quarta-feira, 2 de agosto de 2017

116) Não é verdade que as provas da existência e sobrevivência do espírito humano dependam, apenas, das informações pessoais fornecidas, mediunicamente, pelas personalidades comunicantes.

   O texto abaixo é de autoria do "grande mestre da ciência da alma", Ernesto Bozzano. Após cada item, quando não é citado o nome do autor do livro, deve-se subentender que é do filósofo italiano.

     As considerações abaixo visam a confutar, com base nos fatos, a inefável objeção anti-espírita segundo a qual, não se podendo assinar limites às faculdades paranormais da telepatia e da clarividência, também nunca será possível demonstrar-se experimentalmente, portanto, cientificamente, a existência e sobrevivência do espírito humano. Como se sabe, essa gratuita objeção se refere exclusivamente aos casos de identificação espirítica, baseada nos informes pessoais fornecidos pelos defuntos que se comunicam, casos que perderiam todo valor demonstrativo se resultasse fundada a referida objeção, porquanto, então, seriam explicáveis, em massa, com os poderes da subconsciência, os quais chegariam a extrair os aludidos informes das subconsciências dos vivos que, embora distantes, houvessem conhecido os mencionados defuntos. Sem levar em conta que tal objeção nos levaria a um postulado filosófica e cientificamente insustentável, qual o de conceder, à subconsciência humana, a onisciência e onividência divinas, a verdade é que, em metapsíquica, se encontram grupos notáveis de provas diretas e indiretas, as quais não dependem da identificação estritamente pessoal dos mortos comunicantes, mas convergem igual e admiravelmente na direção da demonstração da existência de um espírito sobrevivente à morte do corpo; e, portanto, contribuem valiosamente para reforçar a prova de identificação pessoal conseguida na forma de informações fornecidas pelo morto sobre sua existência terrena; e tanto contribuem que o professor Hyslop se dedicou a observar como a teorias científicas da "gravitação universal" e da "evolução biológica da espécie", apesar de fundadas sobre fatos, estejam bem longe de serem demonstradas com base em uma acumulação de provas tão impressionantes quanto as que demonstram a existência e a sobrevivência do espírito humano, assim como a realidade da comunicação mediúnica entre mortos e vivos. Daí se tem que, do ponto de vista científico, o valor cumulativo de tal complexo excepcional de provas distintas, harmonicamente convergindo na direção da mesma comprovação, constitui um dado de certeza racional, o qual, embora não sendo absoluto (repito, o absoluto é de Deus), resulta de uma relatividade equivalente à certeza prática, como também resulta equivalente, e em muitos casos superior, a todos os dados de certeza teórica legitimamente postos como fundamento de qualquer ramo do conhecimento, salvo a matemática. Resta demonstrar a legitimidade científica das considerações expostas, ilustrando-as e documentando-as na base dos fatos, o que determinará a queda definitiva das objeções em exame. 
     E, para começar pelas provas da ordem geral que convergem, em seu conjunto, na direção da comprovação da existência e sobrevivência do espírito humano, eis a enumeração das principais dentre elas: 

1) A existência latente, na subconsciência humana, de faculdades paranormais maravilhosas, emancipadas dos vínculos de espaço e tempo, independentes da lei de evolução biológica (prova que não são o produto da evolução biológica); faculdades que permanecem inoperantes durante a existência terrena, salvo sua emergência fugaz, em relação direta com múltiplos estados de vitalidade deficiente nos indivíduos, emergência que resulta mais ou menos notável de acordo com o grau mais ou menos avançado de tais estados de deficiência vital. Daí se infere, logicamente, que quando as funções vitais nos indivíduos forem suprimidas pela crise da morte, só então as faculdades paranormais subconscientes estarão em condições de emergir e de se exercer com plena eficiência. Em outros termos: tudo concorre para demonstrar que as faculdades paranormais em questão são os sentidos espirituais do homem, os quais existem pré-formados, em estado latente, na subconsciência, à espera de emergir e de se exercer no ambiente espiritual depois da crise da morte, assim como os sentidos biológicos existem pré-formados, em estado latente, no embrião, à espera de emergir e de se exercer no ambiente terreno, depois da crise do nascimento. (Ver o livro "Animismo ou Espiritismo? Qual deles explica os fatos?"). 

