terça-feira, 10 de março de 2015

106) Acerca dos fenômenos de ectoplasmia ou teleplastia (ou seja, de materialização parcial ou total)

Barão von Notzing
 
Dr. Eugène Osty

     Comecemos por um trecho do pai da Antropologia Criminal, o médico, psiquiatra e criminologista italiano César Lombroso. Ele escreve:      
     Sir Oliver Lodge compara os fenômenos de materialização aos do molusco que pode extrair da água a matéria da sua concha, ou ao animal que pode assimilar a matéria da sua nutrição e convertê-la em músculos, pele, ossos, penas. E assim esta entidade viva, que não se manifesta ordinariamente aos nossos sentidos, se bem esteja em relação constante com o nosso universo psíquico, possuindo uma espécie de corpo sutil (melhor diremos -- radiante), pode utilizar temporariamente as moléculas terrestres que a circundam (especialmente aquelas subtraídas ao organismo do médium que geralmente está profundamente adormecido, perdendo transitoriamente parte do seu peso e, ao que tudo indica, do próprio volume corporal), para confeccionar uma espécie de estrutura material capaz de manifestar-se aos nossos sentidos.     
     (Hipnotismo e Mediunidade, 1ª ed. FEB).     
     
     Vejamos o que nos diz, sobre esses fenômenos, o pranteado mestre da Sorbonne e Prêmio Nobel de Medicina, Prof. Dr. Charles Richet, o criador da Metapsíquica (atual Parapsicologia):    
     

     Eu poderia citar numerosíssimos casos, mas me contentarei em indicar somente alguns, retornando ao meu "Tratado de Metapsíquica", aos trabalhos de Flammarion, de Gabriel Delanne, de Bozzano e de Sudre. 

1) São, em primeiro lugar (e sempre) as admiráveis experiências de Sir William Crookes que devemos relatar. Ele viu, tocou, fotografou Katie King, que tinha todas as aparências de uma pessoa real. Ele estava com a médium, Srta. Florence Cook, em seu próprio laboratório e pode observar Katie King ao mesmo tempo que Florence Cook. Pode até ouvir as pulsações do coração de Katie. Nada mais comovente que a despedida da misteriosa e fantasmagórica Katie King. Ela anuncia que chegou a hora de partir, sua missão estava cumprida e, dirigindo-se à sua médium Florence Cook, que jazia inanimada no assoalho, desperta-a, dizendo-lhe: --"Acorde, Florence, agora preciso deixá-la". Florence despertou e, entre lágrimas, suplicou à Katie que ficasse, mas foi em vão. Katie, com seu vestido branco, desapareceu. Sir William aproximou-se então de Florence, prestes a desfalecer, e Katie desapareceu qual fumaça. Nunca mais voltou.     
     Nada satisfaria mais que essa experiência feita por um homem de ciência como Crookes. René Sudre diz, com razão: "Em um Congresso científico, 24 anos depois de suas experiências no campo psíquico, o grande cientista, no apogeu de sua glória, declarou solenemente que nada havia para se retratar de seus experimentos psíquicos. Não se pode distinguir o Crookes do tálio, dos raios catódicos e dos tubos ou ampolas que levam o seu nome, do Crookes de Katie King". 

2) Meu amigo, o Dr. Gibier, sábio eminente, diretor do Instituto Bacteriológico Pasteur de Nova York... (obs.: fato já narrado no artigo 102). 

3) Com o poderoso polonês Frank Kluski, que, infelizmente, consente com relutância em fazer experimentos, meu amigo Gustavo Geley, no laboratório do Instituto Metapsíquico Internacional (IMI), tendo-o despido completamente, vê surgir diferentes formas vivas: uma velha desdentada e enrugada, um oficial polonês de uniforme e quepe, um oficial alemão igualmente de uniforme, com capacete de ponta.      
     Em outra ocasião, Geley e eu obtivemos com ele moldagens em uma parafina, trazida por nós, e caracterizada por uma reação química especial, só por nós conhecida. São moldagens de pés e mãos de crianças, moldagens que se podem ver no IMI, e que não é possível produzir por um artifício mecânico qualquer. 

