sábado, 8 de setembro de 2012

78) Manifestações paranormais entre os povos selvagens

Ernesto Bozzano
     
     Este é o título de mais um trabalho do pensador italiano Ernesto Bozzano, que o astrônomo Flammarion alcunhou, certa vez, de "o laborioso analista dos fenômenos psíquicos", versando sobre os fenômenos paranormais que ocorrem entre os povos selvagens, tal como acontecem entre os povos civilizados, e que não são frutos de "superstições indígenas", como imaginam alguns antropólogos e sociólogos, mas resultado de observações de fatos paranormais autênticos que se verificam no seio de todos os povos, sejam eles civilizados, bárbaros ou selvagens, antigos e atuais. O filósofo italiano inicia o seu trabalho afirmando que "bastará consultar as obras dos mais eminentes antropólogos, sociólogos e missionários que viveram, longo tempo, entre os povos selvagens, para verificar que todos esses autores reconhecem, de comum acordo, que a crença na sobrevivência do espírito humano é universal."
     Bozzano cita o antropólogo E. B. Tylor, o qual observa, em sua obra Primitive Culture que "a fórmula mínima para definir uma religião consiste na crença de entidades espirituais, que se encontra no meio das mais atrasadas raças humanas com as quais temos conseguido entrar em relações íntimas". Acrescenta que "essas entidades são as almas que sobreviveram à morte do corpo." E continua: "tal crença é a base fundamental de todas as religiões, a partir das religiões dos selvagens para chegar às dos povos civilizados; constitui, aliás, a religião ou filosofia mais antiga e universal."
     O antropólogo Andrew Lang, em seu livro The Making of Religion, comparou as manifestações que se realizam entre os povos primitivos com as que se verificam entre entre os civilizados, quer sejam espontâneas, quer produzidas experimentalmente, e assegura que a melhor prova de tais fenômenos se encontra na admirável concordância com as descrições análogas, vindas de diferentes lugares e diferentes épocas. E conclui, apud Bozzano: "Quando as circunstâncias que nos relatam os exploradores, assim os antigos como os modernos, instruídos ou ignorantes, místicos e céticos, concordam em sua modalidade de manifestação, temos o melhor critério de prova que a Antropologia pode fornecer. E acrescente-se ainda que, aplicando o método da análise comparada aos diferentes povos, concluímos que os fenômenos psíquicos são os mesmos por toda parte, e igual, por toda parte, a crença na sobrevivência por eles firmada. Não se distancia, ainda, da dos tempos modernos, a crença dos povos antigos no que tange à gênese de tais fenômenos, ou seja, que são produzidos pela alma dos que viveram na Terra."
     "Esses fenômenos", diz Bozzano, "idênticos, quaisquer que sejam as épocas e as regiões, vieram reforçar a certeza da sobrevivência do espírito humano e a possibilidade de comunicação entre os vivos e os desencarnados."

     Grant Allen afirma em sua obra The Evolution of the Idea of God que "a religião contém, em si própria, um elemento infinitamente mais antigo que a própria religião, mais fundamental e persistente que toda a  crença em Deus ou nos deuses; isto é, mais antigo mesmo que o uso da propiciação aos deuses e aos espíritos, por meio de oferendas, e este elemento é a crença na sobrevivência dos trespassados. Ora, é nessa crença universal primitiva que se fundaram todas as religiões."
     Globet d'Alviella declara em seu livro Hibbert Lecture que "as descobertas desses vinte e cinco últimos anos mostraram, de maneira decisiva, que na época do mamute já o homem praticava os ritos fúnebres, cria na sobrevivência da alma."
     Brinton em  Religions of Primitive Peoples nos diz que "há religiões, por tal forma rudimentares, que não têm altares, nem templos, nem ritos; mas é impossível encontrar uma só religião rudimentar cuja crença não repouse na existência de entidades espirituais que se comunicam com os homens."
     Para Huxley, em Lay Sermons and Adresses, "há povos selvagens sem Deus, mas não os há sem a existência dos espíritos."
     Para Powers, em Tribes of California, em que trata dos índios da Califórnia, "estes não têm nenhuma ideia de um Ser Supremo, mas creem na existência dos espíritos, ou seja, nas almas dos homens que habitaram o nosso planeta."

