sexta-feira, 23 de agosto de 2013

91) As "explicações científicas" dos fenômenos de quase morte

     Antes de abordar propriamente o tema, não posso deixar de citar uma sentença lapidar, exarada pelo grande sábio e homem de ciência, catedrático de Fisiologia da Universidade de Paris (Sorbonne), Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta da anafilaxia (afecções alérgicas) e da soroterapia. Assinala ele:

     Tanto a ciência é certa, quando estabelece um fato, quanto é deploravelmente sujeita a erros, quando pretende estabelecer negações.

(Charles Richet, 1850-1935, em "L'Homme et L'Intelligence").


    
     Nos dois parágrafos abaixo, seguem-se as "explicações" de alguns cientistas no que tange aos fenômenos conhecidos como de "quase morte".
     As experiências de quase-morte que muitas pessoas descrevem depois de serem salvas de situações de saúde graves, como um ataque cardíaco, podem representar um último pico de actividade cerebral durante um curto período de tempo depois do coração parar de bater. Pelo menos, é isto que indica uma experiência em ratos: tiveram um pico de actividade cerebral depois de um ataque cardíaco, revela um artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
     “Muitas pessoas pensam que o cérebro, após a morte clínica, está inactivo ou hipoactivo, com menos actividade do que quando está acordado, e nós mostramos que não é isso que acontece”, explica Jimo Borjigin, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e autora do estudo. “Se podemos dizer alguma coisa é que o cérebro está muito mais activo durante o processo de morte do que durante o estado desperto”, acrescenta, citada pela BBC News.
Texto completo no "link" abaixo:

http://www.publico.pt/ciencia/noticia/experiencias-em-ratos-indicam-existencia-de-experiencias-de-quasemorte-1602972


Considerações minhas:
     Trata-se enfim de uma revivescência da velha e surrada hipótese alucinatória, produzida por um pico de atividade elétrica do cérebro logo após a morte física. Será mesmo? Vamos recordar em que consiste o fenômeno.
     Pessoas que passaram por uma experiência de "quase morte", mas conseguiram retornar à vida física, declaram unanimemente que -- contemplaram, de fora, o seu corpo inerte na cama, enquanto sentiam uma indescritível sensação de bem estar e liberdade; muitas viram passar, como num filme, os fatos capitais da sua existência que parecia findar-se, e algumas (não todas) atravessavam as paredes do quarto e perambulavam por outros locais; todas penetravam então numa espécie de túnel parcialmente iluminado, no fim do qual havia uma grande luz; aí encontravam um ser ou seres de luz (às vezes, parentes ou amigos já falecidos), um dos quais lhes informava ser necessário voltar ao corpo, porque suas provas, na Terra, ainda não haviam terminado; sentiam-se então como que aspiradas de volta ao túnel, em uma "viagem" de regresso, até despertarem novamente, conscientes, em seu corpo físico (para maiores informações, consultar o livro "Vida Depois da Vida", do Dr. Raymond Moody, ou "O Túnel e a Luz", da Dra. Elisabeth Kubler-Ross).
     
     Vejamos o que, a esse respeito, escreve o cientista e filósofo Ernesto Bozzano:
     Insisto sobre a particularidade teoricamente resolutiva de que todos os percipientes de fenômenos de "quase morte", qualquer que seja o povo a que pertençam, o país, a raça, a religião, a ocasião -- pessoas que se desconhecem e ignoram umas as experiências das outras -- descrevem o desenvolvimento do fenômeno em termos substancialmente idênticos, o que demonstra que eles, os percipientes, descrevem um fenômeno positivamente real, pois, a não ser assim, possível não seria que coincidissem as descrições de todos com relação às diversas fases do fenômeno, com as mesmas minuciosas modalidades de realização, em que há pormenores tão novos e inesperados que, dentro da hipótese alucinatória, decerto não se reproduziriam assim idênticos em todos os cérebros alucinados. (Animismo ou Espiritismo? Qual deles explica os fatos?).

     Ou seja, essa concordância universal em relação a todas as complexas fases do fenômeno de "quase morte", que se revela substancialmente idêntica em todos os tempos e países, de pessoas que desconhecem umas as experiências das outras, atestam que todas passaram por uma experiência real. Os tais cientistas que formularam aquela explicação ligeira, sofística e irrefletida teriam lido, estudado e pesquisado a fundo o fenômeno? Ou emitiram aquela explicação caolha apenas porque, sendo materialistas de cara e coroa (como dizia Diderot), não aceitam menção a qualquer coisa que aponte na direção de o ser humano não ser apenas um conjunto de células materiais? Esses "cientistas" que se agarram, desesperadamente, a qualquer hipótese, por mais anêmica que seja, para validar os seus "preconceitos de escola" (Bozzano), devem ser aqueles que o criminologista e psiquiatra César Lombroso chamava ironicamente "mestrezinhos da ciência". 
     