4) Tive ocasião de observar, em condições de controle irrepreensível, um fantasma que era produzido pela médium Marthe Béraud, na residência do General Noel em Argel, brilhante aluno da Escola Politécnica e Comandante de Artilharia na Argélia. Esse fantasma, que dava o nome ridículo de Bien Boa, pôde, soprando em um tubo que continha água de barita, fazer a água de barita embranquecer, como se tivesse exalado gás carbônico, à maneira de um ser vivo. O fantasma achava-se de pé, diante de Marthe, que estava sentada. Fotografias estereoscópicas demonstrativas foram tiradas. Delanne, os assistentes e eu mesmo vimos, claramente, o fantasma separado de Marthe.     
     Outra vez, em outro experimento, nós todos vimos sair do chão um vapor branco que pouco a pouco se condensou, tomando a forma de um indivíduo vivo, um homem de pequena estatura, vestido com uma túnica oriental. Depois de dar alguns passos titubeantes diante de nós, bem perto de todos, a menos de um metro, desapareceu, abatendo-se sobre o solo com o ruído de clac clac, como se fossem ossos que tombavam. A impressão foi tão clara que desconfiei de um alçapão. Mas constatamos que não havia alçapão algum.      
     Quando esses experimentos foram publicados, alguns jornalistas inescrupulosos de jornais franceses, que nada viram nem nada experimentaram, espalharam que tudo foi uma grande fraude, que eu fui ridiculamente embrulhado. A falar verdade, não era só eu, mas o General Noel, de quem já falei, o Sr. Demadrille, comandante de navio, o Sr. Decréquy, o engenheiro Gabriel Delanne.      
     Mas qual foi o erro? Oh, bem simples. O General Noel tinha um cocheiro árabe, chamado Areski, que roubava a aveia dos cavalos, e a quem ele teve que despedir. Então, para vingar-se, Areski contou que entrava na sala das sessões, um tanto clareada, fechada à chave, e examinada por nós minuciosamente, antes e depois das sessões. E disse que bancava o fantasma. E como teve a sorte de encontrar um médico enigmático de Argel, que acolheu os seus ditos, conseguiu aparecer num teatro daquela cidade e mostrar-se em cena, agitando um pano branco, como nos Sinos de Corneville. Eis tudo o que se opôs às minhas experiências.     
     
     Experimentos ulteriores, aliás, reabilitaram essa Marthe, a quem acusavam de grosseira burla. Ela foi estudada com admirável cuidado pelo Barão Albert von Schrenck-Notzing, pela Sra. Juliette Bisson, pelo Dr. Geley, pelo Dr. Bourbon, e outros. Foram tiradas várias fotografias que mostraram as espantosas ectoplasmias de Marthe. Revestiam-na de roupas costuradas especialmente para ela. Exploravam tudo. Por vezes, mesmo, levaram o controle experimental até administrar-lhe um vomitório, para que se ficasse certo de que nada tinha no estômago. Detetives foram incumbidos de espreitá-la, sem nada encontrar. Durante dois anos, von Notzing e Bisson obtiveram fenômenos extraordinários e publicaram, num grosso volume, as belas provas e fotografias obtidas.     
     
     Passemos rapidamente por outros fenômenos de ectoplasmia.     
     Houve Willy Schneider, médium austríaco, sobre o qual o já citado Barão von Notzing realizou experiências positivas, severas, reiteradas, para as quais convidou cientistas, escritores, médicos, intelectuais diversos. Todos firmaram um documento, reconhecendo a autenticidade dos fenômenos. Ao todo, 58 pessoas assinaram o documento, autenticando a realidade dos fatos observados, e reafirmando a inexistência de fraudes, graças às precauções observadas pelo Barão (ver o livro do Dr. Carlos Imbassahy, "O Espiritismo à Luz dos Fatos", 5ª ed., FEB, 1998, pág. 89).    
     

