quarta-feira, 3 de abril de 2019

121) Povos primitivos e fenômenos paranormais (3)

     Com a palavra "o grande mestre da ciência da alma", Ernesto Bozzano, em sua obra já citada na primeiro artigo desta trilogia:
     
     Chegou o momento de abordar as teorias que os antropólogos propuseram para explicar como a crença na existência e sobrevivência do espírito humano, entre os povos selvagens, teve origem num complexo de observações rudimentares, tendo relação com a vida comum, observações que aqueles povos teriam interpretado de modo errôneo e infantil.
     A título de síntese preliminar, passo a expor, de modo adequado, o pensamento dos hodiernos antropólogos, a fim de que os leitores se encontrem em condições de formular, a respeito, um juízo independente. Tudo isso em homenagem às regras da severa imparcialidade a que se deve submeter toda discussão científica.
     Como os pontos de vista dos antropólogos e sociólogos difere unicamente em particularidades secundárias sobre a tese propugnada, limitar-me-ei a citar um dos maiores entre eles: Herbert Spencer. Este, em seus 'Princípios de Sociologia', esforça-se para demonstrar, com argumentação sutil mas pouco convincente, que o selvagem, "que não tem nenhuma ideia de uma causa física, chega necessariamente à conclusão de que uma sombra é um ser real, pertencente, seja como for, à pessoa que a projeta". Dá, assim, uma primeira noção sugestiva da existência de um espírito capaz de separar-se do corpo, noção que seria fortalecida por outro fato análogo, do reflexo da própria imagem na água.
     Ele escreve: "As imagens refletidas geram uma crença confusa e talvez inconsistente, mas que, contudo, não deixa de ser uma crença, segundo a qual todo indivíduo teria um 'duplo', comumente invisível, mas que se pode perceber indo para as margens da água e olhando nela". 
     Essa crença seria confirmada posteriormente pelo fenômeno do eco.
     Prossegue Spencer: 
     "O homem primitivo nada poderia conceber sobre o que se assemelhasse a uma explicação física do eco. Que sabia ele sobre a reflexão das ondas sonoras? Se não fosse pela ciência, que transformou nossas ideias sobre a causa dos fenômenos naturais, hoje em dia talvez se explicasse o eco atribuindo-o à ação de um ser invisível".
     E a mesma crença estaria mais do que reforçada pela experiência dos sonhos. Ele refere:
     "Testemunhas observaram que uma pessoa, quando dormia, jazia em completo repouso. Não obstante, ao despertar, lembrava-se de acontecimentos havidos durante o sono, e os narra para outros. Lembra-se de ser levada para outro lugar, mas as testemunhas negam e este testemunho se torna válido pelo fato de, a pessoa que sonhou encontrar-se no mesmo lugar onde havia adormecido. Toma então o partido mais simples, que é o de acreditar, ao mesmo tempo, ter permanecido no lugar e ter saído para longe; de possuir, pois, duas individualidades, das quais uma pode abandonar temporariamente a outra, e depois regressar. Portanto, ela mesma possui uma dupla existência como tantas outras coisas".
     Finalmente, da crença na existência de um 'duplo' separável temporariamente do corpo, passa-se à crença de um 'duplo' separável permanentemente. Spencer arremata: "Da crença na ausência comum do outro 'eu' durante o sono, e de sua ausência inusual nos casos de síncopes, apoplexias, estados comatosos, etc., passa-se à crença da sua ausência permanente no momento da morte, quando, depois de um intervalo de espera, se é obrigado a renunciar à esperança de vê-lo retornar. Este foi o prólogo da crença nos "espíritos dos mortos", no sobrenatural, que depois evolveu para uma ideia mais ou menos confusa de um Deus Supremo, e cuja consequência final, posteriormente, veio a ser as diversas religiões que hoje existem no mundo".

     Como resultado das citações expostas, a atilada mentalidade de Herbert Spencer tinha intuído corretamente sobre qual deveria ser a única via da pesquisa capaz de guiar, na prática, para a solução do grande quesito que abordava a gênese da crença na sobrevivência da alma. Mas a lamentável circunstância de não ter concedido valor à fenomenologia paranormal (que já era estudada na segunda metade do séc. XIX), colocou-o na absoluta impossibilidade de alcançar a meta, constrangendo-o a contentar-se com simples induções elementares, facilmente rechaçáveis e literalmente insuficientes para demonstrarem a origem da crença universal da existência e sobrevivência do espírito humano.
     Com tudo o que expus na síntese acima relativamente às teses dos antropólogos, parece-me ter cumprido meu dever de relator imparcial das opiniões alheias. Ora, para todo aquele que tenha noções elementares sobre a pesquisa psíquica, tornar-se-á fácil avaliar toda a espantosa deficiência das investigações antropológicas referidas acima, que não justificam as conclusões elaboradas por aqueles pesquisadores. 
     Com o advento da ciência que estuda, com todo rigor, os chamados fenômenos paranormais (Metapsíquica, hoje Parapsicologia), não é difícil levar a remate a intuição de Spencer. 
     De fato, a Parapsicologia nos mostra que, a par do resultado (bem pouco sugestivo no sentido aqui considerado) dos sonhos comuns, vêm a juntar-se os 'sonhos paranormais', com seus incidentes verídicos de ordem telepática, clarividente, precognitiva e espirítica. Sonhos que se realizavam entre os povos primitivos e selvagens (como atestam os missionários que viveram entre eles), assim como se realizam, hoje, entre os povos civilizados.
     Com a dedução (muito duvidosa, na prática) que a mentalidade de um pobre selvagem tiraria da visão da própria imagem refletida na água, ou da sombra projetada do próprio corpo, vinham a acrescentar-se outras observações eloquentes tendentes a demonstrar a existência real de um 'duplo psíquico', como as aparições de moribundos à distância (e mesmo de viventes), e os fenômenos de desdobramento (ou bilocação). Assim, as conclusões - muito sutis para a mentalidade de um selvagem - favoravelmente à sobrevivência, eles as extraem a partir da observação real de que, se um vivo que desperta do sono, ou de uma síncope, ou de um desmaio, o 'duplo psíquico', depois de afastar-se do corpo (muitas vezes deambulando à distância e mostrando-se a terceiros), acaba por voltar ao corpo, então, o 'duplo' de um morto, que se distancia para não mais retornar, deve, pois, existir em algum lugar. A essas conclusões indiretas, vêm acrescentar-se outras diretas muito mais convincentes, tais como as deduzidas das observações de aparições de mortos, vistos coletiva ou sucessivamente, dos fenômenos de desdobramento no leito de morte, dos casos de assombramento, dos fenômenos de identificação de espíritos em comunicações mediúnicas, e outros mais (a existência de todos esses fatos, entre os povos selvagens, foi demonstrada neste livro).
     Por conseguinte, desta vez achamo-nos efetivamente em presença de uma solução positiva, exaustiva, definitiva, do grande mistério que envolve a origem da crença universal na existência e sobrevivência do espírito humano, depois na concepção, mais ou menos confusa, de uma divindade suprema, e, finalmente, no aparecimento das religiões. Infelizmente, os hodiernos antropólogos faliram na árdua tarefa de indicar os fatos especiais que trariam um bom resultado para orientar a humanidade inteira na solução dessas questões. Se faliram nesse objetivo, não se deve atribuir isso à deficiência de penetração intelectual e de método, mas à circunstância de haverem ignorado a existência daquela classe de fatos que tinham, efetivamente, conduzido os povos da Terra a conclusões unânimes.

