sábado, 24 de agosto de 2013

92) Uma teoria científica relativamente recente: a do "equilíbrio pontuado"

     Alguns biólogos atuais creem que a evolução darwiniana, embora verdadeira em linhas gerais, não seguiu uma progressão linear, como supunha a mente de Darwin. Há momentos em que ela sofre uma expansão formidável, a uma taxa exponencial, ao fim do qual volta a uma expansão linear. É como se toda uma maturação subterrânea, por assim dizer, tivesse ocorrido, fugindo aos nossos olhos, e, de repente, explodisse numa febre de criações, ao fim qual volta, como disse, a uma evolução normal, linear. (Os biólogos chamam esse fenômeno de equilíbrio pontuado). Exemplo disso é a chamada "explosão cambriana" ocorrida há cerca de 580 milhões de anos atrás, no período cambriano, quando as espécies se multiplicaram em proporção geométrica num intervalo de tempo de 50 milhões de anos (geologicamente curto), voltando depois a um ritmo normal.

     No mundo quântico (ultramicroscópico), sabem os físicos que os fenômenos não se processam de modo contínuo, mas de forma descontínua ou por saltos (o chamado "salto quântico"). Mas no mundo em que vivemos, macroscópico, parece não ser assim, parece haver uma continuidade no desenvolvimento de todos os fenômenos. Parece... Mas muitos cientistas acreditam hoje que isto não é completamente verdadeiro. Ou seja, eles creem que, do somatório de pequeníssimos "saltos quânticos" que ocorrem rotineiramente no mundo quântico, surjam, embora esporadicamente, descontinuidades ou saltos no mundo macroscópico, que é o nosso. Esse é o equilíbrio pontuado, e foi observado preliminarmente na teoria darwinista da evolução biológica das espécies. Leiamos o que diz o físico quântico John Gribbin:
      
     A teoria de Charles Darwin, da evolução por seleção natural, descreve um processo gradual, com pequeninas diferenças se acumulando de uma geração para a próxima. Mas alguns biólogos evolucionistas argumentam que o registro fóssil parece mostrar longos períodos com poucas mudanças ocorrendo, alternando-se com curtos intervalos em que uma série de mudanças evolutivas acontecem. (...)
     A teoria de Darwin funciona maravilhosamente para explicar como os organismos se tornam progressivamente melhores em sua habilidade de lidar com o tipo de ambiente em que vivem (o que inclui o modo como eles coexistem ou competem com outras coisas vivas). Porém, é mais difícil ver como a teoria de Darwin, por si só, pode dar conta das dramáticas mudanças que ocorrem de tempos em tempos, quando muitas espécies desaparecem e novas se desenvolvem, o que parece comprovar a teoria citada, do equilíbrio pontuado. ("Física Moderna", Cosac & Naify Edições Ltda., 2001)
      

      Por outro lado, em sua obra "A Evolução Criativa das Espécies", o físico Amit Goswami mostra a "árvore da vida", segundo o "Atlas da Evolução", de Sir Gavin de Beer, na qual se veem que diversos ramos e sub-ramos de espécies estão pontilhados de lacunas fósseis (descontinuidades ou saltos no processo da evolução) que jamais foram preenchidos, ou seja, as formas de transição nunca foram encontradas. 
    
     A princípio, julgava-se que o "equilíbrio pontuado" valia apenas para fenômenos biológicos. Hoje, entretanto, sabe-se que ele vale para os mais diversos tipos de fenômenos, artísticos, meteorológicos, geológicos, siderais, e até mesmo sociais. Grandes movimentos sociais e populares florescem exponencialmente em dadas épocas, para depois se retraírem ou seguirem um processo evolutivo linear, isto é, de lentíssimo desenvolvimento:
    
O aparecimento da atividade vulcânica, os terremotos, as tsunamis, o período de chuvas intensas, de secas, etc., parecem comprovar o citado fenômeno. Os grandes gênios da música clássica, Beethoven, Bach, Schubert, Mozart, etc. (e mesmo da popular), não apareceram mais, pelo menos com a prodigalidade de épocas do passado, bem como os gênios da pintura, da escultura, da filosofia, das ciências, etc..        

