sexta-feira, 4 de junho de 2010



53)19 Abr 2010
O Lento Caminho do Progresso

Lembro-me de que, em 1961, o então presidente John Kennedy foi obrigado a lançar mão de tropas federais para garantir que dois estudantes negros, aprovados nos concursos, pudessem estudar em Universidades norteamericanas (não me lembro agora quais); houve de tudo: confrontos entre manifestantes brancos e a polícia, bombas de gás lacrimogêneo, feridos, presos, mas, no final, os negros conseguiram adentrar na universidade e terminar o seu curso, embora, no correr do mesmo, tivessem sofrido inúmeros deboches e hostilidades. Pois bem, quem diria, naquela época, que precisamente 47 anos depois, a maioria dos americanos escolheriam um negro para presidente da república? Sim, como dizia o astrônomo Flammarion, o progresso caminha ... com prudente lentidão. (Neste caso, nem se pode dizer que foi com tanta lentidão assim).
Estou me valendo de uma frase que o célebre astrônomo exarou ao fazer um prefácio genial para o livro de M. Sage que, em português, se chamou "Outra Vida?" (hoje raríssimo), editado em 1903 por Laemmert & C. -- Editores (rua do Ouvidor, 66, RJ), livro já por mim citado em artigo anterior. Diz então Flammarion, que escrevia, é bom frisar, em finais do século dezenove:

"As Atas da Sociedade de Pesquisas Psíquicas ficarão na ciência do futuro como uma biblioteca de documentos do maior valor para o conhecimento da alma humana, entidade ainda tão misteriosa hoje como na época em que Sócrates recomendava que nos estudássemos a nós mesmos. Determinamos a posição do nosso planeta no universo, medimos o sistema do mundo, calculamos os pesos dos astros, analisamo-lhes a constituição química, calculamos até as distâncias das estrelas, e -- não nos conhecemos a nós mesmos !"
"Entretanto, parece que é esse o estudo mais importante que poderíamos fazer. Mas há cerca de dois mil anos que somos educados com a idéia de que isso seria uma indagação inútil, perigosa e proibida; diziam-nos: "Nada tendes que ver com isso, profanos, estamos aqui para vos ensinar a verdade que possuímos, que recebemos de Deus em pessoa; a alma nasce com o corpo, mas não morre com ele; é enviada ao inferno, ao purgatório ou ao céu. É muito simples, não vos deis ao trabalho de procurar outra coisa".
"Houve pesquisadores, curiosos, alquimistas, feiticeiros, extratores da quinta essência, que tentaram evocar mortos, e que foram, em grande parte, vítimas de singulares ilusões. Muitos desses investigadores não tiveram grande êxito, e, para prová-lo, a Inquisição queimou-os aos milhares, em todos os países, em Paris como em Roma, em Colonha como em Cadix".
"Os tempos mudaram, mas muito lentamente. Queimaram Giordano Bruno, em Roma, porque ensinava a doutrina da pluralidade dos mundos habitados; não queimaram Galileu porque deu aos seus juízes a honra de lhes confessar que o nosso planeta não se move; não se queima mais ninguém hoje: mas os jornais bem orientados declaram que os únicos sábios verdadeiros são aqueles que vão à missa. Sim, o progresso caminha ... com prudente lentidão".

Recordo que essas citações são, como disse, de finais do 19º século, quando a Igreja Católica ainda era muito obscurantista.

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