terça-feira, 31 de dezembro de 2013

100) A mudança de paradigmas trazida pela Física Quântica

 
Amit Goswami
   

     Os parágrafos a seguir são extraídos do livro "O Universo Autoconsciente" (em inglês, "The Self-Aware Universe"), Editora Aleph Ltda., de autoria do físico indiano, naturalizado norteamericano, Amit Goswami, nascido em 1936, Doutor em Física Quântica, professor titular de física teórica da Universidade de Oregon, EUA, hoje aposentado. Refere ele:
     
     Os princípios da teoria quântica tornam possível abandonar as suposições injustificadas do realismo materialista. 

Suposição 1: Objetividade forte. A suposição básica feita pelo materialista é que há la fora um universo material objetivo, um universo onde as coisas acontecem, independentemente de nós. Essa suposição tem alguma validade operacional óbvia e frequentemente se presume que é necessária para praticar com seriedade a ciencia. Mas será ela realmente válida? A lição da Física Quântica é que um objeto quântico (um elétron, por exemplo), fora de uma medição científica, é um pacote de ondas de probabilidade que se espalham ao infinito, obedecendo à equação de Schrödinger. O ato de observá-lo faz com que entre em colapso instantaneamente o pacote quântico de ondas e se transforme numa partícula localizada. Além disso, nós é que escolhemos que aspecto -- ondas ou partículas -- objetos quânticos revelarão em uma dada situação. Sujeito e objeto estão inextricavelmente misturados. Se sujeito e objeto se entrelaçam dessa maneira, de que modo podemos manter a suposição da objetividade forte?
 
Suposição 2: Determinismo causal. Outra suposição do cientista clássico, que empresta credibilidade ao realismo materialista, diz que o mundo é fundamentalmente determinista -- que tudo que precisamos conhecer são as forças que atuam sobre cada objeto e as condições iniciais (a velocidade e a posição iniciais do objeto). O princípio da incerteza quântica, devido a Werner Heisenberg, afirma, contudo, que jamais poderemos determinar simultaneamente, com absoluta certeza, a velocidade e posição de um objeto quântico. Haverá sempre erro em nosso conhecimento das condições iniciais, e o determinismo estrito não prevalece. A própria ideia de causalidade torna-se mesmo suspeita. Uma vez que o comportamento de objetos quânticos é probabilístico, torna-se impossível uma descrição rigorosa de causa e efeito do comportamento de um objeto isolado. Em vez disso, temos uma causa estatística e um efeito estatístico quando falamos sobre um grande número de partículas.
 
Suposição 3: Localidade. A suposição da localidade -- que todas as interações entre objetos materiais são mediadas por meio de sinais locais que não podem ultrapassar a velocidade da luz, segundo a relatividade einsteiniana -- é fundamental para a ideia materialista de que eles existem basicamente independentes e separados uns dos outros. Se, contudo, ondas se espalham por enormes distâncias e, em seguida, instantaneamente desmoronam (colapsam) quando fazemos medições, então a influência da medição não viaja localmente. Por outro lado, experimentos realizados pelo cientista Alain Aspect comprovaram que elétrons correlacionados intercomunicam-se de modo instantâneo entre si. A localidade, portanto, é excluída em alguns fenômenos quânticos. Este contituiu outro golpe fatal no realismo materialista.
 
Suposição 4: Epifenomenalismo. O materialista sustenta que os fenômenos mentais subjetivos são apenas epifenômenos da matéria, isto é, são frutos do movimento de células cerebrais. Podem ser reduzidos apenas à questão do cérebro material. Se queremos compreender o comportamento de objetos quânticos, todavia, parece que precisamos introduzir a consciência -- nossa capacidade de escolher, através de uma experiência adequada, que tipo de comportamento desejamos obter -- ondas ou partículas -- de objetos quânticos.  Além do mais, parece absurdo que um epifenômeno da matéria possa afetá-la: se a consciência é um epifenômeno, de que modo pode ela provocar o colapso de uma onda espalhada de objeto quântico e transformá-la em uma partícula localizada quando realizamos uma medição quântica? 
 
Obs. minha: a propósito da noção de que o pensamento é apenas um epifenômeno da matéria cerebral, será que as moléculas de fósforo, carbono, oxigênio, hidrogênio, etc., do cérebro, com todas as suas propriedades físico-químicas, seriam capazes de explicar, por exemplo, os mais sublimes gestos de alguns seres humanos, como o amor ao próximo, a renúncia aos prazeres da vida, a doação de si mesmo, o sacrifício, a abnegação, o heroísmo, o martírio, por uma causa ou por um ideal? Ou, como dizia o astrônomo Flammarion, essas supremas atitudes de grandeza moral nada têm a ver com a Química, e denotam que o Espírito reside num mundo distinto do material, superior às vicissitudes e movimentos transitórios do mundo físico?

99) O que é ciência? Quais os seus objetivos? Opiniões de renomados cientistas e pensadores

A ciência é uma invenção do ser humano, evoluída através de uma seleção natural, no cortex cerebral, por uma razão muito simples: ela produz. Não é perfeita e pode ser mal utilizada. É somente uma ferramenta, mas até agora a melhor que temos, autocorretiva, progressiva, aplicável a tudo. Possui duas regras. Primeira: não existem verdades sagradas; todas as suposições devem ser examinadas criticamente; argumentos de autoridade não têm valor. Segunda: tudo que seja inconsistente com os fatos deve ser rejeitado ou revisto. Devemos compreender o Cosmos como ele é, e não confundir isso com como gostaríamos que fosse. (Carl Sagan)

Tanto a ciência é certa quando estabelece um fato, quanto é deploravelmente sujeita a erros, quando pretende estabelecer negações. (Charles Richet)

É preciso reafirmar que todas as descobertas científicas foram, em suas origens, perseguidas, ridicularizadas, escarnecidas, arrastadas às gemônias. (Charles Richet)

A ciência é obrigada, pela eterna lei de honra, a encarar de frente, e sem subterfúgios, qualquer fato novo que se lhe apresente à investigação. (Lord Kelvin)

As grandes ideias científicas não têm o costume de conquistar o mundo pela adesão dos seus adversários, que acabariam por se convencer, pouco a pouco, da sua veracidade, e por adotá-las. É sempre muito raro ver um Saulo tornar-se Paulo. O que acontece é que os adversários da ideia nova acabam por morrer e a geração seguinte é educada em outro momento, passando progressivamente a adotar a nova ideia. Quem possui a juventude, possui o futuro. (Max Planck)

O dever da ciência é procurar a verdade com plena independência de espírito, livre de toda ideia preconcebida. (René Descartes)

Fatos são fatos e, cedo ou tarde, abrirão caminho por si mesmos, malgrado a tudo e a todos. (Ernesto Bozzano)

Aquele que, fora das matemáticas puras, pronuncia a palavra impossível, revela imprudência. (François Arago)

Doravante, em termos de ciência, risquemos do nosso dicionário a palavra "impossível". (Sir Oliver Lodge)

Os cientistas, em relação a uma nova e revolucionária teoria, têm, em geral, quatro estágios de aceitação:
1º) Isso é um absurdo inútil;
2º) Isso é um ponto de vista interessante, mas errado;
3º) Isso é verdade, mas não tem importância;
4º) Eu sempre falei isso. (J. B. S. Haldane)

Se a ciência, com suas grandes descobertas, tem contribuído para esclarecer o homem, tem se mostrado sempre impotente para torná-lo melhor e mais feliz. (Léon Denis)

Omnia iam fiunt, fieri quae posse negabam. (Ovídio)
Trad.: Tudo já acontece, tudo que eu negava pudesse acontecer.

Obs.: as cinco citações que se seguem foram respigadas do livro "Diálogo com os Céticos" (pág. 17), do eminente biólogo e naturalista inglês Alfred Russel Wallace, em impecável tradução do Prof. Jáder dos Reis Sampaio.

