terça-feira, 31 de dezembro de 2013

100) A mudança de paradigmas trazida pela Física Quântica

 
Amit Goswami
   

     Os parágrafos a seguir são extraídos do livro "O Universo Autoconsciente" (em inglês, "The Self-Aware Universe"), Editora Aleph Ltda., de autoria do físico indiano, naturalizado norteamericano, Amit Goswami, nascido em 1936, Doutor em Física Quântica, professor titular de física teórica da Universidade de Oregon, EUA, hoje aposentado. Refere ele:
     
     Os princípios da teoria quântica tornam possível abandonar as suposições injustificadas do realismo materialista. 

Suposição 1: Objetividade forte. A suposição básica feita pelo materialista é que há la fora um universo material objetivo, um universo onde as coisas acontecem, independentemente de nós. Essa suposição tem alguma validade operacional óbvia e frequentemente se presume que é necessária para praticar com seriedade a ciencia. Mas será ela realmente válida? A lição da Física Quântica é que um objeto quântico (um elétron, por exemplo), fora de uma medição científica, é um pacote de ondas de probabilidade que se espalham ao infinito, obedecendo à equação de Schrödinger. O ato de observá-lo faz com que entre em colapso instantaneamente o pacote quântico de ondas e se transforme numa partícula localizada. Além disso, nós é que escolhemos que aspecto -- ondas ou partículas -- objetos quânticos revelarão em uma dada situação. Sujeito e objeto estão inextricavelmente misturados. Se sujeito e objeto se entrelaçam dessa maneira, de que modo podemos manter a suposição da objetividade forte?
 
Suposição 2: Determinismo causal. Outra suposição do cientista clássico, que empresta credibilidade ao realismo materialista, diz que o mundo é fundamentalmente determinista -- que tudo que precisamos conhecer são as forças que atuam sobre cada objeto e as condições iniciais (a velocidade e a posição iniciais do objeto). O princípio da incerteza quântica, devido a Werner Heisenberg, afirma, contudo, que jamais poderemos determinar simultaneamente, com absoluta certeza, a velocidade e posição de um objeto quântico. Haverá sempre erro em nosso conhecimento das condições iniciais, e o determinismo estrito não prevalece. A própria ideia de causalidade torna-se mesmo suspeita. Uma vez que o comportamento de objetos quânticos é probabilístico, torna-se impossível uma descrição rigorosa de causa e efeito do comportamento de um objeto isolado. Em vez disso, temos uma causa estatística e um efeito estatístico quando falamos sobre um grande número de partículas.
 
Suposição 3: Localidade. A suposição da localidade -- que todas as interações entre objetos materiais são mediadas por meio de sinais locais que não podem ultrapassar a velocidade da luz, segundo a relatividade einsteiniana -- é fundamental para a ideia materialista de que eles existem basicamente independentes e separados uns dos outros. Se, contudo, ondas se espalham por enormes distâncias e, em seguida, instantaneamente desmoronam (colapsam) quando fazemos medições, então a influência da medição não viaja localmente. Por outro lado, experimentos realizados pelo cientista Alain Aspect comprovaram que elétrons correlacionados intercomunicam-se de modo instantâneo entre si. A localidade, portanto, é excluída em alguns fenômenos quânticos. Este contituiu outro golpe fatal no realismo materialista.
 
Suposição 4: Epifenomenalismo. O materialista sustenta que os fenômenos mentais subjetivos são apenas epifenômenos da matéria, isto é, são frutos do movimento de células cerebrais. Podem ser reduzidos apenas à questão do cérebro material. Se queremos compreender o comportamento de objetos quânticos, todavia, parece que precisamos introduzir a consciência -- nossa capacidade de escolher, através de uma experiência adequada, que tipo de comportamento desejamos obter -- ondas ou partículas -- de objetos quânticos.  Além do mais, parece absurdo que um epifenômeno da matéria possa afetá-la: se a consciência é um epifenômeno, de que modo pode ela provocar o colapso de uma onda espalhada de objeto quântico e transformá-la em uma partícula localizada quando realizamos uma medição quântica? 
 
Obs. minha: a propósito da noção de que o pensamento é apenas um epifenômeno da matéria cerebral, será que as moléculas de fósforo, carbono, oxigênio, hidrogênio, etc., do cérebro, com todas as suas propriedades físico-químicas, seriam capazes de explicar, por exemplo, os mais sublimes gestos de alguns seres humanos, como o amor ao próximo, a renúncia aos prazeres da vida, a doação de si mesmo, o sacrifício, a abnegação, o heroísmo, o martírio, por uma causa ou por um ideal? Ou, como dizia o astrônomo Flammarion, essas supremas atitudes de grandeza moral nada têm a ver com a Química, e denotam que o Espírito reside num mundo distinto do material, superior às vicissitudes e movimentos transitórios do mundo físico?

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