quarta-feira, 3 de abril de 2019

119) Povos primitivos e fenômenos paranormais (1)

Ernesto Bozzano
Carlos Imbassahy


Obs. minha: Todos os textos referidos abaixo foram extraídos, integralmente, da obra "O Espiritismo à Luz dos Fatos", do brilhante escritor Carlos Imbassahy (Ed. Feb, 1998, págs. 130 a 133). Imbassahy discorre:

     Em sua monografia -- "Delle Manifestazioni Supernormali tra i Poppoli Selvaggi" ("Povos Primitivos e Manifestações Paranormais", na tradução brasileira), o filósofo italiano Ernesto Bozzano escreve:
     
Basta consultar as obras dos mais eminentes antropólogos e sociólogos para verificar que todos esses autores reconhecem, de comum acordo, que a crença na sobrevivência do espírito humano é universal.
     
     E. B. Tylor, em sua obra Primitive Culture, observa que "a fórmula mínima para definir uma religião consiste na crença da existência de entidades espirituais, crença que se encontra nas raças humanas mais atrasadas com as quais conseguimos entrar em relações mais íntimas". Ele salienta ainda que "a crença em entidades espirituais implica, em seu pleno desenvolvimento, na crença da existência de uma alma sobrevivente à morte do corpo", e prossegue dizendo: "Essa crença é a base fundamental da filosofia de todas as religiões, a partir da religião dos selvagens mais atrasados para chegar à dos povos mais civilizados; essa mesma crença constitui, aliás, a filosofia mais antiga e mais universal".

     Bozzano cita ainda o reparo de Grant Allan:
     "A religião contém, em si própria, um elemento infinitamente mais antigo do que a própria religião, mais fundamental e persistente do que toda crença em Deus e nos deuses; isto é, mais antigo mesmo que o uso da propiciação aos deuses e aos espíritos por meio de oferendas, e este elemento é  a crença na sobrevivência dos trespassados. Ora, é nessa crença, universal, primitiva, que se fundaram todas as religiões". 

     Também é essa a opinião de Brinton, o qual se torna ainda mais claro e categórico quando escreve:
     "Demonstrar-vos-ei que há religiões, por tal forma rudimentares, que não têm nem altares, nem templos, nem ritos; mas me é impossível demonstrar que haja haja uma só que não nos ensine a crença em entidades espirituais que são capazes de se comunicar com os homens".

     Globet d'Alviella, tão conhecido por suas pesquisas nesse terreno, exclama:
     "As descobertas desses últimos vinte e cinco anos, sobretudo nas grutas da França e da Béigica, mostraram, de maneira decisiva, que, na época do mamute, já o homem praticava os ritos fúnebres, cria na sobrevivência da alma, possuía fetiches, e talvez ídolos". 

     Colhemos, ainda, na citada obra de Bozzano, a referência de Powers às tribos da Califórnia. Declara aquele escritor que "elas não têm nenhuma ideia do Ser Supremo, mas creem na existência dos espíritos", e Huxley afirma que "há povos selvagens sem a ideia de Deus, mas não os há sem os espíritos dos falecidos".

     Finalmente, conviria reproduzir o tópico do grande filósofo e sociólogo que foi Herbert Spencer:
     "Encontramos por toda parte a ideia da sobrevivência do espírito à morte do corpo, com todas as múltiplas consequências que daí resultam. Encontramo-la idêntica, tanto nas regiões árticas como nas tropicais; tanto nas florestas da América do Norte como nos desertos da Arábia; nos vales do Himalaia como nas extensões da África; nas fraldas dos Andes como nas ilhas da Polinésia. Essa ideia é expressa com a maior nitidez por tão diferentes raças que os técnicos foram levados a crer que tal transformação se deu antes da distribuição atual das terras e das águas, isto é, tanto entre as cabeças de cabelos lisos como entre as cabeças de cabelos anelados, ou entre as cabeças de cabelos lanosos; entre as raças brancas como entre as amarelas, as vermelhas e as negras; entre os povos mais atrasados e selvagens, como entre os bárbaros, os semicivilizados e os que se encontram na vanguarda da civilização".

     Estas citações, segundo Bozzano, representam o pensamento dos antropólogos e sociólogos mais eminentes.

     Por seu turno, em sua obra "Histoire du Spiritualisme Expérimental" (2 volumes), premiada pela Academia de Ciências da França, o psiquista e historiador César de Vesme escreve o seguinte:
     "No que se refere à doutrina teológica, limitemo-nos a notar aqui que, se nos preferirmos ater à letra de tal ou qual texto sagrado, do que ao resultado das pesquisas etnográficas, devemos, então, perguntar porque a parte essencial da revelação - a que concerne a Deus - pôde desaparecer, quase por toda parte, entre os mais atrasados povos selvagens, e desnaturar-se entre os outros até o ponto de não ser mais facilmente reconhecida, para ceder o lugar, invariavelmente, às mesmas crenças: espíritos inferiores, fantasmas, etc.?"

     Mais adiante, assegura o historiador:
     "A crença na alma, na sobrevivência, nos espíritos, impõe-se ao homem, bon gré, mal gré, independentemente de seus desejos, pela observação dos fatos de que nos iremos ocupar. Eis tudo". 

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