(Obs.: Os quatro primeiros parágrafos do artigo abaixo foram extraídos, com pequenas modificações, de trechos do trabalho do Dr. Fritz Kahn (1888-1968), intitulado "O Livro da Natureza", Edições Melhoramentos, 1966, págs. 25, 26 e 27).
"O espaço que separa as massas não pode ser um 'nada', pois, através dele agem forças longínquas. Do Sol, irradia-se luz para nós; a Lua ergue as águas do mar por ocasião das marés."
"Jamais foi elaborada uma doutrina, abrangendo a ciência e a ética, como a filosofia dos antigos hindus. Schopenhauer celebrou a tradução dos 'Upanishads' como o maior acontecimento espiritual do século dezenove. Os hindus imaginam o mundo repleto de uma matéria cósmica extremamente tênue e rarefeita que chamam 'Brahma', que tem, no pensamento deles, a mesma significação que Deus, no Velho Testamento. Eis o que dizem a esse respeito:"
"Invisível é Brahma, e todavia está em toda parte. A mão não pode contê-lo, mas ele tudo abrange. Não pode ser visto, mas é dele que vem a luz. Ninguém o pode sentir, mas todo o sentir dele provém. Por transformação, dele nasce tudo o que existe, mas ele permanece sempre o mesmo. Nada o surpreende, e nenhuma palavra diz a respeito do que for. Tudo vê e tudo permite que aconteça. Tudo nele é agitação, mas ele mesmo permanece tranquilo. Assim como dele todas as coisas surgiram, assim a ele regressam todas; por isso, é paciente e tranquilo."
Os vocábulos "Quintessência" (também pode ser escrito "Quinta-Essência") e "Éter" significam a mesma coisa: a matéria cósmica, primitiva e fundamental, em seu máximo grau de simplicidade e pureza, que preenche todo Universo. Diz Fritz Kahn: "A palavra "Éter" provêm de Aristóteles, o fundador da ciência sistemática da natureza. Deu ele o seguinte quadro sobre a divisão da matéria: 'a Terra é cercada de água; a água, de ar; o ar, de éter; para além do éter, nada existe'. Para um homem que vivia 350 anos antes de Cristo, já é notabilíssima esta concepção, tanto mais que os sentidos eram os seus únicos meios de conhecimento."
Abro aqui um parênteses para dar o significado de "quintessência", segundo o dicionário online de português. Referindo-se a uma dada substância, o citado dicionário diz: "aquilo que é obtido após cinco destilações; o que há de melhor, de mais apurado, importante ou excelente; grau mais elevado ou melhor de um produto; o essencial".
Assim, segundo as antigas escolas hindus, chinesas, egípcias, gregas, etc., e os primeiros estudiosos da filosofia natural, existe algo análogo a uma essência primordial, a mais pura e sutil que se possa imaginar, da qual derivariam, por concentrações (ou 'condensações', à falta de um termo melhor) progressivas, todas as formas conhecidas de matéria e energia que constatamos existir no nosso Universo. Este estaria imerso nesta substância, como os peixes no mar. Tal substância foi denominada "éter cósmico" (ou 'quintessência", por outros).
Pois bem, quando, no início do século dezenove, os físicos Thomas Young e Augustin Fresnel, comprovaram experimentalmente, através dos fenômenos de interferência e difração, a teoria ondulatória da luz, os físicos da época indagaram: ondas em que meio? A hipótese do "éter cósmico" veio então a calhar para esses físicos, que a adotaram prontamente, embora nada indicasse que essa essência ou substância primordial, absolutamente inacessível aos nossos sentidos e aos nossos mais sofisticados instrumentos de pesquisa, pudesse servir de meio por onde transitam ondas luminosas. Ora, os pensadores e filósofos anteriores jamais cogitaram atribuir, a esse éter que imaginaram, uma propriedade tão estranha e contraditória.
De fato, se o éter fosse o meio de propagação de ondulações transversais da luz, cuja velocidade é de 300.000 km/s, e cuja frequência é de trilhões de vibrações por segundo, ele teria que ser tão tênue como o ar rarefeito a 10 elevado a - 31, e, por outro lado, tão resistente quanto o aço, duas propriedades absolutamente inconciliáveis. Além disso, a luz apresenta também um caráter corpuscular, como Einstein demonstrou em 1905, através de seus trabalhos sobre o efeito fotoelétrico, e se propaga pelo espaço como partículas (fótons) separados e independentes. Ora, se a luz fosse um fenômenos unicamente ondulatório, talvez necessitasse de um meio de propagação. Mas sendo composta também por partículas que se movimentam pelo espaço, não se faz necessário tal meio. De fato, o físico alemão e divulgador científico, Paul Karlson, escreveu: "A luz não é uma ondulação elástica num meio mecânico, como se pensava antes, mas uma oscilação eletromagnética que não necessita de meio algum para se propagar."
Nos anos 1920 do século vinte, o filósofo espiritualista italiano Ernesto Bozzano concebeu a inovadora ideia do "Éter-Deus", ou de "Deus-Quintessência Cósmica".
Onipresença, Onisciência e Onipotência sempre foram as três características que todas as religiões atribuíram à Divindade, desde épocas prístinas. Ora, sendo o "Éter" um meio universal e rarefeito que tudo penetra, podemos considerá-lo onipresente.
Sabemos que cada um dos acontecimentos que sucede em nossas vidas fica registrado, sob forma vibratória, na matéria do nosso cérebro, fato que constitui nossa memória terrestre. Ora, se supusermos que cada acontecimento que sucede no universo, e que constitui a atividade universal nos reinos inorgânico e orgânico, fica registrado, sob forma vibratória, no "Éter" (ou "Quintessência Cósmica"), tê-lo-emos revelado onisciente. Quanto à terceira característica, a Onipotência, não é mais que uma consequência das outras duas. Só falta deferir à "Quintessência" ou ao "Éter Cósmico" a consciência, para que se possa dizer: "O Éter é Deus".
"Esta noção do "Éter-Deus", assevera o filósofo italiano, "conduz necessariamente ao conceito panteístico-espiritualista, afigurando-se-nos este como o mais convinhável para explicar, de modo acessível, às nossas inteligências finitas, o grande mistério em que jaz o Universo."