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Ernesto Bozzano |
Este é o título de mais um trabalho do pensador italiano
Ernesto Bozzano, que o astrônomo Flammarion alcunhou, certa vez, de "o
laborioso analista dos fenômenos psíquicos", versando sobre os fenômenos
paranormais que ocorrem entre os povos selvagens, tal como acontecem
entre os povos civilizados, e que não são frutos de "superstições
indígenas", como imaginam alguns antropólogos e sociólogos, mas
resultado de observações de fatos paranormais autênticos que se
verificam no seio de todos os povos, sejam eles civilizados, bárbaros ou
selvagens, antigos e atuais. O filósofo italiano inicia o seu trabalho
afirmando que "bastará consultar as obras dos mais eminentes
antropólogos, sociólogos e missionários que viveram, longo tempo, entre
os povos selvagens, para verificar que todos esses autores reconhecem,
de comum acordo, que a crença na sobrevivência do espírito humano é
universal."
Bozzano cita o antropólogo E. B. Tylor, o qual observa, em sua obra Primitive Culture
que "a fórmula mínima para definir uma religião consiste na crença de
entidades espirituais, que se encontra no meio das mais atrasadas raças
humanas com as quais temos conseguido entrar em relações íntimas".
Acrescenta que "essas entidades são as almas que sobreviveram à morte do
corpo." E continua: "tal crença é a base fundamental de todas as
religiões, a partir das religiões dos selvagens para chegar às dos povos
civilizados; constitui, aliás, a religião ou filosofia mais antiga e
universal."
O antropólogo Andrew Lang, em seu livro The Making of Religion,
comparou as manifestações que se realizam entre os povos primitivos com
as que se verificam entre entre os civilizados, quer sejam espontâneas,
quer produzidas experimentalmente, e assegura que a melhor prova de
tais fenômenos se encontra na admirável concordância com as descrições
análogas, vindas de diferentes lugares e diferentes épocas. E conclui,
apud Bozzano: "Quando as circunstâncias que nos relatam os exploradores,
assim os antigos como os modernos, instruídos ou ignorantes, místicos e
céticos, concordam em sua modalidade de manifestação, temos o melhor
critério de prova que a Antropologia pode fornecer. E acrescente-se
ainda que, aplicando o método da análise comparada aos diferentes povos,
concluímos que os fenômenos psíquicos são os mesmos por toda parte, e
igual, por toda parte, a crença na sobrevivência por eles firmada. Não
se distancia, ainda, da dos tempos modernos, a crença dos povos antigos
no que tange à gênese de tais fenômenos, ou seja, que são produzidos
pela alma dos que viveram na Terra."
"Esses fenômenos", diz Bozzano, "idênticos, quaisquer que sejam as
épocas e as regiões, vieram reforçar a certeza da sobrevivência do
espírito humano e a possibilidade de comunicação entre os vivos e os
desencarnados."
Grant Allen afirma em sua obra The Evolution of the Idea of God que "a religião contém, em si própria, um elemento infinitamente mais antigo que a própria religião, mais fundamental e persistente que toda a crença em Deus ou nos deuses; isto é, mais antigo mesmo que o uso da propiciação aos deuses e aos espíritos, por meio de oferendas, e este elemento é a crença na sobrevivência dos trespassados. Ora, é nessa crença universal primitiva que se fundaram todas as religiões."
Globet d'Alviella declara em seu livro Hibbert Lecture que "as descobertas desses vinte e cinco últimos anos mostraram, de maneira decisiva, que na época do mamute já o homem praticava os ritos fúnebres, cria na sobrevivência da alma."
Brinton em Religions of Primitive Peoples nos diz que "há religiões, por tal forma rudimentares, que não têm altares, nem templos, nem ritos; mas é impossível encontrar uma só religião rudimentar cuja crença não
repouse na existência de entidades espirituais que se comunicam
com os homens."
Para Huxley, em Lay Sermons and Adresses, "há povos selvagens sem Deus, mas não os há sem a existência dos espíritos."
