O panteísmo materialista, do qual, na era moderna, os expoentes máximos são os filósofos alemães Arthur Schopenhauer (1788-1860), com sua obra "O Mundo Como Vontade e Representação", e seu continuador, Eduardo von Hartmann (1842-1906), com seu livro "A Filosofia do Inconsciente", o panteísmo materialista, dizia eu, crê que a fagulha divina que existe nos animais e no homem, uma vez golpeados pela morte, reintegra-se à Substância Divina que a gerou, perdendo, pois, a sua consciência e individualidade. Sua duração é efêmera, do nascimento ao falecimento.
O panteísmo espiritualista, ao contrário, postula a ascensão ininterrupta e progressiva da fagulha divina, desde o seu estado potencial, no mineral, subindo, ao longo dos evos, pelos reinos vegetal, animal e hominal, animando inumeráveis formas evolutivas, plasmando-as como meio de sua própria ascensão, aproximando-se cada vez mais da Essência Cósmica de onde proveio, até que, no ápice da evolução, reintegre-se a Ela, sem perder a sua individualidade.
O Dr. Gustave Geley foi um médico francês, doutor em medicina pela universidade de Lyon, clínico-geral do hospital de Annecy, fundador e diretor do Instituto Metapsíquico Internacional; sua grande obra "De l'Inconscient au Conscient" ("Do Inconsciente ao Consciente") é um esboço de uma filosofia científica global que procura dar conta dos problemas inerentes à psicologia humana, nos seus aspectos normal, anormal (patológico) e paranormal (metapsíquico), e busca trazer uma explicação lógica dos inúmeros pontos de interrogação que permeiam a teoria transformista darwiniana da evolução das espécies. Como a obra citada não possui tradução para a língua portuguesa, tentarei fazer uma tradução livre da edição em espanhol que possuo. Citarei apenas alguns excertos que me parecem importantes para o tema em apreço.
As dificuldades capitais do transformismo clássico são em número de cinco. Vejamos a enumeração:
1ª) Os fatores clássicos são impotentes para dar a compreender a origem das espécies.
2ª) Os fatores clássicos são impotentes para dar a compreender a origem dos instintos.
3ª) Os fatores clássicos são incapazes de explicar as transformações bruscas criadoras de novas espécies.
4ª) Os fatores clássicos são incapazes de explicar a "cristalização" imediata e definitiva dos caracteres das novas espécies ou dos novos instintos -- o fato de que esses caracteres, em suas grandes linhas, adquirem-se muito rapidamente, e, uma vez adquiridos, ficam praticamente imutáveis, ou mudam muito pouco ao longo do tempo.
5ª) Os fatores clássicos são impotentes para resolver a dificuldade geral de ordem filosófica relativa à evolução, que, do simples, faz surgir o complexo, do menos ( - ), o mais ( + ).
Estudemos, sucessivamente, estas cinco dificuldades essenciais.
As duas bases, os dois postulados primordiais da filosofia que vamos expor e sustentar, são os seguintes:
I. O que há de essencial no indivíduo é um dínamo-psiquismo, emanação do Princípio Único (ou da Substância Divina), primitivamente inconsciente, mas tendo em si todas as potencialidades. As aparências diversas e inumeráveis das coisas são apenas objetivações do dínamo-psiquismo máximo, isto é, do Princípio Único.
II. O dínamo-psiquismo essencial e criador dos seres vivos passa, pela evolução, do inconsciente ao consciente.
( x )
A evolução coletiva, como a evolução individual, pode resumir-se desta forma: passagem do inconsciente ao consciente.
No indivíduo, o Ser aparente, submetido ao nascimento e à morte, limitado em suas capacidades, efêmero em sua duração, não é o Ser real; é apenas a objetivação ilusória, atenuada e fragmentária. O Ser real, aprendendo pouco a pouco a se conhecer a si mesmo e a conhecer o Universo, é a fagulha divina a caminho de realizar sua divindade, infinita em suas potencialidades.
No Universo observável, as diferentes aparências das coisas são apenas a objetivação ilusória, atenuada e restrita, da unidade divina, realizando-se em uma evolução indefinida. A constituição dos mundos e dos seres é apenas, também, a realização progressiva da consciência eterna, do Princípio Único, pela multiplicação progressiva de criações temporais ou objetivações.
Que importa, então, a morte? Não destrói senão uma aparência, uma objetivação temporal. A individualidade verdadeira, indestrutível, conserva e assimila todas as aquisições da personalidade transitória; depois, banhada de novo pelas águas do "rio Lete", materializa uma nova personalidade e continua sua evolução indefinida. Sim, isto é o que nos ensina claramente a natureza, e a natureza não mente nunca!
