quarta-feira, 29 de outubro de 2014

102) Dr. Paul Gibier, o estudioso dos fenômenos bacteriológicos e psíquicos



     Vejamos os títulos do Dr. Paul Gibier e, a seguir uma breve síntese da atuação científica desse renomado médico e bacteriologista francês (1851-1900), discípulo de Louis Pasteur (1822-1895). Ele foi Diretor do Instituto Bacteriológico Pasteur de Nova York, Ex-interno dos Hospitais de Paris, Ex-Diretor do Laboratório de Patologia Comparada do Museu de História Natural de Paris, Membro da Academia de Medicina e Ciências de Nova York, Membro da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres, Cavaleiro da Legião de Honra.

Atuação científica: Graduou-se na Univerdidade de Paris (Sorbonne). Em seus estudos e pesquisas sobre o vírus da cólera na Espanha e no sul da França, recebeu uma medalha de ouro por parte do governo francês. À sua memória sobre a hidrofobia e seu tratamento, a Faculdade de Medicina de Paris outorgou a mais elevada recompensa que ela concede às teses que lhe são apresentadas. O governo francês o enviou para as Antilhas e a Flórida, em 1887, e 1888-1889, a fim de envidar estudos e pesquisas sobre a febre amarela. Pelo conjunto dos seus estudos, trabalhos e pesquisas sobre a cólera, a hidrofobia e a  febre amarela, o governo francés lhe concedeu o título de Cavaleiro da Legião de Honra. Em 1890, ele se estabeleceu como Diretor do Instituto Pasteur de Nova York, onde realizou várias pesquisas para a cura de pessoas mordidas por animais raivosos, através da inoculação de novas vacinas e soros. Nos EUA, foi editor da Therapeutic Review. Interessou-se bastante pelos fenômenos psíquicos, e, sobre esse assunto, escreveu três livros, baseados em seus próprios experimentos: "O Espiritismo Ou Faquirismo Ocidental" (1886), "Análise das Coisas" (1890), e "Materialização de Espíritos" (1900). Faleceu nesse mesmo ano, vítima de um acidente com o cavalo em que viajava. Foi um escritor prolífico, também na Medicina. A revista espírita norteamericana "The Banner of Light" classificou a sua "passagem" como uma grande perda para o Espiritismo científico. Em seu testamento, deixou 4.000 francos para o Instituto Pasteur de Nova York.
     
     Demos agora a palavra ao próprio Dr. Gibier:     
     "Nos exames reiterados que fiz dos fenômenos bacteriológicos, inspirei-me sempre nestas palavras de Voltaire: Quando se faz um experimento, o melhor partido a tomar é duvidar-se por muito tempo do que se viu e do que se fêz.     
     "Guiei-me igualmente pelos sábios conselhos dados por meu ilustre mestre Pasteur, em uma carta que me escreveu em 1887, quando eu partia para as Antilhas, a estudar a febre amarela:      
     
     Caro Dr. Gibier:     
     ... Conhecendo os novos métodos aplicados ao estudo das doenças contagiosas, podeis abordar as pesquisas difíceis que ides empreender.    
     Desconfiai principalmente de uma coisa: da precipitação no desejo de concluir. Sede de vós mesmo um adversário vigilante e tenaz. Cuidai sempre de surpreender-vos em falta...     
     Minhas felicitações e um cordial aperto de mão.    
     Louis Pasteur.


     "Somente depois que observei o fenômeno da escrita direta pelo menos quinhentas vezes, foi que me decidi publicar as minhas pesquisas. Demais, achava-me absolutamente fixado a respeito de uma quantidade de fatos da mesma natureza e muito mais extraordinários em aparência."     
     "Acrescentarei que durante cinco anos, antes de estar inscrito na Faculdade de Medicina, estudei tecnicamente a Mecânica, o que auxilia na descoberta de possíveis truques, e também me iniciei nos artifícios dos prestidigitadores. Devo, com efeito, confessar que já pratiquei um pouco a prestidigitação, a fim de melhor surpreender a fraude, caso isso fosse necessário."
                                                   (...)
     
     "Nesta terceira parte, reconhecemos que, além da Matéria e da Energia, existe a Inteligência no mundo, como no ser humano, a menos que se admita seja a inteligência unicamente um produto da matéria, isto é, seja a substância cerebral do homem a única matéria, no universo inteiro, capaz de produzir o que denominamos fenômenos inteligentes."     
     "Resta-me, agora que o raciocínio nos permitiu reconhecer o que denominei o terceiro princípio ou elemento, tanto no Macrocosmo como no homem; resta-me, digo, mostrar este terceiro princípio do homem, princípio livre e independente, aliás, o primeiro em importância. Talvez me seja permitido fazer entrever a persistência deste elemento, isto é, da inteligência consciente sobrevivendo à decomposição da matéria, à qual se achou momentaneamente unida, sob as aparências do corpo humano. Em outros termos: -- mostrar a possibilidade da existência abmaterial (fora da matéria) da inteligência, depois de sua existência comaterial (junto à matéria); tal é o fim a que me proponho."     
     "É uma empresa audaciosa, mas não temerária: hoje nada mais tenho que arriscar, porque depois de haver feito, no intuito de começar esta demonstração, um livro ("O Espiritismo ou Faquirismo Ocidental") que foi lançado no índex científico, tanto em Paris como em Roma, que raio posso eu temer, doravante, exceto os raios do céu?"     (Paul Gibier, "Análise das Coisas", 5ª ed., FEB, págs. 157, 158, 79 e 80).     

