sábado, 31 de agosto de 2019

125) Ernesto Bozzano, o grande mestre da ciência da alma, faz alvissareiras previsões sobre o futuro da humanidade. Quando elas se efetivarão?

     Texto de autoria de Francesco Leti, sobre o filósofo espiritualista Ernesto Bozzano, publicado em março de 1936, no "Reformador", órgão oficial da Federação Espírita Brasileira. Ei-lo:

     Ernesto Bozzano, entre os pioneiros dos estudos da fenomenologia paranormal, é certamente o que ocupa o grau mais elevado, o posto mais eminente, pela profundeza e genialidade da sua mente, pela agudeza incomparável da sua análise, pelo conhecimento vasto e profundo que possui do assunto de que trata. Quando a ciência conseguir demonstrar a sobrevivência da alma e começar a ensiná-la das cátedras universitárias, nesse dia, finalmente, se iniciará uma profunda revolução, que transformará e redimirá seriamente a humanidade.
     Num recente artigo na revista "A Pequisa Psíquica", Ernesto Bozzano escreveu estas palavras de ouro: 
     Quando luzir a alvorada do grande dia em que, das cátedras universitárias se anunciará, a uma humanidade sequiosa de penetrar o mistério do ser, que a ciência há chegado, afinal, a demonstrar experimentalmente a existência e sobrevivência do espírito humano, iniciar-se-á a transformação, a reconstituição, a redenção espiritual da humanidade civilizada, dado que uma coisa é crer por um "ato de fé", e outra, bem diversa, o saber, por comprovação científica, que o espírito humano sobrevive à morte do corpo. Quando se der o grande acontecimento, despontará a alvorada de uma nova era no horizonte do cognoscível humano, em que as bases do saber terreno deixarão de se assentar sobre a concepção mecânico-materialista do universo, para se estabelecerem sobre a concepção dinâmico-espiritualista do ser, com todas as consequências éticas, filosóficas, sociais e morais que daí decorrerão. Nesse dia, já não haverá disputas entre os doutos acerca da existência de uma ética na vida, porque todos conhecerão as bases de uma ética superior, e cada pessoa fará o melhor possível para moldar a sua própria transformação diante da vida de além-túmulo. E como os povos são constituídos por pessoas, não haverá mais no mundo nações antagônicas: realizada estará, ao contrário, a unidade harmônica da grande família humana. Já não haverá partidos, seitas, utópicos fermentos sociais, flageladores da vida dos povos, porque reinará soberana uma lei espiritual compreendida e praticada espontaneamente por todos: fraternidade, solidariedade, amor, entre os peregrinos de um instante no mundo dos vivos. 

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

124) Os fenômenos paranormais, em sua totalidade, são fruto de embustes, dizem os prestidigitadores; pois provem, retruca o Dr. Geley.

      Carlos Imbassahy                  Gustavo Geley 
                                                                             
Extraio o conteúdo abaixo do livro "O Espiritismo à Luz dos Fatos" (5a. ed., FEB, 1998), do escritor Carlos Imbassahy: 

     Quando o médium polonês Jean Guzik se submeteu à inspeção do Instituto Metapsíquico Internacional (I.M.I.) e produziu admiráveis fenômenos paranormais, um grupo seleto de intelectuais franceses, entre os quais se achavam grandes notabilidades científicas do país, firmou um abaixo assinado, denominado o Relatório dos 34, onde os signatários concluíam pela autenticidade irrefragável dos fatos que tinham testemunhado e submetido à mais rigorosa experimentação. 
     Tal relatório, como é de ver, dado o valor dos que o subscreveram, produziu, nuns, profunda emoção e, noutros, grande azáfama. Sobressaltaram-se os adversários dos estudos psíquicos e não faltaram os que, sem nada haver presenciado, inquinassem logo de fraude tudo aquilo. Os leigos opinaram pelo embuste; a coisa se resumia, nem mais nem menos, do que nisso: - “prestidigitação”. Ou seja: tudo jogo de mãos, e talvez de pés. E aquela descoberta teve um reforço considerável: é que saiu a campo para roborá-la o prestidigitador Dickson. Este, com admiração geral, declarou pela imprensa que não havia  fenômeno nenhum extraordinário, senão truques, que ele reproduziria. Falava um perito! 
     Esta afirmativa de um prestidigitador animou, incentivou, desencadeou a campanha dos negativistas, e Dickson, envaidecido pelos aplausos, chegou a lançar um desafio pelo “Le Matin” de 9 de junho de 1923, onde se comprometia a reproduzir os fenômenos realizados por Guzik. 
     Foi quando o entrou em cena o diretor do Instituto (I.M.I.), Dr. Gustavo Geley. Este, dirigiu então, oficialmente, em 14 de junho de 1923, ao “Matin”, a seguinte carta: 

     Sr. Redator Chefe: 
     Em resposta ao artigo intitulado – Uma declaração do Prof. Dickson – aparecida no “Matin” de 9 de junho, pedimos-lhe a fineza de inserir em seu jornal a nota seguinte: - O Instituto Metapsíquico se associa ao desafio lançado pelo prestidigitador Dickson e oferece por seu turno uma soma de 10.000 francos, não só ao Sr. Dickson, como a qualquer prestidigitador que conseguir reproduzir, sem o concurso de um médium, e nas mesmas condições de “controle” do I.M.I., os fenômenos constantes da relação assinada por 34 nomes eminentes e publicadas por extenso pelo “Matin” de 1 de junho. 
     O I.M.I. entregará a soma de 10.000 francos ao presidente do júri. Se o prestidigitador conseguir realizar as condições do desafio, retomará os seus 10.000 francos depositados e ficará com a plena propriedade dos 10.000 francos do Instituto. No caso contrário, o Instituto retirará, apenas, os seus 10.000 francos e os do prestidigitador serão entregues ao “Matin”, em proveito dos laboratórios.  
      O prestidigitador será submetido exatamente à mesma fiscalização que o nosso médium. Ele virá ao Instituto, será despido e examinado por dois dos signatários do relatório, revestido de um pijama sem bolsos, fornecido por nós. 
     Só nesse momento entrará na sala de sessões; será seguro pelas mãos; seus pulsos serão presos aos pulsos de dois fiscalizadores por uma fita curta, duplamente lacrada;  seus pés e suas pernas serão imobilizados. 
     Como nas sessões do I.M.I., serão os assistentes ligados uns aos outros por cadeados e correntes, que os prenderão mão a mão, em torno de uma mesa; todas as portas e aberturas serão fechadas antes de começar a sessão e seladas por meio de cintas de papel, revestidas das assinaturas dos presentes. 
     Nessas condições, o prestidigitador deverá reproduzir os fenômenos de Guzik: - deslocamentos amplos de uma cadeira ou mesa colocados a 1m, 50 atrás de si; toques feitos na cabeça e nas costas dos fiscalizadores; fenômenos luminosos a distância. 
     Diz o adágio jurídico que pertence ao acusador fazer a prova. O Sr. Dickson, em nome da prestidigitação, acusa; nós lhe oferecemos, a ele ou à qualquer prestidigitador, provar o fundamento da acusação. 
     Receba, Sr. Redator Chefe, a segurança... 
     Pelo Instituto Metapsiquico Internacional, 
     O Diretor - Gustavo Geley. 
     
     Como se lê, o que o diretor do Instituto oferecia ao prestidigitador pela quantia de 10.000 francos, era reproduzir os fenômenos de Guzik, tais como este os fazia, com o “controle” exercido pelo Instituto, isto é, o prestidigitador deveria sujeitar-se à fiscalização a que Guzik se sujeitara. 
     Ótima oportunidade para que o mágico demonstrasse o ilusionismo da fenomenologia psíquica; como o convite fora feito ao Dickson, em particular, e aos mágicos em geral, a oportunidade era ótima para que dela se aproveitassem todos os que proclamam a fácil imitação dos processos espíritas. 
     Pois o Dickson não apareceu no Instituto. Nem o Dickson, nem nenhum outro. A abstenção foi completa. 
     Não se trata de um caso isolado, nem seria a primeira vez que um ilusionista, chamado à prova, depois de assegurar as suas habilidades em matéria de imitação psíquica, se veria na contingência de evadir-se, ao lhe imporem as condições de “controle” estabelecidas para os médiuns. Não há, na história dos fatos parapsíquicos, um prestidigitador que se tenha saído feliz, quando se mete a reptar um médium verdadeiro ou a demonstrar-lhe os truques, desde que submetido às mesmas condições daquele. De boca todos o fazem, mas não na prática, vistoriado e controlado por argutos e perspicazes experimentadores.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

123) Um livro que merece ser reeditado: "Silva Mello e os Seus Mistérios", do Dr. Sérgio Valle.