Um ceticismo presunçoso, que rejeita fatos sem o exame de sua veracidade é, de alguma forma, mais nocivo que a credulidade incondicional. (Alexander von Humboldt)

Um bom experimento é mais valioso do que a ingenuidade de um cérebro como o de Newton. Fatos são mais úteis quando contradizem do que quando confirmam teorias aceitas. (Sir Humphry Davy)

Em qualquer área da ciência, o bom observador terá seus olhos, por assim dizer, abertos, de modo que possam ser imediatamente tomados de surpresa por qualquer evento que, de acordo com teorias aceitas, não deveria acontecer, pois estes são os fatos que servem como pistas para novas descobertas. (Sir John Herschel)

Antes que a própria experiência possa ser utilizada com proveito, há um passo preliminar a ser dado, e que depende totalmente de nós mesmos: é a limpeza absoluta da mente, dela extirpando todo e qualquer preconceito, e a determinação de aferrar-se ao resultado de um apelo direto aos fatos, em um primeiro momento, e à dedução lógica estrita a partir deles, posteriormente. (Sir John Herschel)

No que concerne à questão de milagres, eu posso apenas dizer que a palavra "impossível" não é, para a minha mente, aplicável em termos de ciência. Que as possibilidades da natureza são infinitas é um aforismo com o qual eu costumo importunar os meus amigos. (Thomas Huxley)

sábado, 12 de outubro de 2013

98) Os fenômenos do Espiritismo e a Parapsicologia moderna

Alexandre Aksakof
J. B. Rhine
 
     A primeira classificação científica dos fenômenos paranormais foi feita, em 1890, por um espírita, doutor em Filosofia, Conselheiro de Estado do Imperador (Czar) da Rússia Alexandre III, professor de línguas estrangeiras na Academia Alemã de Leipzig, Alexandre Aksakof (1832-1903), em sua grande obra "Animismo e Espiritismo", uma réplica formidável ao livro "O Espiritismo", do filósofo alemão Eduardo von Hartmann (1842-1906).
     Eis como o sábio russo se expressa no prefácio à edição alemã do seu livro:     Podemos classificar todos os fenômenos mediúnicos em três grandes categorias que se poderiam designar da maneira seguinte:
 
Personismo -- Fenômenos psíquicos inconscientes, produzindo-se nos limites da esfera corpórea do médium, ou intramediúnicos, cujo caráter distintivo é, principalmente, a personificação, isto é, a apropriação (ou adoção) do nome e muitas vezes do caráter de uma personalidade estranha à do médium. (Obs. minha: como acontece nos fenômenos hipnóticos por sugestão do hipnotizador, ou por autosugestão).
     Por sua etimologia, a palavra pessoa seria inteiramente apta para justificar o sentido que convém dar à palavra personismo. No latim, persona se referia antigamente à máscara que os atores colocavam no rosto para representar a comédia, e mais tarde se designou por esta palavra o próprio ator.
 
Animismo -- Fenômenos psíquicos inconscientes, produzindo-se fora dos limites da esfera corpórea do médium, ou extramediúnicos. [Obs. minha: podem ser psicológicos - telepatia, clarividência, precognição; ou físicos - deslocamento de objetos à distância (telecinesia), teleplastia, materializações]. Temos aqui a manifestação culminante do desdobramento psíquico da personalidade.
     A palavra alma (anima, em latim), com o sentido que tem geralmente no Espiritismo e no Espiritualismo, justifica plenamente o emprego da palavra animismo. Segundo a noção espirítica, a alma não é o "eu" individual (que pertence ao Espírito), porém o envoltório, o corpo fluídico ou espiritual desse "eu". Por conseguinte, nós teríamos, nos fenômenos anímicos, manifestações da alma humana.
 
Espiritismo -- Fenômenos de personismo e de animismo na aparência, porém em que se reconhece uma causa extramedíunica ou supraterrestre, isto é, fora da esfera da nossa existência, provinda de uma personalidade que já viveu no nosso mundo. Temos aqui a manifestação terrestre do "eu" individual por meio daqueles elementos da personalidade que tiveram a força de manter-se em roda do centro individual, depois de sua separação do corpo, e que se podem manifestar pela mediunidade ou pela associação com os elementos psíquicos homogêneos de um ser vivo. Isto faz com que os fenômenos do Espiritismo, quanto ao seu modo de manifestação, sejam semelhantes aos do personismo e do animismo, e não se distingam deles a não ser pelo conteúdo intelectual ou cognitivo, que denotam uma personalidade independente. (Animismo e Espiritismo, 2ª ed., FEB, 1956, págs. 23, 24 e 25).

     A moderna Parapsicologia, ciência criada pelo biólogo e pesquisador norteamaricamo Joseph Banks Rhine (1895-1980), ou simplesmente J. B. Rhine, criou uma nomenclatura especial para os termos propostos por Aksakof.
     A primeira categoria (personismo) não recebeu nome especial, mas é aceita como inteiramente válida. Todavia, o Dr. Jayme Cerviño, em seu livro "Além do Inconsciente" (Feb, 2005, pág. 97) propõe designá-la por fenômenos alfa.
     A segunda categoria (animismo) foi batizada pelo nome de fenômenos psi.
    Os fenômenos psicológicos ou subjetivos receberam a denominação de psi-gama (PG) ou ESP (do inglês, Extra Sensorial Perception). A Parapsicologia os considera demonstrados.
     Os fenômenos físicos ou objetivos foram batizados de psi-kapa (PK). Atualmente, considera-se provada a psicocinésia (telecinesia, na classificação de Aksakof), mas apenas para o deslocamento de objetos leves. Quanto aos fenômenos de teleplastia ou materialização, a Parapsicologia moderna ainda os considera em aberto. Apesar do grande número de provas apresentadas pelos antigos metapsiquistas, a Parapsicologia considera cedo ainda para uma chancela definitiva, aguardando que novas provas aconteçam para uma possível autenticação.
     A terceira categoria de fenômenos (espiritismo) é conhecida como psi-theta (PT). Sobre esta há uma divisão mais ideológica do que factual. Um pequeno grupo, que poderia ser chamado de "materialista totalitário" (Bozzano), considera que a existência de faculdades psi na subconsciência humana torna impossivel que o Espiritismo venha, um dia, a ser  demonstrado. Os dois maiores grupos também se bipartem: um deles considera o Espiritismo cientificamente provado, pois as provas cumulativas que convergem a seu favor são muito fortes. O outro ainda acha prematura essa afirmação, mas julga que um número ainda maior de provas poderá sancioná-lo no futuro.
     O que pensa J. B. Rhine sobre o tema? Vejamos:
     Existe algo extrafísico ou espiritual na personalidade humana? A resposta experimental é afirmativa. (Rhine - "The Reach of the Mind", apud Jayme Cerviño, "Além do Inconsciente", pág. 12).
     Sobre a sobrevivência, Rhine incentiva o estudo de certas manifestações que os antropólogos registram nas culturas primitivas e a análise dos relatórios de todos os tipos de experiências parapsíquicas espontâneas que tragam consigo qualquer sugestão de agente incorpóreo ou espírito. (Rhine - obra citada, apud "Além do Inconsciente", pág. 16).
     O Prof. Jorge Ayala, da Universidade do México, que conheceu Rhine pessoalmente, afirma: Ele segue por etapas - a primeira foi a prova de que os fenômenos existem; a segunda, a prova de que a mente é não física; a terceira será a da sobrevivência espiritual do homem.
     Mas ele faleceu antes de chegar à terceira etapa.
    
     É interessante assinalar que o parapsicólogo René Sudre, em seu livro "Tratado de Parapsicologia" (Zahar Editores, 1976), sanciona todas as categorias de fenômenos citadas por Aksakof e por todos os antigos metapsiquistas (Richet,  Bozzano, Lombroso, Zöllner, Gibier, Flammarion, Geley, Osty, Hyslop, Crookes, Wallace, Myers, Lodge, Barrett, etc.), contudo, sendo um materialista totalitário, nega com veemência a sobrevivência espiritual.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

97) Sir William Barrett, o físico inglês, e seus experimentos psíquicos

Sir William Barrett
     
     Sir William Fletcher Barrett (1844-1925) foi um físico experimental inglês nascido em Kingston, Jamaica (então uma colônia britânica) e falecido em Melbourne, Austrália.
     Barrett mudou para Londres durante sua juventude e foi educado em Old Trafford Grammar School. Estudou Química e Física no Royal College of Chemistry em Londres, depois tornou-se o assistente de John Tyndall na Royal Institution (1862-67), em seguida, mestre de Física na Real Escola de Arquitetura Naval (1867-73), para finalmente, em 1873, ocupar o cargo de professor de Física Experimental do Royal College of Science em Dublin, República da Irlanda, onde permaneceu por 37 anos, aposentando-se em 1910. 
     Ele foi eleito membro da Royal Society of London em 1899, e também da Royal Society of Edinburgh, da Royal Dublin Society e do Instituto de Engenheiros Elétricos da Irlanda. Em 1912, por suas contribuições científicas, foi agraciado com o título de Cavaleiro do Reino Unido, sendo-lhe conferido o título de "Sir".
     Na qualidade de físico experimental, descobriu uma liga de ferro-silício que ficou conhecida como "Stalloy" (ou "Permaloy"), muito utilizada em engenharia elétrica, no desenvolvimento comercial do telefone e dos transformadores, e também realizou uma série de experimentos sobre as chamas sensíveis e seus empregos em demonstrações acústicas (chamas afetadas por sons de frequências elevadas). Durante suas pesquisas sobre os metais e suas propriedades, descobriu o encurtamento do níquel sob forte magnetização em 1882.
     Em seus últimos anos, Sir William Barrett desenvolveu catarata, e começou a estudar oftalmologia através de uma série de experimentos destinados a localizar e analisar agentes causadores de moléstias no interior dos olhos. O resultado dessas experiências foi o desenvolvimento do que ficou conhecido como Ortóptica, e a construção, por Barrett, de um novo optômetro ótico.

