sexta-feira, 14 de abril de 2017

113) Breve resumo das teorias anti-espíritas, por César Lombroso, e sua refutação, anos depois, por ele mesmo, após meticuloso estudo dos fenômenos.

   Resumo das teorias anti-espíritas

     Examinemos o que ocorre quando há transmissão do pensamento. Em certas condições, muito raras, a energia do movimento cerebral, a que chamamos pensamento, se transmite a uma distância pequena ou considerável. Ora, do mesmo modo que essa energia se transmite, pode também transformar-se, e a energia das células nervosas pode tornar-se energia motriz (de movimento); há, no cérebro, aglomerações de substância nervosa (centros motores) que presidem os movimentos e que, quando irritados, como nos epilépticos, provocam movimentos muito violentos nos órgãos motores. Objetar-me-ão que, nos fenômenos mediúnicos, esses movimentos não têm, como intermediário, os músculos, que são o meio mais comum de transmissão dos movimentos; mas o pensamento também, nos casos de transmissão, não se serve de seus meios ordinários de comunicação, que são a mão e a laringe. Nesses casos, portanto, o meio de comunicação é o que serve a todas as energias, o próprio espaço, pelo qual se transmitem as ondas luminosas, elétricas, etc.. Não vemos o ímã fazer mover o ferro sem intermediário visível? 
     Nos fatos espíritas, o movimento tem uma forma, aproximando-se mais da volitiva, porque parte de um motor que é, ao mesmo tempo, um centro psíquico: o córtex cerebral. A grande dificuldade consiste em admitir o cérebro como órgão do pensamento e o pensamento como um movimento, porque, em Física, não há dificuldade em admitir-se que as energias se transformam, e que uma energia motriz pode tornar-se luminosa ou calorífica. Por esse motivo, muitas vezes se veem pequenas luzes próximas à cabeça do médium.
     Depois da obra do Sr. Pierre Janet sobre o automatismo inconsciente, não se tem mais que buscar explicar o caso dos médiuns escreventes. Esse médium, que acredita escrever sob o ditado de Tasso ou de Ariosto e que compõe versos indignos de um colegial, age em estado de semi-sonambulismo, no qual, graças à ação preponderante do hemisfério direito, durante a inatividade do esquerdo, ele não tem consciência do que faz, e acredita escrever sob o ditado de um outro. Esse estado de atividade inconsciente explica os movimentos e os gestos que a mão pode fazer, sem que participem disso o resto do corpo e o indivíduo, e que parecem ser o efeito de uma intervenção estranha.
     Muitos fatos espíritas são apenas o efeito da transmissão do pensamento dos assistentes, colocados junto ao médium, ao redor da mesa que, até certo ponto, favorece essa transmissão, pois, como observei outrora, as transmissões chegam mais facilmente quando se está a pequena distância do médium, e melhor para as pessoas que estão em maior contato com ele. A mesa, ao redor da qual se forma a cadeia, é uma causa de fácil contato e uma causa certa de aproximação. Sempre vi os fatos espíritas (deslocamento de objetos, luzes, contato de mãos) darem-se mais frequentemente em torno do médium, ou ao redor das pessoas que estão mais perto dele.
     Quando a mesa dá uma resposta exata (por exemplo, quando ela diz a idade de uma pessoa só por esta conhecida), quando cita um verso em língua que o médium não conhece, o que enche de assombro os profanos, isso sucede porque um dos assistentes conhece essa idade, esse nome, esse verso, e neles fixa o seu pensamento vivamente concentrado na ocasião da sessão, e transmite o seu pensamento ao médium, que o exprime por seus atos, pela palavra, ou pela escrita. Se no círculo formado ao redor da mesa misteriosa, não houver pessoa que saiba o latim, a mesa não fala o latim. O público grosseiro, porém, que não faz esse raciocínio. acredita logo que o médium fala o latim por inspiração dos Espíritos, e crê também que pode conversar com os mortos. Nada mais sendo os mortos que um acúmulo de substâncias inorgânicas, dizer-se isto equivale a pretender que as pedras pensem ou possam falar. (...)
     Durante o chamado "transe" dos médiuns, ocorre a interrupção das funções de alguns centros cerebrais, ao mesmo tempo que o crescimento da atividade de outros centros, especialmente os dos centros motores. Eis aí a causa dos singulares fenômenos mediúnicos. (...) Em momentos de profunda emoção, os moribundos pensam numa pessoa querida e ausente com toda a energia do período pré-agônico, e seu pensamento se transmite àquela pessoa sob a forma de imagem, e aí temos o fantasma a que chamam hoje alucinação verídica ou telepática. (...)
     Por ora, todavia, desconfiemos da pretendida finura de espírito a qual consiste em crer que todos os médiuns são impostores e em supor que só nós somos os sapientes, pois esta absurda pretensão também nos pode afundar no erro.
     
