quarta-feira, 18 de março de 2015

107) Os fenômenos anímicos já são, por si sós, suficientes para provar a sobrevivência humana, sem necessidade de recorrer aos fenômenos espíritas


Já tive ocasião de mencionar que os chamados fenômenos anímicos (denominação dada pelo sábio russo A. Aksakof) são aqueles produzidos pelo Espírito humano na sua condição de encarnado, em momentos raros e excepcionais de emancipação transitória de sua "prisão corporal", isto é, durante determinadas fases do sono natural, sono hipnótico, sonambúlico, êxtase, desmaio, delíquio, narcose, coma, etc.. Tais fenômenos são: memória integral, telepatia, clarividência e, mais raramente, precognição (ou premonição). Não há, no caso específico dessa fenomenologia, nenhuma ligação ou vinculação ao Espírito de pessoas falecidas. 

O filósofo Ernesto Bozzano respalda a tese de que essa casuística é fundamental para a demonstração da existência e sobrevivência do Espírito humano, não cabendo aos fenômenos espíritas propriamente ditos senão a adução da prova complementar (embora de si importante) da mesma demonstração.

Vejamos o que nos diz o pensador italiano em sua obra "A Propósito da Introdução à Metapsíquica Humana" (ed. FEB, 1992): (fiz pequenas modificações no texto, sem alterar-lhe o sentido, para adaptá-lo aos objetivos do blog).

Do lado psicofisiológico das manifestações anímicas, os defensores da hipótese espírita partem dos fenômenos de exteriorização da motricidade (telecinesia) e da sensibilidade para aqueles em que a telecinesia se entrelaça com o da passagem da matéria através da matéria, fenômeno que por sua vez se prende ao da desintegração a distância, transporte e reintegração instantânea de um objeto qualquer durante a sessão.
Nesse estudo os espíritas põem em ação os métodos de análise comparada, aproximando e ligando os ditos fenômenos aos da ideoplastia propriamente dita, em que a matéria somática do organismo do médium, exteriorizada sob forma fluídica ou semifluídica, se concretiza em um membro, em uma cabeça, em uma forma organizada, com o auxílio da vontade subconsciente do médium, compreendendo nesta série todas as manifestações anímicas de uma mesma ordem, que não diferem uma da outra senão pela gradação evolutiva e que respectivamente demonstram:

1º)   que a sensibilidade e a motricidade podem ser separadas dos sistemas nervoso e muscular;

2º)   que a subconsciente vontade humana tem o poder de desintegrar, a distância, e de transportar e de reintegrar a matéria;

3º)   que essa mesma vontade possui a faculdade de converter o organismo humano na substância amorfa e primitiva que o compõe, para, em seguida, empregá-la em reorganizar membros humanos, rostos e organismos também humanos, perfeitos e independentes do médium. Esse conjunto de faculdades naturalmente leva a inferir-se que o organismo humano deve resultar, por seu turno, de um produto dessas mesmas forças e faculdades exteriorizáveis, dominando a matéria inanimada, organizando a matéria somática, forças e faculdades dirigidas por uma vontade subconsciente de natureza transcendental. Em outros termos, esse conjunto leva logicamente a concluir-se que o espírito organiza o corpo e de modo nenhum o corpo organizado engendra o espírito, como afirmam os representantes da ciência oficial.

Nesse sentido, a obra magistral do Dr. Gustave Geley, De l’Inconscient au Conscient, é inteiramente consagrada à demonstração científica desta verdade básica. Escreve ele:

“A noção da ideoplastia imposta pelos fatos é capital: a idéia não mais é uma dependência, um produto da matéria; é a idéia, pelo contrário, que modela a matéria, transmitindo-lhe a forma e os atributos.” (Pág. 699.)

Não nos esqueçamos, portanto, de que essas primeiras conclusões, rigorosamente fundadas nos fatos, bastam, por si só, para demonstrar a existência no homem de um espírito independente da matéria, espírito que tudo indica preexistir ao corpo e que lhe sobrevive à morte, e são ao mesmo tempo mais que suficientes para aniquilar de vez o postulado fundamental em que repousa a biologia moderna, segundo o qual o órgão cerebral cria a função do pensamento, quando os fatos demonstram que é o espírito – isto é, a função do pensamento – que cria os órgãos.

