sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

83) Fenômenos de "xenoglossia" -- provas irrefutáveis da sobrevivência espiritual

Ernesto Bozzano
     
     Nenhuma evidência concorre tanto para a demonstração da sobrevivência espiritual e da possibilidade da comunicação entre os dois mundos (o dos chamados vivos e o dos desencarnados) quanto os fenômenos de "xenoglossia". O filósofo e cientista Ernesto Bozzano escreveu o melhor e mais decisivo trabalho sobre o tema: "Xenoglossia" (ed. da Federação Espírita Brasileira, trad. de Guillon Ribeiro). Vejamos as primeiras palavras da sua introdução:

     "O termo xenoglossia foi proposto pelo professor Richet para definir a "mediunidade poliglota", isto é, o fenômeno pelo qual os médiuns falam ou escrevem em línguas que eles ignoram totalmente e, às vezes, ignoradas de todos os presentes."
     O grande mestre da ciência da alma, como era chamado, divide os fenômenos em 4 categorias: 1ª - Casos com o "automatismo falante"; 2ª - Casos com o "automatismo escrevente"; 3ª - Casos por meio da "voz direta"; 4ª - Casos por meio da "escrita direta". São, ao todo, 35 casos escrupulosamente comprovados e estudados um a um pelo método científico, sempre empregado pelo filósofo italiano: análise comparada e convergência das provas.
     Em alguns casos, surgem línguas, dialetos e "patuás" extintos há muitos anos, como, por exemplo -- as linguas "hierática", tártaro-pérsica, chinesa antiga (da época de Confúcio"), inglesa antiga do 17º século, etc., e que consumiram tempo e recursos a especialistas para serem traduzidas.
     Nas concusões do seu trabalho, e a fim de que não paire nenhuma dúvida, Bozzano reanalisa, uma por uma, todas as 7 hipóteses levantadas pelos céticos (que ele chama "animistas totalitários", segundo uma terminologia clássica proposta pelo sábio russo Alexandre Aksakof em sua grande obra "Animismo e Espiritismo") para infirmar a teoria espirítica e lhe atribuir uma causa puramente humana, e demonstra a inanidade sofística de cada uma delas.
     A 1ª é a hipótese da "criptomnésia" ou memória esquecida, a 2ª é a hipótese da "telemnésia" ou "clarividência telepática", a 3ª é a hipótese da "clarividência propriamente dita" sob a forma de "leitura a distância em livros fechados", a 4ª é a hipótese da "personalidade desdobrada" válida para os casos obtidos por meio da "voz direta", a 5ª é a hipótese da "memória ancestral", a 6ª é a hipótese metafísica da existência de um "reservatório cósmico das memórias indivduais", e, finalmente, a 7ª, a mais absurda de todas, é a hipótese ultrametafísica de que os médiuns se poriam em relação com o Absoluto, isto é, com Deus, proposta pelo filósofo Von Hartmann, e que foi refutada pelo Conselheiro de Estado russo A. Aksakof, em sua obra já citada.
     Nas suas conclusões, referindo-se a esta 7ª hipótese, assevera o pensador italiano: 
     "Em face dessa incomensurável audácia teórica (relação dos médiuns xenoglóssicos com o Absoluto), uma só coisa me competia: confessar-me teoricamente vencido... desde que se tratasse de uma hipótese racional. Tenho, com efeito, que me considerar vencido, porquanto sendo a onisciência, a onipresença e a onipotência os atributos do Ente Supremo, nada se poderia negar ao Absoluto e nada haveria impossível para quem conversa com o Absoluto."
     "Em realidade, Hartmann imaginou que os médiuns se pusessem em comunicação direta com a Consciência Cósmica, atributo do Ente Supremo, e dela extraíssem os pormenores ou os conhecimentos linguísticos de que necessitassem para enganar o próximo, sendo tudo feito, naturalmente, com a magnânima aquiescência do mesmo Ente Supremo. Ora, esta hipótese não se revela apenas absurda, mas blasfema. Com efeito, ela culmina num absurdo filosófico, porquanto sustenta que um minúsculo ser finito, de inteligência limitada, chamado homem, pode conversar familiarmente com o Ser Infinito, Impessoal e Eterno, criador do Universo, e que o pode fazer exclusivamente com o fim de mistificar o próximo !"
     "Apresso-me a acrescentar, em homenagem ao equilíbrio mental dos nossos opositores, que nenhum deles saiu a propugnar essa incomensurável heresia filosófica. Tais as hipóteses que têm sido formuladas para, de qualquer modo, explicarem-se os fenômenos de xenoglossia."
    
     Antes de prosseguir com os argumentos de Bozzano neste seu trabalho, abro uns parênteses para mencionar outro texto seu, extraído do livro "Matapsíquica Humana" (ed. da FEB, trad. de Araújo Franco):
     "Devemo-nos lembrar de que, se para compreender uma língua não é necessário que o médium a conheça, por lhe bastar perceber telepaticamente as vibrações do pensamento do consulente, o mesmo não se dá quando se trata de falar essa língua. Neste caso, indispensável se torna a conheça o médium, pois a telepatia e a clarividência são de todo impotentes para suprir os necessários conhecimentos, dado que a estrutura orgânica de uma língua é pura abstração, que não se pode ver nem perceber nos cérebros alheios."
     "Teríamos de admitir que o médium, graças ao seu próprio poder paranormal, pudesse, de um momento para outro, tornar-se conhecedor dos vocábulos correntes de uma língua, das variações de gênero, número, caso e tempo, assim como das principais regras da gramática, pelas quais lhe fosse possível agrupar, dispor, coordenar as frases, apoderar-se da fonética especial de cada palavra, das características da língua ou do dialeto, das inumeráveis locuções e idiotismos que constituem o fermento vivo de cada idioma. E será isto possível? Não posso crer haja quem, com o único fim de evitar uma outra explicação simples, natural, emergindo espontaneamente dos fatos (dado que o próprio fenômeno se apresenta como proveniente de um desencarnado), ouse defender tese tão extravagante."