     Sir William Fletcher Barrett (10 de fevereiro de 1844 - 26 de maio 1925) foi um dos pioneiros da pesquisa psíquica. Foi idéia de Barrett formar a Sociedade de Pesquisas Psíquicas (SPR), em Londres, em 1882. No entanto, como Barrett estava vivendo em Dublin, na Irlanda, no momento, ele não foi capaz de tomar parte ativa na organização da sociedade. Ele estimulou três estudiosos de Cambridge, seus amigos Henry Sidgwick , Frederic W. H. Myers e Edmund Gurney, a fundarem a sociedade. Barrett também incentivou seu amigo, o filósofo e professor norteamericano William James , de Harvard, a organizar o ramo americano da SPR em 1884. Editou o Jornal SPR 1884-99 e serviu como presidente da entidade em 1904.
     Como pesquisador dos fenômenos chamados paranormais, Barrett era de um rigor extremo, draconiano. Nos anos setenta do século dezenove, havia em Londres um certo Dr. Monck, que produzia fenômenos aparentemente mediúnicos, mas que eram sujeitos a dúvidas: dos que presenciaram seus fenômenos, uns diziam que eram reais, outros afirmavam que, muitas vezes, ele usava de truques, quando claudicavam as suas faculdades mediúnicas. Em 1876, foi à Irlanda e Sir William Barrett resolveu verificar se as faculdades mediúnicas de Monck eram reais ou não, e foi observá-lo. Eis suas conclusões:
 
     Apanhei o "doutor" numa fraude grosseira; um pedaço de musselina branca numa instalação de arame, ligada a um parafuso preto, sendo empregada pelo "médium" para simular a materialização parcial. (Apud Sir Arthur Conan Doyle, "História do Espiritismo", Editora O Pensamento, 1960, pág. 255).
     Sir Conan Doyle (o genial criador do detetive Sherlock Holmes) afirma, por sua vez: Tal desmascaramento, vindo de fonte tão segura, produz um sentimento de mal estar, que nos induz a abandonar toda evidência a respeito dele na cesta de lixo.
     
     Sir William Barrett escreveu várias obras sobre temas relacionados, tanto à Física, quanto ao "modern spiritualism". No que se refere a este, a mais importante é "On the Threshold of the Unseen", traduzida para a língua portuguesa por Isidoro Duarte Santos, e publicada, em 1947, pela Estudos Psíquicos Editora, de Lisboa, Portugal, sob o título "Nos Umbrais do Além", obra raríssima hoje em dia. Para mostrar a convicção de Barrett, extrairei alguns trechos dessa importante e documentada obra:
 
      
     Estou absolutamente convencido de que a ciência psíquica provou experimentalmente a existência de uma entidade transcendente e imaterial, chamada alma ou espírito humano. Além disso, estabeleceu também a existência de um mundo espiritual invisível de seres vivos e inteligentes que podem comunicar-se conosco, quando se apresenta ocasião favorável. E digo mais; que apesar de muitas ilusões, de simulações e outros erros, existem numerosas provas favoráveis à sobrevivência do homem depois da morte e dissolução do corpo e do cérebro. (Sir William Barrett, "Nos Umbrais do Além", págs. 14 e 15).
     As minhas conclusões não provêm de exame rápido e superficial. Há mais de quarenta anos que estudo os fenômenos ditos paranormais com toda independência e desinteresse. (Obra citada, pág. 21)
     Ninguém, dos que ridicularizam o Espiritismo, lhe dispensou qualquer atenção refletida e paciente. Afirmo até que todos aqueles que dedicarem, ao seu estudo prudente e imparcial, tantos dias ou mesmo tantas horas quanto de anos alguns de nós lhe tem dedicado, se verão obrigados a mudar de opinião. (Obra citada, pág. 28).
     Como se compreende, pois, que as negações sistemáticas dos que nada viram, nada experimentaram, dos ignorantes e sectários, tenham tido mais valor para a ciência do que as afirmações dos ilustres testemunhos que temos enumerado? (Ob. cit., pág. 45).
     É tempo de abandonar discussões fastidiosas e de expor os testemunhos pessoais que me convenceram da objetividade destes fenômenos. Aos que não fizeram experiências semelhantes, é quase impossível dar ideia da influência e da acumulação de provas que nos levaram à convicção. (Ob. cit., pág. 55).

     E em outra obra:
     É evidente a existência de um mundo espiritual, a sobrevivência depois da morte e a comunicação ocasional dos que morreram. (W. Barrett, "Some Reminiscences of Fifty Years of Psychical Research, apud Miguel Timponi, "A Psicografia Ante os Tribunais, ed. Feb, págs. 98 e 99).
     Citarei apenas duas fontes onde hauri dados biográficos sobre Sir William Barrett:  http://en.wikipedia.org/wiki/William_Fletcher_Barrett  
http://redpill.dailygrail.com/wiki/William_Barrett


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

96) As conclusões espiritualistas de um grande físico, Sir Oliver Lodge

 
Sir Oliver Lodge

     Sir Oliver Joseph Lodge (1851-1940) foi um físico experimental e escritor inglês. Doutor em ciências, Professor de Física da Universidade de Londres, Professor de Filosofia Natural do Colégio de Bedford, Professor Catedrático de Física da Universidade de Liverpool, Reitor da Universidade de Birmingham, membro da Royal Society of London, recebeu a Medalha Rumford da Royal Society em 1898, e foi nomeado Cavalheiro do Reino Unido pele Rei Eduardo VII em 1902, passando a usar o título honorífico de "Sir".
     Fêz investigações originais sobre os fenômenos do relâmpago e do raio, sobre a fonte da força eletromotriz na célula voltaica, sobre os fenômenos da eletrólise e da velocidade dos íons, sobre a aplicação da eletricidade para dispersar a neblina e a fumaça, sobre o arrastamento do suposto "éter cósmico" por corpos massivos, sobre as ondas eletromagnéticas e sobre a telegrafia sem fio, sendo considerado um pioneiro com relação à radiocomunicação.
     Em 14/08/1894, conseguiu transmitir sinais de rádio em uma conferência na Associação Britânica para o Progresso da Ciência, aperfeiçoando o detector de ondas de Branly, acrescentando a ele um vibrador que deslocava a limalha acumulada, restaurando assim a sensibilidade do aparelho. Com este detetor aperfeiçoado, que Lodge denominou coesor, obteve a patente para sintonização em telegrafia sem fio, patente que foi adquirida, em 1911, pela Companhia Marconi, do inventor do rádio, Eng. Guglielmo Marconi.
     Lodge também deu uma contribuição significativa aos motores quando inventou a vela de ignição para o motor de combustão interna. Seus filhos, Alex e Brodie, criaram a Lodge Plug Company, que produziu velas de ignição para automóveis e aviões. Outros dois filhos seus, Noel e Lionel, criaram uma empresa que produzia uma máquina para limpar a fumaça das fábricas. Além de inventar a vela de ignição e o telégrafo sem fio, Oliver Lodge também inventou o sintonizador variável.
     No fim do século dezenove,os físicos acreditavam que as ondas eletromagnéticas se propagavam num meio hipotético, que foi chamado de "éter cósmico", mas tinham dúvidas se os corpos, em seu movimento, arrastavam ou não o suposto éter. Para dirimir tais dúvidas, Sir Oliver Lodge planejou um experimento, realizado em 1896. Instalou grandes discos de aço, de 2 metros de diâmetro, eletrizou e magnetizou fortemente os discos, fê-los girar a velocidades tão grandes que pouco lhes faltava para arrebentar, e então enviou raios luminosos pelo estreito espaço (1 centímetro) entre os discos rodantes - no mesmo sentido do movimento dos discos, e em sentido contrário ao movimento dos mesmos. Se as rodas que giravam, levavam ou revolviam o éter, isto se revelaria na aceleração ou retardamento da velocidade dos raios de luz levados pelo éter. Mas Lodge não pode encontrar nenhum efeito. "O éter e a matéria são mecanicamente independentes, e os corpos não arrastam consigo o suposto éter em seu movimento", foi a conclusão de Lodge.

Obs. minha: A partir de 1905, a teoria do "éter cósmico" foi abandonada pela ciência, pelo menos como meio de propagação das ondas eletromagnéticas, entre outras razões porque, tendo tais ondas caráter duplo, isto é, apresentando-se também como compostas de partículas (fótons), não necessitam de um meio por onde se propagar.

