quarta-feira, 3 de abril de 2019

120) Povos primitivos e fenômenos paranormais (2)

     Para ilustrar o tema, citarei um único caso de fenômeno paranormal (assim mesmo, extremamente resumido) ocorrido entre os povos selvagens, instando os leitores a que recorram à monografia de Ernesto Bozzano (citada no primeiro artigo desta trilogia), para que possam conhecê-los, às dezenas, sem resumo, em sua integralidade. Vejamos:
     
     Um antropólogo e explorador inglês, Alexandre Henry, foi feito prisioneiro pelos índios norte-americanos, em 1759. Conta Henry que Sir William Johnson, comandante do Forte Niágara, enviara amistosa mensagem aos peles vermelhas, convidando seus chefes, instalados no Salto Santa Maria, a virem concluir a paz no Forte. Sendo assunto importante, quiseram consultar o espírito de um sábio cacique, falecido há alguns anos, conhecido como 'Grande Tartaruga'. Feitos os preparativos, depois de algum tempo, apresentou-se o espírito, manifestando-se na tenda mágica, primeiro sacudindo-a, e depois com a voz. Perguntado se no Forte havia muitos soldados, ausentou-se e voltou após 15 minutos, dizendo que eram pouquíssimos no Forte, e que a maioria estava esparsa, ao longo do rio, em barcos, e que se os chefes da tribo atendessem ao pedido, receberiam muitos presentes e a paz seria selada. E tal, realmente, aconteceu.

     Em sua grande obra, "Ricerche Sui Fenomeni Ipnotici ed Spiritici", o sábio psiquiatra e criminologista italiano César Lombroso, dedica dois capítulos (5 e 13, parte 2) aos fenômenos em apreço. No final do quinto capítulo, ele refere:
     "O que mais importa em todo este capítulo é a analogia entre todas as variedades de médiuns, nos mais variados tempos e povos. As manifestações especiais dos magos, feiticeiros, pajés, xamãs, taumaturgos, lamas, faquires, profetas, etc., repetem aquelas dos nossos médiuns, em especial as levitações, transportes, materializações, invulnerabilidade, incombustibilidade, profecia, xenoglossia. Ora, estes fenômenos parecem inverossímeis, porém surge a grande verossimilhança, para não dizer certeza, do fato de que se repetem em épocas, regiões e nações diversas, sem ligações históricas entre si, e algumas, ao contrário, em completo antagonismo religioso e político. E, a exemplo dos nossos médiuns, dão lugar a verdadeiros prodígios quando em estado de transe, e também agem como se estivessem sob a influência de seres diferentes dos vivos, e que prestam aos médiuns momentânea superioridade sobre os viventes privados desta associação".
     "À objeção de que as maravilhas mediúnicas se tornaram raras, é fácil de responder que, como vimos neste capítulo, nos níveis populares não são tão raras, e seriam também mais frequentes nas outras classes se fossem acolhidas sem prevenção pela opinião pública, porém são negadas e esquecidas, como se não houvessem ocorrido. Isto se depreende porque a História, a Imprensa e a Estatística fornecem respostas aparentemente mais seguras de fatos e acontecimentos próximos ou afastados, suprindo a curiosidade do público, e ainda sobre perspectivas futuras".
     "Eu, que por muitos anos venho estudando os fenômenos paranormais (anímicos e espiríticos), observei que muitos deles deviam ter sido mais frequentes em tempos anteriores, em que a magia, a telepatia, a profecia, os sonhos paranormais, estavam tão disseminados, e em que havia encarregados de descobrir e revelar indivíduos que possuíam tais faculdades".
     "É provável que em tempos muito antigos, em que a escrita era embrionária, a transmissão do pensamento entre pessoas afins, a profecia e a magia mediúnica fossem mais frequentes e mais resguardadas. E que, por isso, os povos selvagens, em vista da sua maior ocorrência nas mulheres, nos castos, e em pessoas pouco sociáveis, chegassem a escolher entre estes os seus médiuns, e fazê-los ou criá-los artificialmente".
     "Mas, com o incremento da civilização, com a escrita, com a linguagem sempre mais aperfeiçoada, o trâmite direto -- o da transmissão de pensamento -- se tornou para eles incerto e, com maior razão, prejudicial e incômodo, traindo os segredos e transmitindo as ideias com erros e confusões sempre maiores do que quando por meio dos sentidos, pelo que foram deixando de ocorrer, e assim diminuíram muito, os profetas, os magos e as aparições verídicas".
     "E, enquanto perduram, em vasta escala, nos vulgos do interior, nos aborígenes e selvagens (indianos, peles vermelhas, etc.), em nossos tempos de rapidez e alta tecnologia só despontam, de modo a serem notados, em raros indivíduos".


Obs. minha: Julgo que o meio e as condições em que viviam e vivem os povos primitivos e selvagens, de uma vida mais interior, contemplativa, em contato direto com a natureza, facilitavam, e muito, a emersão das faculdades paranormais subconscientes, ao contrário das populações do mundo tecnológico de hoje, cuja vida voltada para o exterior, em grandes cidades, longe do contato com a natureza, calcada na busca de fama, dinheiro, prazer, bens materiais e tecnológicos em ritmo superior às necessidades do próprio "eu", dificultam a irrupção daquelas faculdades subconscientes. Creio que é isto o que, em substância, Lombroso quis significar nos textos citados acima.

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