sexta-feira, 4 de junho de 2010

Rochester

Wera Krijanowskaia


60)29 Abr 2010
Uma reapreciação histórica da figura de Moisés, feita pelo Espírito do Conde de Rochester.

Convém esclarecer que as obras do Espírito do Conde de Rochester, psicografadas pela médium russa Wera Krijanowsky (ou Krijanowskaia, como querem alguns), escritas no final do século dezenove e início do vinte, abrangem, ao que se sabe, 57 obras, sob a forma de romances de fundo espiritista. Dessas, graças principalmente aos esforços de espíritas brasileiros, admiradores da obra do autor espiritual, que viajaram pelo mundo todo (principalmente o eslavo) e conseguiram recuperar muitas que se julgavam perdidas, em virtude da destruição causada por duas guerras mundiais, foram traduzidas (até do russo e do polonês, entre outras línguas) e publicadas 42 obras, dando-se 15, ao que parece até agora, como perdidas.
A jovem médium era filha de família russa muito distinta. Não obstante ter recebido no Instituto Imperial de S. Petersburgo uma sólida instrução, ela não se aprofundou em nenhum ramo de conhecimentos. Sua mediunidade, segundo se pode saber pelas revistas europeias da época, consistia principalmente na escritura mecânica, e o automatismo lhe era tão caracterizado que a sua mão traçava as palavras com uma rapidez vertiginosa, com uma inconsciência completa das ideias contidas em seus escritos. Além disso, as narrações que lhe eram assim ditadas denotavam tal conhecimento da vida e dos costumes das mais antigas civilizações do passado, traziam, em suas minúcias, tal cunho de feição da época e de veracidade histórica, que será difícil ao leitor não lhes reconhecer a autenticidade. Sábios e estudiosos de antigas civilizações, como o prof. alemão G. Ebers, afirmaram que seria impossível, ao historiador mais erudito, estudar, simultaneamente e a fundo, épocas e meios tão diferentes, com conhecimento de causa, como as civilizações assíria, babilônica, egípcia, fenícia, grega e romana; costumes tão dessemelhantes como os da França de Luiz XI e da Renascença; em uma palavra, seria impossível, diz Ebers, ao historiador mais fecundo, passar, com notável facilidade e fidelidade histórica, de Moisés a Carlos IX, ainda mais quando se sabe que a médium traçava os seus escritos com incrível celeridade.
Embora "A Vingança do Judeu" seja considerada a sua obra prima, um lugar de grande destaque é ocupado também pela sua obra "O Faraó Mernephtah" (ed. da LAKE). Nela, Rochester afirma ter sido, na Terra, o citado Faraó, que foi derrotado por Moisés, na célebre fuga dos judeus do seu cativeiro no antigo Egito. (Esses fatos remontam a cerca de 1200 anos a.c.). O autor espiritual afirma que Moisés era filho biológico da jovem princesa Thermutis (filha do Faraó) com um judeu chamado Ithamar (embora a Bíblia diga que era filho adotivo da princesa), e, pois, neto do Faraó. Nele, entretanto, predominavam nitidamente os traços fisionômicos do hebreu (judeu) clássico, e não deixava de ser um filho bastardo, fruto da união de uma nobre egípcia com um escravo. Quem quiser aquilatar o valor da obra, concordando ou não com ela, deverá ler o original, facilmente encontrado nas boas livrarias. Aqui, entretanto, devo cingir-me a fazer duas citações da mencionada obra. Moisés, apesar dos seus traços, sob a discreta proteção da mãe, que muito poucos sabiam ser sua mãe verdadeira (só o Faraó, um médico de sua estrita confiança, e a dama de companhia da princesa sabiam), foi educado nas melhores escolas do Egito e frequentava, desde pequeno, a alta corte egípcia, sendo tratado então com carinho pelo próprio Faraó. Mas qual a sua verdadeira missão? Demos a palavra, agora, a Rochester.

"A missão divina de Moisés era conquistar, com brandura e meiguice, a amizade de Mernephtah e dominar, assim, esse homem violento, mas generoso. Por intermédio do Faraó, deveria aliviar pacientemente a sorte dos hebreus, prepará-los para a liberdade e, chegado o momento favorável, obter de Mernephtah a sua libertação. O ensejo de tornar-se árbitro da situação não lhe teria faltado, no momento oportuno"
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"Para disciplinar o turbulento e desleixado povo hebreu daquela época, decretou leis. Aqui, faço inteira justiça à sabedoria e profundeza do seu espírito, que soube reunir num resumo exato a essência da sabedoria da Índia e do Egito, e que, pelos dez mandamentos e a crença num único Deus, estabeleceu as bases das leis fundamentais da moralidade, que se tornaram herança de todos os povos cristãos. Nisso, o grande missionário foi digno do seu mandato divino; mas, onde o homem político sobrepõe-se ao profeta, surge a sombra. Ele sabia que a união faz a força; deu, pois, às hordas vacilantes que conduzia, um código que as galvanizou num povo indestrutível. Entretanto, essas leis que ele afirmava ter recebido diretamente do Criador Eterno, são excessivamente crueis; consagram a pilhagem, a carnificina, a pena de maior vingança até a quarta geração, e o ódio a tudo que não seja hebreu; elas fizeram do povo judeu inimigo de tudo que não seja dele, buscando a vantagem fácil a expensas de outrem, recordando que os roubos ordenados pelo Eterno, por ocasião da saída do Egito, o haviam enriquecido sem esforço".
"Tudo quanto acabo de referir, bem o sei, levantará uma tempestade contra mim, espírito audacioso, que ousou erguer a ponta do lendário veu que encobre o grande legislador hebreu, para revelar, por baixo do Moisés profeta, o ambicioso candidato a um trono. Caros leitores, não vos esqueçais, porém, de que o escritor destas linhas é Mernephtah, o infeliz Faraó que lutou contra esse homem férreo, com desespero do soberano que assiste à destruição da prosperidade do seu povo, mediante inauditas calamidades e comoções políticas sem precedentes na história".
"Submetido pelo terror, quase louco pela impossibilidade em que me encontrava de compreender o modo pelo qual Moisés agia, na missão divina de que se dizia possuidor, e em que eu não acreditava, cedi ; mas, após a morte do Faraó, meu espírito sondou avidamente a vida e as ações do antagonista que me vencera. Diante do olhar desabusado do meu espírito, o grande profeta empalidece, não restando senão alguns raios divinos; dele apenas fica, sob o grande sábio, o hábil e ambicioso político. É assim que ele me ressurge na memória, ao vos oferecer estas páginas de um longínquo passado".
No final da obra, Rochester diz:

"É verdade que Moisés pregou a existência de um Deus único e, pelos dez mandamentos, estabeleceu uma base para o futuro edifício da cristandade, mas também lhe pertencerá a responsabilidade de ter feito do Supremo Criador do Universo, do Ser infinitamente grande, sábio e misericordioso, o Deus parcial, vingativo e sanguinário do Velho Testamento".

Aqui, seria conveniente dizer que alguns espiritualistas (entre os quais não me incluo), não concordam com as opiniões do autor, embora respeitem o seu ponto de vista.

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