sábado, 11 de novembro de 2023

129) A concepção do "Éter-Deus" ou de "Deus-Quintessência Cósmica".

 (Obs.: Os quatro primeiros parágrafos do artigo abaixo foram extraídos, com pequenas modificações, de trechos do trabalho do Dr. Fritz Kahn (1888-1968), intitulado "O Livro da Natureza", Edições Melhoramentos, 1966, págs. 25, 26 e 27).      


     "O espaço que separa as massas não pode ser um 'nada', pois, através dele agem forças longínquas. Do Sol, irradia-se luz para nós; a Lua ergue as águas do mar por ocasião das marés." 
     "Jamais foi elaborada uma doutrina, abrangendo a ciência e a ética, como a filosofia dos antigos hindus. Schopenhauer celebrou a tradução dos 'Upanishads' como o maior acontecimento espiritual do século dezenove. Os hindus imaginam o mundo repleto de uma matéria cósmica extremamente tênue e rarefeita que chamam 'Brahma', que tem, no pensamento deles, a mesma significação que Deus, no Velho Testamento. Eis o que dizem a esse respeito:"
     "Invisível é Brahma, e todavia está em toda parte. A mão não pode contê-lo, mas ele tudo abrange. Não pode ser visto, mas é dele que vem a luz. Ninguém o pode sentir, mas todo o sentir dele provém. Por transformação, dele nasce tudo o que existe, mas ele permanece sempre o mesmo. Nada o surpreende, e nenhuma palavra diz a respeito do que for. Tudo vê e tudo permite que aconteça. Tudo nele é agitação, mas ele mesmo permanece tranquilo. Assim como dele todas as coisas surgiram, assim a ele regressam todas; por isso, é paciente e tranquilo."

     Os vocábulos "Quintessência" (também pode ser escrito "Quinta-Essência") e "Éter" significam a mesma coisa: a matéria cósmica, primitiva e fundamental, em seu máximo grau de simplicidade e pureza, que preenche todo Universo. Diz Fritz Kahn: "A palavra "Éter" provêm de Aristóteles, o fundador da ciência sistemática da natureza. Deu ele o seguinte quadro sobre a divisão da matéria: 'a Terra é cercada de água; a água, de ar; o ar, de éter; para além do éter, nada existe'. Para um homem que vivia 350 anos antes de Cristo, já é notabilíssima esta concepção, tanto mais que os sentidos eram os seus únicos meios de conhecimento." 
     Abro aqui um parênteses para dar o significado de "quintessência", segundo o dicionário online de português. Referindo-se a uma dada substância, o citado dicionário diz: "aquilo que é obtido após cinco destilações; o que há de melhor, de mais apurado, importante ou excelente; grau mais elevado ou melhor de um produto; o essencial".
     Assim, segundo as antigas escolas hindus, chinesas, egípcias, gregas, etc., e os primeiros estudiosos da filosofia natural, existe algo análogo a uma essência primordial, a mais pura e sutil que se possa imaginar, da qual derivariam, por concentrações (ou 'condensações', à falta de um termo melhor) progressivas, todas as formas conhecidas de matéria e energia que constatamos existir no nosso Universo. Este estaria imerso nesta substância, como os peixes no mar. Tal substância foi denominada "éter cósmico" (ou 'quintessência", por outros).
     Pois bem, quando, no início do século dezenove, os físicos Thomas Young e Augustin Fresnel, comprovaram experimentalmente, através dos fenômenos de interferência e difração, a teoria ondulatória da luz, os físicos da época indagaram: ondas em que meio? A hipótese do "éter cósmico" veio então a calhar para esses físicos, que a adotaram prontamente, embora nada indicasse que essa essência ou substância primordial, absolutamente inacessível aos nossos sentidos e aos nossos mais sofisticados instrumentos de pesquisa, pudesse servir de meio por onde transitam ondas luminosas. Ora, os pensadores e filósofos anteriores jamais cogitaram atribuir, a esse éter que imaginaram, uma propriedade tão estranha e contraditória.
     De fato, se o éter fosse o meio de propagação de ondulações transversais da luz, cuja velocidade é de 300.000 km/s, e cuja frequência é de trilhões de vibrações por segundo, ele teria que ser tão tênue como o ar rarefeito a 10 elevado a - 31, e, por outro lado, tão resistente quanto o aço, duas propriedades absolutamente inconciliáveis. Além disso, a luz apresenta também um caráter corpuscular, como Einstein demonstrou em 1905, através de seus trabalhos sobre o efeito fotoelétrico, e se propaga pelo espaço como partículas (fótons) separados e independentes. Ora, se a luz fosse um fenômenos unicamente ondulatório, talvez necessitasse de um meio de propagação. Mas sendo composta também por partículas que se movimentam pelo espaço, não se faz necessário tal meio. De fato, o físico alemão e divulgador científico, Paul Karlson, escreveu: "A luz não é uma ondulação elástica num meio mecânico, como se pensava antes, mas uma oscilação eletromagnética que não necessita de meio algum para se propagar."   
     Nos anos 1920 do século vinte, o filósofo espiritualista italiano Ernesto Bozzano concebeu a inovadora ideia do "Éter-Deus", ou de "Deus-Quintessência Cósmica".               
     Onipresença, Onisciência e Onipotência sempre foram as três características que todas as religiões atribuíram à Divindade, desde épocas prístinas. Ora, sendo o "Éter" um meio universal e rarefeito que tudo penetra, podemos considerá-lo onipresente.
     Sabemos que cada um dos acontecimentos que sucede em nossas vidas fica registrado, sob forma vibratória, na matéria do nosso cérebro, fato que constitui nossa memória terrestre. Ora, se supusermos que cada acontecimento que sucede no universo, e que constitui a atividade universal nos reinos inorgânico e orgânico, fica registrado, sob forma vibratória, no "Éter" (ou "Quintessência Cósmica"), tê-lo-emos revelado onisciente. Quanto à terceira característica, a Onipotência, não é mais que uma consequência das outras duas. Só falta deferir à "Quintessência" ou ao "Éter Cósmico" a consciência, para que se possa dizer: "O Éter é Deus".
     "Esta noção do "Éter-Deus", assevera o filósofo italiano, "conduz necessariamente ao conceito panteístico-espiritualista, afigurando-se-nos este como o mais convinhável para explicar, de modo acessível, às nossas inteligências finitas, o grande mistério em que jaz o Universo." 

