segunda-feira, 30 de julho de 2012

74) A Metapsíquica de Charles Richet, e a Parapsicologia de René Sudre

     A Metapsíquica, de Charles Richet, baseia-se em sua pioneira e grande obra "Tratado de Metapsíquica" (LAKE Editora, 2008), publicada originalmente em 1922. Vejamos:

     Metapsíquica é a ciência que tem por objeto os fenômenos físicos ou psicológicos que se poderiam chamar de inabituais, fenômenos esses devido a forças que parecem inteligentes ou a faculdades desconhecidas da mente. Assim, diremos que um fenômeno é metapsíquico quando ele não é explicado pelos fatos conhecidos, classificados, clássicos, quer da Psicologia, quer da Fisiologia, quer da Físico-Química habituais. A Metapsíquica pode ser dividida em Subjetiva (ou Mental) e Objetiva (ou Física).
    
     A Metapsíquica Subjetiva é o estudo dos fenômenos inabituais de natureza puramente psicológica, isto é, no qual não intervém nenhum fator, mecânico ou material, que seja inabitual (por exemplo, a leitura, por um sensitivo, de uma carta fechada dentro de um invólucro opaco). Pode-se resumir toda a Metapsíquica Subjetiva na seguinte proposição: há, para o conhecimento da realidade, outras vias além das vias sensoriais comuns. Por outras palavras, a inteligência pode conhecer um fragmento da realidade quando, nem a vista, nem o ouvido, nem o tato, lhe puderam revelar. Em geral, essa realidade se apresenta sob uma forma simbólica, como uma projeção alucinatória visual ou auditiva (é o que os autores ingleses chamam de "alucinação verídica").
     Admitamos então que há, nas coisas, vibrações imperceptíveis para a maior parte dos homens, mas que, em certos indivíduos, chamados sensitivos, põem em jogo o conhecimento. Chamaremos de criptestesia, isto é, sensibilidade oculta, à faculdade que alguns sensitivos possuem de perceber, por vezes, inabitualmente, noções (vibrações) impossíveis de adquirir por nossos sentidos normais. Premonição (ou precognição) é o conhecimento, pelo sensitivo, de eventos futuros.

Teoria da Criptestesia -- Há, em torno de nós, vibrações ou ondas eletromagnéticas que não percebemos através do nossos sentidos, mas que não deixam de existir por isso (ondas de rádio, TV, radar, microondas, etc.). Por consequência, é possível que das coisas que estão em torno de nós, ainda que minúsculas, sejam emitidas vibrações. Essas vibrações, não as percebemos, porque não somos sensitivos. Mas desde que um indivíduo, dotado dessa sensibilidade particular que chamo criptestesia, esteja presente, perceberá essas vibrações, ainda que elas sejam nulas para o comum dos homens.
     Bastar-me-á, pois, fazer estas duas suposições, ousadas talvez, mas que os experimentos rigorosos tornam quase necessários: 1ª - Que as coisas e os movimentos provocam certas vibrações; 2ª - Que essas vibrações podem ser percebidas por seres especialmente sensíveis. Assim, posto que grande quantidade de fatos novos fiquem ainda difíceis de estabelecer, teremos dado um caráter científico ao fenômeno, aparentemente maravilhoso, da criptestesia. (Obs. minha: o que Richet chama criptestesia engloba o que outros autores chamam de telepatia, isto é, transmissão de pensamentos, sem o auxílio dos sentidos, a pequenas ou grandes distâncias, e clarividência, ou seja, visão, sem o auxílio dos olhos, através de objetos opacos, a pequenas ou grandes distâncias).
     