     Desde o final do século dezenove, Sir Oliver Lodge já se preocupava em pesquisar os fenòmenos do "Espiritualismo Moderno", como dizem os ingleses e norteamericanos. Em 1909, publicou uma grande obra, "A Sobrevivência do Homem" em que declara textualmente: Que o homem sobrevive à morte do corpo é convicção certa minha, baseada, de mais a mais, numa longa série de fatos naturais e experimentais.
     Em 14/09/1915, faleceu-lhe o filho, Raymond Lodge, em batalha da 1ª Guerra Mundial, na qual se havia alistado como Segundo-Tenente. Desde então, ele manifestou o desejo de se comunicar com o pai, mãe e irmãos, a fim de lhes provar que não havia morrido de fato, e lhes ministrar alguns ensinamentos sobre o mundo espiritual. A maioria das comunicações veio através de uma médium inglesa muito conhecida, a Sra. Osborne Leonard, que conhecia Sir Oliver, mas não sua esposa e  filhos, que foram a ela incógnitos, e puderam dialogar com Raymond, como se vivo estivesse. Depois, os Lodge (pai, mãe e irmãos) buscaram outros médiuns, deles desconhecidos, comparecendo às sessões incógnitos, sem que ninguém lhes soubesse os nomes e a identidade, e o mesmo Raymond se manifestava, mantendo uma incrível identidade e continuidade de pensamentos e opiniões que acabaram convencendo os Lodge, a princípio céticos (principamente a mãe e irmãos), de sua permanência e imortalidade. Sir Oliver Lodge escreveu então uma bela obra, intitulada "Raymond", que fêz muito sucesso na época, dedicada a mostrar ao mundo as múltiplas provas obtidas pela família, acerca da sobrevivência espiritual de Raymond. Esta obra foi traduzida para a nossa língua pelo saudoso escritor Monteiro Lobato. 
     Vejamos o que escreve Sir Oliver Lodge em sua introdução:
      

     Esta obra leva o nome de um filho meu morto na guerra (obs. minha: 1ª Guerra Mundial). Jamais ocultei a minha crença de que a personalidade não só persiste, como ainda continua mais entrosada no nosso viver diário do que geralmente o supomos; de que não há nenhuma solução de continuidade entre os vivos e os mortos; e de que existem processos de intercomunicação bastante efetivos quando o afeto intervém. Como disse Sócrates a Diotima, O AMOR VENCE O ABISMO (Symposium, 202 e 203).
     Mas não é somente a afeição que controla e fortalece o intercâmbio paranormal: o interesse científico e o zelo missionário também se revelam eficazes; e foi sobretudo graças a esforços deste gênero que eu e outros investigadores gradualmente nos convencemos, através de experiências diretas, de um fato que, não há de tardar muito, far-se-á evidente para todo o gênero humano. (...)
     Até a morte do meu filho, nenhuma criatura se me apresentara ansiosa de comunicação; e embora surgissem amigos promotores de mensagens, eram mensagens de gente da velha geração, diretores da Society for Psychical Research, e antigos conhecimentos meus. Já agora, entretanto, sempre que eu ou alguém da minha família recorremos anonimamente a um médium, a mesma criatura se apresenta, sempre ansiosa de dar provas da sua identidade e sobrevivência.
     E tenho que o conseguiu. O ceticismo da família, que nos primeiros meses foi muito forte, acabou vencido pelos fatos. Ignoro em que extensão estes fatos possam ser compreendidos por estranhos. Mas reclamo uma atenção paciente; e se incido em erros, já no que incluo, já no que omito, ou se minhas notas e comentários carecem de clareza, peço aos leitores, em todas as hipóteses, uma interpretação amiga: porque, em matéria tão pessoal, não ignoro que fico exposto à crueldade e ao cinismo da crítica.
     Poderão alegar: por que motivo atribuir tanta importância a um caso individual? Na realidade, não lhe atribuí nenhuma importância especial; mas acontece que cada caso individual é de interesse, porque tem plena aplicação nesta matéria a máxima -- "ex uno disce omnes". Se posso estabelecer a sobrevivência de um só indivíduo, "ipso facto", tê-la-ei estabelecido para todos.
     Eu já tinha a sobrevivência como provada, graças aos esforços de Frederic Myers e de outros da Society; mas nunca são demais as provas, e a discussão de um novo caso não esfraquece a evidência já conseguida. Cada vara do feixe deve ser testada e, a não ser que defeituosa, aumenta a força do feixe.
     
     E no epílogo:
      
     Estou convencido da sobrevivência da personalidade depois da morte como o estou da minha existência na Terra. Poderão alegar que essa convicção não se baseia na experiência dos meus sentidos. Responderei que sim. Um cientista especializado em Física não está sempre limitado pelas impressões sensoriais diretas; lida com uma multidão de coisas e conceitos para os quais seus sentidos são como inexistentes. A teoria cinética dos gases, por exemplo, as teorias da eletricidade, do magnetismo, das afinidades químicas, da coesão molecular, da eletrólise, das ondas eletromagnéticas, levam-no a regiões onde a vista, o ouvido, o olfato e o tato são impotentes para qualquer testemunho direto. Em tais regiões tudo tem de ser interpretado em termos do insensível, do não substancial e do imaginário. Não obstante, essas regiões do conhecimento tornam-se-lhe tão claras e vivas como as coisas materiais. Fenômenos comuníssimos requerem interpretação baseada nas ideias mais sutis -- a própria solidez aparente da matéria pede explanação -- e as entidades não materiais com que os físicos trabalham, gradualmente revelam tanta realidade como tudo quanto ele conhece sensorialmente.
     E como é assim, irei mais longe dizendo que estou convicto da existência de "graus do ser", não somente mais baixos na escala do que o homem, como também mais altos -- graus de toda ordem de magnitude, do zero ao infinito. E sei, por experiência, que entre os seres alguns existem empenhados em ajudar e guiar a humanidade, não desdenhando a entrar em detalhes mínimos, se desse modo podem assistir às almas que lutam por elevar-se. E creio ainda que entre esses altos Seres, um existe ao qual por instinto o cristianismo consagra reverência e devoção.
     Os que julgam que a era do Messias está passada, confundem-se estranhamente; essa era mal começou. Para as almas individuais o cristianismo floresceu e deu frutos, mas para os males do mundo é ainda um remédio não experimentado. Será estranho que a horrível guerra de hoje fomente e melhore o conhecimento do Cristo, e ajude a humanidade a compreender a inefável beleza de sua vida e de seus ensinamentos; entretanto, coisas ainda mais estranhas têm acontecido; e seja lá como as Igrejas se comportem, creio que a voz de Jesus ainda será ouvida por uma grande parte da humanidade, como nunca o foi até hoje.
     Meu viver na Terra aproxima-se do fim; pouco importa, espero não ir-me antes de dar o meu testemunho da graça e da verdade que emanam desse divino Ser -- cujo amor pelos homens pode ser obscurecido pelos dogmas, mas nunca deixará de ser acessível aos mansos e humildes.
     A intercomunhão entre os estados, ou graus da existência, não se limita a mensagens a amigos ou parentes, ou a conversas com personalidades do nosso nível -- isto constitui uma pequena parte da verdade inteira; esse intercurso entre os estados da existência traz consigo -- ocasionalmente às vezes, às vezes inconscientemente -- comunhão com altíssimas almas que se foram antes de nós. A verdade dessa influência contínua coincide com as mais altas Revelações feitas ao gênero humano. Esta verdade, quando assimilada pelo homem, significa a certeza da realidade da oração, bem como a certeza da simpatia ou graça d'Aquele que jamais desprezou os que sofrem, os pecadores, os humildes; e significa ainda mais: a possibilidade, algum dia, de um olhar ou de uma simples palavra do Eterno Cristo. ("Raymond", Edigraf, 1972, trad. de Monteiro Lobato).
    