     No que concerne ao fenômenos paranormais, dá-se o mesmo com os grandes médiuns de efeitos físicos e identificação espirítica (Eusápia, Sra. Piper, Home, Slade, Florence Cook, Stainton Moses, Kate Fox, D'Esperance, Marthe Béraud, Kluski, Guzik, Willy e Rudi Schneider, Sra. Leonard, etc.) que, com os fenômenos que produziram, converteram cientistas de primeira monta como Richet, Lombroso, Lodge, Wallace, Sidgwick, Crookes, Hare, Varley, Boutlerow, Zöllner, Barrett, Flammarion, Gibier, Morselli, Osty, Bozzano, Myers, Aksakof, Hyslop, William James, Bottazzi, Geley, Schrenck-Notzing, etc.. Floresceram entre a metade do século 19 até a década de 30 do século 20, quando ocorreu a 2ª Guerra Mundial. Dir-se-á que não existem mais? Lógico que existem, mas em número bem menor, sem a enorme efervescência (e as grandes faculdades) daqueles da época citada. Renascerão outra vez? Não sei, mas mesmo com aqueles poderes e aquela prodigalidade, não conseguiram convencer a ciência oficial. Talvez o caminho seja outro, a Física Quântica e seus fenômenos já apontam a alvorada de uma era de mudança de paradigmas exclusivamente materialistas. Ou quem sabe surja uma nova tecnologia que nos permita alguma forma de contato, mesmo elementar, com nossos amigos e parentes desaparecidos, quem o sabe?     
     Continuando a exposição, tomemos o fenômeno da atividade vulcânica. Não pode a ciência prever quando um vulcão inativo vai começar seu processo de erupção, quanto tempo vai durar, portanto, que consequências terá, e, finalmente, quando vai terminar. Pode durar um dia, um ano, ou mesmo, alguns anos.
     Do mesmo modo os fenômenos sociais. Ninguém pode prever quando começa, quanto tempo vai durar e quando terminará. Uma erupção vulcânica, além disso, pode extinguir-se abruptamente, ou pode ir se extinguindo lentamente. O mesmo com os movimentos sociais. Por outras palavras: ambos são completamente imprevisíveis em seu nascimento, desenvolvimento e extinção. 
      
     Sintetizando: muitos cientistas estão hoje convictos de que, o que governa o mundo não é a continuidade com lentíssimas mutações (como pensava Darwin, em biologia), mas a descontinuidade, isto é, mudanças abruptas e imprevisíveis, embora de forma esporádica, em certas ocasiões, seguida de uma evolução bastante lenta ao longo do tempo, antes de uma nova mutação brusca, e assim sucessivamente (teoria do equilíbrio pontuado). Originalmente, esta teoria é de 1972, mas em 1935, "Sua Voz" já parece antecipar o advento da mesma. Vejamos os textos, o primeiro referindo-se a fenômenos biológicos e o segundo a fenômenos sociais.
    
     As grandes florescências orgânicas somente surgem em períodos particulares, como o que as descobertas paleontológicas vos revelam, períodos de transição rápida, em que os edifícios dinâmicos, muito saturados de novos impulsos assimilados, se precipitam em tentativas de formas novíssimas, nas quais a vida, após longas fases de silenciosa incubação, explode numa improvisa febre de criação. São tentativas que não sobrevivem todas, períodos de construções apressadas que, entretanto, lançam as bases de novos órgãos, de novas espécies, de instintos novos.

