sexta-feira, 4 de junho de 2010



20)06 Abr 2010
Mais Alguns Textos Excepcionais de Lombroso (2)

"Eu que era tão hostil ao Espiritismo ao ponto de não aquiescer por largo tempo em ao menos assistir a uma experiência, deveria, em 1882, presenciar, na qualidade de neuropatologista, fenômenos psíquicos singulares, que não encontravam nenhuma explicação na Ciência, salvo a de ocorrerem em indivíduos histéricos ou hipnotizados. Tais fenômenos (que desenvolverei mais adiante), eram, em síntese: transposição dos sentidos, transmissão do pensamento, visão a distância sem auxílio dos olhos, e, em alguns casos, premonição. Todos esses casos foram suficientes para me levar à conclusão de que há uma série imensa de fenômenos psíquicos que fogem totalmente às leis da hodierna psico-fisiologia, e só têm de comum o manifestarem-se mais facilmente nos indivíduos afetados de histerismo, neuropatia, em estado hipnótico ou em sonhos, que se assinalam qundo a ideação normal é mais ou menos completamente inativa, e em seu lugar domina completa a ação do inconsciente, que foge a toda indagação científica, o que demonstra a manifestação exagerada de uma função quando o órgão está completamente inativo. Um esboço de explicação para esses e outros fenômenos poderia ser obtida se admitíssemos o -- assim chamado -- duplo do corpo, do qual estão cheias as lendas dos antigos. Estes, porém, observaram poucos fatos de aparições e de sonhos, enquanto nós, ao contrário, temos, para lhes dar crédito, uma longa série de observações e de provas. Se algumas, tomadas isoladamente, podem ser postas em dúvida, elas adquirem, a semelhança das pedras de um abóbada, a solidez da sua união recíproca".
(Obs.: o que Lombroso chama "duplo" representa, para os espíritas, o que Kardec denominou "perispírito").
"O mundo acadêmico é propenso a dissimular, a negar os fatos que se rebelam a qualquer explicação preconcebida, tais como os tão pouco aceitáveis que revelam as influências do Além-túmulo. Assim mesmo repito, se bem seja perigoso fazê-lo, nenhuma outra explicação dos fenômenos espiritistas é possível, senão aquela -- que os impropriamente chamados mortos conservam ainda suficiente energia para realizar, sob a influência dos médiuns, o que estes e os assistentes às sessões não poderiam fazer por si mesmos. E aqui recordo, oportunamente, que os povos primitivos, que criam nos magos e até os fabricavam artificialmente (ver o capítulo 5), atribuiam grande potência a esses seus médiuns, um poder que se baseava, em mor parte, no conselho e no auxílio dos Espíritos. E no poder dos Espíritos dos mortos todos os povos antigos e bárbaros acreditavam, como veremos mais adiante, e crêem também todos os povos selvagens do mundo (e foi esta por certo a base de todas as religiões), com uma tenacidade e uma uniformidade que deve ser tida, se não como prova, ao menos como indício seguro da verdade".
"Tratar-se-ia, não já de puros Espíritos privados de matéria, que de resto nem a nossa imaginação pode conceber, mas de corpos nos quais a matéria está de tal modo sutilizada que só pode ser ponderável ou visível em circunstâncias muito especiais, tais os corpos radioativos que podem desenvolver luz e calor sem aparentemente perderem o peso... O que nós temos por imaterial ou incorpóreo é produto de uma concepção fictícia: trata-se, em suma, de um grau de consistência atenuado, sem qualquer efeito sobre os nossos sentidos, talvez porque formado de alguma substância muito mais fluida, muito mais sutil do que algum daqueles gases raros, cuja existência negamos e ainda negaríamos, se a Química não os tivesse confirmado".
"As condições especiais do "transe", nas quais, pela paralisia de alguns centros cerebrais, é ativada a ação de outros centros, dão ao médium, em certos momentos, mais extensas faculdades, que ele não possuía antes do transe, e que o trivial dos homens não possui comumente. Ativa-se, acima de tudo, a ação do inconsciente; vêm à superfície e predominam aqueles centros que parecem inativos na vida comum, recordam-se fatos esquecidos há muito tempo (criptomnésia), consegue-se captar o pensamento dos presentes. Explica-se, assim, o modo por que o médium, em transe, relembra todos os fatos de sua vida e capta o pensamento dos presentes à sessão".
"Mas ele não pode apreender e logo manifestar o que sempre ignorou, se não está no pensamento dos assistentes à sessão, nem, sem a ajuda destes, pode desenvolver uma força muitas vezes maior que a sua própria; nem ter a energia que antes não possuia. Assim, quando prevê o futuro; quando, sem estudos literários, escreve um romance; quando esboça uma escultura sem intervenção, ao menos momentânea, de um escultor; quando dá comunicações ignoradas por todos; quando escreve com os caracteres e com o estilo de falecidos desconhecidos dos presentes; tudo isso ocorre porque à energia do médium se associa uma outra que, transitoriamente, dá aos vivos condições que eles não possuem: perceber o futuro, improvisar-se artistas,etc.."
"Mas se alguns desses fenômenos nos pode ser ou parecer incerto, o conjunto de todos forma um compacto mosaico de provas resistentes aos ataques da mais severa dúvida".
César Lombroso.

Esta foi a última obra escrita pelo grande criminologista e psiquiatra italiano, considerado, como já disse, o pai da nova ciência conhecida como Antropologia Criminal, e cuja desencarnação se deu alguns dias após ele ter datado o prefácio; o seu título original é Ricerche sui Fenomeni Ipnotici e Spiritici (Pesquisas sobre os fenômenos Hipnóticos e Espiríticos).
Sobre esta obra escreveu o Prof. A. Marzorati, um dos colaboradores de Lombroso nas suas experiências mediúnicas: "O último volume de Lombroso, já citado, não é trabalho de crítica, mas de descoberta, é uma obra-prima de erudição e sinceridade, um monumento de síntese que ficará para sempre como o testamento científico, não só de quem o escreveu, mas de toda uma época que, partindo da negação, passou, de descoberta em descoberta, a experimentar toda a embriaguez do vir a ser, e que, na pesquisa inquieta e afanosa da matéria, tocou o umbral do mundo olvidado e pressentiu as misteriosas potências do Espírito. A posteridade, sempre muito mais justa que os contemporâneos, saberá contar, entre os títulos de glória do grande criminologista, as pesquisas que ele (entre vários outros) realizou e que o levaram a proclamar corajosamente a veracidade da doutrina espiritualista".

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