     Turim, 1892.
     Cesare Lombroso.

(Extraído do livro "O Fenômeno Espírita", de Gabriel Delanne, ed. FEB). 


Refutação a esta teoria, pelo próprio Lombroso, anos depois

     Ermacora observou-me que a energia do movimento vibratório decresce na razão do quadrado da distância; desse modo, se se pode explicar a transmissão do pensamento a pequena distância, incompreensíveis se tornam os casos de telepatia de um a outro hemisfério da Terra e que vai atingir os percipientes sem se desviar e sem se desgastar, mantendo um paralelismo por milhares de quilômetros e partindo de um instrumento não instalado sobre uma base imóvel. Quanto às explicações intentadas aos médiuns escreventes, elas de nada serviriam para aqueles que escrevem, ao mesmo tempo, duas comunicações com as duas mãos, e conservam inalterada a sua consciência. Neste caso, os médiuns deveriam ter três ou quatro hemisférios.
     E os casos, diremos crônicos, dos lugares assombrados, nos quais, por muitos anos, às vezes séculos, se repetem as aparições de fantasmas e os ruídos, acompanhados da lenda de mortes trágicas e súbitas que antecederam as aparições, sem a presença de um médium, e que ali perduram não obstante a mudança de inquilinos, enquanto não mais se manifestam nas novas habitações destes, falam contra a ação exclusiva dos médiuns e a favor da ação dos trespassados. (...)

     Os médiuns manifestam, durante o transe, certas energias motrizes, intelectuais e cognitivas, que eles não têm antes, e que só em alguns casos se pode explicar pela transmissão de pensamento dos presentes, pela telepatia, exigindo pois uma explicação especial, qual a de integrar a energia mediúnica com outra energia, ainda que fragmentária e transitória, porém que adquire, por alguns momentos, com a integração do médium, potência superior. Esta energia, da tradição de todos os tempos e de todos os povos, e que agora entrou para a observação experimental, é mostrada na ação resídua dos mortos. (...)

     Lembro aqui que os povos primitivos, que criam nos magos e até os produziam artificialmente, atribuíam grande poder a esses seus médiuns, um poder que se baseava, em mor parte, no conselho e auxílio dos Espíritos. E no poder dos Espíritos dos mortos creem também todos os povos ainda selvagens do mundo (e esta foi a base de todas as religiões), com uma tenacidade e uma uniformidade que deve ser tida, se não como prova, ao menos como um indício importante da verdade. (...)

     O médium não pode apreender e logo manifestar o que sempre ignorou, se não está concentrado no pensamento dos assistentes à sessão, nem, sem a ajuda destes, pode desenvolver uma força muito maior que a sua própria; nem ter a energia que antes não possuía. Assim, quando adivinha o futuro; quando, sem estudos literários, escreve um romance; quando esboça uma escultura sem intervenção, ao menos momentânea, de um escultor; quando dá comunicações ignoradas por todos; quando escreve com os caracteres e com o estilo de falecidos desconhecidos dos presentes; tudo isso ocorre porque, à energia do médium, se associa uma outra que, transitoriamente, dá aos vivos condições que eles não possuem: ler o futuro, improvisar-se artistas, etc.. (...)

Costuma-se desprezar a opinião do homem do povo e do selvagem, mas se eles não possuem, para apreender a verdade, os grandes recursos dos cientistas, nem sua cultura, nem seus instrumentos de pesquisa, suprem a falta disso com múltiplas e seculares observações, cuja resultante acaba por ser superior à do maior gênio científico. E assim o fenômeno da queda dos meteoros para a Terra, a influência da Lua sobre a vida no nosso planeta, o contágio da tuberculose, a hereditariedade mórbida, tudo isso foi reconhecido primeiro pelo homem simples do povo, do qual os cientistas faziam não há muito, e talvez ainda hoje (as Academias existem para alguma coisa!), motivo para grandes gargalhadas...

     A circunstância de que, em todas as épocas da humanidade, e no seio de todos os povos, sejam eles civilizados, bárbaros ou selvagens, esteve sempre viva a crença em algo invisível, que sobrevive à morte do corpo, e que, sob o influxo de condições especiais, pode manifestar-se aos nossos sentidos, torna-me propenso a aceitar a hipótese espiritualista. Esta crença, nós a encontramos junto de todos os povos selvagens, mesmo entre aqueles tão pouco evoluídos que não têm nenhuma ideia da divindade, ou que a tem extremamente vaga. (...)

     Mas se cada um desses fenômenos nos pode ser ou parecer incerto, o conjunto de todos forma um compacto mosaico de provas resistentes aos ataques da mais severa dúvida.
     