Para Powers, em Tribes of California, em que trata dos
índios da Califórnia, "estes não têm nenhuma ideia de um Ser Supremo, mas creem na existência dos espíritos, ou seja, nas almas dos homens que habitaram o nosso planeta."
Para César de Vesme, em Histoire du Spiritualisme Expérimental, "a crença na alma, na sobrevivência, nos espíritos, impôs-se ao homem, bom ou mau grado seu, independentemente de seus desejos, pela observação de fatos ocorridos em todos os tempos e lugares, fatos de que iremos nos ocupar -- eis tudo."
Vejamos os capítulos da superdocumentada obra do filósofo italiano,
considerado "o grande mestre da ciência da alma", citando diversos fatos
paranormais ocorridos entre os povos selvagens, narrados por
exploradores e missionários que viveram entre eles:
Cap. 1 - Pancadas e Quedas, Movimento de Objetos a Distância (Telecinésia), Levitação Humana.
Cap. 2 - Transmissão do Pensamento e Telepatia de um Modo Geral.
Cap. 3 - Clarividência no Presente e no Futuro.
Cap. 4 - Fenômenos de Assombramento.
Cap. 5 - Fenômenos de Transporte.
Cap. 6 - Fascinação Hipnótica e Sortilégios.
Cap. 7 - A Prova do Fogo.
Cap. 8 - Feiticeiros-Médicos e seus Sistemas de Cura.
Cap. 9 - Duplo Psíquico, Desdobramento, Bilocação.
Cap. 10 - Sessões Mediúnicas com Telecinésia, Vozes Diretas, Xenoglossia, Materializações e Identificações de Espíritos.
Apêndice - Notáveis Intuições Filosóficas e Científicas entre os Selvagens Africanos.
A título de exemplo, citarei um único fato dos vários que a obra em
apreço contêm, resumindo-o tanto quanto possível, dada a impossibilidade
de reproduzi-lo integralmente, devido à sua extensão. Vejamos:
O fato se passa em 1759, em território norteamericano (antes da
guerra de independência), quando os EUA ainda eram uma colônia inglesa.
O narrador é um aventureiro inglês, Alexandre Henri, que fora feito
prisioneiro pelos índios. Conta ele que um missionário e reverendo
inglês, Sir William Johnson, enviara amistosas mensagens aos índios que o
mantinham cativo, convidando seus chefes, instalados no Salto Santa
Maria, a virem concluir a paz no forte do Niágara. Tratando-se de uma
determinação de alta importância, fizeram os índios solenes preparativos
para evocar e consultar o Espírito de um antigo chefe falecido, a Grande Tartaruga, conhecido na tribo como "aquele que nunca mentia", pela sua retidão de caráter.
Omito os preparativos para a consulta ao Espírito, demasiadamente
extensos (mas que podem ser lidos, "in totum", no livro de Bozzano),
para chegar ao momento em que o sacerdote (médium) anuncia a presença da
Grande Tartaruga, e o seu consentimento em responder às
perguntas. Indagaram, então, se os ingleses estavam preparados para
fazer a guerra ou a paz, e se no forte Niágara havia muitas fardas
vermelhas. Agitou-se a tenda durante alguns minutos e, com um grito
terrível, o sacerdote anunciou que a Grande Tartaruga havia
partido. Foi geral a consternação. Mas, um quarto de hora depois,
voltava ela. Durante sua ausência -- informou o médium -- franqueara o
lago Huron, fora ao forte Niágara e, de lá, a Montreal. No forte Niágara
havia poucos soldados; mas descendo o S. Lourenço até Montreal, notara o
rio guarnecido de embarcações cheias de soldados. O Espírito topara com
eles quando rumavam para combater os índios (naquela época, havia várias tribos indígenas em terras norteamericanas).
O chefe perguntou então se, no caso em que os índios aceitassem o
convite de Sir William Johnson, se este os receberia como amigos. Grande Tartaruga respondeu
que Johnson encheria suas canoas com presentes, tantos quanto elas
pudessem conter, e que cada um voltaria em segurança para a aldeia. A
alegria foi grande. O narrador conservou-se à parte, como simples
espectador.