120) Povos primitivos e fenômenos paranormais (2)

     Para ilustrar o tema, citarei um único caso de fenômeno paranormal (assim mesmo, extremamente resumido) ocorrido entre os povos selvagens, instando os leitores a que recorram à monografia de Ernesto Bozzano (citada no primeiro artigo desta trilogia), para que possam conhecê-los, às dezenas, sem resumo, em sua integralidade. Vejamos:
     
     Um antropólogo e explorador inglês, Alexandre Henry, foi feito prisioneiro pelos índios norte-americanos, em 1759. Conta Henry que Sir William Johnson, comandante do Forte Niágara, enviara amistosa mensagem aos peles vermelhas, convidando seus chefes, instalados no Salto Santa Maria, a virem concluir a paz no Forte. Sendo assunto importante, quiseram consultar o espírito de um sábio cacique, falecido há alguns anos, conhecido como 'Grande Tartaruga'. Feitos os preparativos, depois de algum tempo, apresentou-se o espírito, manifestando-se na tenda mágica, primeiro sacudindo-a, e depois com a voz. Perguntado se no Forte havia muitos soldados, ausentou-se e voltou após 15 minutos, dizendo que eram pouquíssimos no Forte, e que a maioria estava esparsa, ao longo do rio, em barcos, e que se os chefes da tribo atendessem ao pedido, receberiam muitos presentes e a paz seria selada. E tal, realmente, aconteceu.

     Em sua grande obra, "Ricerche Sui Fenomeni Ipnotici ed Spiritici", o sábio psiquiatra e criminologista italiano César Lombroso, dedica dois capítulos (5 e 13, parte 2) aos fenômenos em apreço. No final do quinto capítulo, ele refere:
     "O que mais importa em todo este capítulo é a analogia entre todas as variedades de médiuns, nos mais variados tempos e povos. As manifestações especiais dos magos, feiticeiros, pajés, xamãs, taumaturgos, lamas, faquires, profetas, etc., repetem aquelas dos nossos médiuns, em especial as levitações, transportes, materializações, invulnerabilidade, incombustibilidade, profecia, xenoglossia. Ora, estes fenômenos parecem inverossímeis, porém surge a grande verossimilhança, para não dizer certeza, do fato de que se repetem em épocas, regiões e nações diversas, sem ligações históricas entre si, e algumas, ao contrário, em completo antagonismo religioso e político. E, a exemplo dos nossos médiuns, dão lugar a verdadeiros prodígios quando em estado de transe, e também agem como se estivessem sob a influência de seres diferentes dos vivos, e que prestam aos médiuns momentânea superioridade sobre os viventes privados desta associação".
     "À objeção de que as maravilhas mediúnicas se tornaram raras, é fácil de responder que, como vimos neste capítulo, nos níveis populares não são tão raras, e seriam também mais frequentes nas outras classes se fossem acolhidas sem prevenção pela opinião pública, porém são negadas e esquecidas, como se não houvessem ocorrido. Isto se depreende porque a História, a Imprensa e a Estatística fornecem respostas aparentemente mais seguras de fatos e acontecimentos próximos ou afastados, suprindo a curiosidade do público, e ainda sobre perspectivas futuras".
     "Eu, que por muitos anos venho estudando os fenômenos paranormais (anímicos e espiríticos), observei que muitos deles deviam ter sido mais frequentes em tempos anteriores, em que a magia, a telepatia, a profecia, os sonhos paranormais, estavam tão disseminados, e em que havia encarregados de descobrir e revelar indivíduos que possuíam tais faculdades".
     "É provável que em tempos muito antigos, em que a escrita era embrionária, a transmissão do pensamento entre pessoas afins, a profecia e a magia mediúnica fossem mais frequentes e mais resguardadas. E que, por isso, os povos selvagens, em vista da sua maior ocorrência nas mulheres, nos castos, e em pessoas pouco sociáveis, chegassem a escolher entre estes os seus médiuns, e fazê-los ou criá-los artificialmente".
     "Mas, com o incremento da civilização, com a escrita, com a linguagem sempre mais aperfeiçoada, o trâmite direto -- o da transmissão de pensamento -- se tornou para eles incerto e, com maior razão, prejudicial e incômodo, traindo os segredos e transmitindo as ideias com erros e confusões sempre maiores do que quando por meio dos sentidos, pelo que foram deixando de ocorrer, e assim diminuíram muito, os profetas, os magos e as aparições verídicas".
     "E, enquanto perduram, em vasta escala, nos vulgos do interior, nos aborígenes e selvagens (indianos, peles vermelhas, etc.), em nossos tempos de rapidez e alta tecnologia só despontam, de modo a serem notados, em raros indivíduos".


Obs. minha: Julgo que o meio e as condições em que viviam e vivem os povos primitivos e selvagens, de uma vida mais interior, contemplativa, em contato direto com a natureza, facilitavam, e muito, a emersão das faculdades paranormais subconscientes, ao contrário das populações do mundo tecnológico de hoje, cuja vida voltada para o exterior, em grandes cidades, longe do contato com a natureza, calcada na busca de fama, dinheiro, prazer, bens materiais e tecnológicos em ritmo superior às necessidades do próprio "eu", dificultam a irrupção daquelas faculdades subconscientes. Creio que é isto o que, em substância, Lombroso quis significar nos textos citados acima.

119) Povos primitivos e fenômenos paranormais (1)

Ernesto Bozzano
Carlos Imbassahy


Obs. minha: Todos os textos referidos abaixo foram extraídos, integralmente, da obra "O Espiritismo à Luz dos Fatos", do brilhante escritor Carlos Imbassahy (Ed. Feb, 1998, págs. 130 a 133). Imbassahy discorre:

     Em sua monografia -- "Delle Manifestazioni Supernormali tra i Poppoli Selvaggi" ("Povos Primitivos e Manifestações Paranormais", na tradução brasileira), o filósofo italiano Ernesto Bozzano escreve:
     
Basta consultar as obras dos mais eminentes antropólogos e sociólogos para verificar que todos esses autores reconhecem, de comum acordo, que a crença na sobrevivência do espírito humano é universal.
     