     Para César de Vesme, em Histoire du Spiritualisme Expérimental, "a crença na alma, na sobrevivência, nos espíritos, impôs-se ao homem, bom ou mau grado seu, independentemente de seus desejos, pela observação de fatos ocorridos em todos os tempos e lugares, fatos de que iremos nos ocupar -- eis tudo."  

     Vejamos os capítulos da superdocumentada obra do filósofo italiano, considerado "o grande mestre da ciência da alma", citando diversos fatos paranormais ocorridos entre os povos selvagens, narrados por exploradores e missionários que viveram entre eles:

Cap. 1 -   Pancadas e Quedas, Movimento de Objetos a Distância (Telecinésia), Levitação Humana.

Cap. 2 -   Transmissão do Pensamento e Telepatia de um Modo Geral.
Cap. 3 -   Clarividência no Presente e no Futuro.
Cap. 4 -   Fenômenos de Assombramento.
Cap. 5 -   Fenômenos de Transporte.
Cap. 6 -   Fascinação Hipnótica e Sortilégios.
Cap. 7 -   A Prova do Fogo.
Cap. 8 -   Feiticeiros-Médicos e seus Sistemas de Cura.
Cap. 9 -   Duplo Psíquico, Desdobramento, Bilocação.
Cap. 10 - Sessões Mediúnicas com Telecinésia, Vozes Diretas, Xenoglossia, Materializações e Identificações de Espíritos.
Apêndice - Notáveis Intuições Filosóficas e Científicas entre os Selvagens Africanos.

     A título de exemplo, citarei um único fato dos vários que a obra em apreço contêm, resumindo-o tanto quanto possível, dada a impossibilidade de reproduzi-lo integralmente, devido à sua extensão. Vejamos:

     O fato se passa em 1759, em território norteamericano (antes da guerra de independência), quando os EUA ainda eram uma colônia inglesa. O narrador é um aventureiro inglês, Alexandre Henri, que fora feito prisioneiro pelos índios. Conta ele que um missionário e reverendo inglês, Sir William Johnson, enviara amistosas mensagens aos índios que o mantinham cativo, convidando seus chefes, instalados no Salto Santa Maria, a virem concluir a paz no forte do Niágara. Tratando-se de uma determinação de alta importância, fizeram os índios solenes preparativos para evocar e consultar o Espírito de um antigo chefe falecido, a Grande Tartaruga, conhecido na tribo como "aquele que nunca mentia", pela sua retidão de caráter.
     Omito os preparativos para a consulta ao Espírito, demasiadamente extensos (mas que podem ser lidos, "in totum", no livro de Bozzano), para chegar ao momento em que o sacerdote (médium) anuncia a presença da Grande Tartaruga, e o seu consentimento em responder às perguntas. Indagaram, então, se os ingleses estavam preparados para fazer a guerra ou a paz, e se no forte Niágara havia muitas fardas vermelhas. Agitou-se a tenda durante alguns minutos e, com um grito terrível, o sacerdote anunciou que a Grande Tartaruga havia partido. Foi geral a consternação. Mas, um quarto de hora depois, voltava ela. Durante sua ausência -- informou o médium -- franqueara o lago Huron, fora ao forte Niágara e, de lá, a Montreal. No forte Niágara havia poucos soldados; mas descendo o S. Lourenço até Montreal, notara o rio guarnecido de embarcações cheias de soldados. O Espírito topara com eles quando rumavam para combater os índios (naquela época, havia várias tribos indígenas em terras norteamericanas).
     O chefe perguntou então se, no caso em que os índios aceitassem o convite de Sir William Johnson, se este os receberia como amigos. Grande Tartaruga respondeu que Johnson encheria suas canoas com presentes, tantos quanto elas pudessem conter, e que cada um voltaria em segurança para a aldeia. A alegria foi grande. O narrador conservou-se à parte, como simples espectador.
     Realizou-se a expedição dos chefes da tribo ao forte Niágara, e as suas consequências, referidas na História de Drake, ajustam-se inteiramente às promessas feitas por "aquele que nunca mentia". Henri foi bem tratado pelos índios e libertado no final.

Obs. minha: Vali-me de uma edição em espanhol da obra do mestre italiano. Contudo, existe uma edição em português do livro, sob o título "Povos Primitivos e Manifestações Paranormais", publicado pela Editora do Conhecimento.

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