     Sem embargo dos seus estudos médicos e dos prêmios que recebeu do governo francês e da Sorbonne, por ter escrito o seu livro sobre o Espiritismo, em que defende a veracidade dos fatos e clama pelo estudo desses fenômenos pela ciência, o Dr. Gibier comprometeu o seu renome científico, e foi afastado das suas funções em sua pátria por puro preconceito científico dos seus colegas acadêmicos. Imediatamente, os Estados Unidos lhe ofereceram o cargo de Diretor do Instituto Bacteriológico Pasteur de Nova York (honra aos norteamericanos por esse gesto). Nas conclusões do seu ousado e último trabalho, publicado no ano do seu passamento, o sábio médico escreve num leve tom de  melancolia, mas não de amargura:      
     "Quando, por ter proclamado um fato, porque julgávamos saber que existia, fecharam-se diante de nós as portas do caminho que nos parecia destinado, e até os nossos mestres, colegas e amigos mais prezados deram ouvidos a baixas calúnias e afastaram-se de nós; quando o nosso donquichotismo nos leva ao exílio e nos faz passar estes 11 anos longe da pátria e de quanto ele encerra de caro para nós, temos por certo, repito-o, alguns direitos à impaciência. Mas, enfim, é chegado o momento em que temos a satisfação de ver a avalanche dos fatos engrossar todos os dias. O que ontem não passava de um foco quase imperceptível, vai irrompendo vigorosamente no campo da ciência."       
     ("Materialização de Espíritos", Editora Eco, pág. 96, trad. de Francisco Klors Werneck).     

     Para dar apenas uma pálida ideia dos fenômenos abordados nesse último livro do Dr. Gibier (informações completas devem ser lidas no original), citaremos o breve resumo que dele fêz o Prof. Charles Richet (Prêmio Nobel de Medicina), nas suas obras "A Grande Esperança" e "Tratado de Metapsíquica". Vejamos:      
     Meu amigo, o doutor Gibier, sábio eminente, Diretor do Instituto Pasteur de Nova York, operando com uma médium notável, a Sra. Salmon, fecha-a em uma gaiola de ferro, no seu próprio laboratório, com um cadeado do qual só ele tem a chave, e sobre o qual apõe vários selos firmados por ele. Vê então sair da gaiola uma mulher esbelta que parece viva. Ela parece 25 anos mais jovem que a Sra. Salmon, e permanece por dois minutos sobre o tablado. Depois, chegam a pequena Mandy, que tem apenas um metro de altura, um homem alto do qual Gibier pôde apertar a mão máscula, vigorosa e musculosa. Passado algum tempo, essa forma desmaterializou-se, desmoronou, precipitou-se, por assim dizer, no chão. Em certa ocasião, a própria médium surgiu do lado de fora, e caiu, quase desmaiada, no assoalho. Em todos esses casos, o cadeado e os selos foram encontrados intactos. Várias outras ectoplasmias, parciais ou totais, foram observadas durante os experimentos.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

101) Nascimento, luta pela vida e morte: o ciclo da evolução

     Essas reflexões são extraídas de uma grande obra mediúnica que, várias vezes, tenho citado neste blog:        
   
     "Lá, onde o mundo admira e venera o vencedor a qualquer preço, chamo para o meu lado o homem mais aflito e desventurado e lhe digo: amo-te, irmão, admiro-te, preeleito ser. Onde o mundo apenas respeita a força e despreza o fraco que sucumbido jaz, digo ao humilde e ao vencido: a tua dor é o que há de mais grandioso na Terra, é o trabalho mais intenso, a mais potente criação, pois que a dor faz o homem, lhe burila a alma, soergue-a e plasma, e a lança ao alto, para Deus. Qual dos grandes da Terra te pode igualar? Qual, dentre aqueles que triunfaram das forças terrenas, o que já realizou uma criação verdadeiramente eterna como a tua?
            Não maldigas da dor. Não lhe conheces as raízes distantes, não sabes qual a última onda que, impelida por uma infinita cadeia de ondas, constituiu o teu presente. Num universo tão complexo, no seio de um organismo de forças regido por uma lei tão sábia que nunca falha definitivamente, como podes crer que o teu destino esteja abandonado ao acaso,  e que o momentâneo desequilíbrio que te aflige, parecendo-te injustiça, não seja condição de um equilíbrio mais elevado e mais perfeito? Lembra-te de que, no organismo universal, são absurdos os vocábulos "acaso" e "injustiça". Não pode haver erro, imperfeição, senão como fase  de transição, senão como meio de criação. A alegria e o bem são a lei da vida, ainda que, para se realizarem plenamente, seja necessário se atravessem a dor e o mal... Não maldigais. Se a natureza -- tão econômica, mesmo na sua prodigalidade, tão equilibrada em seus esforços -- permite uma ruptura, qual o é biologicamente a morte, e um desfalecimento em tuas aspirações, qual o é a dor, isso, dentro da lógica do funcionamento universal, somente pode significar que tais fenômenos não exprimem nem perda, nem destruição, mas que guardam em si, ocultas, uma função criadora". (A Grande Síntese, cap.59, Teleologia dos Fenômenos Biológicos, edição da FEB, 1939).