Sempre sob a relação psicofisiológica, mas de um ponto de vista diferente, os defensores da hipótese espírita partem dos fenômenos de exteriorização da sensibilidade e da motricidade para chegar gradativamente às outras manifestações aliadas da formação completa de um “duplo psíquico” exteriorizado, idêntico ao do sensitivo submetido à experiência; duplo psíquico  provido de sensibilidade e de motricidade, mas desprovido de atributos inteligentes, pois reproduz mimeticamente todos os movimentos do sensitivo; passam em seguida nos casos espontâneos ou provocados, em que o “desdobramento” é ao mesmo tempo fluídico, sensorial e psíquico (bilocação), deslocando a personalidade consciente do sensitivo para o “duplo”, que então percebe, a distância, o seu próprio corpo somático inanimado e adormecido. Chegados a esse ponto, os defensores da hipótese espírita concluem necessariamente que no homem existe um “duplo psíquico" (perispírito) que se pode separar do organismo somático em circunstâncias especiais de afrouxamento vital, como na síncope, no êxtase, no sono fisiológico, no sonambúlico e no hipnótico, nos casos de inalação de clorofórmio, etc.
Todas essas condições de fatos, conjuntamente, levam de modo lógico a admitir-se que, se no homem existe um "duplo psíquico", que se pode afastar temporariamente do organismo somático, mesmo durante a vida terrestre, a morte não deve, então, ser mais que a definitiva separação do corpo somático do duplo, enriquecido este do espírito, que é o seu nível de mente.


Sob o ponto de vista puramente psíquico os defensores da hipótese partem das experiências de transmissão do pensamento, a curta distância, e passam às que são obtidas a distâncias consideráveis, abrindo caminho às manifestações telepáticas propriamente ditas, para as quais nenhum limite pode ser marcado.
Aproximam, em seguida, ligam e comparam essas manifestações demonstrativas do poder funcional do pensamento com as manifestações complementares da evolução e da espiritualização das faculdades sensoriais, a começar do fenômeno de “transposição dos sentidos” que, evoluindo gradativamente, se transformam nos de autoscopia e de aloscopia, em que o sensitivo percebe macroscopicamente e microscopicamente o interior do próprio corpo ou do de outrem.
Esses fenômenos se elevam por sua vez até se transformarem em lucidez propriamente dita, em que o sensitivo percebe através de qualquer corpo opaco inanimado; e abrem caminho para outros bastante mais importantes da percepção das causas e dos acontecimentos a qualquer distância do sensitivo (clarividência ou telestesia), fenômenos que se elevam até atingirem, por vezes, o cimo da clarividência no futuro (precognição). 
Ora, é desse maravilhoso conjunto de manifestações anímicas que os defensores da hipótese espírita logicamente deduzem o que dá motivo às considerações precedentes, isto é, que tudo isto vem demonstrar que, nos recônditos da subconsciência humana, se encontram faculdades psico-sensoriais de ordem muito elevada, que independem da “lei da seleção natural” que, por conseguinte, outros não podem ser senão os sentidos espirituais existentes e preformados, em estado latente nessa subconsciência humana, esperando emergir e exercer-se num meio espiritual, após a crise da morte, como no embrião existem pré-formados, no estado latente, os sentidos da vida terrestre, esperando emergir e exercer-se no meio terrestre, após a crise do nascimento.

Não há quem possa deixar de compreender que as três conclusões a que chegam os defensores da hipótese espírita, de que uma é o complemento da outra, cumulativamente equivalem a uma demonstração rigorosamente experimental da existência no homem: de um espírito independente do corpo, organizador do corpo e sobrevivente à morte deste mesmo corpo – demonstração que para se tornar incontestável e definitiva só espera a quarta conclusão complementar a tirar-se dos fenômenos espíritas propriamente ditos.

Tal a base indestrutível sobre a qual se apóia a hipótese espírita, sob o ponto de vista anímico, das manifestações metapsíquicas.
Não vejo aqui oportunidade de enumeração da gradação fenomênica, seguida no estudo das manifestações espíritas, propriamente ditas. Com efeito, uma vez provado que no homem existe independente do corpo um espírito que sobrevive à morte deste mesmo corpo, as conclusões a que se chega pela teoria espírita não são mais do que o corolário inevitável das premissas em foco.
Para validade de qualquer tese ou teoria, como para a solidez de qualquer construção material, tudo depende dos fundamentos, e dado nos foi ver que os fundamentos em que se firma aquela hipótese, graças aos fenômenos anímicos, são de uma solidez a toda prova, embora os opositores se quisessem servir do animismo para demonstrar o erro das teses espíritas.

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