     E. B. Tylor, em sua obra Primitive Culture, observa que "a fórmula mínima para definir uma religião consiste na crença da existência de entidades espirituais, crença que se encontra nas raças humanas mais atrasadas com as quais conseguimos entrar em relações mais íntimas". Ele salienta ainda que "a crença em entidades espirituais implica, em seu pleno desenvolvimento, na crença da existência de uma alma sobrevivente à morte do corpo", e prossegue dizendo: "Essa crença é a base fundamental da filosofia de todas as religiões, a partir da religião dos selvagens mais atrasados para chegar à dos povos mais civilizados; essa mesma crença constitui, aliás, a filosofia mais antiga e mais universal".

     Bozzano cita ainda o reparo de Grant Allan:
     "A religião contém, em si própria, um elemento infinitamente mais antigo do que a própria religião, mais fundamental e persistente do que toda crença em Deus e nos deuses; isto é, mais antigo mesmo que o uso da propiciação aos deuses e aos espíritos por meio de oferendas, e este elemento é  a crença na sobrevivência dos trespassados. Ora, é nessa crença, universal, primitiva, que se fundaram todas as religiões". 

     Também é essa a opinião de Brinton, o qual se torna ainda mais claro e categórico quando escreve:
     "Demonstrar-vos-ei que há religiões, por tal forma rudimentares, que não têm nem altares, nem templos, nem ritos; mas me é impossível demonstrar que haja haja uma só que não nos ensine a crença em entidades espirituais que são capazes de se comunicar com os homens".

     Globet d'Alviella, tão conhecido por suas pesquisas nesse terreno, exclama:
     "As descobertas desses últimos vinte e cinco anos, sobretudo nas grutas da França e da Béigica, mostraram, de maneira decisiva, que, na época do mamute, já o homem praticava os ritos fúnebres, cria na sobrevivência da alma, possuía fetiches, e talvez ídolos". 

     Colhemos, ainda, na citada obra de Bozzano, a referência de Powers às tribos da Califórnia. Declara aquele escritor que "elas não têm nenhuma ideia do Ser Supremo, mas creem na existência dos espíritos", e Huxley afirma que "há povos selvagens sem a ideia de Deus, mas não os há sem os espíritos dos falecidos".

     Finalmente, conviria reproduzir o tópico do grande filósofo e sociólogo que foi Herbert Spencer:
     "Encontramos por toda parte a ideia da sobrevivência do espírito à morte do corpo, com todas as múltiplas consequências que daí resultam. Encontramo-la idêntica, tanto nas regiões árticas como nas tropicais; tanto nas florestas da América do Norte como nos desertos da Arábia; nos vales do Himalaia como nas extensões da África; nas fraldas dos Andes como nas ilhas da Polinésia. Essa ideia é expressa com a maior nitidez por tão diferentes raças que os técnicos foram levados a crer que tal transformação se deu antes da distribuição atual das terras e das águas, isto é, tanto entre as cabeças de cabelos lisos como entre as cabeças de cabelos anelados, ou entre as cabeças de cabelos lanosos; entre as raças brancas como entre as amarelas, as vermelhas e as negras; entre os povos mais atrasados e selvagens, como entre os bárbaros, os semicivilizados e os que se encontram na vanguarda da civilização".

     Estas citações, segundo Bozzano, representam o pensamento dos antropólogos e sociólogos mais eminentes.

     Por seu turno, em sua obra "Histoire du Spiritualisme Expérimental" (2 volumes), premiada pela Academia de Ciências da França, o psiquista e historiador César de Vesme escreve o seguinte:
     "No que se refere à doutrina teológica, limitemo-nos a notar aqui que, se nos preferirmos ater à letra de tal ou qual texto sagrado, do que ao resultado das pesquisas etnográficas, devemos, então, perguntar porque a parte essencial da revelação - a que concerne a Deus - pôde desaparecer, quase por toda parte, entre os mais atrasados povos selvagens, e desnaturar-se entre os outros até o ponto de não ser mais facilmente reconhecida, para ceder o lugar, invariavelmente, às mesmas crenças: espíritos inferiores, fantasmas, etc.?"

     Mais adiante, assegura o historiador:
     "A crença na alma, na sobrevivência, nos espíritos, impõe-se ao homem, bon gré, mal gré, independentemente de seus desejos, pela observação dos fatos de que nos iremos ocupar. Eis tudo". 

sexta-feira, 20 de julho de 2018

118) Os casos de identificação de Espíritos, que ministram informações verídicas sobre sua existência terrena, demonstram a sobrevivência humana, afirma o grande mestre da Ciência da Alma.


                                            Texto do filósofo e sábio Ernesto Bozzano, extraído dos livros "Comunicações Mediúnicas Entre Vivos" e "Animismo ou Espiritimo?" :

