quarta-feira, 5 de setembro de 2012

77) A fraude nos fenômenos mediúnicos (2ª parte)

      
     Respigo os excertos abaixo, sobre a existência ou não de fraude nos fenômenos mediúnicos, do último trabalho do Prof. Lombroso, já citado em artigos anteriores, ele que realizou a maior parte das suas pesquisas (mas não todas) com a famosa médium napolitana (semianalfabeta) Eusápia Paladino. Vejamos o que diz, a esse respeito, o sábio psiquiatra e criminologista italiano.
     "Chegado a este ponto, receio que o leitor me pergunte -- Não vos tereis deixado enganar pela mais vulgar das velhacarias? A primeira impressão, de fato (e a mim também não faltou), é de que se trata de um truque, e é a explicação mais adaptada ao gosto da maioria, pois evita que se perca tempo em pensar e estudar, e deixa ao homem vulgar supor-se um observador mais consciencioso e mais hábil do que o homem de ciência. Realmente, devemos convir que nenhum fenômeno natural, melhor do que os espiríticos, se presta à dúvida e à fraude, porque os fatos mais importantes, mais raros, ocorrem sempre às escuras, e nenhum experimentador pode aceitar por verdadeiros fatos que, desenvolvendo-se no escuro, não podem ser bem controlados e observados." (Obs. minha: Lombroso refere-se aqui aos fenômenos de efeitos físicos ou objetivos, porque os fenômenos de efeitos psicológicos ou subjetivos não necessitam da escuridade).
     "Não falemos dos falsos médiuns, falsários de profissão, que pululam nos cenários e nos países onde mais difundidas estão as crenças espiríticas. Existe uma grande literatura, especialmente americana, que constitui um arsenal típico de que se serviriam tais "médiuns", para os seus truques: barbas postiças, máscaras, vestes de musselina finíssimas, substâncias fosforescentes, cadeiras com esconderijo onde o "médium" oculta as máscaras, quando não com molas que, funcionando, simulam a levitação."
     "É fato que os movimentos medianímicos ocorrem em ambiente escuro, no mais das vezes na imediata vizinhança do médium, fazendo supor um artifício; mas o certo é que o elemento fluídico ou ectoplásmico se reforça na escuridade e sob os véus medianímicos, como o são as cortinas do gabinete mediúnico, das quais partem, tantas vezes, as materializações. Assim, pouquíssimos médiuns de efeitos físicos podem podem operar a plena luz, enquanto os demais não podem. A estas objeções, que não são sem importância, pode-se responder que ninguém nega a obra do fotógrafo, embora ele só possa revelar as suas chapas no escuro, e este exemplo, conforme nota Richet, por analogia, pode ajudar a compreender como a luz possa impedir ou embaraçar o desenvolvimento dos fenômenos mediúnicos. Por outro lado, apesar da contradição que predomina em toda esta matéria, conhecem-se médiuns, a exemplo de Slade e Home, que puderam operar a plena luz; e em plena luz se desenvolvem os estranhos fenômenos dos faquires indianos, tão estranhos que só o relatá-los faz hesitar (ver o capítulo 5). E a médium Eusápia que, em transe, é refratária à luz, deu lugar, em plena claridade, a uma série de extraordinários fenômenos, como as modificações do dinamômetro e da balança, e o movimento de um enorme armário. Tais modificações, produzidas na balança e no dinamômetro, provam que se puderam aplicar, com vantagem, a esses fenômenos, os métodos de precisão científica."
     "Temos mais ainda: meios de contenção de modo a evitar qualquer truque foram aplicados em Eusápia, ligando-se-lhe as mãos e os pés com fitas seladas, ou rodeando-a (Ochorowicz) com uma rede de fios elétricos, ligados a uma campainha, que soava ao mais leve movimento dos seus pés. O médium Politi, na Sociedade de Ciências Psíquicas de Milão, foi encerrado, nu, em um saco de lã. A médium D'Esperance foi metida em uma rede, qual peixe, e, apesar disso, nesse estado, provocou o aparecimento do espírito Iolanda, e assim também a médium de Crookes, Florence Cook. Pode-se ver e fotografar a Srta. Cook junto ao espírito Katie King (materializado), estando a médium circundada por um fio elétrico disposto de modo que lhe era impossível fazer agir uma boneca artificial, sem interromper o circuito. E, assim mesmo, Katie King falou, escreveu, apertou a mão dos assistentes. O circuito não se interrompeu, e a médium sempre se manteve em estado de adormecimento profundo. Fizeram-se experimentos físicos com a seriedade e a importância das pesquisas realizadas com instrumentos de precisão, e que foram controlados com a fotografia. Tem-se abusado da fotografia espírita e dela feito objeto de fraude; qualquer suspeita, porém, desaparece quando se trata de fotografias executadas diante de uma comissão especial de peritos, e de homens de renome indiscutível como Crookes, Wallace, Zöllner, Aksakof, Gibier, Richet, Myers, Lodge, Finzi, Volpi, Falcomer, Carreras, etc.. Acrescente-se que, com frequência, falta a capacidade para delinquir, quando, por exemplo, o médium é uma criança."