                                                 ( - )
      

     O mundo dorme, por milênios, na estase de um ritmo monótono, sempre a retornar igualmente aos mesmos pontos, que parecem fixos. Não sabeis, entretanto, que lento trabalho subterrâneo de maturação e assimilação se produz no mundo psíquico-social, pelo qual o equilíbrio estável e fechado do passado um dia se precipita na revolução. O impulso das inovações tomou ascendência na atualidade, e a alma do mundo tenta agora, nas pegadas dos grandes pioneiros que só falaram no momento oportuno, as suas criações futuras: criações psíquicas, que são criações biológicas. (A Grande Síntese, cap. LXIX - A Sabedoria do Psiquismo).     

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

91) As "explicações científicas" dos fenômenos de quase morte

     Antes de abordar propriamente o tema, não posso deixar de citar uma sentença lapidar, exarada pelo grande sábio e homem de ciência, catedrático de Fisiologia da Universidade de Paris (Sorbonne), Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta da anafilaxia (afecções alérgicas) e da soroterapia. Assinala ele:

     Tanto a ciência é certa, quando estabelece um fato, quanto é deploravelmente sujeita a erros, quando pretende estabelecer negações.

(Charles Richet, 1850-1935, em "L'Homme et L'Intelligence").


    
     Nos dois parágrafos abaixo, seguem-se as "explicações" de alguns cientistas no que tange aos fenômenos conhecidos como de "quase morte".
     As experiências de quase-morte que muitas pessoas descrevem depois de serem salvas de situações de saúde graves, como um ataque cardíaco, podem representar um último pico de actividade cerebral durante um curto período de tempo depois do coração parar de bater. Pelo menos, é isto que indica uma experiência em ratos: tiveram um pico de actividade cerebral depois de um ataque cardíaco, revela um artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
     “Muitas pessoas pensam que o cérebro, após a morte clínica, está inactivo ou hipoactivo, com menos actividade do que quando está acordado, e nós mostramos que não é isso que acontece”, explica Jimo Borjigin, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e autora do estudo. “Se podemos dizer alguma coisa é que o cérebro está muito mais activo durante o processo de morte do que durante o estado desperto”, acrescenta, citada pela BBC News.
Texto completo no "link" abaixo:

http://www.publico.pt/ciencia/noticia/experiencias-em-ratos-indicam-existencia-de-experiencias-de-quasemorte-1602972


Considerações minhas:
     Trata-se enfim de uma revivescência da velha e surrada hipótese alucinatória, produzida por um pico de atividade elétrica do cérebro logo após a morte física. Será mesmo? Vamos recordar em que consiste o fenômeno.
     Pessoas que passaram por uma experiência de "quase morte", mas conseguiram retornar à vida física, declaram unanimemente que -- contemplaram, de fora, o seu corpo inerte na cama, enquanto sentiam uma indescritível sensação de bem estar e liberdade; muitas viram passar, como num filme, os fatos capitais da sua existência que parecia findar-se, e algumas (não todas) atravessavam as paredes do quarto e perambulavam por outros locais; todas penetravam então numa espécie de túnel parcialmente iluminado, no fim do qual havia uma grande luz; aí encontravam um ser ou seres de luz (às vezes, parentes ou amigos já falecidos), um dos quais lhes informava ser necessário voltar ao corpo, porque suas provas, na Terra, ainda não haviam terminado; sentiam-se então como que aspiradas de volta ao túnel, em uma "viagem" de regresso, até despertarem novamente, conscientes, em seu corpo físico (para maiores informações, consultar o livro "Vida Depois da Vida", do Dr. Raymond Moody, ou "O Túnel e a Luz", da Dra. Elisabeth Kubler-Ross).
     
     Vejamos o que, a esse respeito, escreve o cientista e filósofo Ernesto Bozzano:
     Insisto sobre a particularidade teoricamente resolutiva de que todos os percipientes de fenômenos de "quase morte", qualquer que seja o povo a que pertençam, o país, a raça, a religião, a ocasião -- pessoas que se desconhecem e ignoram umas as experiências das outras -- descrevem o desenvolvimento do fenômeno em termos substancialmente idênticos, o que demonstra que eles, os percipientes, descrevem um fenômeno positivamente real, pois, a não ser assim, possível não seria que coincidissem as descrições de todos com relação às diversas fases do fenômeno, com as mesmas minuciosas modalidades de realização, em que há pormenores tão novos e inesperados que, dentro da hipótese alucinatória, decerto não se reproduziriam assim idênticos em todos os cérebros alucinados. (Animismo ou Espiritismo? Qual deles explica os fatos?).