     A Metapsíquica Objetiva é o estudo dos fenômenos mecánicos ou materiais, inexplicáveis pela Fisiologia e pela Físico-Química habituais -- movimentos de objetos sem contato, luzes, pancadas nas mesas sem contato, formas de aparência viva percebidas por diversas pessoas e fotografáveis, ruídos violentos ouvidos à distância, etc.. Chamamos de telecinésia o deslocamento de objetos à distância, sem contato, e raps as pancadas ou ruídos produzidos nesses objetos. É possível provar que o movimento de tais objetos é devido a formações adventícias, por vezes invisíveis, de membros e de mãos aptos a movê-los. Denominamos ectoplasmas a essas formações transitórias que, desprendendo-se do corpo dos sensitivos produtores de efeitos físicos, têm todas as aparências da vida, e desaparecem depois de passageira manifestação. Doravante, empregarei o termo ectoplasmia para designar todos os fenômenos onde ocorrem materializações de formas vivas, de objetos, de figuras, de personagens.
     Além da telecinésia e da ectoplasmia, é necessário acrescentar, à Metapsíquica Objetiva, um terceiro grupo de fenômenos -- o das chamadas casas assombradas; entretanto, salvo algumas exceções, trata-se de histórias recheadas de incertezas e fantasias. 


     
     A Parapsicologia, de René Sudre, é baseada em seu livro "Tratado de Parapsicologia" (Zahar Editores, 1976), publicado em 1956. Vejamos:

     Parapsicologia é a ciência que tem por objeto os fenômenos físicos ou psicológicos devidos a forças que parecem inteligentes ou a faculdades desconhecidas da mente. Ratificaremos a divisão geral em fenômenos mentais (ou psicológicos), e fenômenos físicos, ou seja, distinguiremos uma Parapsicologia Mental e uma Parapsicologia Física.
     
     A Parapsicologia Mental compreenderá os dois grandes grupos da telepatia e da metagnomia (clarividência), incluindo a metagnomia pré-cognitiva (fenômenos em que ocorre a antevisão do futuro). Acrescentaremos um terceiro grupo, o da prosopopese, que se relaciona aos conhecidos em Psicopatologia sob o nome de "divisão da personalidade". Reunimos, pois, sob o nome de prosopopese, todos os fenômenos em que aparecem personalidades psicológicas novas -- escrita e palavra automáticas, encarnação, possessão,etc.. (Obs. minha: a Parapsicologia mais recente, devida a J. B. Rhine, engloba os dois primeiros grupos sob a denominação de ESP - Extrasensory Perception, em inglês, ou PES - Percepção Extra-Sensorial, em português).
     
     No que concerne aos fenômenos físicos, admitiremos, como hipótese de trabalho, que são devidos a uma substância oriunda do corpo vivo e sob a dependência da mente. Aproximaremos, assim, os fatos do chamado "magnetismo animal" dos fatos de materializações. Distinguiremos, contudo, os fenômenos de telergia, isto é, os efeitos mecânicos, físicos, químicos, da força psíquica, dos fenômenos de teleplastia, nos quais a força psíquica modela formas animadas que dão a ilusão da vida. (Obs. minha: esta última palavra, sublinhada por mim, mostra-se em desacordo com os experimentos de Crookes, Richet, Aksakof, Lombroso, Geley, Bozzano e outros). Assim, telergia é a objetivação de forças, teleplastia é a objetivação de formas. 
     A telergia ainda pode ser subdividida em: telecinésia -- deslocamento de objetos sem contato, e hiloclastia -- fenômenos em que ocorre a penetração da matéria através da própria matéria. (Obs. minha: a Parapsicologia mais recente emprega o vocábulo psicocinésia, ao invés de telecinésia).
     Por sua vez, a teleplastia pode ser subdividida em espontânea (aparições), experimental (materializações), toribismo (fenômenos de "poltergeist") e assombrações. (Obs. minha: "Poltergeist" é um vocábulo alemão que significa "espírito barulhento" ou "perturbador"; tais fenômenos ocorrem, geralmente, em casas tidas como assombradas).
      

     O paciente, que os espíritas denominam impropriamente médium, é um ser vivo, homem ou animal, que produz ou ajuda a produzir fenômenos parapsicológicos. Os pacientes que produzem mais particularmente fenômenos mentais são os metagnomos; os que produzem mais particularmente fenômenos físicos são os teleplastas.  

Obs. minha: creio ser ocioso salientar que os dois autores citados neste artigo são materialistas e antiespíritas, sendo o primeiro -- Charles Richet -- um antiespírita moderado, e o segundo -- René Sudre -- um antiespírita extremado.