     Uma classe importante de identificação de espíritos é a identificação baseada nos informes fornecidos pelos mortos, em torno de fatos ocorridos durante sua existência terrena. Os opositores agarram-se à hipótese pela qual a gênese dos informes verídicos de tal natureza se explica pressupondo que as faculdades paranormais do médium conseguem obtê-las na subconsciência dos vivos que tenham conhecido o morto que se afirma presente, qualquer que seja a distância a que estejam aqueles vivos (esta faculdade era chamada de clarividência telepática ou telemnésia, e hoje é rotulada, por alguns parapsicólogos modernos, de super-PES: obs. minha).
     Todavia, convém observar, a propósito, que, se se quiser chegar a explicar os fatos por meio de semelhante hipótese, devem ser feitas as seguintes concessões: em primeiro lugar, urge conceder às faculdades paranormais dos médiuns a fabulosa potencialidade de poderem manifestar-se, instantaneamente, sem limites de distância, de tempo e de condições, ou, em outros termos, deve-se conferir à subconsciência humana a onividência e onisciência divinas. Em segundo lugar, deve-se conceder mais, que uma vez descoberta, em alguma parte do mundo, a subconsciência, ou subconsciências, depositária(s) dos informes desejados, se consiga selecionar, de modo quase instantâneo, recordações latentes em que jazem sepultados os ditos informes, em meio ao emaranhado imenso de outras recordações latentes que constituem a trama da vida individual, e isto de forma tão perfeita, que retirassem somente os que se referissem ao pretenso morto comunicante, sem jamais cair em falta, sem nunca tropeçar em algum pequeno incidente ocorrido a outro que não seja o morto. Também esse atributo de nunca se enganar é reservado à onisciência e onividência divinas. Em terceiro lugar, conceder tudo isto equivaleria a admitir que um evento portentoso como o que ora examinamos, devido ao exercício de faculdades espirituais nobres e elevadas, tenha, como fim insulso e único, a manipulação de falsas personalidades de mortos, a fim de mistificar o próximo. São estas as concessões que teriam de ser feitas à hipótese em apreço, quanso se quisesse explicar os casos de identificação pessoal dos mortos sem recorrer à interpretação espírita. Não duvido de que os leitores sensatos concordem comigo, achando excessivas tais concessões.  
     Em verdade, a circunstância essencial nesta ordem de pesquisa, e que é sistematicamente esquecida pelos propugnadores da onisciência e onividência subconscientes, consiste em que as comunicações telepáticas e clarividentes com pessoas distantes são condicionadas, isto é, limitadas pela necessidade imprescindível da lei da "relação psíquica", que só pode ser estabelecida caso ocorra uma das três seguintes condições: A) Quando o médium tenha relações de amizade ou pelo menos conheça a pessoa distante; B) quando um dos presentes a conheça; C) quando seja entregue ao médium um objeto que a pessoa distante tenha usado por algum tempo, saturado, portanto, das suas "vibrações psíquicas" (psicometria). Segue-se, pois, que na falta das  três condições acima, não é possível que o médium entre em em relações telepáticas com uma pessoa distante. Ora, como tal circunstância assume o valor de uma lei que rege as manifestações psíquicas (e isto em correspondência com a lei de afinidade que governa os fenômenos do universo), conclui-se que ela resolve a tese em exame, de modo que a hipótese da onisciência e onividência subconscientes converte-se em pura elucubração fantástica, filosoficamente absurda e cientificamente insustentável. Torna-se então evidente que a lei da "relação psíquica" serve para circunscrever, em limites bem definidos, as faculdades paranormais investigadoras da subconsciência humana, e mais, que os casos de identificação pessoal de mortos desconhecidos de todos os presentes, quando se dão sem o concurso de objetos psicometrizáveis, levam racionalmente a admitir-se a presença, "na outra extremidade do fio", do morto que se comunica. Daí decorre que que estamos habilitados, desde já, a proclamar a grande nova de que a demonstração científica da sobrevivência humana se acha conseguida pela Ciência, tendo por base a categoria dos casos de identificação pessoal de espíritos desconhecidos do médium e dos presentes, e que se manifestam de modo independente de qualquer forma de relação psíquica terrena.  

Observações minhas:

1) Para esclarecer melhor o tema, sugiro a leitura das seguintes monografias do mestre italiano: "Cinco Excepcionais Casos de Identificação de Espíritos", Editora Lachâtre, "Telepatia, Telemnésia e a Lei da Relação Psíquica", Editora Eco, e "Metapsíquica Humana" (Cap. VI), Editora da FEB.

2) Às considerações acima de Bozzano, pode-se acrescentar, com o Prof. Lombroso, que a sucessão de vários espíritos comunicantes, 5, 6, ..., 10 vezes, com personalidades distintas bem nítidas, com seus trejeitos pessoais, suas peculiaridades próprias, modos de ser, agir e falar que lhes são característicos, não se podem explicar pela telepatia, porque são coisas abstratas que não podem ser lidas na subconsciência de ninguém. Também os erros, lapsos de memória, esquecimento de nomes, etc., que ocorrem, com alguma frequência, nessas comunicações, quando entre os vivos permanecem tão intensos e precisos, não se explicam pela leitura do pensamento nas subconsciências alheias, mas obtêm muito melhor explicação pela dificuldade que têm esses seres, chegados a uma nova forma de vida, para exprimir seu pensamento através de um organismo que não foi feito à sua feição, que lhes é totalmente estranho. Por outro lado, fatos que ainda virão a ocorrer (precognição), e que não se podem inferir de causas atuantes no presente, também não têm explicação pela telepatia.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

117) Aparição e manifestação espontânea de um morto a duas pessoas, fora de toda influência telepática.

(Nota: Este caso, que foi observado espontaneamente, pode ser conjugado ao de número 45, com a diferença de que este último foi verificado numa sessão mediúnica).

     O caso citado abaixo foi investigado, com todo cuidado, por 3 investigadores da Society of Psychical Research (S.P.R.) inglesa (dentre os quais Myers), que conversaram longamente com as testemunhas do fato, convencendo-se da perfeita correção e honorabilidade delas, fazendo um relatório completo do mesmo, relatório que foi publicado originalmente no volume VI, pág. 26, dos "Proceedings of the S.P.R.". Posteriormente, o caso foi citado por Flammarion ("A Morte e o Seu Mistério", vol.3), e Bozzano ("Animismo ou Espiritismo?"). A percipiente e relatora - Sra. P - não quis fossem publicados os nomes dos protagonistas e os motivos ressaltarão da exposição dos fatos. Eis o que narrou, em síntese:

