sábado, 19 de setembro de 2020

127) A síntese psíquica de Myers, ampliada por Geley, e rematada por Bozzano (parte 1)

      Frederic Myers

     Relendo mais acuradamente o livro do ilustre parapsicólogo francês (anti-espírita) René Sudre, intitulado "Tratado de Parapsicologia" (Zahar Editores, 1976, 458 páginas), inspirei-me em alguns textos dele para extrair excertos relativo aos autores Myers e Geley, embora um tanto modificados, para melhor ressaltar o que julgo ser a tese fundamental dos mesmos. Declaro ainda que o texto do filósofo Ernesto Bozzano eu o retirei de seu livro, "Animismo ou Espiritismo? Qual deles explica os fatos?", extraordinária síntese da obra de 40 anos do "grande mestre da ciência da Alma".

     De todos os psicólogos, o inglês Frederic William Henry Myers (em seu livro, "A Personalidade Humana") foi o primeiro e, ainda hoje, quase o único, que tentou uma síntese do conjunto dos fatos parapsíquicos, como atesta a filosofia espiritualista do francês Gustave Geley, que dela resultou. A nova e importante teoria do "Eu Subliminar" sintetiza a teoria psicológica de Myers. 
     Os fatos do hipnotismo, de dissociação da personalidade, de automatismo, dos sonhos durante o sono fisiológico, etc., mostraram desde muito que o inconsciente do homem não era somente o fisiológico, mas que também era preciso admitir a existência de uma atividade mental inconsciente ou, para ser mais explícito, de uma atividade subconsciente. Tomando por empréstimo o vocábulo criado para as necessidades da Psicofisiologia, o "umbral da consciência", Myers distinguiu um "eu supraliminar" (isto é, situado acima do limiar da consciência, o nosso "eu consciente"), e um "eu subliminar" (isto é, situado abaixo do limiar da consciência, o "eu subconsciente"), eu subliminar muito mais amplo e, em alguns casos, superior. Em realidade, há um só eu, cuja consciência supraliminar (normal) não é mais que um fragmento, fragmento esse que é responsável pela atividade prática do nosso dia-a-dia. 
     Aqui, Myers faz uma comparação com o fenômeno de dispersão da luz solar branca por um prisma ótico. O eu supraliminar corresponderia à estreita faixa visível do espectro, que vai do vermelho ao violeta. Aquém do vermelho, nas regiões de baixa frequência, há o infravermelho, que corresponde ao subliminar inferior, e que é responsável, por exemplo, pelos sonhos triviais que ocorrem durante o sono fisiológico. Além do violeta, nas regiões de alta frequência, há o ultravioleta, que corresponde ao subliminar superior, e que é responsável pelas funções psíquicas mais elevadas, tais como a genialidade, o êxtase místico, e as faculdade paranormais (telepatia, clarividência, e, às vezes, precognição). Assim, como mostra a comparação do espectro, o subliminar está longe de ser homogêneo.
     Os dois "eus", supraliminar e subliminar, são separados por um "diafragma psíquico". Quando se enfraquece o controle do "eu supraliminar", elementos do subliminar podem atravessar aquele diafragma. É o que ocorre nos nossos sonhos. Contudo, em casos mais raros e graves, podem dar origem às neuroses. Isto porque, para Myers, o subliminar inferior é dependente do funcionamento de certos centros cerebrais ordinariamente inconscientes. Por outro lado, quando afloram estratos do "eu subliminar" superior, temos, como afirmamos, a eclosão das criações do gênio, dos êxtases místicos, e das faculdades de ordem paranormal. O "eu subliminar" superior (que, em sua integralidade, constitui o verdadeiro "eu" sobrevivente à morte do corpo) participa de um mundo espiritual e, nesse mundo, ele age de modo autônomo, independentemente das limitações da vida orgânica, exercendo normalmente suas funções de telepatia e clarividência. A prova fundamental é dada pela telepatia no mundo dos vivos. De fato, para Myers, a telepatia entre dois espíritos encarnados, com independência dos órgãos sensoriais, é logicamente continuada pela telepatia entre encarnados e desencarnados. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário