1º - O lutador político e filósofo italiano Giuseppe Mazzini (1805-1872) dizia
que a Verdade Absoluta é um prisma com um número muito grande de faces e
que cada um de nós, vivendo num mundo relativo, apenas consegue
enxergar uma de suas faces. Só o Ser Supremo e os Altos Espíritos que
Lhe estão próximos, numa dimensão muitíssimo mais elevada que a nossa,
conseguem lobrigar todas as faces do prisma-Verdade. Com outras
palavras, posto que não muito diferente em substância, é o que afirma o
filósofo positivista francês Auguste Comte (1798-1857) -- Tudo é relativo, eis o único princípio absoluto.
Por outro lado, "o grande mestre da ciência da alma", o "primus inter
pares" na análise e evisceração dos fenômenos mediúnicos, nome que
dispensa apresentação para todos os espiritistas, Ernesto Bozzano
(1862-1943) afiançava -- A Verdade, para refulgir, precisa do entrechoque das idéias.
Um amigo e correspondente virtual solicitou-me que lhe enviasse uma
definição que eu considerasse a ideal para o Espiritismo, dentro dos
meus angustos conhecimentos. Lembrei-lhe que eu via apenas uma face do
prisma-Verdade mazziniano, e que talvez outros, mais competentes do que
eu, conseguissem perceber uma face maior do mesmo prisma. Mas não
desejando desapontá-lo, remeti-lhe a seguinte resposta:
Modificando um pouco a definição para o Espiritismo que me foi dada pelo escritor patrício Carlos Imbassahy, diria o seguinte:
"O Espiritismo é uma doutrina
científica e filosófica que não se baseia em confusos, contraditórios e anacrônicos textos
"pseudo-sagrados" do velho testamento bíblico (firmados na vingança, na velha lei moisaica do "olho por olho, dente por dente", derrogada pelo Cristo), mas nos fatos
cientificamente comprovados (por eminentes cientistas de diferentes
países), e nos ensinamentos morais do próprio Jesus (assentados na lei do amor, no "ama ao próximo como a ti mesmo"), ensinamentos cristãos confirmados e ampliados nas
obras de Allan Kardec, codificando o que os espíritos superiores lhe
transmitiram."
2º - Nesse complexo tema, não há como deixarmos de nos socorrer do
maior estudioso dos fenômenos psíquicos, que possuía a mais completa
biblioteca sobre esses temas (biblioteca que hoje está aberta aos
pesquisadores), que pesquisou a fundo todos os fenômenos da casuística
paranormal, tendo escrito mais de 100 obras sobre essa casuística, o
"grande mestre da ciência da alma", filósofo Ernesto Bozzano. Faz-se
nacessário consultar "A Crise da Morte, nas Descrições dos Espíritos Que
se Comunicam".
Tentarei sintetizar alguns pontos dessa obra. Em primeiro lugar, o
mundo espiritual é tão real para os Espíritos quanto o material é para
nós. E por que? Porque ele é feito da mesma substância sutil de que é
feito o corpo desses espíritos (isto é, o seu "perispírito", na
nomenclatura kardequiana), assim como o nosso é feito dos mesmos átomos e
moléculas que constituem o nosso corpo. Seria absurdo que o espírito,
ao desencarnar, se visse num mundo, para ele, completamente estranho,
qualitativa e quantitativamente diferente do nosso, o que o mergulharia
num tremendo caos mental. Quanto tempo levaria para que ele pudesse
adaptar-se a esse novo mundo, que não deveria ter nenhum ponto de
contato, nenhuma ligação com este? Ora, sabemos que "natura non facit
saltus". Assim, faz-se necessário, nos primeiros estágios da vida
espiritual, que os desencarnados encontrem um mundo semelhante a esse,
onde a maioria deles passou toda a sua vida terrena, e onde o choque,
que já não é pequeno para os que se veem numa nova existência, de outro
modo seria insuportável.
Um segundo ponto é que as casas e contruções dessa nova existência
são feitos por espíritos de ordem média, que para isso se habilitaram
especificamente, sob a supervisão, naturalmente, de espíritos mais
adiantados, assim como, no nosso mundo, as construções são feitas por
operários qualificados, sob a supervisão de engenheiros, ou mestres de
obra com mais experiência. Os desencarnados possuem o pensamento e a
vontade como força criadora, e podem criar objetos para seu uso
imediato, mas não podem alterar as contruções de ordem geral.
No mencionado livro de Bozzano, editado pela Editora do
Conhecimento, há o relato de 30 casos de diferentes Espíritos
desencarnados há pouco tempo, citando a existência de casas, escolas,
hospitais, mas em nenhum há menção de conduções, como automóveis, ônibus
ou trens, o que seria mesmo de espantar já que os espíritos se movem
com a força do pensamento, podendo se mover, pois, lenta ou quase
instantaneamente, conforme sua vontade. Assim, realmente, não sei como explicar o fato de, no livro "Nosso Lar", o Espírito André Luiz fazer
menção à existência de um meio de transporte (algo parecido a um ônibus elétrico), que locomove
os espíritos de uma parte a outra. Por outro lado, não me sinto com capacidade para declará-lo uma inverdade. O certo é que,
na citada obra do pensador italiano, os espíritos comunicantes são
acordes em afirmar que o meio espiritual (pelo menos nos seus primeiros
estágios) é como se fosse "o meio terrestre espiritualizado".
Vamos ao último ponto. Kardec realizou a quase inacreditável
façanha de codificar, em 12 ou 13 anos, uma doutrina da complexidade da
Doutrina Espírita. Isto, por si só, já seria suficiente para se tê-lo
como um grande Mestre, ou mesmo um Gênio. Mas ele escrevia em meados do
século 19, utilizando-se dos conceitos científicos da época. A meu ver,
alguns dos seus escritos, por essa razão, devem ser revistos, sem
nenhum demérito para ele. Um deles é o que diz respeito ao chamado
"fluido cósmico universal".
Retornando a Bozzano, crê aquele filósofo e cientista que, banhando
todo o Universo, exista uma "Energia Cósmica", sutil, primitiva e
fundamental, a mais sutil de todas, da qual deriva, por condensações
progressivas (a falta de um termo melhor), todas as coisas criadas,
todas as formas conhecidas de matéria e energia. Esta "Energia Cósmica"
seria a Essência Básica de que se constitui tudo o que existe no
Universo. Bozzano a identifica com o próprio Deus, que assim seria
onipresente e onisciente. Nada pode existir fora dessa Energia, e, desta
forma, Deus seria infinito e ilimitado em todas as direções que se
imaginar, e nada pode existir fora Dele. Todavia,
entre esse Deus-Energia Cósmica e a energia e matéria que conhecemos, há uma
infinidade de estágios intermediários, bem menos sutis que a Energia
citada. É num desses estágios que se acha a energia que constitui o
"corpo espiritual" (ou perispírito) dos desencarnados e o material das
construções do mundo espiritual.
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