     "Casada em 1867, minha vida foi tranquila e feliz até o fim de 1869, quando a saúde do meu marido se alterou, tornando-se de gênio irritável. A todas as minhas perguntas, ele respondia evasivamente, dizendo-me que eu estava a fantasiar, que ele sentia muito bem. Desisti então de importuná-lo. Na véspera do Natal, pelas 21h30min, meu marido se deitara, deixando aceso o lampião, porque eu ficara um instante perto do berço de minha filhinha, que contava então 15 meses. De repente, com grande espanto meu, vi um homem fardado de oficial da Marinha, com um boné de pala sobre a cabeça. Para mim, seu rosto ficava na sombra, mesmo porque apoiava o cotovelo na cabeceira da cama, sustentando a cabeça com a mão. Perguntei-me a mim mesma quem poderia ser esse homem; toquei meu marido no ombro, pois ele estava voltado para o lado oposto, e murmurei-lhe: -- Willie, quem é este homem? Ele virou-se, olhou estupefato o intruso, depois, levantando-se de repente, gritou-lhe: -- Senhor, que vem fazer aqui? 
     A forma se alçou lentamente, depois, com voz imperiosa e descontente, exclamou: -- Willie! Willie! Olhei meu marido. Tornara-se lívido e na maior agitação; levantou-se da cama para, aparentemente, interceptar o intruso, mas imediatamente estacou, ficou perplexo e espantado, enquanto a forma atravessava o quarto, impassível e solene, dirigindo-se em linha reta para a parede. Quando passou diante do lampião, uma sombra escura projetou-se na parede e sobre nós mesmos, como se fosse uma pessoa viva; apesar disso, o fantasma desapareceu de maneira misteriosa através da parede. Meu marido, sempre agitado, tomou o lampião, dizendo: -- Quero percorrer a casa e ver onde ele foi.
     Eu estava também muito agitada; entretanto, lembrando-me de que a porta estava fechada e que o misterioso visitante não se tinha dirigido para aquele lado, observei: -- Mas ele não saiu pela porta!
     Todavia, meu marido puxou os ferrolhos, abriu a porta e foi revistar a casa. Tendo ficado sozinha no escuro, eu pensava: -- Vimos uma aparição. Que anuncia ela? Talvez meu irmão Artur esteja doente (era oficial da Marinha e estava de viagem para a Índia). Sempre ouvi dizer que essas coisas acontecem.
     Estava a refletir, apertando nos braços minha filhinha, que acordara, quando vi voltar meu marido, mais lívido e agitado do que nunca. Sentou-se à beira do leito, passou-me o braço pelos ombros e murmurou: -- Sabes quem vimos? -- Sim, respondi eu, um espírito; receio que se trate de Artur, mas não lhe pude ver, com nitidez, o rosto. Ele respondeu: -- Não, não era Artur, ERA MEU PAI !
     O pai de meu marido falecera havia 14 anos; quando moço, fora oficial da Marinha, depois, por motivos de saúde, tivera de abandonar a carreira antes do nascimento de meu marido, e este só o vira fardado uma ou duas vezes. Quanto a mim, não o conheci. No dia seguinte, contamos o caso a nossos tios, e todos pudemos notar que a agitação do meu marido não se acalmava, embora fosse cético feroz com referência a manifestações que parecessem sobrenaturais.
     À medida que os dias se passavam, ele ia se alimentando menos e emagrecendo, até que teve de se acamar, bastante doente. Foi somente a partir desse momento que me pôs gradualmente a par do seu segredo. Desde algum tempo, estava em grandes dificuldades financeiras; e quando lhe apareceu o pai, ele estava a ponto de se deixar levar pelos maus conselhos de um homem que o teria levado à total ruína, ou a coisa pior ainda. É por isso que tenho de me conservar reticente ao falar do sucedido. Por tudo quanto pude verificar pelos acontecimentos que se seguiram, aquele foi um aviso providencial, trazido ao meu marido, por meio da voz e da fisionomia daquele que mais venerara em vida e ao qual, unicamente, teria obedecido."

     O marido da narradora respondeu ao inquérito promovido pela S.P.R.:

     "Nada tenho a acrescentar à narração de minha mulher; é rigorosamente exata e os fatos ocorreram exatamente como ela os descreveu. Empenho nisto minha palavra de honra." 

Obs. minha: a hipótese telepática ainda poderia ser invocada, em desespero de causa, pelos materialistas empedernidos, afirma Ernesto Bozzano, mas, neste caso, seria necessário supor que o marido da narradora, estando prestes a se meter numa empresa lesiva da sua honra, houvesse pensado intensamente na memória honrada do pai, provocando uma correspondente alucinação telepática em sua mulher que, a seu turno, atraindo-lhe a atenção para o campo da sua objetivação, lha teria retransmitido, de sorte que ele, presa de remorso à vista do fantasma paterno, houvera sido vítima de uma complementar auto-alucinação verbal, através da qual o mesmo fantasma lhe redarguia, em tom imperioso e descontente, auto-alucinação verbal que ele teria retelepatizado para a mulher. Ora, convenhamos, diz o filósofo italiano, trata-se de uma explicação tão fantástica, contorcida e absurda, que qualquer pessoa sensata se recusaria a admiti-la.   

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

116) Não é verdade que as provas da existência e sobrevivência do espírito humano dependam, apenas, das informações pessoais fornecidas, mediunicamente, pelas personalidades comunicantes.

   O texto abaixo é de autoria do "grande mestre da ciência da alma", Ernesto Bozzano. Após cada item, quando não é citado o nome do autor do livro, deve-se subentender que é do filósofo italiano.

     As considerações abaixo visam a confutar, com base nos fatos, a inefável objeção anti-espírita segundo a qual, não se podendo assinar limites às faculdades paranormais da telepatia e da clarividência, também nunca será possível demonstrar-se experimentalmente, portanto, cientificamente, a existência e sobrevivência do espírito humano. Como se sabe, essa gratuita objeção se refere exclusivamente aos casos de identificação espirítica, baseada nos informes pessoais fornecidos pelos defuntos que se comunicam, casos que perderiam todo valor demonstrativo se resultasse fundada a referida objeção, porquanto, então, seriam explicáveis, em massa, com os poderes da subconsciência, os quais chegariam a extrair os aludidos informes das subconsciências dos vivos que, embora distantes, houvessem conhecido os mencionados defuntos. Sem levar em conta que tal objeção nos levaria a um postulado filosófica e cientificamente insustentável, qual o de conceder, à subconsciência humana, a onisciência e onividência divinas, a verdade é que, em metapsíquica, se encontram grupos notáveis de provas diretas e indiretas, as quais não dependem da identificação estritamente pessoal dos mortos comunicantes, mas convergem igual e admiravelmente na direção da demonstração da existência de um espírito sobrevivente à morte do corpo; e, portanto, contribuem valiosamente para reforçar a prova de identificação pessoal conseguida na forma de informações fornecidas pelo morto sobre sua existência terrena; e tanto contribuem que o professor Hyslop se dedicou a observar como a teorias científicas da "gravitação universal" e da "evolução biológica da espécie", apesar de fundadas sobre fatos, estejam bem longe de serem demonstradas com base em uma acumulação de provas tão impressionantes quanto as que demonstram a existência e a sobrevivência do espírito humano, assim como a realidade da comunicação mediúnica entre mortos e vivos. Daí se tem que, do ponto de vista científico, o valor cumulativo de tal complexo excepcional de provas distintas, harmonicamente convergindo na direção da mesma comprovação, constitui um dado de certeza racional, o qual, embora não sendo absoluto (repito, o absoluto é de Deus), resulta de uma relatividade equivalente à certeza prática, como também resulta equivalente, e em muitos casos superior, a todos os dados de certeza teórica legitimamente postos como fundamento de qualquer ramo do conhecimento, salvo a matemática. Resta demonstrar a legitimidade científica das considerações expostas, ilustrando-as e documentando-as na base dos fatos, o que determinará a queda definitiva das objeções em exame. 
     E, para começar pelas provas da ordem geral que convergem, em seu conjunto, na direção da comprovação da existência e sobrevivência do espírito humano, eis a enumeração das principais dentre elas: 

1) A existência latente, na subconsciência humana, de faculdades paranormais maravilhosas, emancipadas dos vínculos de espaço e tempo, independentes da lei de evolução biológica (prova que não são o produto da evolução biológica); faculdades que permanecem inoperantes durante a existência terrena, salvo sua emergência fugaz, em relação direta com múltiplos estados de vitalidade deficiente nos indivíduos, emergência que resulta mais ou menos notável de acordo com o grau mais ou menos avançado de tais estados de deficiência vital. Daí se infere, logicamente, que quando as funções vitais nos indivíduos forem suprimidas pela crise da morte, só então as faculdades paranormais subconscientes estarão em condições de emergir e de se exercer com plena eficiência. Em outros termos: tudo concorre para demonstrar que as faculdades paranormais em questão são os sentidos espirituais do homem, os quais existem pré-formados, em estado latente, na subconsciência, à espera de emergir e de se exercer no ambiente espiritual depois da crise da morte, assim como os sentidos biológicos existem pré-formados, em estado latente, no embrião, à espera de emergir e de se exercer no ambiente terreno, depois da crise do nascimento. (Ver o livro "Animismo ou Espiritismo? Qual deles explica os fatos?"). 