2) A existência dos fenômenos de "bilocação", os quais apresentam a mesma característica indicada pelas faculdades paranormais subconscientes: durante a existência terrena se determinam apenas em condições fisiológicas implicadas numa crise de deficiência vital nos indivíduos, e seu grau mais ou menos avançado de exteriorização está em relação matemática com o grau mais ou menos pronunciado de tal crise de deficiência vital, a qual corresponde a uma fase mais ou menos avançada de desencarnação incipiente do espírito. Daí se deve inferir que os fenômenos de "bilocação temporária" tal como se realizam entre os vivos, preludiam o fenômeno de "bilocação definitiva", como se realizarão na crise da morte. E, em seguida, o "corpo espiritual" se separará para sempre do "corpo carnal". Comprova-se, de fato, que numerosos "videntes", desconhecidos uns dos outros, que se encontram na cabeceira dos moribundos, concordam admiravelmente entre si, na descrição dos processos de desencarnação do espírito e da consecutiva formação do "corpo espiritual", que eles veem e descrevem em cada uma de suas fases de exteriorização. (Ver os livros "Fenômenos de Bilocação", e "Animismo ou Espiritismo?").

3) A existência de numerosíssimos casos de "aparição de mortos no leito de morte", cuja grande eficácia teórica no sentido espiritualista é independente das provas usuais de identificação espírita com base nas informações pessoais fornecidas pelos mortos comunicantes. E sua grande eficácia teórica emerge, sobretudo, da circunstância de que se manifesta em condições que excluem resolutamente as hipóteses "alucinatória" e "telepática"; isso porque os fantasmas dos mortos são muito frequentemente percebidos coletivamente pelo moribundo e pelos presentes, e algumas vezes os presentes o veem antes do enfermo; assim como acontece muitas vezes de o moribundo ver espíritos de mortos recentes, falecidos em lugares distantes, e dos quais todos os presentes, inclusive o enfermo, ignoravam a morte. Daí se exclui a hipótese alucinatória na forma de autossugestão do agonizante, e a telepática na forma de transmissão do pensamento da parte dos presentes. Noto, enfim, que as hipóteses em questão devem ser excluídas nos casos de crianças em tenra idade, os quais, encontrando-se no leito de morte de outra criança da mesma idade, veem fantasmas de mortos reconhecidos pelos parentes. É flagrante que, em circunstâncias semelhantes, não se poderia falar nem de alucinação nem de telepatia, visto que crianças moribundas, abaixo de cinco anos, que ignoram o que venha a ser a morte, não podem se autossugestionar a ponto de provocar em si mesmas, visões alucinatórias de mortos, transmissíveis telepaticamente a outra criança presente. Quanto a isso, observo que a grande eficácia teórica, no sentido espírita, de tais episódios é tão evidente que se impõe ao critério imparcial do professor Richet, o qual teve a louvável franqueza de reconhecê-lo. (Ver os livros "Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte" e "Animismo ou Espiritismo?").

4) A existência de fenômenos de premonição de morte acidental, nos quais vem indicado à vítima o evento fatal que a espera, mas isso de maneira voluntariamente obscura e reticente, ou sabiamente simbólica, de modo a tornar impenetrável a todos, até que o evento se realize, o significado dos símbolos transmitidos ou das reticências propositais. Tudo isso com a clara finalidade de circunscrever a premonição nos limites de um pré-aviso à vítima para prepará-la quanto ao destino que a espera, evitando que ela compreenda demasiado e consiga se opor ao decreto do destino. Todavia, como muito frequentemente esses tipos de manifestações são autopremonições, decorre o absurdo da tese sustentada pelos opositores da hipótese espírita, segundo os quais todas as manifestações premonitórias seriam devidas à faculdade subconsciente da personalidade humana. Mas como presumir que uma personalidade subconsciente autônoma, destinada a se extinguir com a morte do corpo, esconda à própria personalidade consciente, sob o véu de símbolos engenhosos, a particularidade essencial do evento que a ameaça, e isso com a precisa intenção de deixá-la morrer, e de se deixar morrer? É certo que semelhante interpretação dos fatos, sendo logicamente absurda, deve ser considerada errônea e deve excluir a si mesma; daí se trata de inferir que tais reticências, inconciliáveis com a existência encarnada da personalidade humana, não só revelam a intervenção de entidades espirituais em algumas categorias de manifestações premonitórias, mas provam também como tudo isso acontece com uma finalidade ultraterrena. Isso reconduz forçosamente à hipótese espírita. Vale dizer, à demonstração – com o auxílio dos fenômenos precognitivos – da sobrevivência do espírito humano, considerada em dois pontos de vista diferentes, que são os dois polos do ser: o Animismo e o Espiritismo; como também reconduz à concepção inevitável da existência de uma Fatalidade superior aos destinos humanos, fatalidade relativa, com base na qual resultariam preordenadas as etapas essenciais de nossa existência de espírito encarnado. Segundo ela, dever-se-ia inferir que o trânsito no mundo dos viventes é uma escola e uma prova, correspondente a uma fase evolutiva do espírito. (Ver os livros "Fenômenos Premonitórios" e "Animismo ou Espiritismo?").