Realizou-se a expedição dos chefes da tribo ao forte Niágara, e as
suas consequências, referidas na História de Drake, ajustam-se
inteiramente às promessas feitas por "aquele que nunca mentia". Henri
foi bem tratado pelos índios e libertado no final.
Obs. minha: Vali-me de uma edição em espanhol da obra do mestre
italiano. Contudo, existe uma edição em português do livro, sob o título
"Povos Primitivos e Manifestações Paranormais", publicado pela Editora
do Conhecimento.
Respigo os excertos abaixo, sobre a existência ou não de
fraude nos fenômenos mediúnicos, do último trabalho do Prof. Lombroso,
já citado em artigos anteriores, ele que realizou a maior parte das suas
pesquisas (mas não todas) com a famosa médium napolitana
(semianalfabeta) Eusápia Paladino. Vejamos o que diz, a esse respeito, o
sábio psiquiatra e criminologista italiano.
"Chegado a este ponto, receio que o leitor me pergunte -- Não vos tereis deixado enganar pela mais vulgar das velhacarias?
A primeira impressão, de fato (e a mim também não faltou), é de que se
trata de um truque, e é a explicação mais adaptada ao gosto da maioria,
pois evita que se perca tempo em pensar e estudar, e deixa ao homem
vulgar supor-se um observador mais consciencioso e mais hábil do que o
homem de ciência. Realmente, devemos convir que nenhum fenômeno natural,
melhor do que os espiríticos, se presta à dúvida e à fraude, porque os
fatos mais importantes, mais raros, ocorrem sempre às escuras, e nenhum
experimentador pode aceitar por verdadeiros fatos que, desenvolvendo-se
no escuro, não podem ser bem controlados e observados." (Obs. minha:
Lombroso refere-se aqui aos fenômenos de efeitos físicos ou objetivos,
porque os fenômenos de efeitos psicológicos ou subjetivos não necessitam
da escuridade).
"Não falemos dos falsos médiuns, falsários de profissão, que
pululam nos cenários e nos países onde mais difundidas estão as crenças
espiríticas. Existe uma grande literatura, especialmente americana, que
constitui um arsenal típico de que se serviriam tais "médiuns", para os
seus truques: barbas postiças, máscaras, vestes de musselina finíssimas,
substâncias fosforescentes, cadeiras com esconderijo onde o "médium"
oculta as máscaras, quando não com molas que, funcionando, simulam a
levitação."
"É fato que os movimentos medianímicos ocorrem em ambiente escuro,
no mais das vezes na imediata vizinhança do médium, fazendo supor um
artifício; mas o certo é que o elemento fluídico ou ectoplásmico se
reforça na escuridade e sob os véus medianímicos, como o são as cortinas
do gabinete mediúnico, das quais partem, tantas vezes, as
materializações. Assim, pouquíssimos médiuns de efeitos físicos podem
podem operar a plena luz, enquanto os demais não podem. A estas
objeções, que não são sem importância, pode-se responder que ninguém
nega a obra do fotógrafo, embora ele só possa revelar as suas chapas no
escuro, e este exemplo, conforme nota Richet, por analogia, pode ajudar a
compreender como a luz possa impedir ou embaraçar o desenvolvimento dos
fenômenos mediúnicos. Por outro lado, apesar da contradição que
predomina em toda esta matéria, conhecem-se médiuns, a exemplo de Slade e
Home, que puderam operar a plena luz; e em plena luz se desenvolvem os
estranhos fenômenos dos faquires indianos, tão estranhos que só o
relatá-los faz hesitar (ver o capítulo 5). E a médium Eusápia que, em
transe, é refratária à luz, deu lugar, em plena claridade, a uma série
de extraordinários fenômenos, como as modificações do dinamômetro e da
balança, e o movimento de um enorme armário. Tais modificações,
produzidas na balança e no dinamômetro, provam que se puderam aplicar,
com vantagem, a esses fenômenos, os métodos de precisão científica."