2) A existência dos fenômenos de "bilocação", os quais apresentam a mesma característica indicada pelas faculdades paranormais subconscientes: durante a existência terrena se determinam apenas em condições fisiológicas implicadas numa crise de deficiência vital nos indivíduos, e seu grau mais ou menos avançado de exteriorização está em relação matemática com o grau mais ou menos pronunciado de tal crise de deficiência vital, a qual corresponde a uma fase mais ou menos avançada de desencarnação incipiente do espírito. Daí se deve inferir que os fenômenos de "bilocação temporária" tal como se realizam entre os vivos, preludiam o fenômeno de "bilocação definitiva", como se realizarão na crise da morte. E, em seguida, o "corpo espiritual" se separará para sempre do "corpo carnal". Comprova-se, de fato, que numerosos "videntes", desconhecidos uns dos outros, que se encontram na cabeceira dos moribundos, concordam admiravelmente entre si, na descrição dos processos de desencarnação do espírito e da consecutiva formação do "corpo espiritual", que eles veem e descrevem em cada uma de suas fases de exteriorização. (Ver os livros "Fenômenos de Bilocação", e "Animismo ou Espiritismo?").

3) A existência de numerosíssimos casos de "aparição de mortos no leito de morte", cuja grande eficácia teórica no sentido espiritualista é independente das provas usuais de identificação espírita com base nas informações pessoais fornecidas pelos mortos comunicantes. E sua grande eficácia teórica emerge, sobretudo, da circunstância de que se manifesta em condições que excluem resolutamente as hipóteses "alucinatória" e "telepática"; isso porque os fantasmas dos mortos são muito frequentemente percebidos coletivamente pelo moribundo e pelos presentes, e algumas vezes os presentes o veem antes do enfermo; assim como acontece muitas vezes de o moribundo ver espíritos de mortos recentes, falecidos em lugares distantes, e dos quais todos os presentes, inclusive o enfermo, ignoravam a morte. Daí se exclui a hipótese alucinatória na forma de autossugestão do agonizante, e a telepática na forma de transmissão do pensamento da parte dos presentes. Noto, enfim, que as hipóteses em questão devem ser excluídas nos casos de crianças em tenra idade, os quais, encontrando-se no leito de morte de outra criança da mesma idade, veem fantasmas de mortos reconhecidos pelos parentes. É flagrante que, em circunstâncias semelhantes, não se poderia falar nem de alucinação nem de telepatia, visto que crianças moribundas, abaixo de cinco anos, que ignoram o que venha a ser a morte, não podem se autossugestionar a ponto de provocar em si mesmas, visões alucinatórias de mortos, transmissíveis telepaticamente a outra criança presente. Quanto a isso, observo que a grande eficácia teórica, no sentido espírita, de tais episódios é tão evidente que se impõe ao critério imparcial do professor Richet, o qual teve a louvável franqueza de reconhecê-lo. (Ver os livros "Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte" e "Animismo ou Espiritismo?").

4) A existência de fenômenos de premonição de morte acidental, nos quais vem indicado à vítima o evento fatal que a espera, mas isso de maneira voluntariamente obscura e reticente, ou sabiamente simbólica, de modo a tornar impenetrável a todos, até que o evento se realize, o significado dos símbolos transmitidos ou das reticências propositais. Tudo isso com a clara finalidade de circunscrever a premonição nos limites de um pré-aviso à vítima para prepará-la quanto ao destino que a espera, evitando que ela compreenda demasiado e consiga se opor ao decreto do destino. Todavia, como muito frequentemente esses tipos de manifestações são autopremonições, decorre o absurdo da tese sustentada pelos opositores da hipótese espírita, segundo os quais todas as manifestações premonitórias seriam devidas à faculdade subconsciente da personalidade humana. Mas como presumir que uma personalidade subconsciente autônoma, destinada a se extinguir com a morte do corpo, esconda à própria personalidade consciente, sob o véu de símbolos engenhosos, a particularidade essencial do evento que a ameaça, e isso com a precisa intenção de deixá-la morrer, e de se deixar morrer? É certo que semelhante interpretação dos fatos, sendo logicamente absurda, deve ser considerada errônea e deve excluir a si mesma; daí se trata de inferir que tais reticências, inconciliáveis com a existência encarnada da personalidade humana, não só revelam a intervenção de entidades espirituais em algumas categorias de manifestações premonitórias, mas provam também como tudo isso acontece com uma finalidade ultraterrena. Isso reconduz forçosamente à hipótese espírita. Vale dizer, à demonstração – com o auxílio dos fenômenos precognitivos – da sobrevivência do espírito humano, considerada em dois pontos de vista diferentes, que são os dois polos do ser: o Animismo e o Espiritismo; como também reconduz à concepção inevitável da existência de uma Fatalidade superior aos destinos humanos, fatalidade relativa, com base na qual resultariam preordenadas as etapas essenciais de nossa existência de espírito encarnado. Segundo ela, dever-se-ia inferir que o trânsito no mundo dos viventes é uma escola e uma prova, correspondente a uma fase evolutiva do espírito. (Ver os livros "Fenômenos Premonitórios" e "Animismo ou Espiritismo?").