     "Se a natureza guarda suprema indiferença diante da morte, é porque esta, substancialmente, nada destrói, tanto que, apesar das contínuas mortes, a vida prossegue triunfante. A morte nada destrói, nem do que é matéria, nem do que é espírito. A matéria, abandonada, desce de novo a um nível inferior e é apanhada em mais baixo ciclo de vida. O psiquismo retoma o dinamismo e os valores espirituais e ascende, imaterial e invisível, para equilibrar-se no nível que lhe é próprio, por peso específico. Do mesmo modo que com a luz e as cores pinta a natureza os mais maravilhosos quadros e depois, despreocupadamente, deixa se desvaneçam, porque sabe em seguida reconstruí-los de pronto, mais belos ainda, tão rica se sente de beleza, também com a química do plasma, com as forças da vida, com a sabedoria do psiquismo, a mesma natureza modela as mais maravilhosas formas e as deixa murchar e morrer, porque as sabe refazer rapidamente e as refará mais belas, numa infinita prodigalidade de gérmens".
     "A morte, com efeito, não lesa o princípio da vida, que permanece intacto, que antes continuamente rejuvenesce, em virtude dessa renovação contínua através da morte. Se a natureza não teme e não foge à morte, é porque esta é condição de vida e, da sua íntima economia, nada a morte arruina. Sabe a natureza que a substância é indestrutível, que nada nunca se pode perder como quantidade, nem como qualidade; sabe que tudo ressurge da morte: ressurge o corpo no ciclo das trocas orgânicas, e ressurge o espírito  no psiquismo diretor".
     "Nada na natureza se destrói e mesmo a morte, por lei universal, tem que restituir intacto o psiquismo cujos traços inutilmente procurais dali por diante naquele corpo inerte. Não importa que aos vossos sentidos e meios de percepção ele escape no imponderável. Havia um psiquismo animador que agora já não há. Todo o universo, por obediência constante à sua lei, clama que aquele psiquismo não pode ter sofrido  destruição. Vós o vedes desaparecer na morte e reaparecer no nascimento. Como então é possível que o ciclo não se feche, conforme acontece com relação a todas as coisas, reunindo de novo os dois extremos? Assim como o que não morre não pode ter nascido, também não pode morrer o que existia antes do nascimento. Aquilo que não nasceu com o corpo, com o corpo não pode morrer.  Se o espírito nascesse juntamente com o corpo, aí sim, teria que morrer com ele, a fim de fechar o ciclo, e isto nos conduziria ao mais desesperado materialismo". .........
     "Pensai bem: uma tão complexa unidade coletiva, qual a individualidade humana, é o mais alto produto da vida e resume os resultados do maior labor da evolução. Poderia esta, na sua economia íntima, permitir a dispersão dos seus maiores valores? E, depois, porque o testemunho dos sentidos, que vos iludem a respeito de tantas coisas, deveria ter mais força do que o vosso instinto, que vos diz: sou imortal; do que as religiões, do que os fenômenos mediúnicos, do que a lógica dos fatos, do que a voz concorde da humanidade inteira, e de todos os tempos, que vos dizem: sois imortais?". (A Grande Síntese, cap.74, o Ciclo da Vida e da Morte e a sua Evolução).

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

100) A mudança de paradigmas trazida pela Física Quântica

 
Amit Goswami
   

     Os parágrafos a seguir são extraídos do livro "O Universo Autoconsciente" (em inglês, "The Self-Aware Universe"), Editora Aleph Ltda., de autoria do físico indiano, naturalizado norteamericano, Amit Goswami, nascido em 1936, Doutor em Física Quântica, professor titular de física teórica da Universidade de Oregon, EUA, hoje aposentado. Refere ele:
     
     Os princípios da teoria quântica tornam possível abandonar as suposições injustificadas do realismo materialista. 

Suposição 1: Objetividade forte. A suposição básica feita pelo materialista é que há la fora um universo material objetivo, um universo onde as coisas acontecem, independentemente de nós. Essa suposição tem alguma validade operacional óbvia e frequentemente se presume que é necessária para praticar com seriedade a ciencia. Mas será ela realmente válida? A lição da Física Quântica é que um objeto quântico (um elétron, por exemplo), fora de uma medição científica, é um pacote de ondas de probabilidade que se espalham ao infinito, obedecendo à equação de Schrödinger. O ato de observá-lo faz com que entre em colapso instantaneamente o pacote quântico de ondas e se transforme numa partícula localizada. Além disso, nós é que escolhemos que aspecto -- ondas ou partículas -- objetos quânticos revelarão em uma dada situação. Sujeito e objeto estão inextricavelmente misturados. Se sujeito e objeto se entrelaçam dessa maneira, de que modo podemos manter a suposição da objetividade forte?
 
Suposição 2: Determinismo causal. Outra suposição do cientista clássico, que empresta credibilidade ao realismo materialista, diz que o mundo é fundamentalmente determinista -- que tudo que precisamos conhecer são as forças que atuam sobre cada objeto e as condições iniciais (a velocidade e a posição iniciais do objeto). O princípio da incerteza quântica, devido a Werner Heisenberg, afirma, contudo, que jamais poderemos determinar simultaneamente, com absoluta certeza, a velocidade e posição de um objeto quântico. Haverá sempre erro em nosso conhecimento das condições iniciais, e o determinismo estrito não prevalece. A própria ideia de causalidade torna-se mesmo suspeita. Uma vez que o comportamento de objetos quânticos é probabilístico, torna-se impossível uma descrição rigorosa de causa e efeito do comportamento de um objeto isolado. Em vez disso, temos uma causa estatística e um efeito estatístico quando falamos sobre um grande número de partículas.
 
Suposição 3: Localidade. A suposição da localidade -- que todas as interações entre objetos materiais são mediadas por meio de sinais locais que não podem ultrapassar a velocidade da luz, segundo a relatividade einsteiniana -- é fundamental para a ideia materialista de que eles existem basicamente independentes e separados uns dos outros. Se, contudo, ondas se espalham por enormes distâncias e, em seguida, instantaneamente desmoronam (colapsam) quando fazemos medições, então a influência da medição não viaja localmente. Por outro lado, experimentos realizados pelo cientista Alain Aspect comprovaram que elétrons correlacionados intercomunicam-se de modo instantâneo entre si. A localidade, portanto, é excluída em alguns fenômenos quânticos. Este contituiu outro golpe fatal no realismo materialista.
 
Suposição 4: Epifenomenalismo. O materialista sustenta que os fenômenos mentais subjetivos são apenas epifenômenos da matéria, isto é, são frutos do movimento de células cerebrais. Podem ser reduzidos apenas à questão do cérebro material. Se queremos compreender o comportamento de objetos quânticos, todavia, parece que precisamos introduzir a consciência -- nossa capacidade de escolher, através de uma experiência adequada, que tipo de comportamento desejamos obter -- ondas ou partículas -- de objetos quânticos.  Além do mais, parece absurdo que um epifenômeno da matéria possa afetá-la: se a consciência é um epifenômeno, de que modo pode ela provocar o colapso de uma onda espalhada de objeto quântico e transformá-la em uma partícula localizada quando realizamos uma medição quântica? 
 
Obs. minha: a propósito da noção de que o pensamento é apenas um epifenômeno da matéria cerebral, será que as moléculas de fósforo, carbono, oxigênio, hidrogênio, etc., do cérebro, com todas as suas propriedades físico-químicas, seriam capazes de explicar, por exemplo, os mais sublimes gestos de alguns seres humanos, como o amor ao próximo, a renúncia aos prazeres da vida, a doação de si mesmo, o sacrifício, a abnegação, o heroísmo, o martírio, por uma causa ou por um ideal? Ou, como dizia o astrônomo Flammarion, essas supremas atitudes de grandeza moral nada têm a ver com a Química, e denotam que o Espírito reside num mundo distinto do material, superior às vicissitudes e movimentos transitórios do mundo físico?