5) A existência das "correspondências cruzadas", as quais, a seu turno, diferenciam-se totalmente dos casos de identificação espírita fundada em informações pessoais fornecidas pelos mortos, dado que as "correspondências cruzadas" são obra dos mortos. E, na verdade, não são projetadas pelos vivos, mas propostas pelos mesmos mortos ansiosos em conseguir, de algum modo, dissipar a perplexidade dos vivos em torno da realidade de sua presença espiritual no local. Nota-se como as "correspondências cruzadas" consistem no fato de que a personalidade mediúnica comunicante, ao invés de transmitir sua mensagem com o auxílio de um só médium, subdivide a mesma em fragmentos, cada um dos quais resulta, por si só, vazio de significado, e transmite então cada fragmento singular a um médium diferente; tudo isso no mesmo dia e mesma hora, com breves intervalos entre uma e outra transmissão, enquanto os diferentes médiuns se encontram muito frequentemente distantes entre si a centenas de milhas e, algumas vezes, residem em continentes diferentes. Somente quando os vários grupos experimentadores reúnem os fragmentos obtidos, é que conseguem reconstituir integralmente a mensagem transmitida. Tais sortes de experiências conseguiram, recentemente, um altíssimo significado espiritual, e isso devido aos maravilhosos resultados obtidos em Boston com a médium Margery Crandon, em Londres com a médium Osborne Leonard, e em Newcastle com as sugestivas experiências do sr. Frederick James Crawley. Para qualquer um que se ponha a investigar e comparar os agora numerosos episódios do gênero, não pode existir dúvida sobre o fato de que os mesmos provam, de modo resolutivo, a independência espiritual da personalidade comunicante, com relação a todos os médiuns de que se vale para fins próprios. Significa dizer que eles provam a intervenção real de entidades espirituais nas experiências mediúnicas, entidades que não poderiam deixar de ser os espíritos dos mortos que se afirmam presentes, porquanto provam, ao mesmo tempo, sua identidade pessoal, fornecendo minuciosamente informações sobre sua existência terrena. Daí se tem que o fenômeno das "correspondências cruzadas" se converte em uma outra prova cumulativa maravilhosa, demonstrando a existência e a sobrevivência da alma, bem como demonstrando a intervenção dos mortos nas experiências mediúnicas. Quanto a essa última observação, convém lembrar ainda, mais uma vez, que as "correspondências cruzadas" não foram projetadas por vivos, mas propostas pelos mortos com a finalidade de vencer a sempre renascente hesitação de muitos investigadores eminentes, quando se encontram diante da formidável questão: "Personalidades de mortos ou personalidades sonambúlicas?". E as personalidades dos mortos responderam à questão com a prova da "correspondência cruzada", mediante a qual esperavam demonstrar, com base em fatos, sua independência espiritual de quaisquer médiuns pelos quais se manifestavam. Conseguiram? Em boa parte, sim, dado que seus esforços nesse sentido conquistam a cada dia novos adeptos da solução espírita para a grande questão; mas já se compreende que não é fácil demover o misoneísmo estabelecido, principalmente entre os homens de ciência, os quais professaram opiniões materialistas durante toda sua vida. Esses, ao invés de admitir a sobrevivência, preferem se associar aos complexos voos da mais desenfreada fantasia, convertendo-se em poetas da metafísica. (Ver o livro "A Propósito da Introdução à Metapsíquica Humana").

6) A existência de vários casos de "aparições de mortos depois de breve ou longo intervalo após sua morte", fenômeno que, por sua vez, não tem nada em comum com os casos de identificação espírita fundados sobre informações pessoais fornecidas pelos mortos comunicantes, mas que vale igualmente para identificá-los. E isso sempre que os fantasmas desta natureza são vistos, coletivamente e independentemente, por várias pessoas, circunstâncias que valem para eliminar as hipóteses "alucinatória" e "telepática". (Ver o livro "Animismo ou Espiritismo?", "A Morte e o Seu Mistério", vol. 3 [Flammarion], "Tratado de Metapsíquica" [Charles Richet]).

7) A existência de casos em que o morto revela incidentes que não lhe são pessoais, no sentido do termo, durante sua vida terrena, mas que de alguma forma lhe concernem, realizados após sua morte, e são ignorados por todos os vivos, o que não se poderia explicar nem com a telepatia, nem com a clarividência, nem com a psicometria. (Ver os livros "A Propósito da Introdução à Metapsíquica Humana", e "A Morte e o Seu Misterio", vol. 3, [Flammarion]).  

