposição psíquica especial que deve tornar assimilável esta grande verdade nova. Presentemente, esta verdade é combatida por ideias filosóficas, científicas e religiosas preconcebidas, mas solidamente arraigadas mesmo nos espíritos mais cultos e mais inteligentes da humanidade civilizada".
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"Reconheço que os processos de análise comparada aplicados às convicções humanas ensinam que o meio em que vive o homem e os conhecimentos que assimilou em longos anos de estudo dominam a tal ponto a orientação do pensamento que os fatos mais evidentes não bastam para converter aquele que esteja em erro. De fato, existe uma forma bastante conhecida de idiossincrasia psíquica, denominada misoneísmo, que torna as vias cerebrais impermeáveis a verdades novas".
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"Assim, devemo-nos lembrar que a tolher a inteligência e as faculdades de raciocínio do homem, estão, muitas vezes, a névoa das ideias preconcebidas e o misoneísmo, que caracteriza principalmente os homens de ciência, misoneísmo que os predispõe a acolherem sempre qualquer hipótese absurda e gratuita que se harmonize com os seus preconceitos, e a cegamente repudiarem uma verdade manifesta e incontestável quando em contraste com aqueles mesmos preconceitos inveterados.
Devemos ter na devida conta aquilo que se chama "credulidade dos incrédulos", credulidade infinitamente mais cega e tenaz do que a "credulidade dos simples". Para combatê-la, para vencê-la, não bastam os fatos, como não bastam os processos científicos, nem a análise comparada aplicada a grande número de casos, nem a convergência admirável de todas as provas. Só a obra do tempo poderá deles triunfar. A dramática história de todos os precursores, de cem modos diversos, o demonstra. Dentro de um século (ou talvez mais), a humanidade reconhecerá, sem mais discutir, a grande verdade espiritualista que tantos amargores custa hoje aos que a defendem".
ERNESTO BOZZANO.

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