     Turim, 1909.
     Cesare Lombroso.

(Extraído do livro "Hipnotismo e Mediunidade", de Lombroso, ed. FEB).

112) Exemplos de fenômenos paranormais anímicos (continuação do artigo anterior)

     Este artigo é uma sequência do anterior, em que procuro fornecer, pelo menos um exemplo (um, entre milhares) de cada um dos fenômenos paranormais, que Aksakof chamou anímicos (telepatia, clarividência e, eventualmente, precognição). Em nossa língua podem ser encontrados, às centenas, no "Tratado de Metapsíquica", de Charles Richet, em "O Desconhecido e os Problemas Psíquicos" e "A Morte e o Seu Mistério", estes de Camille Flammarion, além de em muitos outros autores. Poucas disciplinas científicas encontram o seu respaldo nos trabalhos de cientistas, filósofos e intelectuais de países tão distintos como: Estados Unidos, Reino Unido, França, Itália, Alemanha, Rússia, Polônia, Suíça, etc.. Citemos, mais uma vez, uma lista desses pensadores:
     
     Robert Hare, James J. Mapes, Enrico Morselli, Cesar de Vesme, Augustus de Margan, William Crookes, Cromwell Varley, Charles Richet, Oliver Lodge, William James, Richard Hodgson, James Hyslop, Russel Wallace, Filippo Bottazzi, Albert de Rochas, Alexander Aksakof, Alexander Butlerov, Friedrich Zöllner, Carl du Prel, Schrenck-Notzing, Elliott Coues, Dale Owen, Epes Sargent, Frederic Myers, Edmond Gurney, Frank Podmore, Henry Sidgwick, William Barrett, Dennis Bradley, W. J. Crawford, Arthur Findlay, Charles Tweedale, Conan Doyle, Stanley de Brath, Camille Flammarion, Paul Gibier, Gustave Geley, Eugène Osty, Alfredo Erny, Eugène Nus, Victorien Sardou, Émile Boirac, André Pezzani, Raoul Montandon, W. F. Neech, Walter Wynn, Hinrich Olhaver, Nandor Fodor, Joseph Maxwell, César Lombroso, Ernesto Bozzano, Julian Ochorowicz, Théodore Flournoy, René Sudre, Hans Driesch, etc.. 

     A maioria desses pensadores, antes cética, convenceu-se, através dos fatos, da existência e sobrevivência do espírito humano, com exceção de Morselli, Podmore, Osty, Flournoy e Sudre, os quais, embora aceitando a veracidade da fenomenologia parapsicológica, tudo atribuíam aos poderes paranormais da mente. Outros também chancelaram a fenomenologia, mas nunca se definiram claramente, pró ou contra a sobrevivência, como William James, Bottazzi, Sidgwick e Ochorowicz. Quanto ao grande Charles Richet (fundador da Metapsíquica e Prêmio Nobel de Medicina, falecido em 1935), aproximou-se gradualmente da verdade espiritualista, como se depreende pela leitura dos seus livros: "La Grande Esperance", 1933 ("A Grande Esperança", trad.), "Au Seuil du Mystère", 1934 ("No Limiar do Mistério", trad.) e "Au Secours!", 1935 ("Socorro!", sem trad.). É sabida a sua aceitação final da sobrevivência, como se pode constatar pela última carta enviada a seu amigo Ernesto Bozzano, precedida pela palavra confidencial, e publicada após sua morte pelo filósofo italiano. 
     Apenas a título de ilustração, nomearei um único e solitário caso de cada tipo de fenômeno citado no artigo anterior, hauridos nos trabalhos de Richet, "A Grande Esperança", e em seu discurso de despedida da cátedra da Sorbonne (advirto que estes casos estão muito resumidos, e podem ser lidos, com muito mais desenvolvimento e detalhes, no "Tratado de Metapsíquica", e nos livros já citados de Flammarion).  

Telepatia
     No camarote do seu iate, na Índia, o Sr. Frederic Wingfield Baker, ao se deitar, divisa distintamente seu irmão, Richard Wingfield Baker, sentado numa cadeira em frente, pálido e triste. Mas seu irmão inclina a cabeça, sem responder ao seu nome. Era cerca de meia noite. Essa visão foi tão nítida e angustiante que F. W. B. se levantou e saiu do camarote. Escreveu então em sua agenda: "Aparição. Noite de quinta-feira, 20 de março, Richard Wingfield Baker. Deus não o permita".
     Três dias depois, F. W. Baker recebe a notícia de que seu irmão, R. W. Baker, morrera, quinta-feira, dia 20 de março, às 20h30min, na Inglaterra, em seguida a terríveis ferimentos ocasionados por uma queda de cavalo, durante uma caçada. 