99) O que é ciência? Quais os seus objetivos? Opiniões de renomados cientistas e pensadores

A ciência é uma invenção do ser humano, evoluída através de uma seleção natural, no cortex cerebral, por uma razão muito simples: ela produz. Não é perfeita e pode ser mal utilizada. É somente uma ferramenta, mas até agora a melhor que temos, autocorretiva, progressiva, aplicável a tudo. Possui duas regras. Primeira: não existem verdades sagradas; todas as suposições devem ser examinadas criticamente; argumentos de autoridade não têm valor. Segunda: tudo que seja inconsistente com os fatos deve ser rejeitado ou revisto. Devemos compreender o Cosmos como ele é, e não confundir isso com como gostaríamos que fosse. (Carl Sagan)

Tanto a ciência é certa quando estabelece um fato, quanto é deploravelmente sujeita a erros, quando pretende estabelecer negações. (Charles Richet)

É preciso reafirmar que todas as descobertas científicas foram, em suas origens, perseguidas, ridicularizadas, escarnecidas, arrastadas às gemônias. (Charles Richet)

A ciência é obrigada, pela eterna lei de honra, a encarar de frente, e sem subterfúgios, qualquer fato novo que se lhe apresente à investigação. (Lord Kelvin)

As grandes ideias científicas não têm o costume de conquistar o mundo pela adesão dos seus adversários, que acabariam por se convencer, pouco a pouco, da sua veracidade, e por adotá-las. É sempre muito raro ver um Saulo tornar-se Paulo. O que acontece é que os adversários da ideia nova acabam por morrer e a geração seguinte é educada em outro momento, passando progressivamente a adotar a nova ideia. Quem possui a juventude, possui o futuro. (Max Planck)

O dever da ciência é procurar a verdade com plena independência de espírito, livre de toda ideia preconcebida. (René Descartes)

Fatos são fatos e, cedo ou tarde, abrirão caminho por si mesmos, malgrado a tudo e a todos. (Ernesto Bozzano)

Aquele que, fora das matemáticas puras, pronuncia a palavra impossível, revela imprudência. (François Arago)

Doravante, em termos de ciência, risquemos do nosso dicionário a palavra "impossível". (Sir Oliver Lodge)

Os cientistas, em relação a uma nova e revolucionária teoria, têm, em geral, quatro estágios de aceitação:
1º) Isso é um absurdo inútil;
2º) Isso é um ponto de vista interessante, mas errado;
3º) Isso é verdade, mas não tem importância;
4º) Eu sempre falei isso. (J. B. S. Haldane)

Se a ciência, com suas grandes descobertas, tem contribuído para esclarecer o homem, tem se mostrado sempre impotente para torná-lo melhor e mais feliz. (Léon Denis)

Omnia iam fiunt, fieri quae posse negabam. (Ovídio)
Trad.: Tudo já acontece, tudo que eu negava pudesse acontecer.

Obs.: as cinco citações que se seguem foram respigadas do livro "Diálogo com os Céticos" (pág. 17), do eminente biólogo e naturalista inglês Alfred Russel Wallace, em impecável tradução do Prof. Jáder dos Reis Sampaio.

Um ceticismo presunçoso, que rejeita fatos sem o exame de sua veracidade é, de alguma forma, mais nocivo que a credulidade incondicional. (Alexander von Humboldt)

Um bom experimento é mais valioso do que a ingenuidade de um cérebro como o de Newton. Fatos são mais úteis quando contradizem do que quando confirmam teorias aceitas. (Sir Humphry Davy)

Em qualquer área da ciência, o bom observador terá seus olhos, por assim dizer, abertos, de modo que possam ser imediatamente tomados de surpresa por qualquer evento que, de acordo com teorias aceitas, não deveria acontecer, pois estes são os fatos que servem como pistas para novas descobertas. (Sir John Herschel)

Antes que a própria experiência possa ser utilizada com proveito, há um passo preliminar a ser dado, e que depende totalmente de nós mesmos: é a limpeza absoluta da mente, dela extirpando todo e qualquer preconceito, e a determinação de aferrar-se ao resultado de um apelo direto aos fatos, em um primeiro momento, e à dedução lógica estrita a partir deles, posteriormente. (Sir John Herschel)

No que concerne à questão de milagres, eu posso apenas dizer que a palavra "impossível" não é, para a minha mente, aplicável em termos de ciência. Que as possibilidades da natureza são infinitas é um aforismo com o qual eu costumo importunar os meus amigos. (Thomas Huxley)

sábado, 12 de outubro de 2013

98) Os fenômenos do Espiritismo e a Parapsicologia moderna

Alexandre Aksakof
J. B. Rhine
 
     A primeira classificação científica dos fenômenos paranormais foi feita, em 1890, por um espírita, doutor em Filosofia, Conselheiro de Estado do Imperador (Czar) da Rússia Alexandre III, professor de línguas estrangeiras na Academia Alemã de Leipzig, Alexandre Aksakof (1832-1903), em sua grande obra "Animismo e Espiritismo", uma réplica formidável ao livro "O Espiritismo", do filósofo alemão Eduardo von Hartmann (1842-1906).
     Eis como o sábio russo se expressa no prefácio à edição alemã do seu livro:     Podemos classificar todos os fenômenos mediúnicos em três grandes categorias que se poderiam designar da maneira seguinte:
 
Personismo -- Fenômenos psíquicos inconscientes, produzindo-se nos limites da esfera corpórea do médium, ou intramediúnicos, cujo caráter distintivo é, principalmente, a personificação, isto é, a apropriação (ou adoção) do nome e muitas vezes do caráter de uma personalidade estranha à do médium. (Obs. minha: como acontece nos fenômenos hipnóticos por sugestão do hipnotizador, ou por autosugestão).
     Por sua etimologia, a palavra pessoa seria inteiramente apta para justificar o sentido que convém dar à palavra personismo. No latim, persona se referia antigamente à máscara que os atores colocavam no rosto para representar a comédia, e mais tarde se designou por esta palavra o próprio ator.
 
