sexta-feira, 4 de junho de 2010



15)03 Abr 2010
Uma Resposta de Bozzano a Espíritas Portugueses

Os leitores da Revista do Espiritismo, ano ll, nº 6, nov/dez de 1928, editada em Lisboa, dirigiram a seguinte pergunta ao filósofo Ernesto Bozzano, por eles considerado como a maior autoridade mundial nesses assuntos: "Os psicólogos e fisiologistas sustentam que o pensamento é função do cérebro. O que pensa o senhor, como espiritualista, acerca dessa questão?
A resposta de Bozzano foi a seguinte: "Preliminarmente, penso que o movimento espiritualista chegou na sua hora; é o mesmo que dizer, chegou quando a posição do materialismo parecia fortíssima e a sua desoladora filosofia se apossara, inexoravelmente, de todas as inteligências mais elevadas e já transbordava, ameaçadora, entre as turbas, espalhando por toda a parte os germes da dissolução moral e social, porque a força das pesquisas biológicas, fisiológicas, histológicas e psicológicas convergiam todas para demonstrar que o pensamento era função do cérebro. -- Eis que surge no horizonte entenebrecido do saber humano a aurora radiosa de uma nova ciência -- a Ciência da Alma -- pela qual se demonstra, tendo por fundamento os fatos, que o suposto axioma da materialismo, "o pensamento é função do cérebro", é fundado em meras aparências fenomênicas, enquanto a análise rigorosa dos fenômenos psíquicos conscientes, subconscientes, normais e paranormais demonstra precisamente o contrário, isto é, que o pensamento é uma força organizante; que o cérebro é o produto de um dinamismo psíquico de ordem transcendental, originado no espírito organizador do corpo, e sobrevivente à morte desse mesmo corpo".
"Em outras palavras; com respeito também ao grande problema que se refere às relações existentes entre o "pensamento e o órgão cerebral" demonstra-se, mais uma vez, a eloquente e impressionante verdade de que o testemunho dos sentidos e a aparência das coisas são a tal ponto falazes que, para estarmos com a verdade, basta pensarmos o contrário daquilo que julgamos ver e reconhecer. E as provas disso abundam. Eis aqui algumas, a título de exemplo:
"Vemos o Sol nascer e subir todos os dias, dando uma volta completa, enquanto a Terra permanece imóvel: erro; a verdade é exatamente o contrário. Deleita o nosso espírito um harmonioso concerto: erro; não há sons na natureza; há apenas vibrações do ar com uma certa amplitude e velocidade, silenciosas em si mesmas, que, captadas pelo nosso nervo auditivo, nos dão a sensação de sons. O arco-íris brilha no céu com a sua bela gama de cores vistosas: erro; não existem cores na natureza; o que existem são oscilações eletromagnéticas de variadas frequências, que atingindo o nosso nervo óptico, criam para nós a impressão das cores. Sofremos com o calor no verão e com o frio no inverno: erro; não existe calor nem frio, mas só ondulações eletromagnéticas que produzem essa espécie de sensações sobre o nosso sistema nervoso. Palpamos um corpo sólido qualquer e estamos bem certos de que é realmente sólido: erro; esse corpo é formado de moléculas que não se tocam, distanciadíssimas entre si, muito mais que as próprias dimensões moleculares, e que nos dão a aparência de solidez em virtude da sua enorme velocidade vibratória. Queimamo-nos se aproximarmos a mão da chama de uma vela e sentimos uma dor viva localizada no ponto exato em que nos queimamos: erro; é no nosso cérebro que se localiza a sensação de calor. Esta é uma breve enumeração dos erros a que nos conduz o testemunho dos nossos sentidos".
"E, agora, tiremos as consequências experimentais para base rigorosa de quanto as pesquisas metapsíquicas têm demonstrado sobre as relações existentes entre "cérebro e pensamento". Os fisiologistas sustentam que o pensamento é função do cérebro: erro; esta também é uma aparência enganadora. Para estar com a verdade deve-se pensar justamente o contrário: Mens agitat molem! como dizia Virgílio (o espírito anima a matéria).
"Convém notar que o Barão Carl du Prel chegou às mesmas conclusões, investigando o problema dos "estigmas", pelo qual se demonstra que o pensamento é uma "força organizadora". Ele conclui assim: "O materialismo afirma: -- o espírito é o produto do corpo, o pensamento é uma secreção do cérebro. Invertamos a proposição e estaremos com a verdade."
"Eu poderia citar vários casos, mas me limitarei a citar um só, relativamente à falácia do que os neurologistas e psicólogos chamam de "paralelismo neuro-psicofísico". Trata-se de um fato que ocorreu no final da primeira grande guerra, e que obteve grande repercussão nos jornais da época. Consta do seguinte: um suboficial da Antuérpia se queixava, havia dois anos, de persistente dor de cabeça, que, entretanto, nunca o impediu de cumprir todos os deveres do deu posto. Tendo morrido subitamente, procederam-lhe à autópsia e descobriram que ele não tinha mais cérebro: um abcesso lhe reduzira todo o órgão cerebral a uma papa de pus. O famoso psiquiatra prof. Enrico Morselli chegou a observar que esta e outras tão extraordinárias "exceções à regra" constituíam um enigma dos mais perturbadores da hodierna neurofisiologia".
"Estabelecido isto, e volvendo a nossa atenção às consequências que esta grande Verdade, promulgada pelas pesquisas metapsíquicas, tem na vida social, deveremos concluir que, à medida que o conhecimento sobre a verdadeira natureza da individualidade pensante se difundir entre os povos (o que, um dia, há de suceder, pois fatos são fatos e, cedo ou tarde, abrirão caminho por si mesmos), produzir-se-á fatalmente uma lenta e profunda transformação na evolução espiritual da humanidade; transformação que levará a uma definitiva e radical reforma das nossas concepções religiosas, filosóficas, morais, sociais, individuais".
"Isto significa que chegará o dia em que já não haverá sobre a Terra "religiões", mas, sim, a "religião", já não haverá "filosofias", mas, sim, a "filosofia"; já não haverá contestações sobre a existência de uma moral na vida, mas se conhecerão as bases da "verdadeira moral"; já não haverá nações antagonistas no mundo, mas se terá estabelecido a unidade harmônica da família humana; já não haverá partidos, seitas, utópicos fermentos sociais que dilaceram a existência dos povos, mas reinará, soberana, uma lei espiritual respeitada e praticada, espontaneamente, por todos -- fraternidade, solidariedade, amor, entre os peregrinos de um dia no mundo dos vivos".
"Reconheço que o advento de um dia assim ainda está distante, talvez para os séculos futuros, visto que as grandes transformações sociais se realizam por lenta evolução, e não por revoluções que podem por em perigo as pequenas e penosas conquistas já realizadas pela humanidade. Como quer que seja, é preciso ter presente que, do novo movimento metapsíquico - espiritista, deve renascer o "fermento vital" que salvará a civilização hodierna da decadência que a ameaça, orientando-a, seguramente, para o glorioso futuro que o destino lhe reserva".
Ernesto Bozzano

Obs. minha: apesar da opinião do grande filósofo italiano, o dia por ele previsto parece, principalmente após esse processo de globalização excludente (ou não solidária, como diz Raul Alfonsin), infinitamente distante. Infelizmente.

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