Clarividência
     Stephan Ossowietsky não é médium, é um fidalgo polonês, um engenheiro. Tem o poder de ler cartas fechadas, num invólucro absolutamente opaco. Ainda que não goste de demonstrar publicamente esse seu dom, a mim, a Geley e a outros tem dado provas de sua espantosa clarividência.
     Antes de eu partir de Paris para Varsóvia pedi à minha amiga, Sra. de Noailles que escrevesse diferentes frases em três envelopes, cuidadosamente lacrados, cujo conteúdo eu ignoro totalmente. Em Varsóvia, Stephan tomou um, ao acaso, de minhas mãos, e declarou: vou ler este. Depois de haver palpado o envelope entre suas mãos, disse: "É alguma coisa da natureza, dir-se-ia um grande poeta francês. Edmond Rostand. Há muita luz e à noite: são versos do Chantecler ditos pelo Galo".
     Ora, a Sra. de Noailles escrevera: "A noite é que é belo saber que existe a luz. Edmond Rostand. Estes versos do Chantecler são ditos pelo Galo". 

Precognição
     Na Sicília, o cavaleiro Giovanni de Figueroa, presidente do Clube de Esgrima de Palermo, sonha que chega diante de uma pequena casa. Há ali um homem com um grande chapéu preto que o recebe, o faz subir a um quarto por uma escada tortuosa, tendo batido com a mão na garupa de um animal que lhe impedia a passagem. No alto da escada havia um aposento tapetado de milho e cebolas, com uma grande cama de forma bizarra, e três mulheres, sendo uma jovem, outra velha e uma criança. Narrou o seu sonho, muito vivaz, à sua senhora e a outros amigos do Clube de Palermo.
     Alguns meses depois, é chamado como testemunha, para uma questão de honra, e o carro que o conduz, com seus acompanhantes, leva-o a uma aldeia do interior, que nem de nome conhece. Repentinamente, revê todos os pormenores do sonho: a casinha, um homem com um grande chapéu preto que o faz subir por uma tortuosa escada, depois de bater na anca da mula que lhe impedia a passagem. Ele sobe a escada, encontra um quarto abarrotado de milho e cebolas, e, diante de uma grande e bizarra se acham três mulheres, a jovem, a velha e a criança.    

Obs. minha: Cientistas e pesquisadores mais modernos, nos domínios da Parapsicologia, que são do meu conhecimento, podem ser mencionados nas pessoas e obras dos brasileiros Herculano Pires ("Parapsicologia Hoje e Amanhã"), Jayme Cerviño ("Além do Inconsciente") e Hernani G. Andrade ("Morte, Renascimento, Evolução", "Espírito, Perispírito e Alma", "Parapsicologia, Uma Visão Panorâmica", entre outras), além de J. B. Rhine, o fundador da Parapsicologia ("Novas Fronteiras da Mente", "O Alcance do Espírito", "O Novo Mundo do Espírito"), Alfred Still ("Nas Fronteiras da Ciência e da Parapsicologia"), Nils Jacobson (Vida Sem Morte?"), Ian Stevenson ("Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação", "Xenoglossia: Novos Estudos Científicos"), Karl Muller ("Reencarnação Baseada em Fatos"), H. N. Banerjee ("Vida Pretérita e Futura"), Jim Tucker ("Vida Antes da Vida"), George Meek ("O Que Nos Espera Depois da Morte"), Susan Blackmore ("Experiências Fora do Corpo"), Raymond Mood Jr. ("Vida Depois da Vida", "A luz Que Vem do Além"), Elizabeth Kübler-Ross ("A Morte: um Amanhecer", "O Túnel e a Luz"), Andrew Mackenzie ("Fantasmas e Aparições"), Alan Gauld ("Mediunidade e Sobrevivência"), Lawrence LeShan ("De Newton à Percepção Extra Sensorial", "O Médium, o Místico e o Físico"), Scott Rogo ("A Vida Depois da Morte", "A Mente e a Matéria"), Charles Tart ("O Fim do Materialismo"), Stanislav Grof ("A Aventura da Autodescoberta", "Psicologia do Futuro", "Além do Cérebro"). Ideias desses e de outros cientistas e pesquisadores modernos podem ser encontrados nas obras do Prof. Carlos Antônio Fragoso Guimarães, erudito psicólogo e sociólogo paraibano, autor de "Evidências da Sobrevivência", "Jung e os Fenômenos Psíquicos", "Poltergeist: O Dilema da Parapsicologia" e "Estados Diferenciados de Consciência e Mediunidade" (as duas últimas com o Prof. Carlos Alberto Tinoco).