 Apresentemo-lo pela pena do grande escritor espírita brasileiro, Dr. Carlos Imbassahy:
     "O Dr. Antônio da Silva Mello, médico, profissional de fama, já se havia celebrizado nas letras por várias obras, umas de fundo científico, outras de cunho filosófico. Médico e autor, que deixava atrás de si um rastro de admiração e entusiasmo, rastro luminoso como o de certos meteoros quando sulcam o espaço."
     "Mas a admiração subiu de ponto, quando apareceu o seu último trabalho, intitulado 'Mistérios e Realidades Deste e do Outro Mundo'. Já a admiração se transformava em assombro. Eram seiscentas páginas compactas, maciças, de 'provas' contra os fenômenos espíritas. Em meio aos cortes e recortes, às transcrições de livros, aos nomes de autores que ninguém conhecia, mas que eram precedidos de adjetivos sonoros, no meio de todos os temperos com que condimentou o seu guizado, o Dr. Mello, com as tintas da sua psicologia, resolveu entrar com o fator sugestivo, e começou a fazer com que o leitor se sugestionasse, acreditando na autenticidade das citações, na irrefragabilidade da argumentação, na impecabilidade da construção, na sublimidade da obra."
     "E a coisa pegou. Pegou, ao que parece, a julgar-se pelos encômios que choviam de toda a parte, como as luzes dos fogos de bengala. É que o médico dizia: -- 'acreditem em mim, eu estou dizendo a verdade, é isso mesmo, estou fazendo obra muito útil'..."
     "O pessoal foi caindo... E os elogios vieram cantando, e se os pudéssemos musicar, teríamos composto um hino de louvores, um poema, uma "silvíada", ou coisa que lembrasse a epopeia de Camões."  
     "Não há mal, porém, que sempre perdure, nem bem que nunca se acabe. Assim é que apareceu em cena, sem que ninguém esperasse, o Dr. Sérgio Valle, colega do outro, e lançou o seu formidável contra-libelo -- 'Silva Mello e os Seus Mistérios'."
     "Cientista como o autor dos Mistérios, médico como ele, escritor de pulso, ainda leva sobre o seu adversário a vantagem do estilo, de uma ironia, talvez a pior para o antagonista, porque é aquela que faz rir, e o riso do leitor, atuando como um pé de vento, põe em baixo, com uma só rajada, o volumoso castelo de papelão que o Dr. Silva Mello havia armado com tanto jeito."
     "Os pontos do livro do escritor anti-psíquico que Sérgio Valle analisa, são para logo arrasados. Foi uma contra-ofensiva inesperada, com todos os sintomas de ataque fulminante. Não fica nada de pé: é uma destruição apocalíptica."
     "Por falta de sorte, teve Mello que se avir com com um antagonista temível, sob o ponto de vista literário. Sérgio Valle escreve bem, argumenta bem, ironiza bem. Está senhor do terreno. Dir-se-ia que, como um estrategista da pena, sondou as posições do adversário, viu-lhe a vulnerabilidade, onde todos julgavam a fortaleza inexpugnável, e caiu-lhe em cima com um vigor, uma habilidade e uma inteligência desnorteantes."
     "Nem o ilustre Mello se poderá queixar. Dele partiu a ofensiva, violenta e mascarada. Di-lo muito bem Sérgio Valle: -- 'O duelo entre mim e o colega Silva Mello nasceu da provocação insólita dos Mistérios. Foi ele quem escolheu o campo no qual nos enterreiramos, quem elegeu o pretexto, a maneira e o estilo de resolvê-lo. Forçou-nos àquela situação descrita por Euclides da Cunha, no estouro da boiada, quando o vaqueiro se arremessa, impetuoso, na esteira dos destroços, enristado o ferrão, rédeas soltas, soltos os estribos, estirado sobre o lombo, preso às crinas do cavalo'. "
     "Disse... e lavou as mãos. E, agora, tome lenha. Lenha que, no caso, atuou como específico. Bom médico, viu logo que o doente precisava de um remédio forte."

