sexta-feira, 4 de junho de 2010



17)05 Abr 2010
Dois Excelentes Textos de M. Sage Sobre uma Velha Alegoria de Platão (1)

O psiquista francês Miguel Sage é autor de uma bela obra, hoje raríssima, traduzida para o português sob o título Outra Vida?, publicada em 1903 pela LAEMMERT & C. -- EDITORES (R. do Ouvidor, 66), e prefaciada brilhantemente pelo célebre astrônomo Camille Flammarion. É tão antiga que nem o nome do tradutor é citado, e tive que mandar encaderná-la com muito cuidado para que as páginas não se desfizessem. Dividirei o trecho que nos interessa em duas partes para que a mensagem não fique grande demais. Vejamos então a 1ª parte.

Nosso mundo seria comparável à caverna de que nos fala Platão no 7º livro da República. Na conversação entre o Dr. Hodgson e Jorge Pelham, conversação em que este último prometeu que, se morresse primeiro e se achasse ainda no gozo de uma existência, faria tudo quanto pudesse para nos revelar essa existência, serviram-se dessa velha alegoria platoniana. Nas comunicações entre o Dr. Hodgson e o espírito Jorge Pelham, através da mediunidade da Sra. Piper, (Pelham havia falecido prematuramente, devido a uma queda de cavalo), aludiu-se àquela alegoria, e isso me autoriza a resumí-la em poucas palavras.
Imagina Platão prisioneiros acorrentados desde o nascimento em uma caverna escura, de tal modo que não podem nem se mexer nem voltar a cabeça, e não podem olhar senão em linha reta adiante de si. Atrás dos prisioneiros e por cima deles estão acesas grandes fogueiras. Homens vão e vêm entre as chamas e os prisioneiros, carregando nas mãos estátuas, imagens de animais, plantas e muitos outros objetos. As sombras desses homens e dos objetos que carregam são projetados na parede da caverna que está em frente dos prisioneiros. Estes não conhecem coisa alguma do mundo exterior senão essas sombras, que tomam pela realidade, e passam a discutir sobre essas sombras, a medí-las com o pensamento, a catalogá-las.
Um dos prisioneiros é arrancado da sua triste morada e transportado para o mundo exterior. A princípio, a luz o cega e ele não distingue coisa alguma. Mas depois, com o tempo, a sua visão se adapta ao meio, e lhe é dado admirar as belezas da natureza. Levado de novo para a caverna e acorrentado no meio de seus companheiros, toma parte nas discussões; esforça-se por lhes fazer compreender que aquilo que consideram realidades são apenas sombras. Eles porém, orgulhosos das suas longas meditações, põem-no a ridículo. A mesma coisa aconteceria ao espírito que fosse viver, durante um certo tempo, no mundo espiritual, para depois voltar ao mundo material.
Quando o prisioneiro de Platão é levado novamente para a caverna, seus olhos, que perderam o hábito da meia-escuridão, não distinguem mais nada durante certo tempo. Se é interrogado sobre as sombras e sobre os objetos diante dele, não os vê, e suas respostas são muito confusas. Talvez seja alguma coisa de análogo que acontece com os desencarnados que procuram manifestar-se a nós, servindo-se do organismo de um médium. É o que Jorge Pelham nos dá a entender. É assim que ele explica a incoerência, a confusão e mesmo as asserções falsas de muitos comunicantes.
"Para que nos ponhamos em comunicação convosco, devemos penetrar na vossa esfera, adormecer como vós: eis aí porque cometemos erros, eis aí porque somos perturbados e incoerentes. Não sou menos inteligente que outrora, pelo contrário: mas as dificuldades de comunicar são grandes. Vejo tudo muito mais claramente do que no tempo em que estava preso ao corpo; mas para me manifestar a vós, para contribuir para o progresso da ciência que chamais Parapsicologia, devo fechar-me em um organismo estranho para mim e ali sonhar, por assim dizer. É por isso que não se deve considerar as minhas afirmações com olhos de crítico extremado; devem perdoar os meus erros e as minhas lacunas".
É interessante assinalar que isto é o que Pelham dizia no início das suas comunicações. Mas, com o desenvolvimento delas, com o exercício contínuo (como não poderia deixar de ser), ele acabou adquirindo notável facilidade no manejo do instrumento mediúnico, de modo que hoje são muito raros os erros e lacunas a que anteriormente se referia.
(Fim da 1ª parte)

2 comentários:

  1. Caro André Luiz,
    teria como disponibilizar o livro "Outra Vida" para download?

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    1. Caro Enfant, grato pela pergunta, mas não tenho como disponibilizar tal livro, pois ele é de um bom amigo, que mo emprestou. Ele o conseguiu por acaso pela Estante Virtual, na qual é cadastrado, como também sou. Mas eu próprio ainda não consegui garimpá-lo na Estante. Grato pela pergunta.

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