"Temos mais ainda: meios de contenção de modo a evitar qualquer
truque foram aplicados em Eusápia, ligando-se-lhe as mãos e os pés com
fitas seladas, ou rodeando-a (Ochorowicz) com uma rede de fios
elétricos, ligados a uma campainha, que soava ao mais leve movimento dos
seus pés. O médium Politi, na Sociedade de Ciências Psíquicas de Milão,
foi encerrado, nu, em um saco de lã. A médium D'Esperance foi metida em
uma rede, qual peixe, e, apesar disso, nesse estado, provocou o
aparecimento do espírito Iolanda, e assim também a médium de Crookes,
Florence Cook. Pode-se ver e fotografar a Srta. Cook junto ao espírito
Katie King (materializado), estando a médium circundada por um fio
elétrico disposto de modo que lhe era impossível fazer agir uma boneca
artificial, sem interromper o circuito. E, assim mesmo, Katie King
falou, escreveu, apertou a mão dos assistentes. O circuito não se
interrompeu, e a médium sempre se manteve em estado de adormecimento
profundo. Fizeram-se experimentos físicos com a seriedade e a
importância das pesquisas realizadas com instrumentos de precisão, e que
foram controlados com a fotografia. Tem-se abusado da fotografia
espírita e dela feito objeto de fraude; qualquer suspeita, porém,
desaparece quando se trata de fotografias executadas diante de uma
comissão especial de peritos, e de homens de renome indiscutível como
Crookes, Wallace, Zöllner, Aksakof, Gibier, Richet, Myers, Lodge, Finzi,
Volpi, Falcomer, Carreras, etc.. Acrescente-se que, com frequência,
falta a capacidade para delinquir, quando, por exemplo, o médium é uma
criança."
"Os prestidigitadores -- diz Brofferio -- não têm imitado até agora
os fenômenos espiríticos de modo a enganar, salvo quando obtêm
condições, a principal é que com eles não se tenham todas as exigências,
nem se tomem todas as precauções que se têm tomado e se tomam com os
médiuns. O prestímano executa o seu número, mas o número que ele
preparou; é inútil pedir que faça outro, que o modifique ou que o
repita, uma vez executado. Ao revés, os fenômenos que se obtêm com o
médium são quase sempre os que se lhe pedem, ainda que não o sejam
sempre, porque a inteligência oculta que os produz também possui vontade
própria."
"A Comissão da Sociedade Dialética de Londres chegou até a querer
que, durante os experimentos, fossem os médiuns vigiados -- nem mais,
nem menos -- do que por dois dos melhores prestidigitadores daquela
capital. A opinião de que os fenômenos espiríticos são imitáveis está
muito difundida entre o público, mas não é esta a opinião dos
prestímanos Jacob, do Teatro Robert Houdin, de Paris, e Bellacchini,
prestidigitador da Corte de Berlim, que fizeram ao médium Slade
declarações de que nenhuma das suas artes pode produzir os fenômenos que
ele, Slade, realiza. Trollope, citado por Russel Wallace, conta que
Bosco, um dos mais peritos prestímanos que já existiram, achava graça da
crença de que os fenômenos produzidos por Home se pudessem atribuir aos
recursos de sua arte."
"Uma causa dos pretensos desmascaramentos dos médiuns é a prevenção
de que os fenômenos não devem ser verdadeiros. Há ilusões ocasionadas
pela credulidade, mas também existem as produzidas pela incredulidade.
Os incrédulos se põem num estado de atenção expectante, pelo qual
creem ver o que não é; se não o veem, adivinham; eles tudo compreendem,
tudo explicam. Tem tal medo de ser burlados, que se burlam a si mesmos,
e, para evitar o inverossímil, inventam o impossível."
"E as mesmas causas dão origem aos processos contra os médiuns. O
processo contra Slade foi feito no interesse da ciência, e a condenação
se fundava sobre motivos extraídos do notório curso da natureza. Assim,
conforme texto do próprio tribunal, a sentença deriva do seguinte
preconceito: o curso conhecido da natureza exclui a possibilidade dos
fenômenos mediúnicos; ora, o impossível não se pode fazer, mas apenas
fingir; logo, todos os médiuns são impostores. Daí resulta,
para eles, que os espiritistas, por crerem na possibilidade das coisas
impossíveis, são imbecis. Por isso, não são jamais chamados como
peritos, conquanto sejam os únicos peritos e os únicos competentes, pelo
tempo que consagraram ao tema, e, quando ouvidos como testemunhas, não
acreditam neles."
