Apresentemo-lo pela pena do grande escritor espírita brasileiro, Dr. Carlos Imbassahy:
"O Dr. Antônio da Silva Mello, médico, profissional de fama, já se havia celebrizado nas letras por várias obras, umas de fundo científico, outras de cunho filosófico. Médico e autor, que deixava atrás de si um rastro de admiração e entusiasmo, rastro luminoso como o de certos meteoros quando sulcam o espaço."
"Mas a admiração subiu de ponto, quando apareceu o seu último trabalho, intitulado 'Mistérios e Realidades Deste e do Outro Mundo'. Já a admiração se transformava em assombro. Eram seiscentas páginas compactas, maciças, de 'provas' contra os fenômenos espíritas. Em meio aos cortes e recortes, às transcrições de livros, aos nomes de autores que ninguém conhecia, mas que eram precedidos de adjetivos sonoros, no meio de todos os temperos com que condimentou o seu guizado, o Dr. Mello, com as tintas da sua psicologia, resolveu entrar com o fator sugestivo, e começou a fazer com que o leitor se sugestionasse, acreditando na autenticidade das citações, na irrefragabilidade da argumentação, na impecabilidade da construção, na sublimidade da obra."
"E a coisa pegou. Pegou, ao que parece, a julgar-se pelos encômios que choviam de toda a parte, como as luzes dos fogos de bengala. É que o médico dizia: -- 'acreditem em mim, eu estou dizendo a verdade, é isso mesmo, estou fazendo obra muito útil'..."
"O pessoal foi caindo... E os elogios vieram cantando, e se os pudéssemos musicar, teríamos composto um hino de louvores, um poema, uma "silvíada", ou coisa que lembrasse a epopeia de Camões."
"Não há mal, porém, que sempre perdure, nem bem que nunca se acabe. Assim é que apareceu em cena, sem que ninguém esperasse, o Dr. Sérgio Valle, colega do outro, e lançou o seu formidável contra-libelo -- 'Silva Mello e os Seus Mistérios'."
"Cientista como o autor dos Mistérios, médico como ele, escritor de pulso, ainda leva sobre o seu adversário a vantagem do estilo, de uma ironia, talvez a pior para o antagonista, porque é aquela que faz rir, e o riso do leitor, atuando como um pé de vento, põe em baixo, com uma só rajada, o volumoso castelo de papelão que o Dr. Silva Mello havia armado com tanto jeito."
"Os pontos do livro do escritor anti-psíquico que Sérgio Valle analisa, são para logo arrasados. Foi uma contra-ofensiva inesperada, com todos os sintomas de ataque fulminante. Não fica nada de pé: é uma destruição apocalíptica."
"Por falta de sorte, teve Mello que se avir com com um antagonista temível, sob o ponto de vista literário. Sérgio Valle escreve bem, argumenta bem, ironiza bem. Está senhor do terreno. Dir-se-ia que, como um estrategista da pena, sondou as posições do adversário, viu-lhe a vulnerabilidade, onde todos julgavam a fortaleza inexpugnável, e caiu-lhe em cima com um vigor, uma habilidade e uma inteligência desnorteantes."
"Nem o ilustre Mello se poderá queixar. Dele partiu a ofensiva, violenta e mascarada. Di-lo muito bem Sérgio Valle: -- 'O duelo entre mim e o colega Silva Mello nasceu da provocação insólita dos Mistérios. Foi ele quem escolheu o campo no qual nos enterreiramos, quem elegeu o pretexto, a maneira e o estilo de resolvê-lo. Forçou-nos àquela situação descrita por Euclides da Cunha, no estouro da boiada, quando o vaqueiro se arremessa, impetuoso, na esteira dos destroços, enristado o ferrão, rédeas soltas, soltos os estribos, estirado sobre o lombo, preso às crinas do cavalo'. "
"Disse... e lavou as mãos. E, agora, tome lenha. Lenha que, no caso, atuou como específico. Bom médico, viu logo que o doente precisava de um remédio forte."