     Para finalizar, um último excerto, extraído do livro escrito por Lodge em 1928, "Why I Believe in Personal Immortality", traduzido por Francisco Klörs Werneck, ed. Calvário, 1973, sob o título "Por Que Creio na Imortalidade da Alma":

     Conheço o peso da palavra "fato" na Ciência e digo, sem hesitação, que a continuidade individual e pessoal é para mim um fato demonstrado. (...) A evidência da identidade pessoal está assim gradualmente estabelecida, de um modo sério e sistemático, pelo exame crítico de pesquisadores rigorosos e independentes e, sobretudo, pelos esforços especiais e altamente inteligentes dos comunicantes do Além. Para mim a evidência é virtualmente completa e não tenho dúvida alguma sobre a existência e a sobrevivência da personalidade, do mesmo modo que não a tenho sobre a dedução de uma experiência qualquer, comum e normal.

domingo, 15 de setembro de 2013

95) "A Personalidade Humana", a grande obra de Frederic Myers

Frederic Myers

     Enquanto nos países latinos, o principal nome do Espiritismo é o seu codificador Allan Kardec, com sua obra básica, "O Livro dos Espíritos", nos países de língua inglesa o nome mais citado é o do inglês Frederic Myers, com seu livro "A Personalidade Humana e Sua Sobrevivência à Morte Corporal". Mas enquanto o livro de Kardec é, essencialmente, uma grande obra filosófica, com diversas implicações morais e religiosas, o trabalho de Myers é essencialmente científico, com algumas considerações morais em seu epílogo. Há, no Brasil, uma tradução  resumida da obra de Myers, com 348 páginas, intitulada "A Personalidade Humana", publicada pela Edigraf, sem indicação de data e tradutor. Pesa contra o trabalho de Myers o seu estilo, algo rebuscado e complexo (ele era um literato), o que torna um pouco complicadas certas passagens do seu livro. Não tenho elementos para julgar acerca da qualidade da tradução. Contudo, em linhas gerais e do ponto de vista científico, o livro é muito bom. 
     De minha parte, já havia escrito sobre Myers e suas ideias nos artigos 62 e 63 deste blog, que indico aos leitores mais interessados, e no anterior a este. Complemento minhas referências a ele através de alguns excertos da sua obra principal, "A Personalidade Humana", tradução brasileira.

     O "eu" consciente de cada um de nós ou, designando-o melhor, o "eu supraliminar" (porque situado acima do limiar da nossa consciência) não pode compreender a totalidade da nossa consciência e de nossas faculdades. Existe uma consciência mais vasta, com faculdades mais profundas, da qual a consciência e as faculdades desta vida se desenvolveram em consequência de uma seleção. A maioria dessas faculdades permanecem latentes durante a vida terrena, e só se restabelecem em toda a sua plenitude depois da morte.
     Cheguei lentamente a esta conclusão, que tomou para mim a forma atual há uns 14 anos, como consequência de profundas reflexões baseadas em provas que se multiplicavam progressivamente. Trata-se de um conceito que foi até agora considerado como exclusivamente místico. Se eu agora me dedicar a dar-lhe uma base científica, não terei a oportunidade de poder formulá-lo em termos definitivos, nem de apoiá-lo com a ajuda de bons argumentos, que só uma experiência mais extensa é capaz de fornecer. Mas o valor deste conceito aparecerá aos olhos do leitor, se examinar a sucessão das diferentes provas expostas neste livro. ( - )
     Por outro lado, designo por "eu subliminar" a parte do "eu" que permanece abaixo do limiar da consciência, e admito que possa existir não só cooperação entre essas duas correntes de pensamento quase independentes, mas também mudanças de nível e variações da personalidade, de tal forma que o que está sob a superfície pode chegar à superfície e manter-se ali de maneira mais ou menos provisória ou permanente. E considero, por fim, que todo "eu" do qual possamos ter consciência nada mais é do que um fragmento do "eu" mais vasto que de cada vez se revela, modificado e limitado por um organismo que não permite a sua manifestação plena e completa. ( - )
     No nosso estudo, encontraremos um grupo de fenômenos que nos mostrará esses afloramentos subliminares, os impulsos e as comunicações que chegam das camadas profundas da personalidade às camadas superficiais, diferindo, com frequência, pela sua qualidade, de todo elemento conhecido de nossa vida supraliminar ordinária. São diferentes porque implicam numa faculdade da qual não tivemos nenhum conhecimento precedente, e por serem produzidos num meio do qual não tivemos até hoje ideia alguma.
     Toda a minha obra visa a justificar esta ampla afirmação. De fato, a telepatia, percepção de pensamentos sem a intervenção dos órgãos sensoriais conhecidos, e a telestesia, visão de cenas à distância, sugerem uma incalculável extensão de nossas faculdades mentais e uma influência exercida sobre nós por espíritos mais livres, menos embaraçados que o nosso. ( - )
     Podemos, então, influenciar-nos mutuamente à distância pela telepatia. E se os nossos espíritos encarnados podem trabalhar assim, de um modo independente, pelo menos na aparência, do organismo material, temos então uma presunção a favor da existência de outros espíritos independentes dos corpos e suscetíveis de nos influenciarem da mesma maneira. ( - )
     No capítulo VI, estudaremos os aquilo que os autores franceses chamam de "alucinações verídicas". Encontraremos então fenômenos que parecem ter sua origem num espírito estranho ao do sensitivo. E mostraremos que esta origem deve ser antes buscada em espíritos de outras pessoas vivas, o que nos levará a passar em revista as diferentes formas de telepatia. Mas o conceito de telepatia, por sua própria natureza, não deve estar limitado aos espíritos ainda presos a um corpo, e teremos provas a favor das comunicações diretas entre os espíritos encarnados de um lado, e os espíritos desencarnados do outro. ( - )
     Francis Bacon previu a vitória progressiva da observação e da experimentação, o triunfo do fato real e analisado em todos os domínios do saber humano; em todos, menos em um. Com efeito, abandonou à Autoridade e à Fé o domínio das "coisas divinas". Desejo mostrar que esta grande exceção não está justificada. Acho que existe um método de chegar ao conhecimento dessas coisas divinas com a mesma certeza e segurança tranquila que devemos aos progressos no conhecimento das coisas terrestres. A autoridade das religiões e das igrejas será, dessa forma, substituída pela observação e a experimentação. Os impulsos da fé se transformarão em convicções racionais e solucionadas, que farão nascer um ideal superior a todos os que a humanidade concebeu até hoje. ( - )      
     Observemos a história positiva da Civilização Ocidental. Na época em que as múltiplas crenças locais, rituais, disseminadas como soluções parciais de problemas cósmicos, destruíam-se mutuamente por simples contato e fusão, produziu-se um acontecimento que, nos reduzidos anais da civilização humana, em seus albores, pode ser considerado como ímpar. Foi vivida uma vida durante a qual a resposta mais alta que o instinto moral humano jamais recebera, viu-se corroborada por fenômenos que todo o mundo, por falta de conhecimentos específicos, considera milagrosos, e dos quais a Ressureição foi a expressão culminante.( - ).
     O cristianismo repousa, incontestavelmente, sobre uma base formada por fatos observados. Estes fatos, tal como nos transmitiu a tradição, tendem seguramente a provar o caráter super-humano do fundador do cristianismo e seu triunfo sobre a morte, e, ao mesmo tempo, a existência e a influência de um mundo espiritual, que é a verdadeira pátria do homem. Todos reconhecem que essas ideias se encontram na origem da fé. Mas desde os primórdios, o cristianismo foi elaborado em códigos morais e rituais adaptados à civilização ocidental, e creem alguns que adquiriu, como regra de vida, o que perdeu como simplicidade espiritual. ( - )
     Qual é o sistema que nos forneceu uma confirmação tão profunda da própria essência da revelação cristã? Jesus Cristo gerou "a vida e a imortalidade". Por sua aparição após a morte corporal, provou a imortalidade do espírito. Por seu caráter e seus ensinamentos, provou a paternidade de Deus. Tudo o que sua mensagem continha de dados demonstráveis estão aqui demonstrados; todas as suas promessas de coisas indemonstráveis para a época, estão aqui comprovadas. Aventurar-me-ei a uma opinião e a predizer que, graças aos novos dados que possuímos, todos os homens inteligentes e ponderados acreditarão, em futuro próximo, na ressureição do Cristo, enquanto que, sem esses dados, quase ninguém acreditaria nela jamais. ( - )
     Nossos recentes conhecimentos confirmam, dessa forma, as antigas correntes de pensamento, de um lado corroborando o relato da aparição do Cristo após a morte, e nos fazendo ver, de outro, a possibilidade de uma encarnação benfazeja de almas que, antes de sua encarnação, eram superiores à do homem. Isto relativo ao passado. E no que diz respeito ao futuro, confirmam o conceito oriental de uma infinita evolução espiritual à qual se submete todo o Cosmos. Ao mesmo tempo, revestindo-se de um caráter de realidade cada vez mais pronunciado,o fato de nossa comunicação com os espíritos libertos nos proporciona um sustentáculo imediato e nos deixa entrever a perspectiva de um desenvolvimento infinito, que consistirá num acréscimo da santidade, numa interpenetração cada vez mais íntima dos mundos e das almas, numa evolução da energia e da vida na tríplice concepção da sabedoria, do amor e da felicidade. Este processo, que se realiza de uma maneira diversa para cada alma em particular, é, em si mesmo, contínuo e cósmico, porque a vida, que nasce da energia primitiva, diviniza-se, para se converter na felicidade suprema.