sábado, 19 de setembro de 2020

128) A síntese psíquica de Myers, ampliada por Geley, e rematada por Bozzano (parte 2)

Gustave Geley          Ernesto Bozzano 
 

     
    



Geley (em suas obras "Resumo da Doutrina Espírita" e "O Ser Subconsciente") foi mais longe do que Myers em sua síntese psíquica. Postulou que o subliminar inferior é o passado transposto, e o subliminar superior é o futuro a alcançar. O primeiro é uma conquista, o segundo uma promessa. Mas enquanto Myers parecia ver no subliminar inferior um mergulho até, no máximo, o feto no ventre materno, Geley ia muito além. Ele via naquele um imenso repositório, onde estavam depositadas, em camadas sucessivas, todas as personalidades, cada vez mais imperfeitas (indo no sentido do passado remoto) que o ser espiritual havia vivido ao longo de uma lenta e progressiva evolução durante milhares de anos (Geley era reencarnacionista), desde o desabrochar da consciência, em múltiplas e inumeráveis existências sucessivas, cada vez mais perfectíveis, até sua aproximação à Consciência Divina, culminando finalmente na unificação com Ela. Em realidade, esta grande marcha evolutiva foi primeiramente formulada pelo engenheiro Gabriel Delanne, continuador de Kardec para a parte científica do Espiritismo, em sua obra pioneira "A Evolução Anímica", publicada em 1895.
     