     "Os prestidigitadores -- diz Brofferio -- não têm imitado até agora os fenômenos espiríticos de modo a enganar, salvo quando obtêm condições, a principal é que com eles não se tenham todas as exigências, nem se tomem todas as precauções que se têm tomado e se tomam com os médiuns. O prestímano executa o seu número, mas o número que ele preparou; é inútil pedir que faça outro, que o modifique ou que o repita, uma vez executado. Ao revés, os fenômenos que se obtêm com o médium são quase sempre os que se lhe pedem, ainda que não o sejam sempre, porque a inteligência oculta que os produz também possui vontade própria."
     "A Comissão da Sociedade Dialética de Londres chegou até a querer que, durante os experimentos, fossem os médiuns vigiados -- nem mais, nem menos -- do que por dois dos melhores prestidigitadores daquela capital. A opinião de que os fenômenos espiríticos são imitáveis está muito difundida entre o público, mas não é esta a opinião dos prestímanos Jacob, do Teatro Robert Houdin, de Paris, e Bellacchini, prestidigitador da Corte de Berlim, que fizeram ao médium Slade declarações de que nenhuma das suas artes pode produzir os fenômenos que ele, Slade, realiza. Trollope, citado por Russel Wallace, conta que Bosco, um dos mais peritos prestímanos que já existiram, achava graça da crença de que os fenômenos produzidos por Home se pudessem atribuir aos recursos de sua arte."
     "Uma causa dos pretensos desmascaramentos dos médiuns é a prevenção de que os fenômenos não devem ser verdadeiros. Há ilusões ocasionadas pela credulidade, mas também existem as produzidas pela incredulidade. Os incrédulos se põem num estado de atenção expectante, pelo qual creem ver o que não é; se não o veem, adivinham; eles tudo compreendem, tudo explicam. Tem tal medo de ser burlados, que se burlam a si mesmos, e, para evitar o inverossímil, inventam o impossível."
     "E as mesmas causas dão origem aos processos contra os médiuns. O processo contra Slade foi feito no interesse da ciência, e a condenação se fundava sobre motivos extraídos do notório curso da natureza. Assim, conforme texto do próprio tribunal, a sentença deriva do seguinte preconceito: o curso conhecido da natureza exclui a possibilidade dos fenômenos mediúnicos; ora, o impossível não se pode fazer, mas apenas fingir; logo, todos os médiuns são impostores. Daí resulta, para eles, que os espiritistas, por crerem na possibilidade das coisas impossíveis, são imbecis. Por isso, não são jamais chamados como peritos, conquanto sejam os únicos peritos e os únicos competentes, pelo tempo que consagraram ao tema, e, quando ouvidos como testemunhas, não acreditam neles."
     "Enfim, às imitações feitas por médiuns impostores, por prestidigitadores e céticos, os espiritistas respondem, com Hellenbach, que as perucas não provam a inexistência do cabelo, as dentaduras postiças que não haja dentes, e, assim, as moedas falsas, as flores de papel, etc.."
     "Tendo eu visto fatos reais, é inútil que Tyndall me venha dizer que há muitos falsos. Sei que o café também se fabrica com chicórea, bolota de carvalho e figos secos. Sei disso porque um dos meus conhecidos é fabricante de café, e me assegurou que não é suficiente garantia nem mesmo comprá-lo em grão, pois o fabricam com resíduos de café, e, tão bem, que eu não o distinguiria do verdadeiro. Como, entretanto, já bebi o puro e legítimo café, estou, quanto a este, naquele estado de ânimo a que se refere Tyndall: estou afetado de uma credulidade incurável. Nem um bloqueio continental, que me privasse do café pelo resto da vida, curar-me-ia da ilusão de que existe o café autêntico. É verdade que um desencarnado difere muito de uma xícara de café, mas a diferença consiste nisto: todos os que vão a Nápoles, vão ao Caffé Nuovo, mas ninguém vai procurar Eusápia."


     A propósito de Eusápia, diz o grande fisiologista, prof. Richet:
     "Eusápia em nada se assemelhava a um prestidigitador de profissão. Não tinha nem varinha, nem mesa, nem cofrezinho, nem espelho, nem cúmplice. Ela chegava para as sessões vestida com uma pequena roupa de seda preta colante. Podia-se verificar que não ocultava nada sob as vestes."

Obs. minha: em geral, quando se trata de fenômenos mediúnicos de ordem física (psicocinésia ou telecinésia, levitação, materializações parciais ou completas), emprega-se luz vermelha que, sendo de um comprimento de onda mais longo, não prejudica ou prejudica menos o elemento ectoplásmico atuante nesses fenômenos, permitindo, além disso, aos experimentadores, um bom controle do médium e do ambiente em geral; não obstante, como diz acima o prof. Lombroso, há médiuns de efeitos físicos que puderam operar a plena luz.

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