     Fechados os parênteses, voltemos ao livro "Xenoglossia", em que o mestre italiano finaliza, entrando em mais uma polêmica com seu amigo e adversário, Prof. Charles Richet (Prêmio Nobel de Medicina), posto que, como sempre, de forma serena e elevada:

     "O professor Richet, cujas ideias sempre estudo com grande deferência e proveito, depois de haver sinceramente reconhecido que algumas categorias de manifestações matapsíquicas, inclusive a que faz objeto deste trabalho, não podem explicar-se por nenhuma hipótese naturalística, se refugia... nos pósteros, com esta observação":
    
     Ainda nem uma só hipótese temos, verdadeiramente séria, a tomar em consideração. Creio, em definitivo, numa hipótese desconhecida, que de futuro aparecerá ! Não posso formulá-la porque não a conheço.
(Tratado de Metapsíquica, pág. 790).

     "Com todo o respeito devido ao insigne homem de ciência, de cuja amizade muito me honro, digo parecer-me que essa observação se reduz, no fundo, a uma engenhosa "frase de efeito", carente de consistência real, visto que, presentemente, com as hipóteses acima apreciadas, já se há percorrido toda a gradação, legítima e ilegítima, possível e impossível, das presunções hipotéticas que a mais desenfreada fantasia pudera excogitar.  Pois não vieram à baila até a Consciência Cósmica e o Absoluto? Ir além não é possível, nem agora nem nunca. Entretanto, o fato é que, com toda essa audaciosíssima sequela de hipóteses, não se chegou à explicação naturalística dos fenômenos de xenoglossia, nem mesmo buscando-se refúgio no Absoluto. Não há quem não veja que esse resultado negativo fala com extraordinária eloquência a favor da única hipótese capaz de explicar o conjunto dos fatos."
     "Isto posto, observarei que a verdade, a tal respeito, consiste em que, no tocante à categoria dos fenômenos de xenoglossia, as possibilidades teóricas existentes para a solução do grande problema da gênese dos mesmos fenômenos, podem resumir-se no seguinte dilema: ou está provado que a subconsciência humana possui o dom da onisciência divina e, consequentemente, pode conversar ou escrever em todas as línguas, sem as conhecer; ou, ao contrário, está demonstrado que, quando o médium conversa ou escreve numa língua que lhe não seja conhecida, não é ele quem isso faz, mas a entidade do desencarnado que se declara presente."
     "É assim que a grande questão se põe e não há outra maneira de pô-la. Segue-se daí que, como podemos ter a certeza de que os pósteros não chegarão nunca a demonstrar que a subconsciência humana possui o dom da onisciência divina, lícito nos é antecipar aos vivos de hoje, sem temor de que os pósteros algum dia nos desmintam, a auspiciosa notícia de que a grande questão já se acha resolvida, favoravelmente à interpretação espiritualista dos fatos."
     "Por outras palavras: ressalta evidente que, como os pósteros não chegarão nunca a demonstrar o que, racionalmente, psicologicamente, filosoficamente, é impossível de demonstrar-se, então, se há de admitir que a primeira proposição do dilema formulado resulta absurda e insustentável, devendo, nesse caso reconhecer-se que a solução integral da grande questão se contém na segunda proposição do mesmo dilema, visto que não existe uma terceira proposição. Sobre este último ponto, estou absolutamente seguro do que afirmo, e desafio quem quer que seja a demonstrar que me acho em erro."
     "Razão, pois me assistia quando, na introdução do presente trabalho, afirmei que as manifestações de xenoglossia se contam entre as mais importantes da fenomenologia metapsíquica, por isso que eliminam de um só golpe todas as hipóteses de que dispõe quem queira tentar-lhe a explicação sem se afastar dos poderes paranormais inerentes à subconsciência humana. Da minha afirmação deriva, como consequência, que a interpretação dos fatos, no sentido espiritualista, se impõe agora de modo racionalmente inevitável. Quer isto dizer que, por obra dos fenômenos de xenoglossia, se tem que considerar provada a intervenção de entidades espirituais extrínsecas ao médium e aos presentes, nas experiências mediúnicas.
     "Assim é, mas, ao mesmo tempo, apresso-me a declarar que sou o primeiro a reconhecer, em consciência, que largo tempo ainda passará antes que essa grande Verdade, subversora da civilização de uma época e iniciadora de uma nova época na História do mundo, consiga evolver, amadurecer, aclimatar-se e impor-se à Humanidade, o que é um bem."
     "Quando Galileu anunciou ao mundo a extraordinária descoberta, subversora da ciência astronômica do seu tempo, segundo a qual a Terra era uma esfera que rodava em torno de si mesma e girava em torno do Sol, um século foi preciso de lutas, antes que a estupenda verdade se generalizasse e obtivesse universal acolhimento. Outrotanto sucederá, porém com lentidão notavelmente maior e lutas muito mais rudes, respeito a esta outra verdade, que se apresenta muitíssimo mais importante, cientificamente, filosoficamente, moralmente e socialmente, do que todas as verdades que, no passado, no presente e no futuro, se hajam imposto ou venham a impor-se à meditação dos homens."
     "Conclui-se daí que os poucos privilegiados que hoje conhecem o Verdadeiro e lograram assimilá-lo (pois que não conhecê-lo, sendo necessária uma mentalidade madura para o assimilar), esses poucos privilegiados de hoje podem considerar-se os eleitos do destino.

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