"Enfim, às imitações feitas por médiuns impostores, por
prestidigitadores e céticos, os espiritistas respondem, com Hellenbach,
que as perucas não provam a inexistência do cabelo, as dentaduras
postiças que não haja dentes, e, assim, as moedas falsas, as flores de
papel, etc.."
"Tendo eu visto fatos reais, é inútil que Tyndall me venha dizer
que há muitos falsos. Sei que o café também se fabrica com chicórea,
bolota de carvalho e figos secos. Sei disso porque um dos meus
conhecidos é fabricante de café, e me assegurou que não é suficiente
garantia nem mesmo comprá-lo em grão, pois o fabricam com resíduos de
café, e, tão bem, que eu não o distinguiria do verdadeiro. Como,
entretanto, já bebi o puro e legítimo café, estou, quanto a este,
naquele estado de ânimo a que se refere Tyndall: estou afetado de uma
credulidade incurável. Nem um bloqueio continental, que me privasse do
café pelo resto da vida, curar-me-ia da ilusão de que existe o café
autêntico. É verdade que um desencarnado difere muito de uma xícara de
café, mas a diferença consiste nisto: todos os que vão a Nápoles, vão ao Caffé Nuovo, mas ninguém vai procurar Eusápia."
A propósito de Eusápia, diz o grande fisiologista, prof. Richet:
"Eusápia em nada se assemelhava a um prestidigitador de profissão. Não tinha nem varinha, nem mesa, nem cofrezinho, nem espelho, nem cúmplice. Ela chegava para as sessões vestida com uma pequena roupa de seda preta colante. Podia-se verificar que não ocultava nada sob as vestes."
Obs. minha: em geral, quando se trata de fenômenos mediúnicos de ordem física (psicocinésia ou telecinésia, levitação, materializações parciais ou completas), emprega-se luz vermelha que, sendo de um comprimento de onda mais longo, não prejudica ou prejudica menos o elemento ectoplásmico atuante nesses fenômenos, permitindo, além disso, aos experimentadores, um bom controle do médium e do ambiente em geral; não obstante, como diz acima o prof. Lombroso, há médiuns de efeitos físicos que puderam operar a plena luz.
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Carlos Imbassahy |
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Gustavo Geley |
O que normalmente se denomina mágica ou prestidigitação só pode ocorrer caso existam duas condições:
1ª) Ambiente pré-arranjado e pré-preparado.
Os assistentes devem permanecer a distância, observando passivamente,
sem poder examinar detidamente o ambiente e os objetos (pisos com
alçapões, espelhos, mesas, cadeiras, cofres e caixas com fundo falso,
etc.) de que o mágico se vale para as suas práticas de ilusionismo.
2ª)
Existência de compadrio, isto é, cumplicidade de assistentes (mulheres ou homens) para auxiliar o mágico em seus truques de prestidigitação.
É certo que na ausência dessas duas condições (e os próprios mágicos o
reconhecem), torna-se impossível para um prestidigitador operar os seus
truques.
Ora, comparar os fenômenos mediúnicos estudados por homens de ciência e pesquisadores, em suas próprias residências ou em seus laboratórios
(onde não existe ambiente preparado), em que os assistentes são pessoas
íntegras, responsáveis, interessadas na observação dos fenômenos e em
descobrir, a todo custo, a possível ocorrência de fraude (inexistência,
portanto, de compadrio), com o médium sob rigorosa fiscalização, antes e
durante a sessão, com o auxílio dos mais variados meios de controle,
comparar os fenômenos mediúnicos, dizia eu, verificados nessas condições, com truques de prestidigitação, parece um absurdo desmedido.