8) A existência de vários casos em que os mortos conseguem se "materializar" perfeitamente, tornando a ser o personagem vivo de antes, e continuando a se materializar por anos, submetendo-se a todas as medidas de controle requeridas pelos métodos de investigação científica. E, nesses últimos tempos, aos casos clássicos de tal natureza, um outro se acrescenta, que a todos iguala pelo rigor dos métodos científicos com os quais foi controlado, assim como se iguala pela reiteração das manifestações, as quais se renovaram e se renovam há alguns anos, enquanto, no que concerne à natureza exemplar da identificação pessoal, reina a comparação com o caso clássico de Estela Livermore. Reservo-me a citá-lo na íntegra mais adiante. (Ver os livros "A Propósito da Introdução à Metapsíquica Humana", "Animismo e Espiritismo" [A. Aksakof], "Fatos Espíritas" [William Crookes], "Tratado de Metapsíquica" [Charles Richet]).

9) A existência dos fenômenos de "xenoglossia" (mediunidade poliglota), em que os médiuns se exprimem numa língua que lhes é totalmente desconhecida; não se trata de o médium reproduzir mecanicamente palavras ou frases ouvidas ou lidas num livro anteriormente, mas de exprimir seus pensamentos, adaptados a situações do momento, numa língua por ele ignorada, conversando, correta e coerentemente com pessoa presente que fala a citada língua, fato inexplicável pela hipermnésia, pela telepatia e pela clarividência. Com efeito, a estrutura orgânica de uma língua é pura abstração, que não se pode ver nem perceber em cérebros alheios. (Ver o livro "Xenoglossia").

Essas são as principais categorias de provas que demonstram a sobrevivência humana, as quais são independentes das provas de identificação espírita fundada em informações pessoais fornecidas pelos mortos; e não se pode negar que tal enumeração basta para demonstrar a inanidade da objeção adversária contra a validade científica e filosófica dos casos de identificação espírita fundados no critério de prova em questão, visto que fora do critério é igualmente possível demonstrar, com base nos fatos, não apenas a existência e sobrevivência do espírito humano, mas o fato preciso das frequentes manifestações de espíritos de mortos em ambiente terreno. 


Observações minhas:

1ª) Às nove categorias de fatos citados por Bozzano, poder-se-ia acrescentar vários casos especiais das seguintes categorias: casas assombradas, psicometria, transportes, obsessão e possessão, literatura de além-túmulo, telecinesia (ou psicocinese) no momento da morte, música transcendental no momento da morte, identificação de espíritos desconhecidos do médium e de todos os presentes.

2ª) O grande psiquista, Dr. Gustavo Geley, diretor do Instituto Metapsíquico Internacional, a propósito das manifestações de espíritos, em sessões mediúnicas, faz as seguintes considerações:
     
     O chamado subconsciente se diz a personalidade de um morto nas sessões espíritas. Esta complicação é verdadeiramente desconcertante e pouco verossímil. Pois que! O subconsciente é portador das maravilhosas faculdades que acabamos de expor (telepatia e clarividência). Ele pode tudo e sabe tudo, é onividente e onisciente, igualando-se, praticamente, à divindade. Mas num ponto ele se engana e nos engana: sobre a sua verdadeira natureza. Por que essa mistificação grosseira e constante? Por que essa mentira inexplicável? Como conciliar os poderes quase divinos, de um lado, com uma desfaçatez pérfida, de outro?
     
     A perplexidade do Dr. Geley pode ser facilmente eliminada se considerarmos que existem dois estados de hipnose ou sonambulismo: o primeiro é o superficial, semelhante ao onírico, em que emerge um "eu" subconsciente, de ordem secundária, que não apresenta nenhum poder paranormal, e que é altamente sugestionável; o segundo é o estado profundo, em que emerge uma fração (ou frações) do "eu" integral subconsciente, apresentando, já, certo poder paranormal, e que não é sugestionável, jamais mascarando-se através da personalidade de um morto (este último é o estado que os antigos magnetizadores chamavam de sonambulismo lúcido). Daí se segue que, quando um pretenso espírito de morto se manifesta, mediunicamente, revelando, a uma pessoa presente, ligada afetivamente ao morto, fatos absolutamente desconhecidos do médium, deve-se concluir pela presença real, no local, do falecido que se manifesta. Vale recordar um texto do grande filósofo e cientista italiano:
     
     As provas da sobrevivência assentam sobre todas as categorias de fenômenos paranormais, que convergem, em bloco, admiravelmente, para um mesmo centro --  a demonstração, rigorosamente científica, da existência e sobrevivência do espírito humano.

2 comentários:

  1. Li dois posts. Interessantes e elucidativos. Estou à procura de mais conhecimento da doutrina espírita, e fico me remoendo ao pensar por que os evangélicos condenam o espiritismo, como se fosse coisa do Baal.

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  2. Muito agradecido, Mônica, pelas suas gentis palavras. São comentários como os seus que me estimulam a continuar demonstrando o aspecto científico do Espiritismo, muito pouco apreciado no nosso país.

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