sexta-feira, 4 de junho de 2010

Carlos Imbassahy


59)29 Abr 2010
A Bíblia (Velho Testamento) não representa a Palavra de Deus.

Extraio os trechos abaixo do livro do escritor Carlos Imbassahy, "À Margem do Espiritismo"
(2ª ed., FEB, 1950, pág. 229). Diz o eminente polemista e estudioso do Espiritismo:

Acha-se em Números, cap. 31:vers. 1 em diante - "Disse Jeová a Moisés: Vinga os filhos de Israel dos Medianitas". E se Jeová o disse, Moisés melhor o fêz. Armou os homens para a guerra a fim de executarem a vingança de Deus. "E eles pelejaram comtra Midian, como Jeová ordenou a Moisés e mataram todos os homens". E mataram também o rei dos Medianitas, e Balaão, filho de Beor. E mais: "Os filhos de Israel levaram cativas as mulheres de Midian com seus pequeninos; e despojaram-nos de todos os seus rebanhos e de todos os seus bens. Queimaram-lhes a fogo todas as cidades em que habitavam e todos os acampamentos".
Parece que depois do terrível saque e da pavorosa matança, a ira de Deus e a de Moisés deveriam estar aplacadas. Pois não se saciaram. Moisés ficou furioso diante da ninharia da pilhagem e da fraqueza do morticínio: "Indignou-se Moisés contra os oficiais do exército, capitães dos milhares e capitães das centenas". E não era para menos. Uma vingança como a ordenava o Senhor deveria ser muito pior. Uma carnificina assombrosa. E Moisés intimou: "Agora matai a todos os machos entre os pequeninos e matai as mulheres que conheceram homem, e quanto às meninas deixai-as viver para vós".
Não será, porém, de admirar esse gosto pelas batalhas, esse degolamento de vencidos, essa sede de sangue, quando, segundo Êxodo, 15:3, "Jeová é homem de guerra".
Fêz ele os homens e o mundo e achou, no momento, que estava tudo muito bem feito. E era natural que o achasse. Tratava-se do Onisciente, do Onipotente. Engano, puro engano, porque depois "viu que era grande a maldade humana e então se arrependeu de ter feito o homem" (Gênesis, 6:5 a 8). Aliás, toda a sua vida bíblica é uma série de arrependimentos. Como qualquer mortal de mau gênio e maus bofes, enche-se constantemente de ira. De uma feita, Moisés chamou-o às falas: "Por que se acende a tua ira contra o teu povo?". E o aconselha, ou melhor, ordena: "Volve-te do furor da tua ira e arrepende-te deste mal contra teu povo". (Êxodo, 32:11 a 14). E vai daí, Jeová caiu em si, viu que tinha errado e, graças a Moisés, voltou atrás de suas maldades.
E ele se arrependia tanto que chegou a cansar. Como se vê em Jeremias, 15:1 a 6, ameaça fazer coisas medonhas e confessa "que está cansado de ter piedade".
Moisés desce do Sinai com as tábuas da lei, onde se dizia -- não matarás -- e logo, para exemplificar, manda matar três mil pessoas e pede a bênção para os assassinos. Pois é ainda esse quem detém o braço do Criador nas suas inomináveis violências. Aliás, foi o próprio Jeová quem, propositadamente, endureceu o coração do Faraó e de seus oficiais, para que pudesse fazer os Seus sinais diante deles (Êxodus, 10-1).
Deus ordena mais, "que se escravizem os que se entregarem, ainda mesmo por meio de paz, sem pelejarem". (Deuteron., 20:10 a 11). Nas cidades em que pelejarem manda assassinar todos, não devendo ficar coisa alguma que tenha fôlego (ídem, 20:12 a 16). Os pais devem levar os filhos desobedientes à morte (ídem, 21:18 a 21). Josué fêz parar o Sol e a Lua, quase um dia inteiro, para que os israelitas tivessem tempo de trucidar seus inimigos amorreus (Josué, 10:12 a 14). Um absurdo biológico: Jonas passa três dias no ventre de uma baleia e depois é vomitado em terra (Jonas, 1-17 e 2-1 a 10).

Convenhamos: Hitler, Napoleão, Átila, César, e outros foram muito mais humanos.

Para encerrar, e por tudo que foi dito acima, gostaria de acrescentar três pontos:

1º) Imbassahy nos deu uma das melhores definições que conheço acerca do Espiritismo:
"O Espiritismo é uma doutrina científica e filosófica que não se baseia em anacrônicos textos "pseudo-sagrados" (cujas interpretações, aliás, variam ao infinito, conforme a posição religiosa ou doutrinária de cada um), mas nos fatos cientificamente comprovados (por eminentes cientistas de diferentes países), e nos ensinamentos morais de Jesus, confirmados e ampliados nas obras de Allan Kardec, codificando o que os espíritos superiores lhe transmitiram."

2º) É um engodo, puro engodo de certas religiões e seitas, afirmarem que a Bíblia (refiro-me especificamente ao Velho Testamento) é a palavra de Deus; pode ser a palavra de um Nero, de um Hitler, mas não de Deus. A palavra de Deus encontra-se basicamente nos Evangelhos de Jesus, que substituiu toda a lei mosaica (baseada no "olho por olho, dente por dente"), pela lei do Amor: "Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo; aí estão toda a Lei e os profetas" (grifo meu). "Não façais aos outros o que não quereis que eles vos façam". "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei". "Ouvistes o que foi dito aos antigos: olho por olho, dente por dente; eu porém vos digo: não resistais ao homem mau, mas a quem te bater na face direita, oferece-lhe também a outra"; e ao que quer demandar-te em juízo e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e se alguém te obrigar a caminhar mil passos com ele, caminha mais dois mil", etc..

3º) A crença no Deus parcial (pró-hebreus), vingativo e rancoroso do Velho Testamento é o que leva os judeus a praticar a sua política de isolamento religioso, e na crença de um Cristo verdadeiro, que virá no futuro para lhes oferecer um lugar de primazia na história da humanidade (o povo privilegiado, escolhido pelo próprio Jeová).

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