Texto do filósofo e sábio Ernesto Bozzano, extraído dos livros "Comunicações Mediúnicas Entre Vivos" e "Animismo ou Espiritimo?" :
Uma classe importante de identificação de espíritos é a identificação baseada nos informes fornecidos pelos mortos, em torno de fatos ocorridos durante sua existência terrena. Os opositores agarram-se à hipótese pela qual a gênese dos informes verídicos de tal natureza se explica pressupondo que as faculdades paranormais do médium conseguem obtê-las na subconsciência dos vivos que tenham conhecido o morto que se afirma presente, qualquer que seja a distância a que estejam aqueles vivos (esta faculdade era chamada de clarividência telepática ou telemnésia, e hoje é rotulada, por alguns parapsicólogos modernos, de super-PES: obs. minha).
Todavia, convém observar, a propósito, que, se se quiser chegar a explicar os fatos por meio de semelhante hipótese, devem ser feitas as seguintes concessões: em primeiro lugar, urge conceder às faculdades paranormais dos médiuns a fabulosa potencialidade de poderem manifestar-se, instantaneamente, sem limites de distância, de tempo e de condições, ou, em outros termos, deve-se conferir à subconsciência humana a onividência e onisciência divinas. Em segundo lugar, deve-se conceder mais, que uma vez descoberta, em alguma parte do mundo, a subconsciência, ou subconsciências, depositária(s) dos informes desejados, se consiga selecionar, de modo quase instantâneo, recordações latentes em que jazem sepultados os ditos informes, em meio ao emaranhado imenso de outras recordações latentes que constituem a trama da vida individual, e isto de forma tão perfeita, que retirassem somente os que se referissem ao pretenso morto comunicante, sem jamais cair em falta, sem nunca tropeçar em algum pequeno incidente ocorrido a outro que não seja o morto. Também esse atributo de nunca se enganar é reservado à onisciência e onividência divinas. Em terceiro lugar, conceder tudo isto equivaleria a admitir que um evento portentoso como o que ora examinamos, devido ao exercício de faculdades espirituais nobres e elevadas, tenha, como fim insulso e único, a manipulação de falsas personalidades de mortos, a fim de mistificar o próximo. São estas as concessões que teriam de ser feitas à hipótese em apreço, quanso se quisesse explicar os casos de identificação pessoal dos mortos sem recorrer à interpretação espírita. Não duvido de que os leitores sensatos concordem comigo, achando excessivas tais concessões.
Em verdade, a circunstância essencial nesta ordem de pesquisa, e que é sistematicamente esquecida pelos propugnadores da onisciência e onividência subconscientes, consiste em que as comunicações telepáticas e clarividentes com pessoas distantes são condicionadas, isto é, limitadas pela necessidade imprescindível da lei da "relação psíquica", que só pode ser estabelecida caso ocorra uma das três seguintes condições: A) Quando o médium tenha relações de amizade ou pelo menos conheça a pessoa distante; B) quando um dos presentes a conheça; C) quando seja entregue ao médium um objeto que a pessoa distante tenha usado por algum tempo, saturado, portanto, das suas "vibrações psíquicas" (psicometria). Segue-se, pois, que na falta das três condições acima, não é possível que o médium entre em em relações telepáticas com uma pessoa distante. Ora, como tal circunstância assume o valor de uma lei que rege as manifestações psíquicas (e isto em correspondência com a lei de afinidade que governa os fenômenos do universo), conclui-se que ela resolve a tese em exame, de modo que a hipótese da onisciência e onividência subconscientes converte-se em pura elucubração fantástica, filosoficamente absurda e cientificamente insustentável. Torna-se então evidente que a lei da "relação psíquica" serve para circunscrever, em limites bem definidos, as faculdades paranormais investigadoras da subconsciência humana, e mais, que os casos de identificação pessoal de mortos desconhecidos de todos os presentes, quando se dão sem o concurso de objetos psicometrizáveis, levam racionalmente a admitir-se a presença, "na outra extremidade do fio", do morto que se comunica. Daí decorre que que estamos habilitados, desde já, a proclamar a grande nova de que a demonstração científica da sobrevivência humana se acha conseguida pela Ciência, tendo por base a categoria dos casos de identificação pessoal de espíritos desconhecidos do médium e dos presentes, e que se manifestam de modo independente de qualquer forma de relação psíquica terrena.
Observações minhas:
1) Para esclarecer melhor o tema, sugiro a leitura das seguintes monografias do mestre italiano: "Cinco Excepcionais Casos de Identificação de Espíritos", Editora Lachâtre, "Telepatia, Telemnésia e a Lei da Relação Psíquica", Editora Eco, e "Metapsíquica Humana" (Cap. VI), Editora da FEB.
2) Às considerações acima de Bozzano, pode-se acrescentar, com o Prof. Lombroso, que a sucessão de vários espíritos comunicantes, 5, 6, ..., 10 vezes, com personalidades distintas bem nítidas, com seus trejeitos pessoais, suas peculiaridades próprias, modos de ser, agir e falar que lhes são característicos, não se podem explicar pela telepatia, porque são coisas abstratas que não podem ser lidas na subconsciência de ninguém. Também os erros, lapsos de memória, esquecimento de nomes, etc., que ocorrem, com alguma frequência, nessas comunicações, quando entre os vivos permanecem tão intensos e precisos, não se explicam pela leitura do pensamento nas subconsciências alheias, mas obtêm muito melhor explicação pela dificuldade que têm esses seres, chegados a uma nova forma de vida, para exprimir seu pensamento através de um organismo que não foi feito à sua feição, que lhes é totalmente estranho. Por outro lado, fatos que ainda virão a ocorrer (precognição), e que não se podem inferir de causas atuantes no presente, também não têm explicação pela telepatia.
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