quarta-feira, 2 de outubro de 2019

126) A opinião do físico Sir William Barrett sobre os dois fenômenos, o espírita e o místico.

    Sir William Barrett
   Problema bastante complexo, sobre o qual tentei empreender uma abordagem sumária, sujeita a retificações e ampliações, no artigo número 114 deste blog. Por outro lado, no artigo 97, apresentei as credenciais científicas de Sir William Barrett e seus experimentos psíquicos que o levaram a comprovar a sobrevivência humana. Neste, ressalto a semelhança dos conceitos de 'Sua Voz" em "A Grande Síntese" (capítulos II e IV), sobre a intuição supra-racional, sintetizados por mim nos artigos 21 e 22, com os expostos  abaixo pelo eminente físico.

     Em seu livro "On the Treshold of the Unseen", traduzido para a nossa língua pelo espírita português Isidoro Duarte Santos sob o título "Nos Umbrais do Além" (Estudos Psíquicos Editora, Lisboa, 1947), o físico experimental inglês Sir William Fletcher Barrett (1844-1925), Professor de Física da Universidade de Dublin, após apresentar uma grande cópia de fatos paranormais que comprovam a existência e sobrevivência do espírito humano, à pág. 263, escreve o seguinte:

     Os fenômenos transcendentes que acabamos de estudar, longe de excluir, pressupõem o 'princípio divino da alma', empregando aqui a expressão mística. No verdadeiro sentido da palavra, o sobrenatural transcende o supranormal (ou paranormal). No dizer do reverendo J. R. Ilingworth, em seu livro 'Personality', "além da própria consciência, coloca-se certamente a realidade última, de que a consciência é o reflexo ou a fraca representação".
     A união íntima da alma com Deus, a manifestação do Infinito no finito e para o finito, eis a ideia fundamental, não só dos místicos, mas também do Novo Testamento e de todos os grandes pensadores cristãos. Atingir esta consciência mais profunda e, consequentemente, a nossa personalidade integral, pertence ao domínio da 'Religião', cujo verdadeiro tema é a vida superior, em vez da vida futura. 
     Este conhecimento de Deus, e não das modalidades de Sua ação, isto é, a consciência de Sua presença em toda parte, é o que se entende por Religião. É evidente que, nesta acepção especial, o Espiritismo não é, nem pode ser uma religião, cuja base essencial reside nos pendores elevados da alma, a que chamamos 'fé'. O cônego Scott Holland diz em "Lux Mundi": 'A fé á força que liga a vida consciente a Deus... Portanto, a fé abre à criatura uma existência inteiramente nova, que se exprime pelo Sobrenatural. O mundo sobrenatural abre-se-nos, logo que a fé verdadeira atinge o ser.'
     O Espiritismo tampouco nos poderá certificar do sobrenatural, como se pretendeu. No verdadeiro sentido da palavra, o sobrenatural é incomunicável da parte de fora, pois é a voz do Espírito Universal que fala ao espírito humano, ou, no dizer de Plótino, 'o voo da consciência pessoal em direção à Consciência Transcendental, porque se quiser ouvir a voz de Deus, a alma deve permanecer em absoluta paz interna'. À semelhança dos grandes profetas e dos poetas, algumas almas humanas mais humildes tiveram esta revelação divina.
     Esta separação de si mesmo, esta renúncia total é que permite à Consciência de Deus penetrar em nossa vida. Sentimos enfraquecer a vontade consciente, tomamos contato com a Vontade Divina e só então atingimos a finalidade da existência terrestre: contatar a Consciência Divina e descobrir a nossa verdadeira personalidade, que é imortal e só se realizará integralmente quando atingir esse objetivo. É a finalidade da vida. Hermann Lotze disse-nos que 'a personalidade integral está em Deus'. Por outras palavras, quando nos tornarmos conscientes da Vida e do Amor Divino em nós, nossa vida humana partilhará conscientemente da Vida sem fim na Divindade; sem esta consciência, a existência não só é pouco satisfatória, mas também difícil de suportar. 
     Concluir, pois, como se faz habitualmente, que as comunicações espíritas nos ensinam a imortalidade indubitável, inerente, da alma, parece-me um grande erro. É verdade que nos demonstram que a vida pode existir no invisível, e (se aceitarmos as provas de identidade) que alguns seres que conhecemos na Terra continuam a viver e estão perto de nós. Mas a existência da vida após a morte não implica, necessariamente, na imortalidade, ou seja, na persistência eterna da nossa personalidade; isso prova apenas que a sobrevivência se estende a todos. Evidentemente, nenhuma prova experimental poderá jamais afirmar-nos uma ou outra crença, embora a crença espírita possa fazer ou faça justiça às objeções levantadas contra a possibilidade da sobrevivência.

Nota minha: Para se atingir esse estado voluntário de 'comunhão íntima com o divino', necessário se faz um laborioso trabalho de ascese e purificação, moral e espiritual, evitando até mesmo a ingestão de alimentos nocivos ao circuito vital. É o que nos ensinam os grandes místicos.

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