     Houve Jean Guzik, médium polonês, que foi examinado no Instituto Metapsíquico Internacional (IMI), por vários cientistas, entre os quais o Dr. Gustavo Geley, e sobre cujos fenômenos (de telecinésia e ectoplasmia), 34 pessoas influentes, da elite parisiense, assinaram um documento, garantindo a autenticidade dos fenômenos observados e a impossibilidade da existência de fraude por parte do médium, devido à rigorosa fiscalização implementada (C. Imbassahy, obra citada, pág. 96).       
     
     Houve Rudi Schneider, irmão de Willy, que foi examinado, também no IMI, pelo Dr. Eugène Osty e seu filho, o Engº Marcel Osty, acompanhados por vários cientistas, com o emprego, inclusive, de raios infravermelhos a fim de averiguar as emanações psíquicas oriundas do corpo do médium, e que deu resultados conclusivos, levando à segurança absoluta, afirma o Dr. Osty, da existência dos fenômenos de ectoplasmia. (C. Imbassahy, obra citada, pág. 92).      
     
     Os fantasmas verdadeiros têm uma realidade objetiva, com roupas, um uniforme, um boné, rendas, etc.. Os olhos movem-se, a voz é ouvida, há exalações de gás carbônico. Todos os assistentes podem vê-los, eles podem ser fotografados e movem objetos. Nenhuma diferença entre esses fantasmas e um ser vivo, a não ser que, algumas vezes, eles se atenuem e desapareçam. Formam-se de um vapor, reduzem-se depois a vapor, e se desvanecem. Enfim, os fantasmas não são somente seres humanos; mostram-se vestidos, havendo portanto materialização de objetos materiais. Katie King, antes de partir, deu fragmentos do seu vestuário que, depois, soube recompor.      
     Não há somente materialização de pessoas, também há materialização de animais. De minha parte, com Guzik, consegui uma que foi realmente espantosa.     
      Em Varsóvia, numa sala fechada à chave, apareceram, iluminadas pelo luar, duas formas de indivíduos fantasmagóricos, dos quais não se viam as faces. Conversavam entre si em polonês. Um disse: -- "Por que trouxeste teu cão?". Nesse momento, ouvimos na sala o trote de um cão. Senti o cão aproximar-se de mim e morder gentilmente meu tornozelo, sem, contudo, me machucar. Foi tão nítido que pude distinguir ser um pequeno cão do qual eu sentia os pequenos dentes pontiagudos. Depois o cãozinho aproximou-se de Geley e mordeu-o com mais força, de sorte que Geley disse: -- "Chega, chega!", ao que censurei energicamente. Deveria ter dito: -- "Mais, mais!"     
     Outra vez, Kluski sendo o médium (em minha ausência), houve materialização de uma enorme águia e uma surpreendente fotografia foi tirada. Também com Kluski, Geley viu um homem primitivo com uma crina e barba espessa, a emitir sons roucos, exalando um odor de louro e roçando as mãos dos assistentes.

Notas:
1ª) Os textos do Prof. Richet, eu os extraí dos seus livros: "A Grande Esperança", "Tratado de Metapsíquica", e do discurso que pronunciou ao retirar-se, por limite de idade, de sua cátedra na Sorbonne.

2ª) Nos trechos que extraí de trabalhos do Prof. Richet, há apenas uma pequena síntese. Muitos outros fenômenos de materialização podem ser encontrados nas obras de Alexandre Aksakof ("Animismo e Espiritismo" e "Um Caso de Desmaterialização"), de Ernesto Bozzano ("Metapsíquica Humana"), de Carlos Imbassahy ("O Espiritismo à Luz dos Fatos"), de César Lombroso ("Hipnotismo e Mediunidade"), de Alfred Erny ("O Psiquismo Experimental"), de Wallace Leal Rodrigues ("Katie King"), de R. A. Ranieri ("Materializações Luminosas"), de Nogueira de Faria ("O Trabalho dos Mortos"), etc.. Quem desejar, pode consultar o trabalho original de Crookes, "Fatos Espíritas", edição da FEB.

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