Obs.: Texto extraído do livro "Del Inconsciente al Consciente", Ediciones Cima, Caracas, Venezuela, 1995.
Os textos que se seguirâo foram retirados de dois livros do Dr. Geley: "O Ser Subconsciente" (ed. FEB, 1974) e "Resumo da Doutrina Espírita" (ed. LAKE, 1975), fazendo algumas adaptações. Tais livros foram os primeiros escritos pelo Dr. Geley, enquanto "De l'Inconscient au Conscient" foi um dos últimos.
A evolução, base da doutrina panteísta, o é também da palingenesia (reencarnação). Por outro lado, contrariamente à banal e tão propalada opinião, as esperanças de imortalidade individual não são logicamente conciliáveis senão com o panteísmo, porque, segundo o argumento de Schopenhauer, não se pode conceber como infinito senão o que não teve começo, e como imortal senão o que não foi criado. Finalmente, sentimo-nos tanto mais conduzidos ao panteísmo quanto a hipótese de uma divindade exterior ao Universo nos aparece, na doutrina palingenésica, tão inútil do ponto de vista idealista quanto do ponto de vista criador.
Podemos, então, adotar o logicamente o panteísmo, mas, sob a condição de que fique claro que nos colocamos no campo das hipóteses e que os sistemas concebidos sobre essa base, guardando inteiramente um caráter racional e verídico, ainda não derivam da filosofia científica propriamente dita.
Se partimos da noção de um Princípio Único, Essência Cósmica ou Substância Divina, origem e fim de tudo, para tentar uma explicação completa do Universo, imediatamente nos encontramos em presença de capital dificuldade: esse Princípio Único não é mais compreensível do que o Deus pessoal e criador da maioria das religiões, que cria e permanece fora do Universo, sendo, portanto, limitado e finito. Infelizmente, o infinito, o absoluto, não são acessíveis à nossa inteligência finita. Só podemos conceber o absoluto de uma forma limitada.
Sob as inumeráveis aparências das coisas, não vemos mais que objetivações, ou seja, parcelas condensadas do Princípio Único. Depois de um processo criador, ou de involução, a centelha divina, emanação individualizada do Princípio Único, acha-se em estado potencial no mineral. A evolução poderá, assim, ser considerada como a transposição de energias potenciais em energias realizadas: a aquisição da consciência será seu propósito e seu fim.
Terminada a evolução, a centelha divina situada no interior dos seres vivos, imortal, individual, desenvolveu suas potencialidades e adquiriu a consciência que a todos resume. Mas a noção de sua individualidade não se perdeu; a consciência individual, realizada durante a evolução faz, naturalmente, parte da consciência total. Apenas, chegada ao máximo, cada consciência individual funde-se na consciência total, fazendo parte da mesma.
Segundo a Doutrina Espírita, o estado de desencarnação constitui uma
espécie de produto sintético dos elementos diversos das personalidades
anteriores. A diversidade cede lugar à unidade.
Já não há órgãos diversos e
múltiplos, mas um só organismo homogêneo. Já não há sentidos especiais,
mas um sentido único que os condensa todos. Já não existem, enfim,
diversas faculdades, mas uma só faculdade que as engloba todas: a consciência,
mais ou menos extensa e mais ou menos livre, conforme o grau de
adiantamento do ser. Em resumo: o espírito desencarnado é provido de um
organismo homogêneo, com um sentido único, e desfruta de extensão
variável de consciência, de liberdade e de amor (amor tomado em sentido
amplo e que, à falta de melhor termo, teria a significação de capacidade afetiva e emotiva).
Por consequência, se compararmos as duas fases sucessivas da existência do ser, diremos: A desencarnação é um processo de síntese, síntese orgânica e síntese psíquica. A encarnação é um processo de análise.
Esta é a subdivisão da
consciência em faculdades diversas, e do sentido único em sentidos
múltiplos, para facilitar o seu exercício e conduzir ao seu
desenvolvimento.
Obs. minha - já dizia "o grande
mestre da ciência da alma", Ernesto Bozzano, em sua monografia
"Pensamento e Vontade" (ed. FEB, 1991), sobre o panteísmo: É preciso
reconhecer que, do ponto de vista filosófico, o sistema
panteístico-espiritualista afigura-se o mais convinhável para
interpretar, de modo acessível, às nossas inteligências finitas, o
grande mistério do Universo.
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