Para comprová-lo, citarei um fato narrado pelo
escritor Carlos Imbassahy em seu livro "O Espiritismo à Luz dos Fatos"
(5ª ed., Feb, 1998, pág. 48). Tentarei resumi-lo:
O prestidigitador Dickson afirmou, em carta ao jornal francês Le Matin,
que seria capaz de reproduzir os fenômenos obtidos, no Instituto
Metapsíquico Internacional (IMI),
com o médium Jean Guzik, e
confirmados num relatório assinado por 34 pessoas, entre
cientistas, filósofos, pesquisadores e intelectuais em geral, sob as
mais rigorosas condições de controle, garantindo sua autenticidade.
Queria receber 10.000 francos do Instituto, após o cumprimento da sua
promessa. Em resposta, o diretor do IMI, Dr. Gustavo Geley, escreveu ao Le Matin,
concordando com o repto. Propôs que fossem entregues, nas mãos do
Redator-Chefe do jornal, 20.000 francos, 10.000 do ilusionista e 10.000
do IMI. Se Dickson conseguisse reproduzir os fenômenos de Guzik, sob as mesmas condições de controle daquele,
retiraria 20.000 francos; se não, o IMI retiraria os seus 10.000 e os
outros 10.000 o jornal doaria aos laboratórios de pesquisa científica
francesa. Eis o final da missiva do Dr. Geley ao Le Matin:
"O prestidigitador será submetido exatamente à mesma
fiscalização que o nosso médium. Ele virá ao IMI, será despido e
examinado por dois dos signatários do relatório, revestido de um pijama
sem bolsos, fornecido por nós. Só nesse momento entrará na sala das
sessões; será seguro pelas mãos; seus pulsos serão presos aos pulsos de
dois fiscalizadores por uma fita curta, duplamente selada; seus pés e
pernas serão imobilizados. Como nas sessões do IMI, serão os assistentes
ligados uns aos outros por cadeados e argolas que os prenderão, mão a
mão, em torno de uma mesa; todas as portas e aberturas serão fechadas,
antes de começar a sessão, e seladas por uma fita de papelão grosso, em
que serão apostas as assinaturas dos presentes."
"Nessas condições, o prestidigitador deverá reproduzir os fenõmenos
de Guzik: -- deslocamentos amplos de uma cadeira ou mesa colocados a
1,50 metros atrás de si; toques feitos na cabeça e nas costas dos
fiscalizadores; fenômenos luminosos a distância."
"Diz o adágio jurídico que pertence ao acusador o ônus da prova. O
Sr. Dickson, em nome da prestidigitação, acusa; nós lhe oferecemos, a ele ou a qualquer outro prestidigitador, provar o fundamento da acusação."
"Receba, Sr. Redator-Chefe, etc.."
"Gustavo Geley (Diretor do IMI)."
Conclusão do caso: o Dickson não apareceu no IMI, como também, aliás, nenhum outro prestidigitador. A abstenção foi completa.
O mesmo Dr. Geley, em seu livro "Resumo da Doutrina Espírita", nos assegura: "Ninguém tem o direito de combater, sem prévia contra-experimentação, as conclusões experimentais dos Aksakof, Butlerov, Robert Hare, Hodgson, Hyslop, Dale Owen, Epes Sargent, Crookes, Varley, Russel Wallace, Sigdwick, Gurney, Myers, Oliver Lodge, William Barrett, Crawford, Erny, Flammarion, Gibier, Richet, De Vesme, De Rochas, Osty, Zöllner, Barão du Prel, Barão von Notzing, Ochorowicz, Flournoy, Lombroso, Bozzano, Morselli, Bottazzi, e tantos outros não menos ilustres" (além, acrescento eu, das centenas e milhares de pessoas, no mundo inteiro, menos ilustres, é certo, que os citados, mas possuidoras de discernimento e espírito de observação, que também comprovaram a realidade dos fenômenos).
Para ilustrar melhor o tema, recorro a um notável texto do astrônomo Camille Flammarion, no seu livro "As Casas Mal-Assombradas", adaptando-o aos dias de hoje (2016), sobre um juiz que, ao ajuizar sobre um crime, prolatasse a sua sentença nos seguintes termos: "Considerando que duas pessoas, em pleno gozo de suas faculdades mentais, viram o réu cometer o crime, mas considerando que sete bilhões e quatrocentos e poucos milhões de pessoas (a população atual do planeta) nada viram, dou por absolvido o réu".