     Ou seja, essa concordância universal em relação a todas as complexas fases do fenômeno de "quase morte", que se revela substancialmente idêntica em todos os tempos e países, de pessoas que desconhecem umas as experiências das outras, atestam que todas passaram por uma experiência real. Os tais cientistas que formularam aquela explicação ligeira, sofística e irrefletida teriam lido, estudado e pesquisado a fundo o fenômeno? Ou emitiram aquela explicação caolha apenas porque, sendo materialistas de cara e coroa (como dizia Diderot), não aceitam menção a qualquer coisa que aponte na direção de o ser humano não ser apenas um conjunto de células materiais? Esses "cientistas" que se agarram, desesperadamente, a qualquer hipótese, por mais anêmica que seja, para validar os seus "preconceitos de escola" (Bozzano), devem ser aqueles que o criminologista e psiquiatra César Lombroso chamava ironicamente "mestrezinhos da ciência". 
     
     Ernesto Bozzano escreveu uma monogradia especial sobre o assunto, "Fenômenos de Bilocação" (Edição Calvário, 1972), por onde não passaram, certamente, os olhos dos proponentes da alambicada hipótese alucinatória. Além disso, Bozzano abriu um capítulo inteiro de seu livro "Animismo ou Espiritismo?" (Ed. Feb, 1987), síntese da sua obra de 40 anos, ao estudo dessa fenomenologia. Neste último trabalho, escreve ele:
     Psicologicamente falando, merece profundamente meditado o fato de o indivíduo sentir que existe pessoalmente, na plenitude das suas faculdades sensientes e conscientes, fora do corpo e defronte do corpo. Trata-se de um sentimento dificilmente redutível a fórmulas elucidativas, deduzidas da psicologia universitária. Porque o fenômeno difere radicalmente dqueles em que o "eu" pessoal consciente, permanecendo com sede no organismo, divisa, à distancia, o seu próprio "fantasma", fenômeno esse análogo a outros, citados nas obras de patologia mental e, a rigor, redutível a um fato de alucinação pura e simples. Aqui, ao contrário, nos achamos em presença do fenômeno inverso, constituindo caso especial que não deixa cabimento algum para a hipótese alucinatória, dado que, do ponto de vista psicológico, há um abismo insuperável entre a sensação de alguém ver o seu próprio "duplo", e a de achar-se consciente, fora do corpo, alheio ao corpo, defronte do corpo.
     Se é certo que, combinando-se a hipótese alucinatória com a da "desagregação psíquica", se consegue resolver complexos problemas psicológicos, quais os das "personalidades múltiplas", isto não implica que, mediante a mesma combinação e com os postulados da psicologia, se chegue, ainda que de longe, a explicar o sentimento acima indicado, o qual, repito, é coisa muito diversa, visto que os fenômenos das "personalidades múltiplas" têm sua sede no corpo e não fora do corpo, diferença que, psicologicamenre, assume enorme importância, denotando que, neste último caso, se encontra em jogo o sentimento do ser, que é o mesmo que dizer um estado de consciência primordial e irredutível, fundamento de todos os estados de consciência, do qual ninguém pode duvidar sem por em dúvida também a nossa própria existência e sem renunciar, por conseguinte, a todo conhecimento e a toda ciência, sentimento que se impõe à razão como realidade apodítica e que, psicologicamente, adquire valor de imperativo categórico.
     Mais adiante, após citar vários casos de bilocação (ou desdobramento), o filósofo italiano declara:
     Observarei que neste último caso, como nos anteriores, o protagonista chegou à convicção inabalável de ter assistido "ao fato de o seu espírito destacar-se do seu corpo", e o leva a adquirir a certeza da existência e sobrevivência do espírito humano. Essa concordância de opiniões é a tal ponto racional e legítima que se nos afigura ocioso assinalá-la de novo. Todavia, cumpre insistir nisso, em vista da eficácia que adquire a opinião cumulativa daqueles que, por haverem assistido ao ato de seus espíritos se separarem dos respectivos corpos, são, no fundo, os únicos competentes para julgar do fenômeno, o que não se dá com os cientistas que, do alto de suas cátedras, sentenciam gratuitamente que se deve considerar tudo isso um conjunto de objetivações alucinatórias, determinadas por perturbações da cinestesia cerebral.
      