Animismo -- Fenômenos psíquicos inconscientes, produzindo-se fora dos limites da esfera corpórea do médium, ou extramediúnicos. [Obs. minha: podem ser psicológicos - telepatia, clarividência, precognição; ou físicos - deslocamento de objetos à distância (telecinesia), teleplastia, materializações]. Temos aqui a manifestação culminante do desdobramento psíquico da personalidade.
     A palavra alma (anima, em latim), com o sentido que tem geralmente no Espiritismo e no Espiritualismo, justifica plenamente o emprego da palavra animismo. Segundo a noção espirítica, a alma não é o "eu" individual (que pertence ao Espírito), porém o envoltório, o corpo fluídico ou espiritual desse "eu". Por conseguinte, nós teríamos, nos fenômenos anímicos, manifestações da alma humana.
 
Espiritismo -- Fenômenos de personismo e de animismo na aparência, porém em que se reconhece uma causa extramedíunica ou supraterrestre, isto é, fora da esfera da nossa existência, provinda de uma personalidade que já viveu no nosso mundo. Temos aqui a manifestação terrestre do "eu" individual por meio daqueles elementos da personalidade que tiveram a força de manter-se em roda do centro individual, depois de sua separação do corpo, e que se podem manifestar pela mediunidade ou pela associação com os elementos psíquicos homogêneos de um ser vivo. Isto faz com que os fenômenos do Espiritismo, quanto ao seu modo de manifestação, sejam semelhantes aos do personismo e do animismo, e não se distingam deles a não ser pelo conteúdo intelectual ou cognitivo, que denotam uma personalidade independente. (Animismo e Espiritismo, 2ª ed., FEB, 1956, págs. 23, 24 e 25).

     A moderna Parapsicologia, ciência criada pelo biólogo e pesquisador norteamaricamo Joseph Banks Rhine (1895-1980), ou simplesmente J. B. Rhine, criou uma nomenclatura especial para os termos propostos por Aksakof.
     A primeira categoria (personismo) não recebeu nome especial, mas é aceita como inteiramente válida. Todavia, o Dr. Jayme Cerviño, em seu livro "Além do Inconsciente" (Feb, 2005, pág. 97) propõe designá-la por fenômenos alfa.
     A segunda categoria (animismo) foi batizada pelo nome de fenômenos psi.
    Os fenômenos psicológicos ou subjetivos receberam a denominação de psi-gama (PG) ou ESP (do inglês, Extra Sensorial Perception). A Parapsicologia os considera demonstrados.
     Os fenômenos físicos ou objetivos foram batizados de psi-kapa (PK). Atualmente, considera-se provada a psicocinésia (telecinesia, na classificação de Aksakof), mas apenas para o deslocamento de objetos leves. Quanto aos fenômenos de teleplastia ou materialização, a Parapsicologia moderna ainda os considera em aberto. Apesar do grande número de provas apresentadas pelos antigos metapsiquistas, a Parapsicologia considera cedo ainda para uma chancela definitiva, aguardando que novas provas aconteçam para uma possível autenticação.
     A terceira categoria de fenômenos (espiritismo) é conhecida como psi-theta (PT). Sobre esta há uma divisão mais ideológica do que factual. Um pequeno grupo, que poderia ser chamado de "materialista totalitário" (Bozzano), considera que a existência de faculdades psi na subconsciência humana torna impossivel que o Espiritismo venha, um dia, a ser  demonstrado. Os dois maiores grupos também se bipartem: um deles considera o Espiritismo cientificamente provado, pois as provas cumulativas que convergem a seu favor são muito fortes. O outro ainda acha prematura essa afirmação, mas julga que um número ainda maior de provas poderá sancioná-lo no futuro.
     O que pensa J. B. Rhine sobre o tema? Vejamos:
     Existe algo extrafísico ou espiritual na personalidade humana? A resposta experimental é afirmativa. (Rhine - "The Reach of the Mind", apud Jayme Cerviño, "Além do Inconsciente", pág. 12).
     Sobre a sobrevivência, Rhine incentiva o estudo de certas manifestações que os antropólogos registram nas culturas primitivas e a análise dos relatórios de todos os tipos de experiências parapsíquicas espontâneas que tragam consigo qualquer sugestão de agente incorpóreo ou espírito. (Rhine - obra citada, apud "Além do Inconsciente", pág. 16).
     O Prof. Jorge Ayala, da Universidade do México, que conheceu Rhine pessoalmente, afirma: Ele segue por etapas - a primeira foi a prova de que os fenômenos existem; a segunda, a prova de que a mente é não física; a terceira será a da sobrevivência espiritual do homem.
     Mas ele faleceu antes de chegar à terceira etapa.
    
     É interessante assinalar que o parapsicólogo René Sudre, em seu livro "Tratado de Parapsicologia" (Zahar Editores, 1976), sanciona todas as categorias de fenômenos citadas por Aksakof e por todos os antigos metapsiquistas (Richet,  Bozzano, Lombroso, Zöllner, Gibier, Flammarion, Geley, Osty, Hyslop, Crookes, Wallace, Myers, Lodge, Barrett, etc.), contudo, sendo um materialista totalitário, nega com veemência a sobrevivência espiritual.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