     Um professor de filosofia da ciência na universidade de Turim, Itália, que havia sido discípulo do filósofo inglês Herbert Spencer, Ernesto Bozzano, pretendeu concluir o remate da ciência e filosofia espíritas. Bozzano encontrou uma equivalência entre os sentidos materiais preexistentes no feto e os sentidos espirituais preexistentes na subconsciência humana. Ele escreveu:
     "Se o feto humano, no ventre materno, tem que sobreviver à crise do nascimento, deve possuir, preexistentes e em estado latente, os sentidos da vida terrestre, destinados a emergir e atuar em ambiente terrestre, depois da crise do nascimento, pois tais sentidos materiais (visão, audição, olfato, paladar e tato) não poderiam ser criados súbita e magicamente do nada no instante do nascimento".
     "Analogamente, se o espírito humano tem que sobreviver à crise da morte, os sentidos da vida espiritual já devem existir, preformados e em estado latente, na subconsciência humana, prontos para emergir e atuar em ambiente espiritual, depois da crise da morte, pois tais sentidos espirituais não poderiam ser criados súbita e magicamente do nada no instante da morte. Donde se conclui que, se na subconsciência humana não existissem faculdades paranormais, dever-se-ia concluir, de forma inapelável, que o espírito humano é aniquilado com a morte do corpo. Enfim, podemos finalizar com a afirmação de que as faculdades paranormais da subconsciência (memória integral, telepatia, clarividência) são os sentidos espirituais do "eu" integral integral subconsciente (ou "eu" espiritual), preexistentes e em estado latente na subconsciência humana, aguardando apenas, para emergir e atuar, o ambiente apropriado, que sucede à crise da morte". 
     "Por maneira que à pergunta que me foi feita pelo Congresso Espiritualista Internacional de Glasgow, e que constitui o título desta obra, respondo: nem Animismo, nem Espiritismo, logram, isoladamente, explicar o conjunto dos fenômenos paranormais. Ambos são imprescindíveis a tal fim, pois são efeitos de uma causa única, e essa causa é o espírito humano, que, quando age, em momentos fugazes, durante a existência encarnada, determina os fenômenos anímicos, e quando age, no mundo dos vivos, durante a existência desencarnada, determina os fenômenos espíritas. Com efeito, Animismo e Espiritismo são complementares um do outro, pois tudo o que pode fazer um espírito desencarnado, também poderá fazê-lo - embora menos bem - um espírito encarnado, sob a condição, porém, de que se ache numa fase transitória de enfraquecimento vital, fase que corresponde a um processo incipiente de desencarnação do espírito, quais se verificam, por exemplo, durante o sono fisiológico, sono sonambúlico, sono mediúnico, êxtase, delíquio, narcose, estados comatosos, etc.; e se verifica, experimentalmente que, de fato, são estas as condições para que ocorram os fenômenos chamados anímicos: telepatia, clarividência, etc.. Tudo indica, então, havermos chegado à solução legítima do grande problema, pois se apresenta como resultante da convergência de todas as provas que promanam da análise comparada dos diferentes tipos de fenômenos paranormais -- anímicos e espiríticos".

127) A síntese psíquica de Myers, ampliada por Geley, e rematada por Bozzano (parte 1)

      Frederic Myers

     Relendo mais acuradamente o livro do ilustre parapsicólogo francês (anti-espírita) René Sudre, intitulado "Tratado de Parapsicologia" (Zahar Editores, 1976, 458 páginas), inspirei-me em alguns textos dele para extrair excertos relativo aos autores Myers e Geley, embora um tanto modificados, para melhor ressaltar o que julgo ser a tese fundamental dos mesmos. Declaro ainda que o texto do filósofo Ernesto Bozzano eu o retirei de seu livro, "Animismo ou Espiritismo? Qual deles explica os fatos?", extraordinária síntese da obra de 40 anos do "grande mestre da ciência da Alma".

     De todos os psicólogos, o inglês Frederic William Henry Myers (em seu livro, "A Personalidade Humana") foi o primeiro e, ainda hoje, quase o único, que tentou uma síntese do conjunto dos fatos parapsíquicos, como atesta a filosofia espiritualista do francês Gustave Geley, que dela resultou. A nova e importante teoria do "Eu Subliminar" sintetiza a teoria psicológica de Myers. 
     Os fatos do hipnotismo, de dissociação da personalidade, de automatismo, dos sonhos durante o sono fisiológico, etc., mostraram desde muito que o inconsciente do homem não era somente o fisiológico, mas que também era preciso admitir a existência de uma atividade mental inconsciente ou, para ser mais explícito, de uma atividade subconsciente. Tomando por empréstimo o vocábulo criado para as necessidades da Psicofisiologia, o "umbral da consciência", Myers distinguiu um "eu supraliminar" (isto é, situado acima do limiar da consciência, o nosso "eu consciente"), e um "eu subliminar" (isto é, situado abaixo do limiar da consciência, o "eu subconsciente"), eu subliminar muito mais amplo e, em alguns casos, superior. Em realidade, há um só eu, cuja consciência supraliminar (normal) não é mais que um fragmento, fragmento esse que é responsável pela atividade prática do nosso dia-a-dia. 
     Aqui, Myers faz uma comparação com o fenômeno de dispersão da luz solar branca por um prisma ótico. O eu supraliminar corresponderia à estreita faixa visível do espectro, que vai do vermelho ao violeta. Aquém do vermelho, nas regiões de baixa frequência, há o infravermelho, que corresponde ao subliminar inferior, e que é responsável, por exemplo, pelos sonhos triviais que ocorrem durante o sono fisiológico. Além do violeta, nas regiões de alta frequência, há o ultravioleta, que corresponde ao subliminar superior, e que é responsável pelas funções psíquicas mais elevadas, tais como a genialidade, o êxtase místico, e as faculdade paranormais (telepatia, clarividência, e, às vezes, precognição). Assim, como mostra a comparação do espectro, o subliminar está longe de ser homogêneo.
     Os dois "eus", supraliminar e subliminar, são separados por um "diafragma psíquico". Quando se enfraquece o controle do "eu supraliminar", elementos do subliminar podem atravessar aquele diafragma. É o que ocorre nos nossos sonhos. Contudo, em casos mais raros e graves, podem dar origem às neuroses. Isto porque, para Myers, o subliminar inferior é dependente do funcionamento de certos centros cerebrais ordinariamente inconscientes. Por outro lado, quando afloram estratos do "eu subliminar" superior, temos, como afirmamos, a eclosão das criações do gênio, dos êxtases místicos, e das faculdades de ordem paranormal. O "eu subliminar" superior (que, em sua integralidade, constitui o verdadeiro "eu" sobrevivente à morte do corpo) participa de um mundo espiritual e, nesse mundo, ele age de modo autônomo, independentemente das limitações da vida orgânica, exercendo normalmente suas funções de telepatia e clarividência. A prova fundamental é dada pela telepatia no mundo dos vivos. De fato, para Myers, a telepatia entre dois espíritos encarnados, com independência dos órgãos sensoriais, é logicamente continuada pela telepatia entre encarnados e desencarnados. 