     Concluo com um oportuno texto do escritor patrício Carlos Imbassahy que, com sua verve elegante, erudita e levemente irônica, escreveu: (faço uma adaptação para o tema em questão)

     E todos os cérebros com a mesma alicantina, quaisquer que sejam o país, a raça, o povo e a religião, que até parece um conluio universal de cérebros para embair a humanidade, que é mostrarem não haver aí  nenhum mistério visceral, senão o desprendimento temporário do espírito do seu organismo material. Mas faz-se a claridade. Esta união de cientistas, lançando mão, apressadamente, de uma teoria alucinatória, tão inócua quão caricata, traduz-se numa formidável revelação científica! (Carlos Imbassahy, Enigmas da Parapsicologia, Edição Calvário, 1967).

90) A Igreja Católica e os fenômenos do Espiritismo


     O "link" abaixo demonstra que a Igreja Católica (ou, pelo menos, parte dela) reconhece a autenticidade dos fenômenos espíritas.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=hXsoxnvQd3A

    
     Como se pôde ver, os fenômenos mostrados no link acima são bem antigos e, embora raros, podem ser observados hodiernamente. A esse respeito, o pensador e filósofo Ernesto Bozzano, que possuía o mais completo arquivo acerca dos fenômenos chamados paranormais, escreveu uma monografia especial sobre o tema, com 46 páginas, intitulada "Marcas e Impressões Paranormais de Mãos de Fogo", traduzida por meu saudoso amigo de Niterói, falecido em 1986, Francisco Klors Werneck.
     No último dos 10 casos que expõe, escreve Bozzano:

     Se se põe de lado a lenda teológica das almas que ardem nas chamas do Purgatório ou do Inferno, só resta uma hipótese legitimamente científica, por meio da qual é possível considerar os fatos, a hipótese das "vibrações", que, em nossos dias, constitui também uma maravilhosa revelação científica, graças à qual assistimos aos milagres do rádio e TV. Se se pensa que o que chamamos "quente" e "frio" constitui um fenômeno único, que difere enormemente para os nossos sentidos em consequência da maior ou menor intensidade vibratória dos objetos com que entramos em contato, mister se faz deduzir daí que, se a tonalidade vibratória dos "fluidos" (energias), de que se revestem os espíritos dos mortos para se tornarem visíveis e tangíveis, fosse consideravelmente mais intensa do que a inerente à substância orgânica ou aos corpos inorgânicos, deverá inevitavelmente seguir-se que as vibrações muito intensas da substância espiritual, encontrando-se com as relativamente fracas dos tecidos orgânicos e inorgânicos, devam queimar estes últimos como o faria o fogo, o que determinaria os fenômenos das "impressões de mãos de fogo". ( - )

