sexta-feira, 4 de junho de 2010


27)10 Abr 2010
A Natureza das Percepções Clarividentes, segundo Bozzano

O que em Metapsíquica (ou, o que vem a dar no mesmo, em Parapsicologia) se denomina clarividência (ou metagomia, ou lucidez, ou telestesia) é a faculdade possuída por alguns sensitivos (ou paranormais) de ver ou perceber fatos que ocorrem a distância sem o auxílio dos olhos, e fora de qualquer transmissão telepática de pensamentos. Para os espíritas, tratar-se-ia da visão espiritual propriamente dita. Sobre a natureza deste tipo de percepção, vejamos o que nos tem a dizer o "primus inter pares" na análise dos fenômenos psíquicos, o filósofo Ernesto Bozzano.
"Deter-me-ei agora em analisar as formas pelas quais se manifestam os fenômenos de clarividência. Trata-se de um problema bem árduo, pois tudo contribui a provar que a percepção clarividente não pode ser uma visão direta, por meio dos centros ópticos, e que, portanto, as visões clarividentes devem ser consideradas como imagens simbólicas, transmitidas pela personalidade subconsciente à personalidade consciente, com o fito de a esclarecer relativamente aos conhecimentos adquiridos. Assim, por exemplo, nas bem conhecidas experiências do major Buckley, os sonâmbulos viam desenrolar-se diante de seus olhos os bilhetes que deviam ler, não obstante estarem estes encerrados e enovelados em cascas de nozes. Assim, quando o Dr. Schotelius perguntou ao sensitivo Sr. Reese como ele se arranjava para ler os bilhetes cuidadosamente dobrados que lhe eram apresentados, ele respondeu: "Tal como faço com os que aqui estão diante de mim" -- referindo-se aos bilhetes que estavam abertos, em cima da mesa". ("Anais das Ciências Psíquicas", 1904, pág. 67).
Daí se conclui que, também nestas circunstâncias, a visão clarividente não pode ser conceituada como real, que não passa de uma visão simbólica, ou, por outras palavras, que deve consistir em imagens alucinatórias verídicas, transmitidas pela personalidade subconsciente, à consciente, no intuito de a informar pela única maneira possível. Neste ponto, atingimos o formidável problema do "modus operandi", graças ao qual a personalidade subconsciente se revela na percepção. Assinalarei, desde logo, que não se conseguirá, provavelmente, penetrar jamais na essência do mistério, pois tudo concorre para provar que as percepções subconscientes podem ser identificadas com a percepção espiritual propriamente dita -- o que pressupõe uma maneira de ver qualitativamente diferente da percepção terrestre. Esta circunstância, a seu turno, pressupõe a impossibilidade, para a personalidade subconsciente (que na plenitude integral se identificaria com o Eu espiritual), de transmitir os seus conhecimentos na forma sob a qual os percebe, e a necessidade em que se encontra de conformar-se com as modalidades sensoriais da existência terrestre, todas as vezes que se propõe transmitir os referidos conhecimentos à personalidade consciente.
De fato, se a personalidade integral subconsciente identifica-se com o Eu espiritual verdadeiro, então, sendo de natureza espiritual a sua maneira de perceber, ela só poderia ser qualitativa e quantitativamente diferente da visão terrestre, e, por conseguinte, inconcebível para os encarnados. Daí a impossibilidade, para o Eu espiritual subconsciente, de transmitir à personalidade consciente os seus próprios conhecimentos sobre assunto terreno, sem os traduzir em percepções sensoriais terrenas. E aí temos explicada a gênese e a razão de ser das imagens simbólicas, tais como se apresentam à visão dos clarividentes. Por outro lado, fica demonstrado que o Eu espiritual é independente de toda e qualquer ingerência funcional, direta ou indireta, do órgão cerebral, ao qual ele transmite, sob forma de imagens simbólicas, as suas percepções. (Ernesto Bozzano, Os Enigmas da Psicometria, ed. FEB, 1949, trad. de M. Quintão).

Nenhum comentário:

Postar um comentário