Ao mesmo tempo em que o Dr. Sérgio Valle escrevia o seu livro, os escritores Carlos Imbassahy (já citado) e Pedro Granja também preparavam o seu, a que puseram o título "Fantasmas, Fantasias e Fantoches" (que também mereceria ser reeditado), refutando os argumentos do Dr. Silva Mello. Escreve Imbassahy:
"O Dr. Mello teve uma habilidade rara, a de não deixar escapar nenhuma das anedotas que correm mundo, a respeito das experiências clássicas da Metapsíquica, isto de envolta com o relato de fraudes que existem, e sempre existiram, e hão de existir, enquanto houver fraudulentos e embusteiros, para atestar a má qualidade do barro com que fomos forjados."
"Quem quiser um vasto repositório de inverdades, baboseiras, frivolidades, invenções ridículas, confissões inverossímeis, auto-acusações, burlas imaginárias, é só pegar o livro do doutor: há ali uns indivíduos que vieram dizer que os médiuns trapaceavam, sem se saber que idoneidade tinham; outros relatam confissões de médiuns feitas a eles, ali ao pé do ouvido, às vezes quando o médium expirava e não podia desmenti-los; outros, não se sabe porquê, substituíam-se ao sacerdote nessas confissões; as confissões, em regra, só estouram depois da morte do mistificador; outros dizem que sabem como a coisa foi feita pelo hipotético burlão, mas não aceitam submeter-se às mesmas condições a que os médiuns verdadeiros ficaram sujeitos, para que provem de uma vez a farsa na produção dos fenômenos. Em algumas vezes, são umas acusações imprecisas, vagas, onde não aparece ninguém, onde não se vê o nome do acusador. Outras vezes são o Paul Heuzé, o Max Dessoir e quejandos, que nada viram e nada experimentaram, já várias vezes desmoralizados pelos psiquistas sérios, que desmentiram publicamente suas falsas informações."
"E naquele vê-se, ouve-se, sabe-se, sente-se, diz-se, contou-se, está a condenação formal, a perda irremediável das mais comprovadas, das mais graníticas experiências, realizadas por centenas de cientistas e filósofos de vários países do mundo, que se cercaram de todos os cuidados, de todos os apetrechos e instrumentos necessários para elidir a fraude."
Finalizemos com o texto de um grande psiquista francês, investigador profundo dos fenômenos paranormais, também médico, Dr. Gustave Geley, em seu livro "Resumo da Doutrina Espírita":
"Os fenômenos espíritas têm sido observados por muitíssimas testemunhas conscientes e por muitíssimos sábios ilustres que os controlaram, para que hoje se possam negar a priori. E mais ainda: ninguém tem o direito de combater, sem prévia contra-experimentação, as conclusões experimentais dos Robert Hare, William Crookes, Russel Wallace, Cromwell Varley, Henry Sidgwick, Edmund Gurney, Alexandre Aksakof, Friedrich Zöllner, Carl du Prel, Paul Gibier, Dale Owen, James Hyslop, Richard Hodgson, Frank Podmore, Oliver Lodge, William Barrett, Frederic Myers, César Lombroso, Enrico Morselli, Albert de Rochas, Charles Richet, Camille Flammarion, César de Vesme, Julian Ochorowicz, Schrenck-Notzing, Ernesto Bozzano, e tantos outros não menos ilustres."
"Justificada ou não justificada, a doutrina espírita é suficientemente grandiosa para suscitar discussão profunda aos pensadores, aos cientistas e aos filósofos."
"E muitos deles, depois de sério exame, concluirão certamente que uma doutrina baseada em fatos experimentais tão numerosos e precisos, de acordo com os conhecimentos científicos dos diversos ramos da atividade humana; que dá solução clara e satisfatória dos grandes problemas psicológicos e metafísicos; que uma doutrina assim, repito, é verossímil. Chegarão até a afirmar que deve ser verdadeira, que é muito provavelmente verdadeira."
"Em todo o caso, não se trata já de quimeras, de se deixar embalar por 'velhas canções', ou de dormitar sobre a 'fofa almofada da dúvida'. Devemos saber, queremos saber, podemos saber." (...)
"A imortalidade -- dizia Pascal -- importa-nos tanto, interessa-nos tão profundamente, que é preciso ter perdido todo o sentimento para demonstrar indiferença por ela."
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