     Concluo com um texto, sobre Myers, emitido pelo psicólogo suíço Théodore Flournoy, já por mim citado no artigo nº 62: "Se futuras descobertas científicas vierem a confirmar a tese espírita de Myers, o seu nome será inscrito no livro de ouro dos iniciados, e junto aos de Copérnico e Darwin, completará a tríade de gênios que mais profundamente revolucionaram o pensamento da humanidade, nas ordens cosmológica, biológica e psicológica."
     

sábado, 14 de setembro de 2013

94) Frederic Myers, o famoso psicólogo inglês que se tornou espiritualista: uma pesquisa moderna sobre sua vida e obra.

Anseios imortais: F. W. H. Myers e a busca vitoriana para a vida após a morte.

Autor: Trevor Hamilton
Editor: Imprint Acadêmico de 2009
Preço: £ 19.95 (paperback)
ISBN: 9781845401238
Classificação:

 

Um retrato vivo de um pioneiro da SPR e da elite social em que viveu.


Por Tom Ruffles
Jun 2010
Interesse em Frederic William Henry Myers (1843-1901), um dos fundadores da Sociedade de Pesquisas Psíquicas (SPR), tem crescido nos últimos anos, e agora Trevor Hamilton demonstrou sua importância ainda mais com esta primeira biografia completa. Hamilton tem pesquisado os prolíficos escritos de Myers e os de seus contemporâneos, assim como a grande literatura secundária, e sua apresentação clara permite ao leitor acompanhar a vida de Myers e o desenvolvimento de seu pensamento. Ele também lança luz sobre a cultura da elite final da era vitoriana - política, literária e científica -, olhando para as extensas relações sociais de Myers. O resultado é um livro que será essencial para os futuros historiadores de ambos, Myers e a SPR, e de valor para os alunos que buscam um conhecimento mais geral daquele período.

Isso, porém, não é uma hagiografia. Hamilton discute questões controversas como a relação de Myers com Annie Marshall, a mulher de seu primo que se matou, e se a morte de seu colega e amigo próximo Edmund Gurney foi acidente ou suicídio. Mas onde os críticos de Myers, nomeadamente Trevor H Hall, tiraram aspectos menos simpáticos, complementando-os com insinuações e especulações infundadas, Hamilton traça um retrato mais veraz que contraria essas interpretações parciais e distorcidas.

Myers é mostrado às vezes ser narcisista, esnobe, com um grande senso de seu status e valor. Mas, ao mesmo tempo, sua lealdade e seu calor para a sua família e seus amigos é realçada com vigor. Quando não foi possível chegar a uma conclusão definitiva, Hamilton pesa as probabilidades e tendências onde a prova se esgota e a especulação informada começa. O resultado é uma representação de pontos fortes e fracos de Myers, mas, mais importante ainda, uma exploração do que é de valor em seu legado, suas pioneiras pesquisas no campo da paranormalidade, quando cunhou a palavra telepatia.

É evidente que ele foi o principal colaborador das publicações da SPR em suas duas primeiras décadas, e seu principal pilar como pesquisador e sistematizador. Tendo em conta que a sua formação foi nos clássicos, Myers absorveu uma quantidade enorme de psicologia. Mas sua linguagem era freqüentemente obscura e é crédito de Hamilton ter conseguido apresentar as idéias de Myers de forma clara e legível, pelo menos, tanto quanto lhe é permitido pela opacidade freqüente de estilo de seu biografado.

Anseios imortais aparece quando há um crescente interesse pelas idéias de Myers. Suas idéias, relativas à existência em nós, muito vezes não suspeitada, de um eu subliminar ( isto é de um eu subconsciente, situado abaixo do limiar da consciência, diferente do eu supraliminar, ou eu consciente, situado acima daquele limiar), eu subliminar dotado de sensações, pensamentos e emoções que, muitas vezes, escapam à consciência supraliminar, com anterioridade a Freud, não são apenas de interesse antiquado, elas estão mais uma vez sendo levadas a sério, como tendo relevância para a psicologia moderna, enquanto Freud está em declínio. O resultado é uma adição valiosa para o pequeno número de obras que tratam de uma forma crítica, mas de acordo com os esforços de Myers e outros pioneiros da SPR, de como eles procuraram sondar, sinceramente, e apesar de suas fragilidades pessoais, os mistérios da alma humana. Myers foi o que mais se destacou, especialmente, através de duas grandes obras, a primeira delas sendo "A Personalidade Humana e Sua Sobrevivência à Morte Corporal", publicação póstuma, de 1903, em 2 volumes, de 1360 páginas, e a outra, muito conhecida e mais antiga, escrita em parceria com Edmund Gurney e Frank Podmore, de 1886, 770 páginas, também em 2 volumes, intitulada "Fantasmas dos Vivos".

Fonte: http://www.forteantimes.com/reviews/books/3625/immortal_longings_fwh_myers_and_the_victorian_search_for_life_after_death.html

Frederic Myers

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Ir para: navegação, pesquisa


Frederic Myers com seus filhos Sylvia e Harold.
Frederic William Henry Myers (6 de fevereiro de 184317 de janeiro de 1901) foi um intelectual, ensaísta, psicólogo e poeta britânico, notabilizando-se como um dos pioneiros na pesquisa de fenômenos paranormais no final do século XIX e co-fundador da "Society for Psychical Research" (SPR).


Biografia

Filho de um reverendo anglicano, perdeu o pai na infância, ligando-se estreitamente à sua mãe. Cresceu em ambiente favorável aos estudos, vindo a obter formação intelectual no conhecido Trinity College de Cambridge. Destacou-se no estudo da cultura clássica greco-latina, tornando-se professor na área, mas posteriormente abandonou esta atividade para ser inspetor de ensino nomeado pela coroa britânica no distrito de Cambridge.
Desposou Eveleen Tennant, filha de uma rica família londrina. A esposa de Myers dedicou-se à fotografia amadora e acabou por produzir notáveis retratos de eminentes figuras da sociedade britânica da época. O casal Myers teve três filhos: Leopold, Harold e Sylvia. Leopold Myers tornou-se um novelista de considerável destaque.
Frederic Myers dedicou as últimas duas décadas de sua vida aos estudos dos fenômenos paranormais, com inúmeras viagens pela Europa e Estados Unidos pesquisando médiuns como Eusápia Paladino e Leonora Piper. Manteve estreita amizade com os filósofos William James e Henry Sidgwick.
Faleceu em 1901 em Roma, possivelmente de hipertensão maligna com falência renal. Seus amigos e companheiros da SPR editaram e publicaram postumamente, em 1903, a grande obra "Human Personality and It's Survival Of Bodily Death". Eveleen Myers editou e publicou uma coletânea dos poemas do falecido marido.
Em 2009 foi lançada a biografia "Immortal Longings: F.W.H. Myers and the Victorian Search for Life After Death" de Trevor Hamilton.

Carreira Literária

Em termos litarários, Myers se autodefinia como um poeta menor. De fato não se tratava de falsa modéstia, pois sua produção poética não chegou a ser considerada de primeiro escalão, embora alguns de seus poemas tenham se tornado muito populares na época, por exemplo Saint Paul e The Renewal of Youth (1882). Myers dedicou-se também à crítica literária, publicando por exemplo a obra Woodsworth (1881). Na condição de ensaísta, publicou a obra Essays, Classical and Modern (1883) em dois volumes. Os ensaios sobre Virgílio e sobre os Oráculos da Grécia Antiga são considerados expoentes do gênero.

Investigações Psíquicas

Em 1882 Frederic Myers, ao lado de Henry Sidgwick, Edmund Gourney e Frank Podmore, encabeçam a fundação da Sociedade de Pesquisas Psíquicas (Society for Psychical Research - SPR). O grupo de intelectuais britânicos almejava investigar os fenômenos espiritualistas tão em voga na época, de um ponto de vista racional e equânime, a partir de análises dos relatos e também da participação in loco de sessões onde ocorriam os alegados fenômenos paranormais. A SPR editou um jornal científico divulgando suas investigações, e continua ativa até o presente momento, permanecendo a sede em Londres. Myers foi o presidente da SPR em 1900. O filósofo e psicólogo americano William James, amigo pessoal de Myers, participou da SPR e posteriormente fundou nos Estados Unidos a American Society For Psychical Research - ASPR.
Uma importante e extensa obra publicada pela SPR intitula-se Phantasms Of The Livings, de 1886, escrita por Edmund Gourney e Frederic Myers com extensa colaboração de Frank Podmore, na qual são analisados 702 casos em que abrangem, nas palavras de Myers, "todas as transmissões de pensamento e sentimento de uma pessoa para outra, por meios outros que as reconhecidas vias sensoriais". Myers cunhou o termo telepatia para designar tais transmissões, terminologia que se consagrou pelo uso até os dias atuais.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

93) Alfred Russel Wallace, o biólogo e naturalista inglês, que se tornou ardoroso adepto do "Modern Spiritualism"

"Modern Spiritualism" (Espiritualismo Moderno) é o termo empregado nos países de língua inglesa para significar aquilo que, nos países latinos, foi denominado "Espiritismo", por Allan Kardec, em sua grande obra "O Livro dos Espíritos". Abaixo, um breve resumo da vida de Wallace que extraí de duas enciclopédias, "Tudo" e "Lello Universal".

