Deduz-se, sem nenhuma dúvida, das pesquisas realizadas por grandes cientistas do mundo inteiro, que existe no homem um princípio psíquico, desconhecido dos quadros da fisiologia oficial, porque nos é revelado com faculdades que o tornam, muitas vezes, independente das condições de espaço e de tempo que regem o mundo material.
É, pois, certo, que o pensamento de um indivíduo pode exteriorizar-se e agir sobre outro ser vivo, independentemente de qualquer ação sensorial, apesar da distância que os separa. É a este fenômeno que se deu o nome de telepatia. Não é menos certo que a visão à distância (ou clarividência), fora de toda influência telepática, se exerce durante o sono, ligeiro ou profundo, sem recorrer ao sentido ocular, o que pressupõe um poder diferente do puramente fisiológico. Eis-nos, ainda aí, em presença de uma faculdade inteiramente distinta daquelas que os fisiologistas atribuem à substância nervosa.
Enfim, está estabelecido, por exemplos numerosos e indiscutíveis, que um fenômeno tão extraordinário como o do conhecimento do futuro ou da precognição, foi várias vezes verificado. Tudo prova que existe, no homem, um princípio independente do organismo físico, organismo físico que é rigorosamente condicionado pelas leis que regem o mundo material.
Isto é tão incontestável que um filósofo da envergadura de Henri Bergson (Prêmio Nobel de Literatura), ousou dizer o seguinte, em recente conferência:
Se, como parecem indicar os fenômenos paranormais, a vida mental transborda a vida cerebral, se o cérebro se limita a traduzir, em movimentos, apenas uma parte do que se passa no âmago da consciência, a sobrevivência, então, se torna tão verossímil, que a obrigação da prova incumbirá àquele que nega, em vez daquele que afirma, porque a única razão de se crer na extinção da consciência depois da morte, é que se vê o corpo desorganizar, e esta razão não terá mais valor se a independência de grande parte da consciência, em relação ao corpo, é também um fato verificável.
O texto acima, de Delanne, vem corroborar a tese central do "grande mestre da Ciência da Alma", Ernesto Bozzano, para quem o Animismo (isto é, os fenômenos de telepatia, clarividência e, em certos casos, precognição) prova o Espiritismo, de modo que, sem o Animismo, o Espiritismo careceria de base. Isto se dá porque tais fenômenos (chamados por Aksakof de anímicos), só despontam, esporadicamente, em condições de leve ou profunda inconsciência nos indivíduos, e não se destinam a atuar em ambiente terreno (que não lhes justifica a emergência), mas apenas em ambiente apropriado (depois da crise da morte), onde poderão se exercer normalmente, praticamente e utilmente, de vez que as faculdades da existência espiritual não poderiam ser criadas, súbita e magicamente, do nada, no instante da morte. Daí se segue, afirma Bozzano, que se tais faculdades paranormais não existissem, pré-formadas e em estado latente, na subconsciência humana, dever-se-ia concluir, inapelavelmente, que o espírito humano é aniquilado com a morte do corpo.
Veja-se o trabalho do filósofo italiano, publicado originalmente em inglês, "Animism or Spiritualism? Which explains the facts?", portentosa síntese da sua obra de 40 anos.