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

126) A opinião do físico Sir William Barrett sobre os dois fenômenos, o espírita e o místico.

    Sir William Barrett
   Problema bastante complexo, sobre o qual tentei empreender uma abordagem sumária, sujeita a retificações e ampliações, no artigo número 114 deste blog. Por outro lado, no artigo 97, apresentei as credenciais científicas de Sir William Barrett e seus experimentos psíquicos que o levaram a comprovar a sobrevivência humana. Neste, ressalto a semelhança dos conceitos de 'Sua Voz" em "A Grande Síntese" (capítulos II e IV), sobre a intuição supra-racional, sintetizados por mim nos artigos 21 e 22, com os expostos  abaixo pelo eminente físico.

     Em seu livro "On the Treshold of the Unseen", traduzido para a nossa língua pelo espírita português Isidoro Duarte Santos sob o título "Nos Umbrais do Além" (Estudos Psíquicos Editora, Lisboa, 1947), o físico experimental inglês Sir William Fletcher Barrett (1844-1925), Professor de Física da Universidade de Dublin, após apresentar uma grande cópia de fatos paranormais que comprovam a existência e sobrevivência do espírito humano, à pág. 263, escreve o seguinte:

     Os fenômenos transcendentes que acabamos de estudar, longe de excluir, pressupõem o 'princípio divino da alma', empregando aqui a expressão mística. No verdadeiro sentido da palavra, o sobrenatural transcende o supranormal (ou paranormal). No dizer do reverendo J. R. Ilingworth, em seu livro 'Personality', "além da própria consciência, coloca-se certamente a realidade última, de que a consciência é o reflexo ou a fraca representação".
     A união íntima da alma com Deus, a manifestação do Infinito no finito e para o finito, eis a ideia fundamental, não só dos místicos, mas também do Novo Testamento e de todos os grandes pensadores cristãos. Atingir esta consciência mais profunda e, consequentemente, a nossa personalidade integral, pertence ao domínio da 'Religião', cujo verdadeiro tema é a vida superior, em vez da vida futura. 
     Este conhecimento de Deus, e não das modalidades de Sua ação, isto é, a consciência de Sua presença em toda parte, é o que se entende por Religião. É evidente que, nesta acepção especial, o Espiritismo não é, nem pode ser uma religião, cuja base essencial reside nos pendores elevados da alma, a que chamamos 'fé'. O cônego Scott Holland diz em "Lux Mundi": 'A fé á força que liga a vida consciente a Deus... Portanto, a fé abre à criatura uma existência inteiramente nova, que se exprime pelo Sobrenatural. O mundo sobrenatural abre-se-nos, logo que a fé verdadeira atinge o ser.'
     O Espiritismo tampouco nos poderá certificar do sobrenatural, como se pretendeu. No verdadeiro sentido da palavra, o sobrenatural é incomunicável da parte de fora, pois é a voz do Espírito Universal que fala ao espírito humano, ou, no dizer de Plótino, 'o voo da consciência pessoal em direção à Consciência Transcendental, porque se quiser ouvir a voz de Deus, a alma deve permanecer em absoluta paz interna'. À semelhança dos grandes profetas e dos poetas, algumas almas humanas mais humildes tiveram esta revelação divina.
     Esta separação de si mesmo, esta renúncia total é que permite à Consciência de Deus penetrar em nossa vida. Sentimos enfraquecer a vontade consciente, tomamos contato com a Vontade Divina e só então atingimos a finalidade da existência terrestre: contatar a Consciência Divina e descobrir a nossa verdadeira personalidade, que é imortal e só se realizará integralmente quando atingir esse objetivo. É a finalidade da vida. Hermann Lotze disse-nos que 'a personalidade integral está em Deus'. Por outras palavras, quando nos tornarmos conscientes da Vida e do Amor Divino em nós, nossa vida humana partilhará conscientemente da Vida sem fim na Divindade; sem esta consciência, a existência não só é pouco satisfatória, mas também difícil de suportar. 
     Concluir, pois, como se faz habitualmente, que as comunicações espíritas nos ensinam a imortalidade indubitável, inerente, da alma, parece-me um grande erro. É verdade que nos demonstram que a vida pode existir no invisível, e (se aceitarmos as provas de identidade) que alguns seres que conhecemos na Terra continuam a viver e estão perto de nós. Mas a existência da vida após a morte não implica, necessariamente, na imortalidade, ou seja, na persistência eterna da nossa personalidade; isso prova apenas que a sobrevivência se estende a todos. Evidentemente, nenhuma prova experimental poderá jamais afirmar-nos uma ou outra crença, embora a crença espírita possa fazer ou faça justiça às objeções levantadas contra a possibilidade da sobrevivência.