97) Sir William Barrett, o físico inglês, e seus experimentos psíquicos

Sir William Barrett
     
     Sir William Fletcher Barrett (1844-1925) foi um físico experimental inglês nascido em Kingston, Jamaica (então uma colônia britânica) e falecido em Melbourne, Austrália.
     Barrett mudou para Londres durante sua juventude e foi educado em Old Trafford Grammar School. Estudou Química e Física no Royal College of Chemistry em Londres, depois tornou-se o assistente de John Tyndall na Royal Institution (1862-67), em seguida, mestre de Física na Real Escola de Arquitetura Naval (1867-73), para finalmente, em 1873, ocupar o cargo de professor de Física Experimental do Royal College of Science em Dublin, República da Irlanda, onde permaneceu por 37 anos, aposentando-se em 1910. 
     Ele foi eleito membro da Royal Society of London em 1899, e também da Royal Society of Edinburgh, da Royal Dublin Society e do Instituto de Engenheiros Elétricos da Irlanda. Em 1912, por suas contribuições científicas, foi agraciado com o título de Cavaleiro do Reino Unido, sendo-lhe conferido o título de "Sir".
     Na qualidade de físico experimental, descobriu uma liga de ferro-silício que ficou conhecida como "Stalloy" (ou "Permaloy"), muito utilizada em engenharia elétrica, no desenvolvimento comercial do telefone e dos transformadores, e também realizou uma série de experimentos sobre as chamas sensíveis e seus empregos em demonstrações acústicas (chamas afetadas por sons de frequências elevadas). Durante suas pesquisas sobre os metais e suas propriedades, descobriu o encurtamento do níquel sob forte magnetização em 1882.
     Em seus últimos anos, Sir William Barrett desenvolveu catarata, e começou a estudar oftalmologia através de uma série de experimentos destinados a localizar e analisar agentes causadores de moléstias no interior dos olhos. O resultado dessas experiências foi o desenvolvimento do que ficou conhecido como Ortóptica, e a construção, por Barrett, de um novo optômetro ótico.

     Sir William Fletcher Barrett (10 de fevereiro de 1844 - 26 de maio 1925) foi um dos pioneiros da pesquisa psíquica. Foi idéia de Barrett formar a Sociedade de Pesquisas Psíquicas (SPR), em Londres, em 1882. No entanto, como Barrett estava vivendo em Dublin, na Irlanda, no momento, ele não foi capaz de tomar parte ativa na organização da sociedade. Ele estimulou três estudiosos de Cambridge, seus amigos Henry Sidgwick , Frederic W. H. Myers e Edmund Gurney, a fundarem a sociedade. Barrett também incentivou seu amigo, o filósofo e professor norteamericano William James , de Harvard, a organizar o ramo americano da SPR em 1884. Editou o Jornal SPR 1884-99 e serviu como presidente da entidade em 1904.
     Como pesquisador dos fenômenos chamados paranormais, Barrett era de um rigor extremo, draconiano. Nos anos setenta do século dezenove, havia em Londres um certo Dr. Monck, que produzia fenômenos aparentemente mediúnicos, mas que eram sujeitos a dúvidas: dos que presenciaram seus fenômenos, uns diziam que eram reais, outros afirmavam que, muitas vezes, ele usava de truques, quando claudicavam as suas faculdades mediúnicas. Em 1876, foi à Irlanda e Sir William Barrett resolveu verificar se as faculdades mediúnicas de Monck eram reais ou não, e foi observá-lo. Eis suas conclusões:
 
     Apanhei o "doutor" numa fraude grosseira; um pedaço de musselina branca numa instalação de arame, ligada a um parafuso preto, sendo empregada pelo "médium" para simular a materialização parcial. (Apud Sir Arthur Conan Doyle, "História do Espiritismo", Editora O Pensamento, 1960, pág. 255).
     Sir Conan Doyle (o genial criador do detetive Sherlock Holmes) afirma, por sua vez: Tal desmascaramento, vindo de fonte tão segura, produz um sentimento de mal estar, que nos induz a abandonar toda evidência a respeito dele na cesta de lixo.
     
     Sir William Barrett escreveu várias obras sobre temas relacionados, tanto à Física, quanto ao "modern spiritualism". No que se refere a este, a mais importante é "On the Threshold of the Unseen", traduzida para a língua portuguesa por Isidoro Duarte Santos, e publicada, em 1947, pela Estudos Psíquicos Editora, de Lisboa, Portugal, sob o título "Nos Umbrais do Além", obra raríssima hoje em dia. Para mostrar a convicção de Barrett, extrairei alguns trechos dessa importante e documentada obra:
 
      
     Estou absolutamente convencido de que a ciência psíquica provou experimentalmente a existência de uma entidade transcendente e imaterial, chamada alma ou espírito humano. Além disso, estabeleceu também a existência de um mundo espiritual invisível de seres vivos e inteligentes que podem comunicar-se conosco, quando se apresenta ocasião favorável. E digo mais; que apesar de muitas ilusões, de simulações e outros erros, existem numerosas provas favoráveis à sobrevivência do homem depois da morte e dissolução do corpo e do cérebro. (Sir William Barrett, "Nos Umbrais do Além", págs. 14 e 15).
     As minhas conclusões não provêm de exame rápido e superficial. Há mais de quarenta anos que estudo os fenômenos ditos paranormais com toda independência e desinteresse. (Obra citada, pág. 21)
     Ninguém, dos que ridicularizam o Espiritismo, lhe dispensou qualquer atenção refletida e paciente. Afirmo até que todos aqueles que dedicarem, ao seu estudo prudente e imparcial, tantos dias ou mesmo tantas horas quanto de anos alguns de nós lhe tem dedicado, se verão obrigados a mudar de opinião. (Obra citada, pág. 28).
     Como se compreende, pois, que as negações sistemáticas dos que nada viram, nada experimentaram, dos ignorantes e sectários, tenham tido mais valor para a ciência do que as afirmações dos ilustres testemunhos que temos enumerado? (Ob. cit., pág. 45).
     É tempo de abandonar discussões fastidiosas e de expor os testemunhos pessoais que me convenceram da objetividade destes fenômenos. Aos que não fizeram experiências semelhantes, é quase impossível dar ideia da influência e da acumulação de provas que nos levaram à convicção. (Ob. cit., pág. 55).