Alfred Russel Wallace (1823-1913), foi um biólogo e naturalista inglês, considerado o pai e fundador da Geografia Biológica, ou Biogeografia, que consiste na classificação de vegetais e animais em seus "habitat" naturais, segundo as diferentes zonas geográficas do planeta. De 1848 a 1852 percorreu o Amazonas e o Pará, recolhendo material botânico e zoológico, em companhia do entomólogo H. Bates. Formulou, então, independentemente de Darwin, uma teoria sobre a origem das espécies com base na seleção natural. Os resultados do seu trabalho foram apresentados, em 1858, junto com os de Darwin, à Sociedade Lineana de Londres. Wallace é considerado o co-autor,  juntamente com Darwin, da teoria de transformação das espécies, por via da seleção natural. Mais tarde verificou-se que Darwin já estava trabalhando, em sua teoria, há muito mais tempo que Wallace.

Declarações de Wallace:
Eu era um materialista tão convicto que não admitia absolutamente a existência espiritual, nem qualquer outro agente no universo além da força e da matéria. Os fatos, entretanto, são coisas pertinazes.
A minha curiosidade foi primeiro despertada por alguns fenômenos ligeiros, mas inexplicáveis, que se produziam em uma família amiga; o desejo de saber e o amor à verdade forçaram-me a prosseguir nas pesquisas.
Ora, os fatos tornaram-se cada vez mais certos, cada vez mais variados, cada vez mais afastados de tudo quanto a ciência moderna ensina, e de todas as especulações da filosofia dos nossos dias, e, afinal, venceram-me. Eles me forçaram a aceitá-los como fatos, muito antes de eu admitir a sua explicação espiritual -- não havia nesse tempo, em meu cérebro, lugar para esta concepção -- pouco a pouco, um lugar se fêz, não por opiniões preconcebidas ou teóricas, mas pela ação contínua de fatos sobre fatos, dos quais ninguém se poderia desembaraçar de outra maneira.
O espiritualismo moderno está tão bem demonstrado quanto a lei da gravitação.

(Citações apud "Fatos Espíritas", ed. Feb, 1957). 

Obs. minha: Há dois livros de Wallace, versando assuntos espiritualistas, já publicados no Brasil, em excelente tradução do Prof. Jáder dos Reis Sampaio, cujos títulos são "O Aspecto Científico do Sobrenatural" e "Diálogo com os Céticos".


Alfred Russel Wallace, OM, FRS (Usk, País de Gales, 8 de janeiro de 1823Broadstone, Dorset, Inglaterra, 7 de novembro de 1913) foi um naturalista, geógrafo, antropólogo e biólogo britânico.
Em fevereiro de 1858, durante uma jornada de pesquisa nas ilhas Molucas, Indonésia, Wallace escreveu um ensaio no qual praticamente definia as bases da teoria da evolução e enviou-o a Charles Darwin, com quem mantinha correspondência, pedindo ao colega uma avaliação do mérito de sua teoria, bem como o encaminhamento do manuscrito ao geólogo Charles Lyell.1
Darwin, ao se dar conta de que o manuscrito de Wallace apresentava uma teoria praticamente idêntica à sua - aquela em que vinha trabalhando, com grande sigilo, ao longo de vinte anos - escreveu ao amigo Charles Lyell: "Toda a minha originalidade será esmagada". Para evitar que isso acontecesse, Lyell e o botânico Joseph Hooker - também amigo de Darwin e também influente no meio científico - propuseram que os trabalhos fossem apresentados simultaneamente à Linnean Society of London, o mais importante centro de estudos de história natural da Grã-Bretanha, o que aconteceu em 1 de julho de 1858. Em seguida, Darwin decidiu terminar e publicar rapidamente sua teoria: A Origem das Espécies foi publicada logo no ano seguinte.
Wallace foi o primeiro a propor uma "geografia" das espécies animais e, como tal, é considerado um dos precursores da ecologia e da biogeografia e, por vezes, chamado de "Pai da Biogeografia".

Concepções espíritas e aplicação da teoria à Humanidade



Alfred Russel Wallace, e assinatura, da capa de Darwinism (1889)
Em uma carta a um parente em 1861, Wallace escreveu: "Penso ter razoavelmente escutado e ponderado as evidências de ambos os lados e continuo um completo descrente de quase tudo o que você considera serem as verdades mais sagradas... Posso ver muito a ser admirado em todas as religiões... Mas quanto a haver um Deus e qual seja a Sua natureza; quanto a termos ou não uma alma imortal ou quanto ao nosso estado após a morte, não posso ter medo algum de ter que sofrer pelo estudo da natureza e pela busca da verdade...."
Em 1864, antes que Darwin tivesse abordado publicamente o assunto—apesar de outros o terem—Wallace publicou um artigo, The Origin of Human Races and the Antiquity of Man Deduced from the Theory of 'Natural Selection' (A Origem das Raças Humanas e a Antiguidade do Homem Deduzidos da Teoria de "Seleção Natural"), aplicando a teoria à Humanidade. Wallace tornou-se a seguir um espiritista e, mais tarde, argumentou que a seleção natural não poderia justificar o gênio matemático, artístico ou musical, nem contemplações metafísicas, a razão ou o humor, e que algo no "invisível universo do Espírito" tinha intercedido pelo menos três vezes na história:

  1. A criação da vida a partir da matéria inorgânica.
  2. A introdução da consciência nos animais superiores.
  3. A geração das faculdades acima mencionadas no espírito humano.
Ele também acreditava que a razão de ser do universo era o desenvolvimento do espírito humano (ver Wallace (1889)). Essas concepções muito perturbaram Darwin ao longo de sua vida, argumentando ele que apelos espirituais eram desnecessários e que a seleção sexual podia facilmente explicar esses fenômenos aparentemente não adaptativos.
Em 1865 Wallace investigou os fenômenos das mesas girantes ainda tão em voga na Europa; a mediunidade de Mr. Marshall, de Mr. Cuppy e outras, afirmando mais tarde que as comunicações com espíritos "são inteiramente comprovadas tão bem como quaisquer fatos que são provados em outras ciências".
Em muitos relatos da história da teoria da evolução, Wallace é relegado ao papel de um simples estímulo para a teoria do próprio Darwin. Na realidade, Wallace desenvolveu suas próprias concepções distintas sobre a evolução (concepções essas que divergiam das de Darwin) e era considerado por muitos (especialmente por Darwin) como um pensador de primeira grandeza sobre a teoria da evolução no seu tempo, e cujas ideias não podiam ser ignoradas. Ele é um dos naturalistas mais citados na obra de Darwin Descent of Man (A Origem do Homem), frequentemente dele discordando fortemente.


Wallace Centre

Em 14 de julho de 2005, o Ministro Chefe Pehin Sri Dr Haji Abdul Taib Mahmud instou a Unimas [2] a criar o Wallace Centre (Centro Wallace, em Santubong) em um esforço para inspirar jovens cientistas a desenvolver mais pequisas sobre a rica biodiverisdade do país.
  • WCS Sarawak. Um centro completo a ser estabelecido e denominado em honra do renomado naturalista britânico irá inspirar jovens cientistas a desenvolver mais pequisas sobre biodiversidade em Sarawak, na Borneo Malaia.

Publicações

Wallace foi um autor prolífico. Em 2002, um historiador de ciência publicou uma análise quantitativa das publicações de Wallace. Ele descobriu que Wallace havia publicado 22 livros completos e pelo menos 747 peças curtas, 508 das quais eram artigos científicos (191 deles publicados na Nature). Ele ainda subdividiu as 747 peças curtas por seus assuntos primários: 29% eram sobre biogeografia e história natural, 27% eram sobre teoria da evolução, 25% eram críticas sociais, 12% eram de Antropologia, e 7% estavam ligados ao espiritismo.36 Uma bibliografia online de escritos de Wallace tem mais de 750 entradas.22

Prêmios

Dentre os muitos prêmios concedidos a Wallace vale citar a Order of Merit (Ordem do Mérito), de 1908, a Medalha Copley da Royal Society (Sociedade Real), de 1908, a Medalha do Fundador da Royal Geographical Society e a Medalha de Ouro da Linnean Society (Sociedade Lineana), de 1892.