Nota minha: Para se atingir esse estado voluntário de 'comunhão íntima com o divino', necessário se faz um laborioso trabalho de ascese e purificação, moral e espiritual, evitando até mesmo a ingestão de alimentos nocivos ao circuito vital. É o que nos ensinam os grandes místicos.

sábado, 31 de agosto de 2019

125) Ernesto Bozzano, o grande mestre da ciência da alma, faz alvissareiras previsões sobre o futuro da humanidade. Quando elas se efetivarão?

     Texto de autoria de Francesco Leti, sobre o filósofo espiritualista Ernesto Bozzano, publicado em março de 1936, no "Reformador", órgão oficial da Federação Espírita Brasileira. Ei-lo:

     Ernesto Bozzano, entre os pioneiros dos estudos da fenomenologia paranormal, é certamente o que ocupa o grau mais elevado, o posto mais eminente, pela profundeza e genialidade da sua mente, pela agudeza incomparável da sua análise, pelo conhecimento vasto e profundo que possui do assunto de que trata. Quando a ciência conseguir demonstrar a sobrevivência da alma e começar a ensiná-la das cátedras universitárias, nesse dia, finalmente, se iniciará uma profunda revolução, que transformará e redimirá seriamente a humanidade.
     Num recente artigo na revista "A Pequisa Psíquica", Ernesto Bozzano escreveu estas palavras de ouro: 
     Quando luzir a alvorada do grande dia em que, das cátedras universitárias se anunciará, a uma humanidade sequiosa de penetrar o mistério do ser, que a ciência há chegado, afinal, a demonstrar experimentalmente a existência e sobrevivência do espírito humano, iniciar-se-á a transformação, a reconstituição, a redenção espiritual da humanidade civilizada, dado que uma coisa é crer por um "ato de fé", e outra, bem diversa, o saber, por comprovação científica, que o espírito humano sobrevive à morte do corpo. Quando se der o grande acontecimento, despontará a alvorada de uma nova era no horizonte do cognoscível humano, em que as bases do saber terreno deixarão de se assentar sobre a concepção mecânico-materialista do universo, para se estabelecerem sobre a concepção dinâmico-espiritualista do ser, com todas as consequências éticas, filosóficas, sociais e morais que daí decorrerão. Nesse dia, já não haverá disputas entre os doutos acerca da existência de uma ética na vida, porque todos conhecerão as bases de uma ética superior, e cada pessoa fará o melhor possível para moldar a sua própria transformação diante da vida de além-túmulo. E como os povos são constituídos por pessoas, não haverá mais no mundo nações antagônicas: realizada estará, ao contrário, a unidade harmônica da grande família humana. Já não haverá partidos, seitas, utópicos fermentos sociais, flageladores da vida dos povos, porque reinará soberana uma lei espiritual compreendida e praticada espontaneamente por todos: fraternidade, solidariedade, amor, entre os peregrinos de um instante no mundo dos vivos. 

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

124) Os fenômenos paranormais, em sua totalidade, são fruto de embustes, dizem os prestidigitadores; pois provem, retruca o Dr. Geley.

