sexta-feira, 4 de junho de 2010



48)15 Abr 2010
Uma bela página do "poeta da Astronomia"

"Quem não se assombra, quem não se extasia ao contemplar, nas noites claras, a vastidão do céu noturno, cravejado de miríades de pontos faiscantes de luz, milhões de estrelas brilhantes emoldurando o que parece ser um jardim celestial, quem não se embriaga com a esplendorosa visão? Pois bem, eis um fato em que não havia pensado antes; se o nosso grãozinho de poeira perdido no espaço, chamado Terra, fosse o único planeta habitado por seres inteligentes, o universo inteiro consubstanciado nesses milhões de astros que sulcam o espaço infinito não passaria, para o habitante do nosso pífio planeta, de um universo de ostentação...-- sim, um universo de ostentação! Uma perspectiva inútil de aparências mentirosas! Uma imensa lanterna mágica!, uma fantasmagoria, ai de mim, inebriante e fascinadora, colocada diante de nossas almas para induzí-las ao erro -- arrebatadoras imagens que o Ente supremo diverte-se em fazer desfilar diante de nossas beatas figuras, como nesses pequenos teatros ao ar livre se fazem dançar figuras de papelão para divertir as crianças risonhas!!! Eis o último refúgio daqueles que rejeitam a teoria da Pluralidade dos Mundos Habitados".
Há ainda páginas muito belas escritas pelo "poeta da astronomia" (como ele foi chamado pelo famoso escritor Michelet), mas para não me estender muito termino pelo último parágrafo da obra, que é o seguinte:
"Tornaremos a cair agora na sombra em que ontem dormíamos, e nos deixaremos outra vez atrair para o abismo da dúvida? Lá no alto a luz que resplende: fecharemos os olhos para nã vê-la? Os astros falam e sua palavra eloquente cai junto de nós: ficaremos surdos à sua voz? Sejamos humildes para merecer compreender o ensino da natureza, porém sejamos sinceros quando o tivermos compreendido. Reconheçamos quem somos e proclamêmo-lo altamente. Se foram precisos sessenta séculos e mais, antes que as ciências exatas pudessem produzir os elementos de nossa certeza, esclarecendo-nos sobre o nosso verdadeiro lugar no universo e nos permitindo chegar ao conhecimento de nosso destino; se foi precisa esta longa e santa incubação dos anos para animar com um sopro de vida nossa bela doutrina e afirmar a sua verdadeira grandeza; oh! guardêmo-la preciosamente, esta doutrina, como uma riqueza d'alma; consagrêmo-la ao Deus das Estrelas; -- E quando noites sublimes, envolvendo-nos de magnificências, acenderem no oriente suas constelações diamantinas, e no céu sem limites desenrolarem suas misteriosas claridades... através da imensidade dos Mundos, entre os céus estrelados, debaixo do véu argênteo das nebulosas longínquas, nas profundezas incomensuráveis do infinito, e até além das regiões desconhecidas onde se desenvolve o eterno esplendor... saudemos! Meus irmãos, saudemos todos: são as Humanidades, nossas irmãs, que passam! (Camille Flammarion, A Pluralidade dos Mundos Habitados, 1910, Ed. Garnier).

Esta obra é a primeira escrita pelo célebre astrônomo (em 1862, a tradução é que é de 1910), quando ele contava apenas 20 anos e é considerada, talvez, a sua obra prima; foi a primeira a tratar, de um ponto de vista rigorosamente científico , isto é, sem misticismos tolos, a questão da pluralidade dos mundos habitados. Esta obra, hoje rara, é, como dizem os americanos, um cult, e permanece atualíssima, não obstante os enormes progressos científicos obtidos desde então.

Um comentário:

  1. Estas postagens, todas, são de uma clareza magnífica. Muito tem ajudado nas minas pesquisas. Parabéns, André. Seu blog, assim como seus textos, servirão de base para meus estudos. Continue.

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