     Ernesto Bozzano escreveu uma monogradia especial sobre o assunto, "Fenômenos de Bilocação" (Edição Calvário, 1972), por onde não passaram, certamente, os olhos dos proponentes da alambicada hipótese alucinatória. Além disso, Bozzano abriu um capítulo inteiro de seu livro "Animismo ou Espiritismo?" (Ed. Feb, 1987), síntese da sua obra de 40 anos, ao estudo dessa fenomenologia. Neste último trabalho, escreve ele:
     Psicologicamente falando, merece profundamente meditado o fato de o indivíduo sentir que existe pessoalmente, na plenitude das suas faculdades sensientes e conscientes, fora do corpo e defronte do corpo. Trata-se de um sentimento dificilmente redutível a fórmulas elucidativas, deduzidas da psicologia universitária. Porque o fenômeno difere radicalmente dqueles em que o "eu" pessoal consciente, permanecendo com sede no organismo, divisa, à distancia, o seu próprio "fantasma", fenômeno esse análogo a outros, citados nas obras de patologia mental e, a rigor, redutível a um fato de alucinação pura e simples. Aqui, ao contrário, nos achamos em presença do fenômeno inverso, constituindo caso especial que não deixa cabimento algum para a hipótese alucinatória, dado que, do ponto de vista psicológico, há um abismo insuperável entre a sensação de alguém ver o seu próprio "duplo", e a de achar-se consciente, fora do corpo, alheio ao corpo, defronte do corpo.
     Se é certo que, combinando-se a hipótese alucinatória com a da "desagregação psíquica", se consegue resolver complexos problemas psicológicos, quais os das "personalidades múltiplas", isto não implica que, mediante a mesma combinação e com os postulados da psicologia, se chegue, ainda que de longe, a explicar o sentimento acima indicado, o qual, repito, é coisa muito diversa, visto que os fenômenos das "personalidades múltiplas" têm sua sede no corpo e não fora do corpo, diferença que, psicologicamenre, assume enorme importância, denotando que, neste último caso, se encontra em jogo o sentimento do ser, que é o mesmo que dizer um estado de consciência primordial e irredutível, fundamento de todos os estados de consciência, do qual ninguém pode duvidar sem por em dúvida também a nossa própria existência e sem renunciar, por conseguinte, a todo conhecimento e a toda ciência, sentimento que se impõe à razão como realidade apodítica e que, psicologicamente, adquire valor de imperativo categórico.
     Mais adiante, após citar vários casos de bilocação (ou desdobramento), o filósofo italiano declara:
     Observarei que neste último caso, como nos anteriores, o protagonista chegou à convicção inabalável de ter assistido "ao fato de o seu espírito destacar-se do seu corpo", e o leva a adquirir a certeza da existência e sobrevivência do espírito humano. Essa concordância de opiniões é a tal ponto racional e legítima que se nos afigura ocioso assinalá-la de novo. Todavia, cumpre insistir nisso, em vista da eficácia que adquire a opinião cumulativa daqueles que, por haverem assistido ao ato de seus espíritos se separarem dos respectivos corpos, são, no fundo, os únicos competentes para julgar do fenômeno, o que não se dá com os cientistas que, do alto de suas cátedras, sentenciam gratuitamente que se deve considerar tudo isso um conjunto de objetivações alucinatórias, determinadas por perturbações da cinestesia cerebral.
      
     Concluo com um oportuno texto do escritor patrício Carlos Imbassahy que, com sua verve elegante, erudita e levemente irônica, escreveu: (faço uma adaptação para o tema em questão)

     E todos os cérebros com a mesma alicantina, quaisquer que sejam o país, a raça, o povo e a religião, que até parece um conluio universal de cérebros para embair a humanidade, que é mostrarem não haver aí  nenhum mistério visceral, senão o desprendimento temporário do espírito do seu organismo material. Mas faz-se a claridade. Esta união de cientistas, lançando mão, apressadamente, de uma teoria alucinatória, tão inócua quão caricata, traduz-se numa formidável revelação científica! (Carlos Imbassahy, Enigmas da Parapsicologia, Edição Calvário, 1967).

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