      Carlos Imbassahy                  Gustavo Geley 
                                                                             
Extraio o conteúdo abaixo do livro "O Espiritismo à Luz dos Fatos" (5a. ed., FEB, 1998), do escritor Carlos Imbassahy: 

     Quando o médium polonês Jean Guzik se submeteu à inspeção do Instituto Metapsíquico Internacional (I.M.I.) e produziu admiráveis fenômenos paranormais, um grupo seleto de intelectuais franceses, entre os quais se achavam grandes notabilidades científicas do país, firmou um abaixo assinado, denominado o Relatório dos 34, onde os signatários concluíam pela autenticidade irrefragável dos fatos que tinham testemunhado e submetido à mais rigorosa experimentação. 
     Tal relatório, como é de ver, dado o valor dos que o subscreveram, produziu, nuns, profunda emoção e, noutros, grande azáfama. Sobressaltaram-se os adversários dos estudos psíquicos e não faltaram os que, sem nada haver presenciado, inquinassem logo de fraude tudo aquilo. Os leigos opinaram pelo embuste; a coisa se resumia, nem mais nem menos, do que nisso: - “prestidigitação”. Ou seja: tudo jogo de mãos, e talvez de pés. E aquela descoberta teve um reforço considerável: é que saiu a campo para roborá-la o prestidigitador Dickson. Este, com admiração geral, declarou pela imprensa que não havia  fenômeno nenhum extraordinário, senão truques, que ele reproduziria. Falava um perito! 
     Esta afirmativa de um prestidigitador animou, incentivou, desencadeou a campanha dos negativistas, e Dickson, envaidecido pelos aplausos, chegou a lançar um desafio pelo “Le Matin” de 9 de junho de 1923, onde se comprometia a reproduzir os fenômenos realizados por Guzik. 
     Foi quando o entrou em cena o diretor do Instituto (I.M.I.), Dr. Gustavo Geley. Este, dirigiu então, oficialmente, em 14 de junho de 1923, ao “Matin”, a seguinte carta: 

     Sr. Redator Chefe: 
     Em resposta ao artigo intitulado – Uma declaração do Prof. Dickson – aparecida no “Matin” de 9 de junho, pedimos-lhe a fineza de inserir em seu jornal a nota seguinte: - O Instituto Metapsíquico se associa ao desafio lançado pelo prestidigitador Dickson e oferece por seu turno uma soma de 10.000 francos, não só ao Sr. Dickson, como a qualquer prestidigitador que conseguir reproduzir, sem o concurso de um médium, e nas mesmas condições de “controle” do I.M.I., os fenômenos constantes da relação assinada por 34 nomes eminentes e publicadas por extenso pelo “Matin” de 1 de junho. 
     O I.M.I. entregará a soma de 10.000 francos ao presidente do júri. Se o prestidigitador conseguir realizar as condições do desafio, retomará os seus 10.000 francos depositados e ficará com a plena propriedade dos 10.000 francos do Instituto. No caso contrário, o Instituto retirará, apenas, os seus 10.000 francos e os do prestidigitador serão entregues ao “Matin”, em proveito dos laboratórios.  
      O prestidigitador será submetido exatamente à mesma fiscalização que o nosso médium. Ele virá ao Instituto, será despido e examinado por dois dos signatários do relatório, revestido de um pijama sem bolsos, fornecido por nós. 
     Só nesse momento entrará na sala de sessões; será seguro pelas mãos; seus pulsos serão presos aos pulsos de dois fiscalizadores por uma fita curta, duplamente lacrada;  seus pés e suas pernas serão imobilizados. 
     Como nas sessões do I.M.I., serão os assistentes ligados uns aos outros por cadeados e correntes, que os prenderão mão a mão, em torno de uma mesa; todas as portas e aberturas serão fechadas antes de começar a sessão e seladas por meio de cintas de papel, revestidas das assinaturas dos presentes. 
     Nessas condições, o prestidigitador deverá reproduzir os fenômenos de Guzik: - deslocamentos amplos de uma cadeira ou mesa colocados a 1m, 50 atrás de si; toques feitos na cabeça e nas costas dos fiscalizadores; fenômenos luminosos a distância. 
     Diz o adágio jurídico que pertence ao acusador fazer a prova. O Sr. Dickson, em nome da prestidigitação, acusa; nós lhe oferecemos, a ele ou à qualquer prestidigitador, provar o fundamento da acusação. 
     Receba, Sr. Redator Chefe, a segurança... 
     Pelo Instituto Metapsiquico Internacional, 
     O Diretor - Gustavo Geley. 
     