Alfred Russel Wallace
Explorador, biólogo, biogeógrafo, antropólogo
Alfred Russel Wallace Maull&Fox BNF Gallica.jpg

Dados gerais
Nacionalidade Reino Unido Britânico

Nascimento 8 de janeiro de 1823
Local Usk, Gales

Morte 7 de novembro de 1913 (90 anos)
Local Broadstone, Inglaterra

Actividade
Campo(s) Explorador, biólogo, biogeógrafo, antropólogo
Conhecido(a) por codescobrir a seleção natural e por suas obras em biogeografia

Prêmio(s) Medalha Real (1868), Medalha Darwin (1890), Medalha Copley (1908)

Informações mais completas no seguinte "link" da Wikipédia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_Russel_Wallace

sábado, 24 de agosto de 2013

92) Uma teoria científica relativamente recente: a do "equilíbrio pontuado"

     Alguns biólogos atuais creem que a evolução darwiniana, embora verdadeira em linhas gerais, não seguiu uma progressão linear, como supunha a mente de Darwin. Há momentos em que ela sofre uma expansão formidável, a uma taxa exponencial, ao fim do qual volta a uma expansão linear. É como se toda uma maturação subterrânea, por assim dizer, tivesse ocorrido, fugindo aos nossos olhos, e, de repente, explodisse numa febre de criações, ao fim qual volta, como disse, a uma evolução normal, linear. (Os biólogos chamam esse fenômeno de equilíbrio pontuado). Exemplo disso é a chamada "explosão cambriana" ocorrida há cerca de 580 milhões de anos atrás, no período cambriano, quando as espécies se multiplicaram em proporção geométrica num intervalo de tempo de 50 milhões de anos (geologicamente curto), voltando depois a um ritmo normal.

     No mundo quântico (ultramicroscópico), sabem os físicos que os fenômenos não se processam de modo contínuo, mas de forma descontínua ou por saltos (o chamado "salto quântico"). Mas no mundo em que vivemos, macroscópico, parece não ser assim, parece haver uma continuidade no desenvolvimento de todos os fenômenos. Parece... Mas muitos cientistas acreditam hoje que isto não é completamente verdadeiro. Ou seja, eles creem que, do somatório de pequeníssimos "saltos quânticos" que ocorrem rotineiramente no mundo quântico, surjam, embora esporadicamente, descontinuidades ou saltos no mundo macroscópico, que é o nosso. Esse é o equilíbrio pontuado, e foi observado preliminarmente na teoria darwinista da evolução biológica das espécies. Leiamos o que diz o físico quântico John Gribbin:
      
     A teoria de Charles Darwin, da evolução por seleção natural, descreve um processo gradual, com pequeninas diferenças se acumulando de uma geração para a próxima. Mas alguns biólogos evolucionistas argumentam que o registro fóssil parece mostrar longos períodos com poucas mudanças ocorrendo, alternando-se com curtos intervalos em que uma série de mudanças evolutivas acontecem. (...)
     A teoria de Darwin funciona maravilhosamente para explicar como os organismos se tornam progressivamente melhores em sua habilidade de lidar com o tipo de ambiente em que vivem (o que inclui o modo como eles coexistem ou competem com outras coisas vivas). Porém, é mais difícil ver como a teoria de Darwin, por si só, pode dar conta das dramáticas mudanças que ocorrem de tempos em tempos, quando muitas espécies desaparecem e novas se desenvolvem, o que parece comprovar a teoria citada, do equilíbrio pontuado. ("Física Moderna", Cosac & Naify Edições Ltda., 2001)
      

      Por outro lado, em sua obra "A Evolução Criativa das Espécies", o físico Amit Goswami mostra a "árvore da vida", segundo o "Atlas da Evolução", de Sir Gavin de Beer, na qual se veem que diversos ramos e sub-ramos de espécies estão pontilhados de lacunas fósseis (descontinuidades ou saltos no processo da evolução) que jamais foram preenchidos, ou seja, as formas de transição nunca foram encontradas. 
    
     A princípio, julgava-se que o "equilíbrio pontuado" valia apenas para fenômenos biológicos. Hoje, entretanto, sabe-se que ele vale para os mais diversos tipos de fenômenos, artísticos, meteorológicos, geológicos, siderais, e até mesmo sociais. Grandes movimentos sociais e populares florescem exponencialmente em dadas épocas, para depois se retraírem ou seguirem um processo evolutivo linear, isto é, de lentíssimo desenvolvimento:
    
O aparecimento da atividade vulcânica, os terremotos, as tsunamis, o período de chuvas intensas, de secas, etc., parecem comprovar o citado fenômeno. Os grandes gênios da música clássica, Beethoven, Bach, Schubert, Mozart, etc. (e mesmo da popular), não apareceram mais, pelo menos com a prodigalidade de épocas do passado, bem como os gênios da pintura, da escultura, da filosofia, das ciências, etc..        

     No que concerne ao fenômenos paranormais, dá-se o mesmo com os grandes médiuns de efeitos físicos e identificação espirítica (Eusápia, Sra. Piper, Home, Slade, Florence Cook, Stainton Moses, Kate Fox, D'Esperance, Marthe Béraud, Kluski, Guzik, Willy e Rudi Schneider, Sra. Leonard, etc.) que, com os fenômenos que produziram, converteram cientistas de primeira monta como Richet, Lombroso, Lodge, Wallace, Sidgwick, Crookes, Hare, Varley, Boutlerow, Zöllner, Barrett, Flammarion, Gibier, Morselli, Osty, Bozzano, Myers, Aksakof, Hyslop, William James, Bottazzi, Geley, Schrenck-Notzing, etc.. Floresceram entre a metade do século 19 até a década de 30 do século 20, quando ocorreu a 2ª Guerra Mundial. Dir-se-á que não existem mais? Lógico que existem, mas em número bem menor, sem a enorme efervescência (e as grandes faculdades) daqueles da época citada. Renascerão outra vez? Não sei, mas mesmo com aqueles poderes e aquela prodigalidade, não conseguiram convencer a ciência oficial. Talvez o caminho seja outro, a Física Quântica e seus fenômenos já apontam a alvorada de uma era de mudança de paradigmas exclusivamente materialistas. Ou quem sabe surja uma nova tecnologia que nos permita alguma forma de contato, mesmo elementar, com nossos amigos e parentes desaparecidos, quem o sabe?     
     Continuando a exposição, tomemos o fenômeno da atividade vulcânica. Não pode a ciência prever quando um vulcão inativo vai começar seu processo de erupção, quanto tempo vai durar, portanto, que consequências terá, e, finalmente, quando vai terminar. Pode durar um dia, um ano, ou mesmo, alguns anos.
     Do mesmo modo os fenômenos sociais. Ninguém pode prever quando começa, quanto tempo vai durar e quando terminará. Uma erupção vulcânica, além disso, pode extinguir-se abruptamente, ou pode ir se extinguindo lentamente. O mesmo com os movimentos sociais. Por outras palavras: ambos são completamente imprevisíveis em seu nascimento, desenvolvimento e extinção. 
      
     Sintetizando: muitos cientistas estão hoje convictos de que, o que governa o mundo não é a continuidade com lentíssimas mutações (como pensava Darwin, em biologia), mas a descontinuidade, isto é, mudanças abruptas e imprevisíveis, embora de forma esporádica, em certas ocasiões, seguida de uma evolução bastante lenta ao longo do tempo, antes de uma nova mutação brusca, e assim sucessivamente (teoria do equilíbrio pontuado). Originalmente, esta teoria é de 1972, mas em 1935, "Sua Voz" já parece antecipar o advento da mesma. Vejamos os textos, o primeiro referindo-se a fenômenos biológicos e o segundo a fenômenos sociais.
    
     As grandes florescências orgânicas somente surgem em períodos particulares, como o que as descobertas paleontológicas vos revelam, períodos de transição rápida, em que os edifícios dinâmicos, muito saturados de novos impulsos assimilados, se precipitam em tentativas de formas novíssimas, nas quais a vida, após longas fases de silenciosa incubação, explode numa improvisa febre de criação. São tentativas que não sobrevivem todas, períodos de construções apressadas que, entretanto, lançam as bases de novos órgãos, de novas espécies, de instintos novos.

                                                 ( - )
      

     O mundo dorme, por milênios, na estase de um ritmo monótono, sempre a retornar igualmente aos mesmos pontos, que parecem fixos. Não sabeis, entretanto, que lento trabalho subterrâneo de maturação e assimilação se produz no mundo psíquico-social, pelo qual o equilíbrio estável e fechado do passado um dia se precipita na revolução. O impulso das inovações tomou ascendência na atualidade, e a alma do mundo tenta agora, nas pegadas dos grandes pioneiros que só falaram no momento oportuno, as suas criações futuras: criações psíquicas, que são criações biológicas. (A Grande Síntese, cap. LXIX - A Sabedoria do Psiquismo).