Deixo que cada um extraia as suas próprias conclusões.
Uma das grandes glórias do Espiritismo foi ter trazido
para os seus arraiais um dos seus mais furibundos críticos, tangido,
como ele próprio disse, pela força irresistível dos fatos -- o genial
médico, professor, antropólogo, psiquiatra e criminologista italiano, César
Lombroso. Segundo um dos seus biógrafos (Henrique Ferri), foi um homem
polifacético. Sua extensa obra abarca temas médicos ( Tratado
Profilático e Clínico da Pelagra, Os Venenos Químicos, Memória sobre as
Feridas e Amputações por Armas de Guerra), psiquiáticos (Avanços da
Psiquiatria, Doenças Mentais e Antropologia), psicológicos (A Loucura de
Cardano, O Homem de Gênio, Gênio e Degeneração), demográficos
(Geografia Médica), antropológicos (O Homem Branco e o Homem de Cor, O
Antissemitismo e a Ciência Moderna), políticos (O Delito Político e a
Revolução), criminológicos (O Homem Delinquente, O Crime: Causas e
Remédios, A Mulher Criminosa, etc.), para só citar algumas.
Sobre a sua última obra "Pesquisas sobre os Fenômenos do Hipnotismo
e do Espiritismo", assim se pronunciou o Prof. A. Marzorati, um dos
seus companheiros nos experimentos que empreendeu sobre os fenômenos
mediúnicos ou paranormais:
É um trabalho de descoberta, uma obra prima de erudição e
sinceridade, um monumento de síntese que ficará como o testamento
científico não só de quem o escreveu, mas de toda uma época que,
partindo da negação, passou, de descoberta em descoberta, a experimentar
toda a embriaguês do vir a ser, e que, na pesquisa inquieta e afanosa
da matéria, tocou o umbral do mundo olvidado e pressentiu as misteriosas
potências do Espírito.
Vejamos o que diz o sábio antropólogo italiano sobre o tema que encima esse texto:
"Foi somente depois de ter verificado os fatos das casas assombradas, e
de observar Eusápia Paladino (a médium), em estado de transe, dar
respostas com clareza e de modo bastante inteligente, em línguas que,
como o inglês, desconhecia inteiramente, conseguindo até modelar
baixos-relevos que nenhuma pessoa em condições normais poderia fazer,
ainda mais sem nenhuma instrução, como era ela, -- foi somente depois de
tudo isto e após tomar conhecimento dos experimentos de Sir William
Crookes com os médiuns Home e Florence Cook, de Richet, de Aksakof, de
Wallace, de Flammarion e outros, que me vi, também eu, compelido a crer
que os fenômenos espiríticos, se bem sejam devidos em grande parte à
influência do médium, igualmente devem ser atribuídos à influência de
seres desencarnados, que possamos talvez comparar à radioatividade
persistente nos tubos, depois que o elemento químico radium, ao qual ela
deve sua origem, haja desaparecido." ( - )
"De resto, como as leis relativas às ondas de rádio
explicam, em grande parte, a telepatia, assim também as novas
descobertas sobre as propriedades radioativas de alguns metais,
especialmente o radium -- demonstrando-nos que aí pode haver, não apenas
breves manifestações, mas um contínuo, enorme desenvolvimento de
energia, de luz e calor, sem perda aparente de matéria -- invalidam a
maior objeção que os cientistas podem opor às misteriosas manifestações
espiríticas." ( - )
RADIOATIVIDADE
"Recordemos aqui
os muitos indícios de um estado radiante dos médiuns em presença dos
supostos "espíritos": a descarga do eletroscópio conseguida por Eusápia,
tendo as mãos suspensas a 10 centímetros (o que é um fenômeno
radioativo); a impressão dos quatro dedos que ela deixou em uma chapa
fotográfica envolta em três papeis opacos; as névoas fosforescentes
flutuando sobre sua cabeça e sobre a mesa em frente à qual estava
sentada, em transe, e as nos dois médiuns, em transe, nos experimentos
de Richet; as fosforescências no abdomem da médium D'Esperance ao se
formarem os fantasmas; as faixas e globos luminosos nas sessões de
Politi, de Eusápia, de Randone. O caso de Stasia, rigorosamente estudado
por Ochorowicz, cujo corpo fantasmático consta de globos luminosos e
pode provocar clarões ao seu redor, e o fato da reprodução, na
escuridade, dos fantasmas obtidos pelo Conde de Boullet e Reiners com o
médium Firman." ( - )
"Num experimento realizado em Turim, pelos Drs. C. Foá e A.