     Ao mesmo tempo em que o Dr. Sérgio Valle escrevia o seu livro, os escritores Carlos Imbassahy (já citado) e Pedro Granja também preparavam o seu, a que puseram o título "Fantasmas, Fantasias e Fantoches" (que também mereceria ser reeditado), refutando os argumentos do Dr. Silva Mello. Escreve Imbassahy:
     "O Dr. Mello teve uma habilidade rara, a de não deixar escapar nenhuma das anedotas que correm mundo, a respeito das experiências clássicas da Metapsíquica, isto de envolta com o relato de fraudes que existem, e sempre existiram, e hão de existir, enquanto houver fraudulentos e embusteiros, para atestar a má qualidade do barro com que fomos forjados."
     "Quem quiser um vasto repositório de inverdades, baboseiras, frivolidades, invenções ridículas, confissões inverossímeis, auto-acusações, burlas imaginárias, é só pegar o livro do doutor: há ali uns indivíduos que vieram dizer que os médiuns trapaceavam, sem se saber que idoneidade tinham; outros relatam confissões de médiuns feitas a eles, ali ao pé do ouvido, às vezes quando o médium expirava e não podia desmenti-los; outros, não se sabe porquê, substituíam-se ao sacerdote nessas confissões; as confissões, em regra, só estouram depois da morte do mistificador; outros dizem que sabem como a coisa foi feita pelo hipotético burlão, mas não aceitam submeter-se às mesmas condições a que os médiuns verdadeiros ficaram sujeitos, para que provem de uma vez a farsa na produção dos fenômenos. Em algumas vezes, são umas acusações imprecisas, vagas, onde não aparece ninguém, onde não se vê o nome do acusador. Outras vezes são o Paul Heuzé, o Max Dessoir e quejandos, que nada viram e nada experimentaram, já várias vezes desmoralizados pelos psiquistas sérios, que desmentiram publicamente suas falsas informações."
     "E naquele vê-se, ouve-se, sabe-se, sente-se, diz-se, contou-se, está a condenação formal, a perda irremediável das mais comprovadas, das mais graníticas experiências, realizadas por centenas de cientistas e filósofos de vários países do mundo, que se cercaram de todos os cuidados, de todos os apetrechos e instrumentos necessários para elidir a fraude."

     Finalizemos com o texto de um grande psiquista francês, investigador profundo dos fenômenos paranormais, também médico, Dr. Gustave Geley, em seu livro "Resumo da Doutrina Espírita":
     "Os fenômenos espíritas têm sido observados por muitíssimas testemunhas conscientes e por muitíssimos sábios ilustres que os controlaram, para que hoje se possam negar a priori. E mais ainda: ninguém tem o direito de combater, sem prévia contra-experimentação, as conclusões experimentais dos Robert Hare, William Crookes, Russel Wallace, Cromwell Varley, Henry Sidgwick, Edmund Gurney, Alexandre Aksakof, Friedrich Zöllner, Carl du Prel, Paul Gibier, Dale Owen, James Hyslop, Richard Hodgson, Frank Podmore, Oliver Lodge, William Barrett, Frederic Myers, César Lombroso, Enrico Morselli, Albert de Rochas, Charles Richet, Camille Flammarion, César de Vesme, Julian Ochorowicz, Schrenck-Notzing, Ernesto Bozzano, e tantos outros não menos ilustres."
     "Justificada ou não justificada, a doutrina espírita é suficientemente grandiosa para suscitar discussão profunda aos pensadores, aos cientistas e aos filósofos."
     "E muitos deles, depois de sério exame, concluirão certamente que uma doutrina baseada em fatos experimentais tão numerosos e precisos, de acordo com os conhecimentos científicos dos diversos ramos da atividade humana; que dá solução clara e satisfatória dos grandes problemas psicológicos e metafísicos; que uma doutrina assim, repito, é verossímil. Chegarão até a afirmar que deve ser verdadeira, que é muito provavelmente verdadeira."
     "Em todo o caso, não se trata já de quimeras, de se deixar embalar por 'velhas canções', ou de dormitar sobre a 'fofa almofada da dúvida'. Devemos saber, queremos saber, podemos saber." (...)
     "A imortalidade -- dizia Pascal -- importa-nos tanto, interessa-nos tão profundamente, que é preciso ter perdido todo o sentimento para demonstrar indiferença por ela."