     Portanto, se é verdade - e isto não pode dar lugar à menor dúvida - que o fenômeno das "impressões das mãos de fogo" depende da elevada tonalidade vibratória das energias que se acham no "fantasma", então, do ponto de vista materialista (ou naturalista, como preferem os que o professam), como considerar a extraordinária intensidade na tonalidade vibratória da substância de que se reveste o fantasma, comparada com a tonalidade vibratória da substância de que se compõem os organismos? É evidente que, se se acolhesse a hipótese naturalista, segundo a qual a substância ectoplásmica, a inteligência e a vontade que caracterizam o fantasma provêm do médium, a tonalidade vibratória da substância de que o fantasma é formado deveria ser idêntica à da substância somática do organismo humano. Como, porém, assim não é, como a tonalidade vibratória no fantasma é muito mais intensa que a do organismo humano, lógico é deduzir-se daí que a origem dessa tonalidade vibratória é estranha ao médium. Nesse caso, ela só pode depender da natureza espiritual da entidade que se manifesta, isto é, de um ser independente do médium. Eis-nos, desse modo, chegados, muito naturalmente, à interpretação espiritista dos fenômenos das "impressões de mãos de fogo", interpretação que é a única a fornecer uma solução racional dos fenômenos de que tratamos.
     Meditei longamente sobre esta questão, com a intenção de achar uma outra solução, conforme à interpretação naturalista, mas não consegui concebê-la. Aguardo, pois, que um dos defensores da origem naturalista de todas as manifestações mediúnicas chegue, com mais sucesso, à solução do problema, e que me faça conhecer as suas conclusões.

89) Em que consiste o chamado "êxtase místico"

     Em nossa modesta opinião, o chamado êxtase místico (ou experiência mística) é tão real quanto o fenômeno mediúnico (Kardec abordou-o de passagem, quando discreteou sobre os médiuns inspirados, com o qual, realmente, ele se identifica em muitos pontos).
     Passaram por êxtases místicos todos os grandes líderes religiosos e santos que trouxeram relevantes contribuições morais e espirituais em favor da humanidade, inclusive o Cristo. Em que consiste o fenômeno? Quando um ser há trabalhado muito o seu "eu" interior, através de um processo de ascese ou purificação, por pensamento, atos e palavras, renúncia a todo tipo de bens materiais, abstenção de toda alimentação imprópria a um circuito orgânico mais evoluído, neste caso, ele pode chegar a um nível de evolução moral e espiritual que lhe permita vibrar em uníssono com as altas esferas espirituais, fora das dimensões de espaço e tempo, onde habitam seres tão elevados que não mais possuem forma e nem corpo, quase como um "eu" coletivo, captar-lhes e lhes traduzir o pensamento, e participar, em ponto pequeno, com eles, de uma visão cósmica universal. Este é a autêntica experiência mística (ou êxtase místico).

     Para completar o assunto, julgo que há duas vias para se chegar ao conhecimento da verdade:
A) A via científica, ou exterior, ou racional, ou de análise;
B) A via mística, ou interior, ou intuitiva, ou de síntese.
     Consideremos um terreno infinitamente amplo e totalmente irregular, cujo solo seja composto de um grande número de diferentes materiais.
     Os cientistas trabalham no chão, em contato direto com ele podem analisar de que elementos são feitos esses materiais; infelizmente, como trabalham junto ao chão, são incapazes de descobrir a forma do terreno como um todo, enormemente irregular, como disse no princípio. Falta portanto a eles uma visão global, de síntese. 
     Os místicos têm uma visão do alto, de síntese, e conseguem divisar perfeitamente a forma global do terreno, visão esta que falta aos cientistas. Por outro lado, falta aos místicos a visão detalhista, de minúcias, e, por não trabalharem diretamente no solo, não podem dizer, em geral, de que materiais são feitos os elementos do solo.
     Por isso, podemos dizer que as duas visões se completam. Generalizando, falta aos cientistas uma visão geral, global, que os oriente em suas pesquisas; falta aos místicos uma visão detalhista que complete a sua visão sintética, global.
     Por outro lado, se considerarmos que o nosso é um mundo emborcado, negativo e transitório (artigos 1 a 7 deste blog), destinado, ao longo do tempo, a recuperar sua positividade, pureza e perfeição originais, concluiremos que, a partir de sua evolução e espiritualização progressivas, a senda mística acabará superando gradativamente a outra.