     Como se lê, o que o diretor do Instituto oferecia ao prestidigitador pela quantia de 10.000 francos, era reproduzir os fenômenos de Guzik, tais como este os fazia, com o “controle” exercido pelo Instituto, isto é, o prestidigitador deveria sujeitar-se à fiscalização a que Guzik se sujeitara. 
     Ótima oportunidade para que o mágico demonstrasse o ilusionismo da fenomenologia psíquica; como o convite fora feito ao Dickson, em particular, e aos mágicos em geral, a oportunidade era ótima para que dela se aproveitassem todos os que proclamam a fácil imitação dos processos espíritas. 
     Pois o Dickson não apareceu no Instituto. Nem o Dickson, nem nenhum outro. A abstenção foi completa. 
     Não se trata de um caso isolado, nem seria a primeira vez que um ilusionista, chamado à prova, depois de assegurar as suas habilidades em matéria de imitação psíquica, se veria na contingência de evadir-se, ao lhe imporem as condições de “controle” estabelecidas para os médiuns. Não há, na história dos fatos parapsíquicos, um prestidigitador que se tenha saído feliz, quando se mete a reptar um médium verdadeiro ou a demonstrar-lhe os truques, desde que submetido às mesmas condições daquele. De boca todos o fazem, mas não na prática, vistoriado e controlado por argutos e perspicazes experimentadores.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

123) Um livro que merece ser reeditado: "Silva Mello e os Seus Mistérios", do Dr. Sérgio Valle.

 Apresentemo-lo pela pena do grande escritor espírita brasileiro, Dr. Carlos Imbassahy:
     "O Dr. Antônio da Silva Mello, médico, profissional de fama, já se havia celebrizado nas letras por várias obras, umas de fundo científico, outras de cunho filosófico. Médico e autor, que deixava atrás de si um rastro de admiração e entusiasmo, rastro luminoso como o de certos meteoros quando sulcam o espaço."
     "Mas a admiração subiu de ponto, quando apareceu o seu último trabalho, intitulado 'Mistérios e Realidades Deste e do Outro Mundo'. Já a admiração se transformava em assombro. Eram seiscentas páginas compactas, maciças, de 'provas' contra os fenômenos espíritas. Em meio aos cortes e recortes, às transcrições de livros, aos nomes de autores que ninguém conhecia, mas que eram precedidos de adjetivos sonoros, no meio de todos os temperos com que condimentou o seu guizado, o Dr. Mello, com as tintas da sua psicologia, resolveu entrar com o fator sugestivo, e começou a fazer com que o leitor se sugestionasse, acreditando na autenticidade das citações, na irrefragabilidade da argumentação, na impecabilidade da construção, na sublimidade da obra."
     "E a coisa pegou. Pegou, ao que parece, a julgar-se pelos encômios que choviam de toda a parte, como as luzes dos fogos de bengala. É que o médico dizia: -- 'acreditem em mim, eu estou dizendo a verdade, é isso mesmo, estou fazendo obra muito útil'..."
     "O pessoal foi caindo... E os elogios vieram cantando, e se os pudéssemos musicar, teríamos composto um hino de louvores, um poema, uma "silvíada", ou coisa que lembrasse a epopeia de Camões."  
     "Não há mal, porém, que sempre perdure, nem bem que nunca se acabe. Assim é que apareceu em cena, sem que ninguém esperasse, o Dr. Sérgio Valle, colega do outro, e lançou o seu formidável contra-libelo -- 'Silva Mello e os Seus Mistérios'."
     "Cientista como o autor dos Mistérios, médico como ele, escritor de pulso, ainda leva sobre o seu adversário a vantagem do estilo, de uma ironia, talvez a pior para o antagonista, porque é aquela que faz rir, e o riso do leitor, atuando como um pé de vento, põe em baixo, com uma só rajada, o volumoso castelo de papelão que o Dr. Silva Mello havia armado com tanto jeito."
     "Os pontos do livro do escritor anti-psíquico que Sérgio Valle analisa, são para logo arrasados. Foi uma contra-ofensiva inesperada, com todos os sintomas de ataque fulminante. Não fica nada de pé: é uma destruição apocalíptica."
     "Por falta de sorte, teve Mello que se avir com com um antagonista temível, sob o ponto de vista literário. Sérgio Valle escreve bem, argumenta bem, ironiza bem. Está senhor do terreno. Dir-se-ia que, como um estrategista da pena, sondou as posições do adversário, viu-lhe a vulnerabilidade, onde todos julgavam a fortaleza inexpugnável, e caiu-lhe em cima com um vigor, uma habilidade e uma inteligência desnorteantes."
     "Nem o ilustre Mello se poderá queixar. Dele partiu a ofensiva, violenta e mascarada. Di-lo muito bem Sérgio Valle: -- 'O duelo entre mim e o colega Silva Mello nasceu da provocação insólita dos Mistérios. Foi ele quem escolheu o campo no qual nos enterreiramos, quem elegeu o pretexto, a maneira e o estilo de resolvê-lo. Forçou-nos àquela situação descrita por Euclides da Cunha, no estouro da boiada, quando o vaqueiro se arremessa, impetuoso, na esteira dos destroços, enristado o ferrão, rédeas soltas, soltos os estribos, estirado sobre o lombo, preso às crinas do cavalo'. "
     "Disse... e lavou as mãos. E, agora, tome lenha. Lenha que, no caso, atuou como específico. Bom médico, viu logo que o doente precisava de um remédio forte."