5) A existência das "correspondências cruzadas", as quais, a seu turno, diferenciam-se totalmente dos casos de identificação espírita fundada em informações pessoais fornecidas pelos mortos, dado que as "correspondências cruzadas" são obra dos mortos. E, na verdade, não são projetadas pelos vivos, mas propostas pelos mesmos mortos ansiosos em conseguir, de algum modo, dissipar a perplexidade dos vivos em torno da realidade de sua presença espiritual no local. Nota-se como as "correspondências cruzadas" consistem no fato de que a personalidade mediúnica comunicante, ao invés de transmitir sua mensagem com o auxílio de um só médium, subdivide a mesma em fragmentos, cada um dos quais resulta, por si só, vazio de significado, e transmite então cada fragmento singular a um médium diferente; tudo isso no mesmo dia e mesma hora, com breves intervalos entre uma e outra transmissão, enquanto os diferentes médiuns se encontram muito frequentemente distantes entre si a centenas de milhas e, algumas vezes, residem em continentes diferentes. Somente quando os vários grupos experimentadores reúnem os fragmentos obtidos, é que conseguem reconstituir integralmente a mensagem transmitida. Tais sortes de experiências conseguiram, recentemente, um altíssimo significado espiritual, e isso devido aos maravilhosos resultados obtidos em Boston com a médium Margery Crandon, em Londres com a médium Osborne Leonard, e em Newcastle com as sugestivas experiências do sr. Frederick James Crawley. Para qualquer um que se ponha a investigar e comparar os agora numerosos episódios do gênero, não pode existir dúvida sobre o fato de que os mesmos provam, de modo resolutivo, a independência espiritual da personalidade comunicante, com relação a todos os médiuns de que se vale para fins próprios. Significa dizer que eles provam a intervenção real de entidades espirituais nas experiências mediúnicas, entidades que não poderiam deixar de ser os espíritos dos mortos que se afirmam presentes, porquanto provam, ao mesmo tempo, sua identidade pessoal, fornecendo minuciosamente informações sobre sua existência terrena. Daí se tem que o fenômeno das "correspondências cruzadas" se converte em uma outra prova cumulativa maravilhosa, demonstrando a existência e a sobrevivência da alma, bem como demonstrando a intervenção dos mortos nas experiências mediúnicas. Quanto a essa última observação, convém lembrar ainda, mais uma vez, que as "correspondências cruzadas" não foram projetadas por vivos, mas propostas pelos mortos com a finalidade de vencer a sempre renascente hesitação de muitos investigadores eminentes, quando se encontram diante da formidável questão: "Personalidades de mortos ou personalidades sonambúlicas?". E as personalidades dos mortos responderam à questão com a prova da "correspondência cruzada", mediante a qual esperavam demonstrar, com base em fatos, sua independência espiritual de quaisquer médiuns pelos quais se manifestavam. Conseguiram? Em boa parte, sim, dado que seus esforços nesse sentido conquistam a cada dia novos adeptos da solução espírita para a grande questão; mas já se compreende que não é fácil demover o misoneísmo estabelecido, principalmente entre os homens de ciência, os quais professaram opiniões materialistas durante toda sua vida. Esses, ao invés de admitir a sobrevivência, preferem se associar aos complexos voos da mais desenfreada fantasia, convertendo-se em poetas da metafísica. (Ver o livro "A Propósito da Introdução à Metapsíquica Humana").

6) A existência de vários casos de "aparições de mortos depois de breve ou longo intervalo após sua morte", fenômeno que, por sua vez, não tem nada em comum com os casos de identificação espírita fundados sobre informações pessoais fornecidas pelos mortos comunicantes, mas que vale igualmente para identificá-los. E isso sempre que os fantasmas desta natureza são vistos, coletivamente e independentemente, por várias pessoas, circunstâncias que valem para eliminar as hipóteses "alucinatória" e "telepática". (Ver o livro "Animismo ou Espiritismo?", "A Morte e o Seu Mistério", vol. 3 [Flammarion], "Tratado de Metapsíquica" [Charles Richet]).

7) A existência de casos em que o morto revela incidentes que não lhe são pessoais, no sentido do termo, durante sua vida terrena, mas que de alguma forma lhe concernem, realizados após sua morte, e são ignorados por todos os vivos, o que não se poderia explicar nem com a telepatia, nem com a clarividência, nem com a psicometria. (Ver os livros "A Propósito da Introdução à Metapsíquica Humana", e "A Morte e o Seu Misterio", vol. 3, [Flammarion]).  

8) A existência de vários casos em que os mortos conseguem se "materializar" perfeitamente, tornando a ser o personagem vivo de antes, e continuando a se materializar por anos, submetendo-se a todas as medidas de controle requeridas pelos métodos de investigação científica. E, nesses últimos tempos, aos casos clássicos de tal natureza, um outro se acrescenta, que a todos iguala pelo rigor dos métodos científicos com os quais foi controlado, assim como se iguala pela reiteração das manifestações, as quais se renovaram e se renovam há alguns anos, enquanto, no que concerne à natureza exemplar da identificação pessoal, reina a comparação com o caso clássico de Estela Livermore. Reservo-me a citá-lo na íntegra mais adiante. (Ver os livros "A Propósito da Introdução à Metapsíquica Humana", "Animismo e Espiritismo" [A. Aksakof], "Fatos Espíritas" [William Crookes], "Tratado de Metapsíquica" [Charles Richet]).

9) A existência dos fenômenos de "xenoglossia" (mediunidade poliglota), em que os médiuns se exprimem numa língua que lhes é totalmente desconhecida; não se trata de o médium reproduzir mecanicamente palavras ou frases ouvidas ou lidas num livro anteriormente, mas de exprimir seus pensamentos, adaptados a situações do momento, numa língua por ele ignorada, conversando, correta e coerentemente com pessoa presente que fala a citada língua, fato inexplicável pela hipermnésia, pela telepatia e pela clarividência. Com efeito, a estrutura orgânica de uma língua é pura abstração, que não se pode ver nem perceber em cérebros alheios. (Ver o livro "Xenoglossia").

Essas são as principais categorias de provas que demonstram a sobrevivência humana, as quais são independentes das provas de identificação espírita fundada em informações pessoais fornecidas pelos mortos; e não se pode negar que tal enumeração basta para demonstrar a inanidade da objeção adversária contra a validade científica e filosófica dos casos de identificação espírita fundados no critério de prova em questão, visto que fora do critério é igualmente possível demonstrar, com base nos fatos, não apenas a existência e sobrevivência do espírito humano, mas o fato preciso das frequentes manifestações de espíritos de mortos em ambiente terreno. 


Observações minhas:

1ª) Às nove categorias de fatos citados por Bozzano, poder-se-ia acrescentar vários casos especiais das seguintes categorias: casas assombradas, psicometria, transportes, obsessão e possessão, literatura de além-túmulo, telecinesia (ou psicocinese) no momento da morte, música transcendental no momento da morte, identificação de espíritos desconhecidos do médium e de todos os presentes.