     E em outra obra:
     É evidente a existência de um mundo espiritual, a sobrevivência depois da morte e a comunicação ocasional dos que morreram. (W. Barrett, "Some Reminiscences of Fifty Years of Psychical Research, apud Miguel Timponi, "A Psicografia Ante os Tribunais, ed. Feb, págs. 98 e 99).
     Citarei apenas duas fontes onde hauri dados biográficos sobre Sir William Barrett:  http://en.wikipedia.org/wiki/William_Fletcher_Barrett  
http://redpill.dailygrail.com/wiki/William_Barrett


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

96) As conclusões espiritualistas de um grande físico, Sir Oliver Lodge

 
Sir Oliver Lodge

     Sir Oliver Joseph Lodge (1851-1940) foi um físico experimental e escritor inglês. Doutor em ciências, Professor de Física da Universidade de Londres, Professor de Filosofia Natural do Colégio de Bedford, Professor Catedrático de Física da Universidade de Liverpool, Reitor da Universidade de Birmingham, membro da Royal Society of London, recebeu a Medalha Rumford da Royal Society em 1898, e foi nomeado Cavalheiro do Reino Unido pele Rei Eduardo VII em 1902, passando a usar o título honorífico de "Sir".
     Fêz investigações originais sobre os fenômenos do relâmpago e do raio, sobre a fonte da força eletromotriz na célula voltaica, sobre os fenômenos da eletrólise e da velocidade dos íons, sobre a aplicação da eletricidade para dispersar a neblina e a fumaça, sobre o arrastamento do suposto "éter cósmico" por corpos massivos, sobre as ondas eletromagnéticas e sobre a telegrafia sem fio, sendo considerado um pioneiro com relação à radiocomunicação.
     Em 14/08/1894, conseguiu transmitir sinais de rádio em uma conferência na Associação Britânica para o Progresso da Ciência, aperfeiçoando o detector de ondas de Branly, acrescentando a ele um vibrador que deslocava a limalha acumulada, restaurando assim a sensibilidade do aparelho. Com este detetor aperfeiçoado, que Lodge denominou coesor, obteve a patente para sintonização em telegrafia sem fio, patente que foi adquirida, em 1911, pela Companhia Marconi, do inventor do rádio, Eng. Guglielmo Marconi.
     Lodge também deu uma contribuição significativa aos motores quando inventou a vela de ignição para o motor de combustão interna. Seus filhos, Alex e Brodie, criaram a Lodge Plug Company, que produziu velas de ignição para automóveis e aviões. Outros dois filhos seus, Noel e Lionel, criaram uma empresa que produzia uma máquina para limpar a fumaça das fábricas. Além de inventar a vela de ignição e o telégrafo sem fio, Oliver Lodge também inventou o sintonizador variável.
     No fim do século dezenove,os físicos acreditavam que as ondas eletromagnéticas se propagavam num meio hipotético, que foi chamado de "éter cósmico", mas tinham dúvidas se os corpos, em seu movimento, arrastavam ou não o suposto éter. Para dirimir tais dúvidas, Sir Oliver Lodge planejou um experimento, realizado em 1896. Instalou grandes discos de aço, de 2 metros de diâmetro, eletrizou e magnetizou fortemente os discos, fê-los girar a velocidades tão grandes que pouco lhes faltava para arrebentar, e então enviou raios luminosos pelo estreito espaço (1 centímetro) entre os discos rodantes - no mesmo sentido do movimento dos discos, e em sentido contrário ao movimento dos mesmos. Se as rodas que giravam, levavam ou revolviam o éter, isto se revelaria na aceleração ou retardamento da velocidade dos raios de luz levados pelo éter. Mas Lodge não pode encontrar nenhum efeito. "O éter e a matéria são mecanicamente independentes, e os corpos não arrastam consigo o suposto éter em seu movimento", foi a conclusão de Lodge.

Obs. minha: A partir de 1905, a teoria do "éter cósmico" foi abandonada pela ciência, pelo menos como meio de propagação das ondas eletromagnéticas, entre outras razões porque, tendo tais ondas caráter duplo, isto é, apresentando-se também como compostas de partículas (fótons), não necessitam de um meio por onde se propagar.

     Desde o final do século dezenove, Sir Oliver Lodge já se preocupava em pesquisar os fenòmenos do "Espiritualismo Moderno", como dizem os ingleses e norteamericanos. Em 1909, publicou uma grande obra, "A Sobrevivência do Homem" em que declara textualmente: Que o homem sobrevive à morte do corpo é convicção certa minha, baseada, de mais a mais, numa longa série de fatos naturais e experimentais.
     Em 14/09/1915, faleceu-lhe o filho, Raymond Lodge, em batalha da 1ª Guerra Mundial, na qual se havia alistado como Segundo-Tenente. Desde então, ele manifestou o desejo de se comunicar com o pai, mãe e irmãos, a fim de lhes provar que não havia morrido de fato, e lhes ministrar alguns ensinamentos sobre o mundo espiritual. A maioria das comunicações veio através de uma médium inglesa muito conhecida, a Sra. Osborne Leonard, que conhecia Sir Oliver, mas não sua esposa e  filhos, que foram a ela incógnitos, e puderam dialogar com Raymond, como se vivo estivesse. Depois, os Lodge (pai, mãe e irmãos) buscaram outros médiuns, deles desconhecidos, comparecendo às sessões incógnitos, sem que ninguém lhes soubesse os nomes e a identidade, e o mesmo Raymond se manifestava, mantendo uma incrível identidade e continuidade de pensamentos e opiniões que acabaram convencendo os Lodge, a princípio céticos (principamente a mãe e irmãos), de sua permanência e imortalidade. Sir Oliver Lodge escreveu então uma bela obra, intitulada "Raymond", que fêz muito sucesso na época, dedicada a mostrar ao mundo as múltiplas provas obtidas pela família, acerca da sobrevivência espiritual de Raymond. Esta obra foi traduzida para a nossa língua pelo saudoso escritor Monteiro Lobato. 
     Vejamos o que escreve Sir Oliver Lodge em sua introdução:
      