Herlitzka, com a médium Eusápia, uma chapa fotográfica, envolta em três
folhas de papel opaco, foi colocada acima da cabeça da médium, diante da
cortina negra da câmara mediúnica, e foi impressionada por uma grande
mão, que não pertencia a nenhum dos dois cientistas, e menos à médium,
reproduzindo quatro dedos enormes, o que demonstra haver nas sessões
vontades enérgicas, contrárias à da médium e à dos presentes.
Evidentemente, trata-se de um fenômeno de radioatividade e não de
luminosidade, porque a impressão da chapa foi feita através de
obstáculos opacos."
"Com estes experimentos, se não erro, nos avizinhamos mais
intimamente dos fenômenos, melhor direi, do organismo assim chamado -
espirítico - aqueles representantes transitórios, evanescentes, do Além,
dos quais não se quer admitir a existência por preconceito científico,
não obstante a tradição universal renovada por milhares de fatos que
continuamente repululam sob nossos olhos. E se descobre que estes corpos
parece pertencerem àquele outro estado da matéria, ao estado radiante,
que agora pôs seu pé firme na ciência, oferecendo assim a única hipótese
que pode conciliar a crença antiga, universal, da persistência de algum
fenômeno de vida depois da morte, com os postulados da ciência, segundo
os quais - não há desenvolvimento de energia sem perda de matéria - e
isso se concilia, sob nossos olhos, nos experimentos espiríticos."
"Com efeito, salvo os casos de Katie King, em Londres, e de
Eleonora, em Barcelona, nos quais esses seres espiríticos ficaram em
nosso meio, nas sessões, por dias e anos, destes fantasmas só em alguns
casos vemos o corpo completo, materializado, e mais frequentemente vemos
alguns membros, a mão, um braço, etc., que saem da cortina da câmara
mediúnica, e têm a tendência instintiva de regresso à câmara, depois do
seu volitejar."
"E palpando-os, rara vez e por pouquíssimo tempo, nós verificamos o
estado sólido, porém mais frequentemente sentimos partir da cortina um
corpo fluídico que se infla e se desvanece sob a nossa pressão, sem que
por isso possamos declarar não existentes, e sim, exatamente por isso,
que é formado de alguma substância que foge ao nosso tato, porque mais
fluida, mais sutil do que alguns daqueles gases cuja existência negamos e
talvez ainda negaríamos se a Química não os tivesse confirmado."
"Evidentemente, porém, esses seres ou remanescentes de seres não
teriam um meio de adquirir completa consistência, de incorporar-se (ou
materializar-se), se não tomassem por momentâneo empréstimo uma parte da
substância do médium, que está naquele instante, geralmente,
profundamente adormecido, perdendo transitoriamente parte do próprio
peso (ver cap. seguinte) e também, parece, do próprio volume corporal
(ver o livro de Aksakof, Um Caso de Desmaterialização). Mas o
tomar emprestado a força e a substância do médium não quer dizer
identificar-se com ele. Tudo, pois, conduz à hipótese de que a Alma
resulta da matéria radiante, provavelmente imortal, ao menos resistente a
muitos séculos, e que se centuplica de energias para atingir a dos
vivos, assimilando uma parte da substância orgânica, ou ectoplasma (no
dizer do prof. Richet), que os médiuns liberam, com exuberância, durante o
transe. E com isto se explicaria a grande potência desses médiuns."