2ª) O grande psiquista, Dr. Gustavo Geley, diretor do Instituto Metapsíquico Internacional, a propósito das manifestações de espíritos, em sessões mediúnicas, faz as seguintes considerações:
     
     O chamado subconsciente se diz a personalidade de um morto nas sessões espíritas. Esta complicação é verdadeiramente desconcertante e pouco verossímil. Pois que! O subconsciente é portador das maravilhosas faculdades que acabamos de expor (telepatia e clarividência). Ele pode tudo e sabe tudo, é onividente e onisciente, igualando-se, praticamente, à divindade. Mas num ponto ele se engana e nos engana: sobre a sua verdadeira natureza. Por que essa mistificação grosseira e constante? Por que essa mentira inexplicável? Como conciliar os poderes quase divinos, de um lado, com uma desfaçatez pérfida, de outro?
     
     A perplexidade do Dr. Geley pode ser facilmente eliminada se considerarmos que existem dois estados de hipnose ou sonambulismo: o primeiro é o superficial, semelhante ao onírico, em que emerge um "eu" subconsciente, de ordem secundária, que não apresenta nenhum poder paranormal, e que é altamente sugestionável; o segundo é o estado profundo, em que emerge uma fração (ou frações) do "eu" integral subconsciente, apresentando, já, certo poder paranormal, e que não é sugestionável, jamais mascarando-se através da personalidade de um morto (este último é o estado que os antigos magnetizadores chamavam de sonambulismo lúcido). Daí se segue que, quando um pretenso espírito de morto se manifesta, mediunicamente, revelando, a uma pessoa presente, ligada afetivamente ao morto, fatos absolutamente desconhecidos do médium, deve-se concluir pela presença real, no local, do falecido que se manifesta. Vale recordar um texto do grande filósofo e cientista italiano:
     
     As provas da sobrevivência assentam sobre todas as categorias de fenômenos paranormais, que convergem, em bloco, admiravelmente, para um mesmo centro --  a demonstração, rigorosamente científica, da existência e sobrevivência do espírito humano.

115) Acerca dos fenômenos premonitórios

  O filósofo italiano Ernesto Bozzano escreveu a mais completa e documentada obra sobre os fenômenos premonitórios (ou precognitivos). São 3 categorias, divididas, cada uma, em vários subgrupos, constituindo um volume de 469 páginas, e 162 casos ( "Fenômenos Premonitórios", 2ª ed., Edições CELD, 2002).  
     
     Vejamos-lhe a sinopse:   

1ª categoria: Autopremonições de doença ou de morte

Subgrupo A: Autopremonições de doença (1 caso)

Subgrupo B: Autopremonições de morte a curto prazo, em que a morte se deve a causas naturais (casos 2 a 7)

Subgrupo C: Autopremonições de morte a longo prazo, em que a morte se deve a causas naturais (casos 8 a 12)

Subgrupo D: Autopremonições de morte, em que a morte se deve a causas acidentais (casos 13 a 19)

2ª categoria: Premonições de doenças ou de mortes que se referem a terceiros

Subgrupo E: Premonições de doenças de terceiros (caso 20)

Subgrupo F: Premonições de morte de terceiros a curto prazo, em que a morte se deve a causas naturais (casos 21 a 45)

Subgrupo G: Premonições de morte de terceiros a longo prazo, em que a morte se deve a causas naturais (casos 46 a 57)

Subgrupo H: Premonições de morte de terceiros a curto prazo, em que a morte se deve a causas acidentais (casos 58 a 70)

Subgrupo I: Premonições de morte de terceiros a longo prazo, em que a morte se deve a causas acidentais (casos 71 a 77)

Subgrupo J: Premonições de morte produzindo-se tradicionalmente numa mesma família (casos 78 a 81)

3ª categoria: Premonições de acontecimentos diversos

Subgrupo K: Premonições de acontecimentos importantes que não implicam em morte (casos 82 a 111)

Subgrupo L: Premonições de incidentes insignificantes e praticamente inúteis (casos 112 a 125)

Subgrupo M: Premonições meteorológicas e sísmicas (casos 126 a 133)

Subgrupo N: Premonições que salvam (casos 134 a 159)

Subgrupo O: Premonições que determinam o acidente possível (casos 160, 161 e 162)

Vejamos a conclusão do filósofo italiano em seu trabalho:

     Para esgotar nosso tema, só resta encará-lo pelo ponto de vista do positivismo científico, o qual, não admitindo a existência de um espírito que sobrevive à morte do corpo, todo fenômeno premonitório deve, necessariamente, ter sua origem na subconsciência humana. Adotando momentaneamente a tese em questão, começaremos por nos perguntar a que hipótese devemos recorrer para explicar o conjunto, ou mesmo, a maior parte da casuística premonitória.

     Não, certamente, à hipótese das "coincidências fortuitas", com a qual não se chegaria a esclarecer nada, além de alguns raros casos, entre os mais simples e menos interessantes.
     
     Não, certamente, à hipótese de uma "percepção telepática nas subconsciências humanas", porque isto equivaleria a admitir que nelas existiriam traços de acontecimentos futuros, portanto, que esses acontecimentos estariam, de alguma forma, preordenados, o que nos levaria à hipótese reencarnacionista, a qual implicaria na preexistência e sobrevivência do espírito.
     
     Não, certamente, à hipótese de uma "percepção telepática de traços que existiriam no plano astral", já que assim se suporia a existência de uma fatalidade relativa, a qual, a seu turno, implicaria na existência de entidades espirituais prepostas ao governo dos destinos humanos, o que não deixaria de acarretar uma finalidade ultraterrestre.  
     
     Não, certamente, a uma variante da hipótese precedente, segundo a qual os "traços" em questão existiriam no pensamento de Inteligências espirituais que dirigem o curso dos acontecimentos humanos, pensamento que os sensitivos captariam telepaticamente; esta variante subentederia igualmente a concepção espiritualista e a sobrevivência. (...)

     Os partidários do positivismo científico não dispõem, portanto, de nenhuma hipótese capaz de explicar, integralmente ou em parte, a casuística premonitória; isto significa que, negando a existência de um espírito sobrevivente à morte do corpo, estão reduzidos à impossibilidade absoluta de lhe penetrar a origem.   
     Tais as conclusões, rigorosamente lógicas, às quais chegamos através da análise comparada dos fatos. Cabe aos defensores do positivismo provar-me que estou enganado. E desejo que algum dentre eles, no interesse supremo da verdade, dedique-se à prova; neste caso, ficarei feliz em discutir a questão. Não vejo a hora, todavia, de ver meus votos satisfeitos, pois a situação do positivismo materialista, diante da casuística premonitória, pode ser considerada francamente má.

Obs. minha: Nos subgrupos D, H, I e M, há alguns casos que caem sob a rubrica "premonições e autopremonições de morte acidental cujas vítimas não se salvam por tácito ou expresso consentimento da causa operante", que será melhor abordada pelo filósofo italiano no próximo artigo (nº 116, ítem 4).