     Esta obra leva o nome de um filho meu morto na guerra (obs. minha: 1ª Guerra Mundial). Jamais ocultei a minha crença de que a personalidade não só persiste, como ainda continua mais entrosada no nosso viver diário do que geralmente o supomos; de que não há nenhuma solução de continuidade entre os vivos e os mortos; e de que existem processos de intercomunicação bastante efetivos quando o afeto intervém. Como disse Sócrates a Diotima, O AMOR VENCE O ABISMO (Symposium, 202 e 203).
     Mas não é somente a afeição que controla e fortalece o intercâmbio paranormal: o interesse científico e o zelo missionário também se revelam eficazes; e foi sobretudo graças a esforços deste gênero que eu e outros investigadores gradualmente nos convencemos, através de experiências diretas, de um fato que, não há de tardar muito, far-se-á evidente para todo o gênero humano. (...)
     Até a morte do meu filho, nenhuma criatura se me apresentara ansiosa de comunicação; e embora surgissem amigos promotores de mensagens, eram mensagens de gente da velha geração, diretores da Society for Psychical Research, e antigos conhecimentos meus. Já agora, entretanto, sempre que eu ou alguém da minha família recorremos anonimamente a um médium, a mesma criatura se apresenta, sempre ansiosa de dar provas da sua identidade e sobrevivência.
     E tenho que o conseguiu. O ceticismo da família, que nos primeiros meses foi muito forte, acabou vencido pelos fatos. Ignoro em que extensão estes fatos possam ser compreendidos por estranhos. Mas reclamo uma atenção paciente; e se incido em erros, já no que incluo, já no que omito, ou se minhas notas e comentários carecem de clareza, peço aos leitores, em todas as hipóteses, uma interpretação amiga: porque, em matéria tão pessoal, não ignoro que fico exposto à crueldade e ao cinismo da crítica.
     Poderão alegar: por que motivo atribuir tanta importância a um caso individual? Na realidade, não lhe atribuí nenhuma importância especial; mas acontece que cada caso individual é de interesse, porque tem plena aplicação nesta matéria a máxima -- "ex uno disce omnes". Se posso estabelecer a sobrevivência de um só indivíduo, "ipso facto", tê-la-ei estabelecido para todos.
     Eu já tinha a sobrevivência como provada, graças aos esforços de Frederic Myers e de outros da Society; mas nunca são demais as provas, e a discussão de um novo caso não esfraquece a evidência já conseguida. Cada vara do feixe deve ser testada e, a não ser que defeituosa, aumenta a força do feixe.
     
     E no epílogo:
      
     Estou convencido da sobrevivência da personalidade depois da morte como o estou da minha existência na Terra. Poderão alegar que essa convicção não se baseia na experiência dos meus sentidos. Responderei que sim. Um cientista especializado em Física não está sempre limitado pelas impressões sensoriais diretas; lida com uma multidão de coisas e conceitos para os quais seus sentidos são como inexistentes. A teoria cinética dos gases, por exemplo, as teorias da eletricidade, do magnetismo, das afinidades químicas, da coesão molecular, da eletrólise, das ondas eletromagnéticas, levam-no a regiões onde a vista, o ouvido, o olfato e o tato são impotentes para qualquer testemunho direto. Em tais regiões tudo tem de ser interpretado em termos do insensível, do não substancial e do imaginário. Não obstante, essas regiões do conhecimento tornam-se-lhe tão claras e vivas como as coisas materiais. Fenômenos comuníssimos requerem interpretação baseada nas ideias mais sutis -- a própria solidez aparente da matéria pede explanação -- e as entidades não materiais com que os físicos trabalham, gradualmente revelam tanta realidade como tudo quanto ele conhece sensorialmente.
     E como é assim, irei mais longe dizendo que estou convicto da existência de "graus do ser", não somente mais baixos na escala do que o homem, como também mais altos -- graus de toda ordem de magnitude, do zero ao infinito. E sei, por experiência, que entre os seres alguns existem empenhados em ajudar e guiar a humanidade, não desdenhando a entrar em detalhes mínimos, se desse modo podem assistir às almas que lutam por elevar-se. E creio ainda que entre esses altos Seres, um existe ao qual por instinto o cristianismo consagra reverência e devoção.
     Os que julgam que a era do Messias está passada, confundem-se estranhamente; essa era mal começou. Para as almas individuais o cristianismo floresceu e deu frutos, mas para os males do mundo é ainda um remédio não experimentado. Será estranho que a horrível guerra de hoje fomente e melhore o conhecimento do Cristo, e ajude a humanidade a compreender a inefável beleza de sua vida e de seus ensinamentos; entretanto, coisas ainda mais estranhas têm acontecido; e seja lá como as Igrejas se comportem, creio que a voz de Jesus ainda será ouvida por uma grande parte da humanidade, como nunca o foi até hoje.
     Meu viver na Terra aproxima-se do fim; pouco importa, espero não ir-me antes de dar o meu testemunho da graça e da verdade que emanam desse divino Ser -- cujo amor pelos homens pode ser obscurecido pelos dogmas, mas nunca deixará de ser acessível aos mansos e humildes.
     A intercomunhão entre os estados, ou graus da existência, não se limita a mensagens a amigos ou parentes, ou a conversas com personalidades do nosso nível -- isto constitui uma pequena parte da verdade inteira; esse intercurso entre os estados da existência traz consigo -- ocasionalmente às vezes, às vezes inconscientemente -- comunhão com altíssimas almas que se foram antes de nós. A verdade dessa influência contínua coincide com as mais altas Revelações feitas ao gênero humano. Esta verdade, quando assimilada pelo homem, significa a certeza da realidade da oração, bem como a certeza da simpatia ou graça d'Aquele que jamais desprezou os que sofrem, os pecadores, os humildes; e significa ainda mais: a possibilidade, algum dia, de um olhar ou de uma simples palavra do Eterno Cristo. ("Raymond", Edigraf, 1972, trad. de Monteiro Lobato).
    
     Para finalizar, um último excerto, extraído do livro escrito por Lodge em 1928, "Why I Believe in Personal Immortality", traduzido por Francisco Klörs Werneck, ed. Calvário, 1973, sob o título "Por Que Creio na Imortalidade da Alma":

     Conheço o peso da palavra "fato" na Ciência e digo, sem hesitação, que a continuidade individual e pessoal é para mim um fato demonstrado. (...) A evidência da identidade pessoal está assim gradualmente estabelecida, de um modo sério e sistemático, pelo exame crítico de pesquisadores rigorosos e independentes e, sobretudo, pelos esforços especiais e altamente inteligentes dos comunicantes do Além. Para mim a evidência é virtualmente completa e não tenho dúvida alguma sobre a existência e a sobrevivência da personalidade, do mesmo modo que não a tenho sobre a dedução de uma experiência qualquer, comum e normal.