     Ao mesmo tempo em que o Dr. Sérgio Valle escrevia o seu livro, os escritores Carlos Imbassahy (já citado) e Pedro Granja também preparavam o seu, a que puseram o título "Fantasmas, Fantasias e Fantoches" (que também mereceria ser reeditado), refutando os argumentos do Dr. Silva Mello. Escreve Imbassahy:
     "O Dr. Mello teve uma habilidade rara, a de não deixar escapar nenhuma das anedotas que correm mundo, a respeito das experiências clássicas da Metapsíquica, isto de envolta com o relato de fraudes que existem, e sempre existiram, e hão de existir, enquanto houver fraudulentos e embusteiros, para atestar a má qualidade do barro com que fomos forjados."
     "Quem quiser um vasto repositório de inverdades, baboseiras, frivolidades, invenções ridículas, confissões inverossímeis, auto-acusações, burlas imaginárias, é só pegar o livro do doutor: há ali uns indivíduos que vieram dizer que os médiuns trapaceavam, sem se saber que idoneidade tinham; outros relatam confissões de médiuns feitas a eles, ali ao pé do ouvido, às vezes quando o médium expirava e não podia desmenti-los; outros, não se sabe porquê, substituíam-se ao sacerdote nessas confissões; as confissões, em regra, só estouram depois da morte do mistificador; outros dizem que sabem como a coisa foi feita pelo hipotético burlão, mas não aceitam submeter-se às mesmas condições a que os médiuns verdadeiros ficaram sujeitos, para que provem de uma vez a farsa na produção dos fenômenos. Em algumas vezes, são umas acusações imprecisas, vagas, onde não aparece ninguém, onde não se vê o nome do acusador. Outras vezes são o Paul Heuzé, o Max Dessoir e quejandos, que nada viram e nada experimentaram, já várias vezes desmoralizados pelos psiquistas sérios, que desmentiram publicamente suas falsas informações."
     "E naquele vê-se, ouve-se, sabe-se, sente-se, diz-se, contou-se, está a condenação formal, a perda irremediável das mais comprovadas, das mais graníticas experiências, realizadas por centenas de cientistas e filósofos de vários países do mundo, que se cercaram de todos os cuidados, de todos os apetrechos e instrumentos necessários para elidir a fraude."

     Finalizemos com o texto de um grande psiquista francês, investigador profundo dos fenômenos paranormais, também médico, Dr. Gustave Geley, em seu livro "Resumo da Doutrina Espírita":
     "Os fenômenos espíritas têm sido observados por muitíssimas testemunhas conscientes e por muitíssimos sábios ilustres que os controlaram, para que hoje se possam negar a priori. E mais ainda: ninguém tem o direito de combater, sem prévia contra-experimentação, as conclusões experimentais dos Robert Hare, William Crookes, Russel Wallace, Cromwell Varley, Henry Sidgwick, Edmund Gurney, Alexandre Aksakof, Friedrich Zöllner, Carl du Prel, Paul Gibier, Dale Owen, James Hyslop, Richard Hodgson, Frank Podmore, Oliver Lodge, William Barrett, Frederic Myers, César Lombroso, Enrico Morselli, Albert de Rochas, Charles Richet, Camille Flammarion, César de Vesme, Julian Ochorowicz, Schrenck-Notzing, Ernesto Bozzano, e tantos outros não menos ilustres."
     "Justificada ou não justificada, a doutrina espírita é suficientemente grandiosa para suscitar discussão profunda aos pensadores, aos cientistas e aos filósofos."
     "E muitos deles, depois de sério exame, concluirão certamente que uma doutrina baseada em fatos experimentais tão numerosos e precisos, de acordo com os conhecimentos científicos dos diversos ramos da atividade humana; que dá solução clara e satisfatória dos grandes problemas psicológicos e metafísicos; que uma doutrina assim, repito, é verossímil. Chegarão até a afirmar que deve ser verdadeira, que é muito provavelmente verdadeira."
     "Em todo o caso, não se trata já de quimeras, de se deixar embalar por 'velhas canções', ou de dormitar sobre a 'fofa almofada da dúvida'. Devemos saber, queremos saber, podemos saber." (...)
     "A imortalidade -- dizia Pascal -- importa-nos tanto, interessa-nos tão profundamente, que é preciso ter perdido todo o sentimento para demonstrar indiferença por ela."