sexta-feira, 27 de agosto de 2010

62) A noção dos "eus subliminares", segundo Frederic Myers (1843-1901) - (1ª parte)

Frederic Myers


Frederic William Henry Myers (mais conhecido simplesmente como Frederic Myers), foi um poeta, ensaísta, escritor e psicólogo inglês, professor da Universidade de Cambridge, mais conhecido por suas pesquisas psíquicas, tendo fundado, com alguns amigos, em 1882, a Sociedade de Estudos Psíquicos de Londres. Foi considerado o pilar básico dessa Sociedade. Em 1886, publicou, juntamente com Edmond Gurney e Frank Podmore, um livro que se tornaria célebre e que abriria todo o campo para as pesquisas psíquicas (ou parapsicológicas, como se diz hoje): os "Phantasmas of the Living" (Fantasmas dos Vivos), logo traduzido para o francês sob o título transformado de "Hallucinations Télépathiques" (Alucinações Telepáticas). Quando começou os estudos psíquicos era um materialista irredutível, mas suas convicções nesse campo foram lentamente evoluindo até se tornar um convicto da sobrevivência do espírito humano. Sua obra póstuma sobre esse assunto foi publicada em 1903, dois anos após sua desencarnação, reunindo os seus últimos escritos. Seu título é "The Human Personality and it's Survival of Bodily Death" (A Personalidade Humana e sua Sobrevivência à Morte Corporal), em dois grossos volumes de 1360 páginas ao todo, reunindo todas as sua pesquisas e conclusões sobre os fenômenos psíquicos. Dele disse Theodore Flournoy, afamado psicólogo suíço, professor da Universidade de Genebra, inteiramente avesso à teoria espírita: Se futuras descobertas científicas vierem a confirmar a tese espírita de Myers, o seu nome será inscrito no livro de ouro dos iniciados, e junto aos de Copérnico e Darwin, completará a tríade de gênios que mais profundamente revolucionaram o pensamento da humanidade, nas ordens cosmológica, biológica e psicológica. (Apud Carlos Imbassahy, O Espiritsmo à Luz dos Fatos, ed. FEB, pág.180).
Há uma tradução ultra-resumida da grande obra de Myers para o português, intitulada A Sobrevivência Humana, pela Edigraf - S. Paulo, com 348 páginas. Destaco, à pág. 28, o seguinte e importante texto:

"A ideia de limiar (Schwelle) da consciência, de um nível que um pensamento ou uma sensação devem ultrapassar para entrar na vida consciente, é tão simples quanto familiar. A palavra subliminar que significa o que está sob o limiar, já foi empregada para designar as sensações demasiadamente débeis para serem diferenciadas individualmente. Proponho estender o sentido deste termo, de modo a ser empregado para designar tudo o que se encontra sob o limiar comum ou, se convier, fora do limite comum da consciência. Não só estes estímulos débeis, que a própria debilidade obriga a ficarem submersos, por assim dizer, mas também muitas outras coisas semelhantes que a Psicologia atual apenas percebe. Sensações, pensamentos, emoções que podem ser fortes, definidas e independentes, mas que, em virtude da constituição mesma de nosso ser, emergem raramente nessa corrente supraliminar de nossa consciência, ou consciência normal, em que nos identificamos a nós mesmos. Como reconheço que essas emoções e pensamentos submersos possuem as mesmas características das que associamos com a vida consciente, acredito-me autorizado a falar de uma consciência subliminar que, como veremos, manifesta-se, por exemplo, por meio de frases escritas ou faladas tão complexas e tão coerentes que se diriam ditadas pela consciência supraliminar. Como considero, por outro lado, que esta consciência subliminar não é descontínua ou intermitente, mas como existem processos subliminares isolados, comparáveis aos processos supraliminares isolados (como quando um problema é resolvido durante o sonho, mediante um processo desconhecido), existe também uma série contínua de lembranças subliminares (ou melhor, de uma corrente) que implicam o mesmo gênero de revivescência individual e persistente de impressões antigas e de reações às impressões novas que caracteriza o que ordinariamente chamamos de eu, sinto-me autorizado a falar dos eus subliminares, ou, abreviadamente, de um eu subliminar.

Esse eu subliminar pode se apresentar sob dois aspectos: o eu subliminar inferior, dependente do funcionamento de centros cerebrais ordinariamente inconscientes, que se manifesta, por exemplo, nos nossos sonhos (sendo, por isso, também chamado de eu onírico), e nos fenômenos hipnóticos; ele é altamente sugestionável, isto é, representa passivamente todos os tipos ou personalidades que a vontade do hipnotizador lhe queira impor. Tomemos alguns exemplos ao Prof. Charles Richet em seu livro A Grande Esperança, ed. LAKE, pág. 126:

"Hipnotizo uma senhora, minha parenta, respeitável e idosa, mãe de família muito religiosa, e lhe sugiro que é uma atriz, uma dançarina. Diz-me ela então: -- Você está vendo esta saia, meu bem, foi o diretor que me obrigou a encompridá-la. Que pena! Quanto mais curta, melhor fica. Como cacetes são esses diretores!... Você é muito tímido com as mulheres! Vá à minha casa às 3 horas. Poderemos conversar porque estarei só... Digo-lhe depois que é general. Então, imediatamente, ela assume um ar marcial, dá ordens, cai por terra, imaginando-se ferida durante uma batalha".
"A uma outra mulher, um modelo de ateliê, sugiro que se transforme em general. Ela assume um ar completamente diferente. Pede um vinho, jura, fuma, encoleriza-se contra um oficial. Sugiro que a mesma mulher se transforme em pasteleiro, a saber, um determinado indivíduo com o qual, tempos atrás, estando a seu serviço, ela teve uma séria contenda; toma então, resolutamente, o partido desse pasteleiro contra ela própria. Depois, eu lhe sugeri que iria fazer-lhe uma operação e cortar-lhe a mão. Eis, disse-lhe eu, o sangue que corre. Foi quando fiquei horrivelmente assustado, porque ela teve uma síncope e caiu".
"Algumas vezes, as personificações se tornam de tal forma intensas e ridículas que hesitamos em narrá-las. Sugeri a meu amigo Ferrari que se transformasse em papagaio. Ele me diz, então, seriamente: -- Será que posso comer o milho que se acha em minha gaiola? O estado de credulidade foi bem denominado por De Rochas como uma das condições do sonho".
(Fim da 1ª parte)

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